Sejamos particularmente sinceros aqui. A maxissérie que ocorreu há um ano aqui no Brasil, A Essência do Medo está longe de ser um dos trabalhos mais notórios do roteirista premiado Matt Fraction e se resume a uma longa e cansativa fase que os fãs não viram a hora de se encerrar. É tanto que a principal consequência ligada a ela, a minissérie em doze edições batizada de Fearless, parecia que não teria oportunidade para chegar as bancas brasileiras. Mas foi com muita surpresa que vimos chegar no segundo semestre, em duas edições, os encadernados “Sem Medo”.
Assinado desta vez principalmente por Cullen Bunn, mas ainda com a mão de Matt Fraction e uma ajudinha de Christopher Yost, o roteiro da história se foca principalmente em Brunhilda, mais conhecida pelos nossos leitores como a Valquíria. Já Mark Bagley é o desenhista especialmente convidado para fazer a arte aqui. E ele mandou muito bem. Combinou bastante com a arte da capa do legendário Arthus Adams.
Pegando ainda a premissa do tema principal da minissérie que gerou esse spin-off, acompanhamos duas forças opostas em busca de um único objetivo – reunir os Martelos dos Dignos da Serpente. De um lado, temos a Pecado, a nova Caveira Vermelha e ex-Skadi, sendo auxilia pelos novos descendentes da Sociedade Thule e seu fiel companheiro Ossos Cruzados. Do outro, a Valquíria, sozinha, não querendo sequer ajuda de seus amigos Vingadores Secretos e até mesmo se voltando contra eles, apenas para cumprir um papel que lhe foi incumbido por Odin anos antes.
Apesar de não ser lá um roteiro esmerado, o desenvolvimento da Valquíria aqui chega a ser bem mais desenvolvido e interessante do que a minissérie original em si. Parte do desenrolar da história acontece em outros tempos, hora quando a moça era apenas Brunhilda, amante de Siegfried e afastada do seu amor para seguir um outro destino maior, ser uma espécie de protetora contra o poder dos Martelos; em outro momento, a moça está em plena Segunda Guerra Mundial, caçando nazistas que ousadamente querem mexer com esse poder proibido. Nos dias de hoje, a moça acaba dando as costas a todos, ignora até mesmo ordens direta do Capitão América, sendo ajudada apenas pelo anão Tolor na sua sina de conquistar todos os oito martelos.
E a corrida segue por todos os cantos do planeta onde os arautos da Serpente acabaram deixando seus Martelos. O primeiro assalto ocorre contra os próprios Vingadores, quando Val trai o seus iguais para roubar o Martelo de Skadi. Na França, o Martelo de Mokk, usado pelo Gárcula Cinzento é tirado de um grupo a força pelos Ossos Cruzdos. De lá, ela vai até o Leste Europeu confrontar vampiros e, com a ajuda de Raizo Kodo, pegar o Martelo estilhaçado de Nul, outrora o Hulk. Pecado e Ossos Cruzados vão até o interior dos oceanos capturar o Martelo de Nerkood, portado por Attuma. O passo seguinte da Valquíria foi no edifício Baxter, sem precisar sequer lutar com o Coisa, para reaver o Martelo de Angir. Na Balsa, após enfrentar o que sobrou dos Thunderbolts, os acólitos de Pecado conseguiram o Martelo de Skirn, usado por Titânia.
Os dois últimos itens certamente eram os mais difíceis de se obter. O Martelo de Greithoth, que possuiu o Homem-Absorvente, estava no Projeto Pégaso e foi preciso uma trupe inteira de Vingadores para deter as forças comandadas por Ossos Cruzados. Todavia, foi com a traição de Damian Hellstorm, o filho de Satã, que o jogo reverteu e a Caveira Vermelha começou a ficar na vantagem da caça aos Martelos. Em Utopia, lar dos X-Men, Valquíria conseguiu após uma luta ferrenha com Emma Frost e Tempestade o Martelo de Kuurth, portado por Fanático.
