terça-feira, 12 de março de 2013

Fabulosa X-Force: A Saga do Anjo Negro (Parte 2)

Há alguns meses, teve início uma das histórias mais ambiciosas e emocionantes que a Marvel publicou nos últimos anos. Uma história que, embora sendo “apenas” um arco da Fabulosa X-Force, recebe (merecidamente) o título de saga. Uma história que, de tão grande e complexa, precisou ser dividida em duas partes para detalhar a jornada contra o tempo da X-Force para impedir que Arcanjo se torne o novo Apocalipse.

A primeira parte mostrou a inusitada viagem da X-Force à Era do Apocalipse em busca da Semente Vital; lá, eles puderam ver o que acontece quando o processo de transformação iniciado pela Semente Letal (implantada em Warren quando ele foi o Cavaleiro da Morte) não é interrompido (e não é algo bonito de se ver). A Semente Vital foi encontrada, mas para leva-la, Wolverine e seu grupo tiveram que deixar a Era do Apocalipse sem a única esperança de salvar seu mundo do implacável Arma X.

E talvez tudo tenha sido em vão.



Resenhar a segunda parte da Saga do Anjo Negro é uma tarefa dificílima. Pra começar, são cinco edições americanas – e, ao contrário de tantas séries onde várias edições apenas enchem linguiça, cada uma das edições da Fabulosa X-Force traz muitos acontecimentos relevantes. O Arcanjo, agora como novo Apocalipse, usou Genocídio, o Holocausto da Terra-616 (filho de En Sabah Nur e Autumn Rolfson, a primeira Cavaleira da Fome), para exterminar uma cidade inteira; em seguida, usou a Semente Vital recolhida pela X-Force para gerar vida nova e evoluída no local, agora um ecossistema incomum batizado de Tábula Rasa – iniciativa que ele pretendia repetir em escala global. Além dos quatro Cavaleiros Definitivos do Apocalipse, Warren ganhou o reforço do Fera Negro e das versões de Blob e Homem de Gelo vindas da Era do Apocalipse (sim, o Bobby Drake daquela Terra traiu seus colegas).



A X-Force, em desvantagem, virou o jogo quando Fantomex, que parecia ter fugido da guerra, na verdade foi encontrar e pedir ao Teleporter para trazer reforços da mesma realidade alternativa, trazendo a Jean Grey, Noturno, Dentes-de-Sabre, Selvagem e Solaris da Era do Apocalipse (alguém realmente pensava que a participação deles acabava na primeira parte da saga?). Mas a maior surpresa foi descobrir que o jovem clone de Apocalipse que Fantomex criava n’O Mundo tinha o propósito que ele negou ao En Sabah Nur original: aprender o valor da vida e do amor, e tornar-se um herói – tarefa que o jovem Gênesis cumpre de forma exemplar enfrentando o Arcanjo.



Baixas ocorreram de todos os lados: os X-Men da Era do Apocalipse, que já haviam perdido Kirika e Gambit, agora viram Solaris e Selvagem morrerem; Deadpool, da X-Force, foi praticamente esquartejado pelo Homem de Gelo alternativo (mas foi "remontado" por Deathlok, após este sair do conflito interno entre seus lados humano e cibernético); e entre os vilões, o Cavaleiro da Morte e Ozymandias morreram (e o Cavaleiro da Fome não deve durar muito com o sangramento da perda dos braços...).


Apocalipse... jovem e heroico? Conheçam Gênesis, o clone criado por Fantomex


Sim, tudo isto e muito mais acontece na segunda parte da Saga do Anjo Negro. Mas para dar conta de toda a história em um único texto, acho que o melhor é focar no centro da trama, aquilo que fica evidente para o leitor mais atento: apesar de todo o sangue, a Saga do Anjo Negro é uma história de amor. Sim, embora vários personagens participem da saga e tenham papéis importantes, tudo se resume ao amor de Psylocke por Arcanjo. Amor este que foi várias vezes posto à prova nessa série, com ele lentamente sendo dominado pela essência de Apocalipse, e ela lentamente cedendo às seduções de Fantomex.



Bem, o que fica claro nesta saga é: sim, Psylocke realmente amou o Arcanjo até o fim. Foi por esse amor que a ninja telepata foi incapaz de matá-lo quando teve a oportunidade, o que levou a toda a tragédia que se sucedeu. Foi por esse amor que ela se entregou como prisioneira a ele, acreditando até o último instante que o Warren que conheceu ainda estava vivo no Arcanjo e que ela seria capaz de trazê-lo de volta. Foi por esse amor que ela foi brevemente transformada na nova Cavaleira da Morte (e salva graças a Fantomex e à Jean alternativa). E foi por esse amor que, só depois de constatar que o homem que amava não existia mais, Betsy cravou a Semente Vital no coração do Arcanjo, encerrando todo o conflito por ora (afinal, parte dos Cavaleiros e seguidores do Arcanjo ainda estão à solta, e a Cavaleira da Peste está grávida dele).

O excelente desenhista Jerome Opeña cuidou da arte de quase toda essa segunda parte da saga, expressivo tanto na violência como nos dramas introspectivos. Apesar disso, o também ótimo Esad Ribic desenhou as últimas visões do Arcanjo, projetadas em sua mente por Psylocke para que os dois pudessem viver por alguns instantes a vida que não puderam ter: casamento, filhas, a chegada da velhice, a perda da saúde e da beleza... e a constatação de que isso não importava: nesse último sonho de vida, Betsy e Warren tinham um ao outro. E isso era tudo de que precisavam.



A cena é tão bonita que a história poderia ter acabado aí. Mas não acabou: enquanto a X-Force e os X-Men da Era do Apocalipse se recuperavam da guerra, Warren ressurge na neve, vivo, nu e de volta à sua forma humana (exceto pelas asas ainda metálicas). Mas não será desta vez que Betsy terá seu final feliz, pois ele não sabe quem ele é, onde está, nem quem é a moça que o abraçava: a Semente Vital fez do Arcanjo uma nova tábula rasa. O Anjo está vivo, mas o homem que Psylocke e seus amigos conheciam está morto... talvez para sempre.



E assim termina o ambicioso arco roteirizado por Rick Remender. Uma pena que a Panini o publicou de forma tão irregular no Brasil em X-Men Extra (a saber, essa segunda parte da saga saiu nas edições 132, 133 e 134), com a primeira parte da saga sendo publicada edição sim, edição não da revista. A Saga do Anjo Negro tinha grandes ambições, e conseguiu atender a todas elas: roteiro impecável onde cada acontecimento tem sua importância no todo da história, artes expressivas, surpresas, reviravoltas, e caracterizações excelentes para cada personagem, do triângulo amoroso trágico ao piadista Deadpool, ao manipulador Fera Negro e por aí vai. Um encadernado desta saga seria muito bem vindo, mas como isto não deve acontecer tão cedo, sugiro pegar as edições anteriores de X-Men Extra e reler tudo desde o começo. Não acho que seja exagero dizer que reler cada quadrinho desta saga vale toda a pena.

Fernando Saker

comments powered by Disqus