sábado, 10 de setembro de 2011

Em Foco: Ecos de uma Tragédia

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11 de setembro de 2001. Não preciso dizer mais nada, não é? Os atentados terroristas sofridos pelos Estados Unidos da América nesse dia deixaram não apenas uma cicatriz naquela nação, mas também uma marca impossível de ignorar na História recente mundial. O tipo de coisa que reflete e ecoa em todo tipo de criação artística e na cultura pop. O Universo Marvel, tão americano na realidade e na ficção, não poderia sair ileso de tal tragédia.

O dia em que Terra parou

Três meses após os atentados, em dezembro de 2001, a Marvel dedicou a revista Amazing Spider-Man #36 como tributo ao dia 11 de setembro, que acabou ficando conhecida nos EUA como "A Edição Negra" (The Black Issue), devido a sua capa toda preta, trazendo apenas os nomes da série mensal e da editora. A ilustre equipe criativa da época, J. Michael Straczynski e John Romita Jr., puseram o Homem-Aranha de frente com a devastação do local onde, até minutos antes de sua chegada, ficavam as torres gêmeas do World Trade Center. Horrorizado, ele ajuda Vingadores, Quarteto Fantástico, X-Men, os bombeiros e até alguns perigosos super-vilões no resgate de vítimas. Durante toda a história, temos reflexões de Peter Parker diante do fato, reflexões que caberiam a qualquer pessoa comum, como o próprio roteirista da série. Ao fim da história, os sentimentos de horror e perda transformam-se em uma mensagem de força e união frente à tragédia. A edição foi publicada no Brasil pela Panini como especial em setembro de 2002, quando o mundo relembrava o aniversário de um ano dos atentados.

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A Serviço da Vida

Uma reação que os atentados causaram foi a valorização do heroísmo na vida real. Nos quadrinhos de super-heróis, a vontade de retratar bombeiros, paramédicos e policiais sem super-poderes ou identidades secretas cresceu e heróis do dia-a-dia foram homenageados com suas próprias revistas em quadrinhos. A Marvel lançou, nos EUA, dois especiais one-shot intitulados Heroes (Heróis) e A Moment of Silence (Um Momento de Silêncio), mostrando esses heróis da vida real, em interações com ícones da editora ou sozinhos.

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Seguindo a linha das suas publicações regulares, o lançamento mais significativo foi o da série Emergência: A Serviço da Vida (Call of Duty). Com três minisséries e uma série mensal de curta duração, Emergência mostrava justamente equipes de bombeiros, policiais e paramédicos lidando com questões do dia-a-dia, dentro no Universo Marvel.

Super-heróis e o terrorismo

Se olharmos para trás, veremos facilmente que os inimigos dos EUA, fossem nazistas ou comunistas, sempre tiveram seus representantes nos quadrinhos Marvel, como super-vilões. Na chegada do século 21, muçulmanos extremistas cometem genocídio em solo americano e destroem um dos maiores símbolos do país. Como isso se refletiria nos quadrinhos? Seriam os muçulmanos mal-vistos e transformados em vilões ou haveria mais respeito pela diversidade? Dez anos depois, já podemos dizer.

A primeira reação nesse sentido ocorrida nesse sentido foi a série do Capitão América (poderia ser outro?) do selo Marvel Knights, escrita por John Ney Rieber e ilustrada por John Cassaday e lançada em junho de 2002. A história começa com o Capitão ajudando no resgate de vítimas no World Trade Center, onde é convocado por Nick Fury para ajudar na caça a terroristas no Afeganistão. Ele recusa a missão e só se convence quando impede que um americano branco mate um muçulmano inocente, dizendo a ele que não adianta nada cair no ódio racial e que eles devem combater o verdadeiro inimigo. Com isso, parte para a missão oferecida por Fury, que é o tema de toda a série.

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Também em 2002, agora em dezembro, as questões chegam ao universo mutante com a revista New X-Men #133 do polêmico escritor Grant Morrison. Nesta edição, ele cria Soraya Qadir, a , uma mutante afegã que havia sido vendida como escrava em seu próprio país. Ela é libertada pelos X-Men e passa a estudar no Instituto Xavier. Ao fim da fase Morrison, continua tendo destaque entre os mutantes. O mais interessante em Soraya é sua religião islâmica e sua burka (vestimenta que esconde quase a totalidade do corpo feminino), que não foram abandonados com sua mudança para a América do Norte.

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Mas a história mais épica envolvendo essas questões foi a contada por Mark Millar e desenhada por Bryan Hitch em Os Supremos 2, originalmente publicada de dezembro de 2004 a maio de 2007, parte do universo Ultimate da Marvel. Reagindo ao assustador avanço bélico dos EUA de George W. Bush, um grupo de países inimigos montou sua própria super-equipe para fazer frente ao país, os Libertadores. Nosso foco aqui é o líder dessa equipe, o iraniano islâmico Abdul Al Rahman, ou Coronel. Revoltado com a invasão do Iraque, onde vivia, pelos norte-americanos (incluindo o Capitão América em pessoa), Abdul, um adolescente franzino, se candidata a passar por experimentos médicos a fim de tornar-se um super-soldado, a fim de combater aquele que desrespeitam, invadem e destroem seu país.

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O mais interessante nessa origem praticamente idêntica à do Capitão América é a forma como Mark Millar mostrou a relatividade de culturas e ideologias, sendo que, na hora da guerra, heróis e vilões são só questão de perspectiva. Os sentimentos que levaram Abdul a tornar-se o Coronel são exatamente os mesmo que levaram Steve a tornar-se o Capitão América várias décadas antes.

Pessimismo Ideológico?

Em 2006, foi lançada nos Estados Unidos a série mais marcante da última década, já considerada um dos maiores clássicos dos quadrinhos de todos os tempos: Guerra Civil. Na história, uma Lei de Registro de Super-Humanos é aprovada em reação a uma trágedia causada acidentalmente por jovens heróis e, dividindo a comunidade super-heróica ao meio, coloca o Homem de Ferro como líder dos heróis regulamentados pelo governo, com a missão de caçar e prender os heróis fora-da-lei, defensores de sua liberdade e autonomia, liderados pelo Capitão América.

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A saga mostra a necessidade do povo norte-americano de sentir-se protegido desde a tragédia do 11 de setembro, dando apoio ao controle governamental sobre tudo que possa representar ameaça. O próprio Capitão América se entrega como prisioneiro quando percebe que não está mais "conectado" às necessidades e vontades do seu povo e acaba assassinado por uma conspiração de seu arqui-inimigo Caveira Vermelha no dia de seu julgamento. Essa saga e as história subsequentes de mesmo tom são vistas por alguns como reflexo de um certo pessimismo ideológico surgido no país após os atentados e as guerras travadas pelo então presidente Bush. Há quem diga ainda que a atual Era Heróica marca o fim dessa fase, refletindo uma era mais esperançosa surgida nos EUA com a eleição de Barack Obama, um presidente jovem e negro, aposta que representou a esperança do povo daquele país para uma era diferente e melhor.

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Independente de qualquer visão política ou ideológica, fica aqui nossa retrospectiva das influências que os atentados de 11 de setembro de 2001 e suas consequências tiveram nos quadrinhos Marvel. O artigo fica também como tributo a todas as vítimas e heróis da vida real envolvidos na tragédia, assim como a seus familiares.

Léo

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