quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Thor: O Inverno está Chegando...

“O inverno está chegando...” é o lema da família Stark, senhores de Winterfell. Para que não haja confusão entre personagens, os Starks a qual faço referência são personagens da série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo”, cuja série adaptada pela HBO, “Game of Thrones”, virou um dos maiores fenômenos de audiência daquele canal. Ao ler a minissérie "Thor: Por Asgard", lembrei exatamente do lema dos senhores de Winterfell. Apesar que, para Thor, o inverno já chegou!

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“Thor: Por Asgard”, de Roberto Rodi (o mesmo autor de Loki) e Simone Bianchi (Wolverine e Surpreendentes X-Men), contém uma leitura muito interessante de Asgard e seu evento apocalíptico, o Ragnarok. Aqui, Asgard sofre com um ininterrupto inverno que já dura há mais de dois anos. Balder, o Bravo, está morto em razão das maquinações de Loki. Odin está desparecido e Thor, a pedido do Pai de Todos, assume o comando do reino, tarefa da qual tem sido o maior fardo de sua vida. Além dos problemas internos, Thor deve conter as insurgências dos antigos aliados/súditos dos outros nove reinos, que aproveitam o momento de fragilidade de Asgard para se rebelar, isso sem contar que, em razão do inverno sem fim, a fonte de imortalidade dos deuses está com seus dias contados. É, sem dúvida, a hora mais negra da Cidade Dourada

O tom da história, magistralmente conduzida por Bianchi e Rodi, é de desolação, bem longe do clima heroico que os leitores do personagem estão acostumados a ver. Aqui, o peso da regência é enorme, a ponto de Thor não ter mais condições de erguer seu malho mágico, o Mjonir. Aliás, o Thor de Rodi é um personagem que passa bem longe do que estamos acostumados. Aqui, Thor tenta, de todas as maneiras, manter o império de Asgard sobre os nove mundos, mesmo que para isso seja necessário cometer uma série de atos vis, como assassinar crianças e mulheres indefesas, fato ocorrido durante a incursão sobre Jotunheim. Além dos problemas externos, Thor tem que lidar com as constantes discussões de Tyr (o guerreiro) e Lady Sif (a diplomata) sobre como conduzir a política interna e externa de Asgard. Tyr crê que o melhor caminho é a força, enquanto Sif prefere o diálogo e conciliação. Além do racha em sua corte, Thor tem que lidar com traidores, que são pessoas que não concordam com a forma como Asgard conduz o comando dos nove reinos. Somado ao fato de que a imortalidade dos deuses está ameaçada e os constantes pesadelos que ele tem com seu irmão Balder, Thor assiste, de uma posição privilegiada, à queda de Asgard

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É interessante a interpretação que Rodi e Bianchi fazem do ragnarok. Na verdade, os autores inserem o evento em um contexto de desmantelamento de um império, que jaz atacado por inúmeras ameaças, algumas delas ainda desconhecidas. As tentativas desesperadoras de manutenção do império acabam por legitimar os atos de rebeldia dos outrora aliados. Aliás, aliados forçados, que sempre esperaram por um momento para se voltarem contra os Asgardianos. Isso sem contar as inúmeras divisões que existem dentro da própria corte, divisões das quais o deus do trovão se mostra inapto a controlar. São inevitáveis as comparações com os grandes impérios da história, como o caso do Império Romano, ainda mais pela forma como é retratado o desmantelamento de Asgard, afogado em invasões, rebeliões e problemas internos. Obviamente, o texto de Rodi ainda permite uma comparação com os Estados Unidos da Améria, que, para muitos, é um império que está prestes a conhecer a sua decadência.
 
Obviamente, Rodi não pode dar a Thor o mesmo destino que deu a Loki em sua homônima minissérie. O Ragnarok é um evento que simboliza o fim de um ciclo. E aqueles que conseguem entender isso, conseguem sobreviver à mudança. Thor, ainda que atormentado por inúmeras dúvidas, consegue entender a lógica do crepúsculo dos deuses. Consegue, inclusive, superar a própria morte. Mas isso não significa que fim dos problemas. A história contada por Rodi e Bianchi não se encerra com essa minissérie. O clima do final da história, apesar de apresentar alguma esperança, é de incerteza. Todas as ameaças, como as rebeliões dos aliados e o perigo da mortalidade, bem como o inimigo misterioso (que, aparentemente, não é Loki) ainda persistem. 

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A narrativa de Rodi muito boa. O autor consegue construtir uma boa história no estilo de "Game Of Thrones", com toda a ambientação que remete àquele gênero. Mas tudo isso não seria possível sem o desenhista certo, papel este que Simone Bianchi exerce de forma muito competente. Todo o clima de desolação e barbárie é muito bem retratado pelo grande desenhista italiano. Cenários, personagens, cenas de impacto. O italiani acerta em praticamente em todos esses pontos. Bianchi é, por natureza, um grande artista. Mas "Thor: Por Asgard" pode ser considerado um de seus grandes momentos na Casa das Ideias. 

A Panini tomou a decisão correta ao lançar a minissérie em formato de especial. Ainda que alguns critiquem a opção de lançá-la em formato de capa dura, o que encarece o produto, o material merece esse tipo de tratamento. É um produto especial, produzido por um time criativo de primeira e  que pouco (ou nada) influiu na cronologia do personagem. Nesse caso, ponto para Panini. O grande problema desses especiais tem sido os extras que acompanham a edição. Aqui, o único extra é uma pequena entrevista com Bianchi, sobre o processo criativo da revista. É pouco para um lançamento desse porte. 

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"Thor: Por Asgard" é uma boa pedida. Para leitores de quadrinhos ou não, para leitores que acompanham as histórias do personagem ou não. Lançamento altamente recomendado para aqueles que apreciam uma boa história. 

Rafael Felga

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