segunda-feira, 9 de maio de 2011

Capitão América: This is not America*

Captain America #603

Em uma história aparentemente anterior aos eventos d’O Cerco (até por uma questão de lógica), o Capitão América, que continua a ser Bucky Barnes por decisão de Steve Rogers, precisa enfrentar uma das pontas soltas do processo que o elevou ao posto de sentinela da liberdade. Sob narrativa de Ed Brubaker e Luke Ross, em história iniciada em Novos Vingadores 86 e continuada na edição 87, o Capitão América enfrenta um aspecto nefasto do nacionalismo exacerbado. Ele enfrenta o perigo que o símbolo que carrega pode representar.

No estado de Idaho, no noroeste do país, uma força paramilitar age fora da lei e, crendo agir pelo bem da nação manipulando um misterioso dispositivo, não vê problema nenhum em combater policiais e quem quer que se coloque em seu caminho. Afinal, o “Capitão América” está do seu lado. E este sentinela da liberdade, o perturbado sobrevivente dos vários substitutos temporários criados até a descoberta do original congelado desde a II Guerra e usado pelo Caveira Vermelha em seu plano de conquista dos EUA frustrados por Bucky e aliados, pretende retomar o país em nome dos “verdadeiros americanos”. Ou seja, aqueles como ele.

Capitão América

Em Nova York, Bucky conversa com Nick Fury, agradece o modelo mais “apresentável” de seu braço mecânico (baseado em algum MVA mais moderno), e se surpreende quando o super espião lhe mostra as ações do “falso” Capitão América e seus novos Cães de Guarda. Fury acha melhor Steve não ver aquilo, e que o atual Capitão América cuida disso.

E o rapaz concorda que esse “fantasma” da década de 50 do século passado é sua responsabilidade agora, sabendo que o tempo urge para que Norman Osborn não coloque as mãos nele.

Capitão América

Assim sabemos um pouco do passado “colorido”, no auge da era de ouro do capitalismo americano, que a memória infantil desse homem perturbado (de nome William Burnside) constituiu, da quase literal transformação em seu herói, e do choque que foi voltar à sua cidade-natal, Boise, 60 anos depois. Vendo um lado dos Estados Unidos (atingido pela pobreza, recessão e violência), pouco mostrado na mídia e menos ainda encarado com facilidade por quem idealiza aquele como um país perfeito.

E em sua insanidade voltou a encarnar o Capitão América, disposto a mudar o mundo do jeito que sua memória romântica se lembra. E logo pessoas com sentimentos semelhantes se reúnem ao seu redor, tornando-se os soldados perfeitos para sua causa. Um líder transloucado, com noções utópicas de um país e de seus habitantes ideais. Perigo.

Sentindo pena de Burnside, sabendo do que o faz agir assim, o Capitão América chega a Idaho com a ajuda do Falcão para capturá-lo o mais rápido possível. E o herói alado está ali para evitar que seu parceiro haja por instinto ou por empatia. Mas o plano de Bucky de se infiltrar nos Cães de Guarda indica o contrário.

Depois de observar um protesto contra o governo (com bizarras distorções ultraconservadoras, e leituras profundamente equivocadas da realidade americana), eles colocam o plano em movimento.

Capitão América

Aproveitando-se do racismo latente naquela região do país, Sam se disfarça de agente do fisco federal e faz uma cobrança propositadamente abusiva ao dono de um bar. Não demora para Bucky surgir entre os clientes, já furiosos pela atual situação da cidade, fingir agredi-lo, ganhando a confiança de todos ali. E rapidamente é convocado a se juntar aos Cães de Guarda, aguardando apenas a aprovação do “Capitão América” dos anos 50.

E o problema começa aí, pois Burnside logo reconhece esse “anônimo” candidato.

Ocultando um rancor maior do que de seus comandados, o falso Capitão América ouve o relatório do progresso do novo “recruta”, que apresentou bom desempenho, mas nada extraordinário. O que é óbvio, porque se fizesse tudo para valer, chamaria demais a atenção. Apesar do perigo que isso pode representar, ele dá prosseguimento a sua inserção no complexo central, pois ele tem planos para “Bucky”.

Capitão América

Mas isso não quer dizer que o Capitão América e o Falcão não vão agir, e atacam um comboio dos soldados do falso Capitão, que não demoram a ser derrotados, ao mesmo tempo em que Bucky se mostra cada vez mais a vontade no seu novo papel.

Ele desconta a frustração pela semana em que conviveu com eles, mas nada de encontrar uma perigosa bomba que está em posse do grupo em algum lugar. Temendo que comecem a recrutar soldados de verdade, e que sua identidade não seja segredo para ninguém, o impulsivo Capitão América acha que já chegou a hora de agir, para temor do Falcão.

Capitão América

Finalmente infiltrado no complexo principal, passa por mais um dia de treinamento pesado prestes a seu “teste final”, e aproveita a calada da noite para chegar à cabana de comando. Não surpreende que lá estivesse esperando por ele o falso Capitão, que tem mais um mito de sua infância quebrado quando Bucky diz que desde cedo foi treinado para ser parceiro de Steve Rogers.

Os dois lutam rapidamente, mas Barnes logo se dá conta que aquele não é o falso Capitão. Rendido por um verdadeiro batalhão, ele se enfurece ao perceber que tudo isso foi armado para que o capturassem, e também o Falcão, em uma só noite.

Na cidade Sam é atacado por alguns dos cães de guarda e logo por seu líder em pessoa, e devidamente trajado como Steve Rogers viveu sua vida de combates. O Falcão não se rende facilmente, e quando pensa poder escapar usando seu traje, percebe que aquele ataque foi muito bem planejado. É abatido por um ataque muito bem coordenado, praguejando por ter concordado com o plano suicida de Bucky.

Capitão América

Extraindo o metal vibranium do dispositivo que permite o Falcão voar, o falso Capitão América e seu grupo tem mais recursos ainda para colocar em ação sua ideia retrógrada e distorcida de revolução.


João


* Título da resenha inspirado na canção homônima do cantor inglês David Bowie, que pode ser traduzida como "Isso não é a América". Lembrando que os habitantes dos Estados Unidos, e outros, costumam abreviar o nome do país para América, causando uma "confusão" entre o continente americano e seu país.

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