Todavia, no fim, os esforços de Valquíria foram em vão. Quando seu esconderijo foi encontrado pelo Capitão América em pessoa afim de tomar satisfação, foi também realizado um ataque completo das forças ligadas a Pecado. Além da perda de todos os Martelos, Valquíria ainda teve outras baixas. Seu Cavalo, Ventania, foi sequestrado por Osso Cruzados. Já seu parceiro, Tolor, morreu com o impacto de uma explosão no local.
Uma vez de posse de todos os Martelos da Serpente, os planos de Pecado finalmente são revelados. Graças a seus novos aliados da Sociedade Thule, a filha do Caveira Vermelha finalmente colocara em prática um velho plano de seu pai – unir a tecnologia dos Hibernantes com a magia obscura asgardiana. E é assim que a moça transporta sua consciência para uma versão monstruosa e aparentemente indestrutível. E mesmo um ataque em massa de todas as equipes de Vingadores, foi praticamente impossível derrotá-la. Valquíria, a principal envolvida na trama, acabou sendo abatida por ela e finalmente estaria livre de seu destino para se reunir a Siegfried.
O jogo foi somente revertido para o lado dos heróis mediante duas situações peculiares. A primeira delas foi a traição de Ossos Cruzados. Brock Rumlow, assim que soube dos planos insanos de sua amante, decidiu que teria que dar uma vantagem aos Vingadores para o planeta ser salvo. Assim, entregou páginas cruciais do livro da Caveira para que Stephen Strange soubesse como derrotar a vilã. O segundo ponto foi a Valquíria desistir de se unir a seu amor numa outra vida, para que pudesse assim voltar ao mundo dos vivos e cumprir seu destino de derrotar as forças da Pecado. Returbinada Brunhilda volta trazendo gelo e morte para o lugar. Com sua espada que é capaz de expurgar almas, Valquíria ataca violentamente o hibernate e consegue expurgar a consciência de Pecado daquele constructo.
É o fim. Pecado volta para o seu corpo e foge com Brock para bem longe dali. Mas não está sozinha. Junta com os remanescentes da Sociedade Thule e de Hellstrom, está na hora de Pecado formar uma nova organização ainda mais temerária para dominar o mundo. Já os Martelos vão parar na mão de outras oito Valquírias, que se tornaram suas guardiões e usuárias. Já a nossa Val, tem outros planos. Após uma conversa com as mães de Asgardia, chegou a vez de ela mesma fazer seu destino. Desta vez, livre dos planos de Odin, ela seguirá uma outra estrada, que veremos ela seguir com algumas outras numa revista que somente chegará aqui com o Marvel Now.
A série começa muito morna, mas vai se valorizando melhor nas últimas edições. Como comentei, apesar de não ser nada de grande excelência, os caminhos aqui que foram trilhados para Valquiria nesta maxissérie me animaram bastante para ler a futura Fearless Defenders, onde Cullen Bunn assume interinamente. Para alguém pouco conhecida, ela vai ganhando substância aos poucos e te prende como protagonista dessa história, que em contrapartida já perde bastante ao não aproveitar muito para explicar mais sobre os mistérios envolvendo a Sociedade Thule e deixando ainda o plano todo final da Caveira Vermelha muito repetitivo e débil (Sério usar uma vez um robô gigante como seu pai no retorno de Steve Rogers?).
Outra coisa que me surpreendeu bastante (e que talvez seja a coisa que mais me deixou surpreso) foi a traição de Damian Hellstrom. A todo momento, acreditei que ele iria se revelar no final como fazendo jogo duplo, mas isso não ocorreu. E agora, como um dos seus braços direitos (ou seria o esquerdo?) nessa nova organização a ser criada pela Pecado, pode ser que ele se mostre alguém bem irritante pros heróis. Damian é um dos personagens mais legais inseridos na continuidade da Marvel, mas nunca mostrou o que penso ser seu verdadeiro potencial. Talvez, se ele se manter mesmo como vilão, talvez vejamos a coisa pegar literalmente fogo pra valer. E veremos mais dele nessa revista ainda.
Bom, quem comprou a edição 2 de Sem Medo sabe que não acaba por aí. Voltaremos aqui ainda para falar sobre o pequeno arco envolvendo Loki e mais de sua Jornada ao Mistério ainda. Aguardem.
Coveiro
