segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Novos Vingadores: Refuse/Resist

New Avengers # 22

Voltando às atividades do blog 616 depois de um fim de semana sombrio, começamos a semana falando de um dos tie-ins mais bacanas de Guerra Civil. Falo de Novos Vingadores 44, na qual, seguindo o que foi iniciado na edição anterior, acompanhamos a história de como o Capitão América reúne seu grupo de Vingadores Rebeldes, contrários à lei de registro de super-humanos. Nesta edição é a vez de Luke Cage se juntar à resistência, em Novos Vingadores: A Queda parte 2, em uma história que se passa entre Guerra Civil 1 e 2.

Cage, que a princípio não via muitos problemas com a lei de registro, como ficou claro em sua conversa com Wolverine, um pouco antes do mutante iniciar sua caçada a Nitro, claramente repensa sua posição a respeito da lei. Especialmente depois da recusa do Capitão América em se registrar e iniciar toda a guerra. Por que digo isso? Porque fica cada vez mais claro que a forma como o roteirista Brian Michael Bendis (de quem sou suspeito para falar, já que sou muito fã de seu trabalho) retrata o ex-herói de aluguel como alguém muito parecido com o sentinela da liberdade.

Quando Tony Stark (o Homem de Ferro) e Carol Danvers (Ms. Marvel, que cada vez mais parece ser sua fiel escudeira) vão procurar Jessica Jones e Cage para que se registrem, duas coisas são rapidamente percebidas. Em primeiro lugar, ambos não esperavam que os dois se registrassem. A tentativa ali parece claramente a de mudar a idéia do casal, e não de confirmar que serão aliados. Além disso, é interessante como temos quatro indivíduos cujos perfis condizem razoavelmente com a posição assumida em relação ao registro.

Novos Vingadores: Guerra Civil

Para Stark, um homem rico, de "berço", de boa conexões com o governo e líder de toda a iniciativa relacionada ao registro; e Carol, uma heroína em busca de reconhecimento como tal (basta lermos suas histórias solo para sabermos disso) e, desde cedo, acostumada a uma hierarquia rígida, já que era militar antes de se tornar heroína (como lembra Jessica), parece bem mais fácil aderir ao registro. Por outro lado, Jessica, que não quer mais ser heroína, e há tempos quer levar uma vida normal como jornalista (ainda que tenha recentemente se demitido do Clarim), além de ter recentemente dado à luz uma menina; e Cage, um herói cuja origem remonta a uma falsa acusação e prisão injusta por sua própria origem social (o gueto nova-iorquino) e que é muito apegado à toda a causa de luta contra a segregação racial nos EUA, portanto, muito desconfiado de atitudes do governo que podem ser consideradas "autoritárias", e também quer criar sua filha em paz, o registro se apresenta como um obstáculo arbitrário.

A conversa travada no início da edição mostra alguns exageros por parte dos dois lados, quando Luke lembra que a própria escravidão já foi legal e Stark se dirige a ele e Jessica com um claro tom de ameaça. Não há acordo, e, em seguida, fica combinado que Jessica iria para o Canadá com a criança, para protegê-la. Cage fica porque não admite, depois de tudo que fez como herói, ser tratado como criminoso do dia para a noite e simplesmente fugir. Ele vai lutar. Ao despedir-se de sua filha, a criança parece perturbada, quase como se soubesse o que acontece ao seu redor.

Novos Vingadores: Guerra Civil

Na rua de seu bairro, onde Luke é fonte de inspiração e orgulho, um menino pergunta se ele vai assinar o registro, e fica feliz quando o herói concorda com ele que essa lei é absurda. Cage diz que vai ficar em casa, e que esse direito, um direito à liberdade (um dos pontos de sua opinião que mais o aproxima do Capitão América em relação a todo esse conflito), ninguém pode tirar dele.

Ao dar meia-noite, a ameaça de Stark se confirma: já há uma equipe de agentes da SHIELD especializados em capturar super humanos na porta do apartamento. Luke se frustra ao confirmar suas suspeitas. A partir daí a seqüência de violência é inevitável. Dá pena dos agentes da SHIELD pela surra que começam a tomar. Um chega a perguntar se estão enfrentando somente um homem.

Novos Vingadores: Guerra Civil

Quando a tropa começa a enfraquecê-lo, a vizinhança entra em ação e intervém para salvar seu herói. Tempo suficiente para que o ainda reduzido grupo do Capitão América, composto somente por ele, Falcão e Demolidor (a piadinha entre ele e Luke nos faz lembrar que aquele não é Matt Murdock, mas Danny Rand, o Punho de Ferro). É o suficiente para que eles escapem e continuem a formação da resistência. Já no Canadá, Jessica vê a notícia de que todos escaparam ilesos.

Novos Vingadores: Guerra Civil

Particularmente eu gosto muito dessa história. Até mesmo os desenhos do Leinil Yu (em breve desenhista regular do título), que são "sujos", encaixam-se perfeitamente. Bendis consegue apresentar os motivos de Cage e Jessica se recusarem a assinar o registro sem, na verdade, demonstrar que seus argumentos estão a salvo de serem questionados. Ainda assim, consegue manter o humor da revista (mesmo sem o Homem-Aranha na história), além de torná-la leitura obrigatória para toda a Guerra Civil. Muito se falou que Novos Vingadores caiu de qualidade quando as histórias estavam amarradas à saga, mas eu discordo. Ainda é essencial para quem quer acompanhar o que de melhor a Marvel tem a apresentar. Na próxima edição é a vez a controversa Mulher Aranha. De que lado ela estará?


« Jøåø »


PS.: O título do artigo foi inspirado na canção Refuse/Resist, da banda brasileira Sepultura.

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