segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Fabulosos X-Men: Scott Summers Contra o Mundo

Como vimos na semana passada, a guerra entre Vingadores e X-Men acabou. Scott Summers, o Ciclope, sucumbiu à influência da Fênix e quase destruiu o mundo, mas foi detido a tempo pela messias mutante Esperança, que, de quebra, conseguiu com a ajuda da Feiticeira Escarlate acabar com o encanto (conjurado pela própria Wanda Maximoff) que impedia o surgimento de novos mutantes. Bom para o planeta, bom para os mutantes, não tão bom para Ciclope, agora preso e desprezado pela comunidade super-heroica e por seus próprios amigos X-Men. O último arco de Fabulosos X-Men apresenta todos esses acontecimentos pela ótica do próprio antagonista da saga: quer saber o que Scott pensava e sentia enquanto tudo acontecia? Continue lendo.



O arco foi publicado no Brasil em X-Men 140 e 141, com roteiro de Kieron Gillen. Ele consiste em três histórias semi-independentes, a primeira com arte de Ron Garney, a segunda desenhada por Dale Eaglesham (famoso por seu trabalho na série do Quarteto Fantástico), e a terceira por Carlos Pacheco. Com essa trinca de desenhistas, não faltou arte de qualidade.

Mas vamos às histórias em si: a primeira delas mostra que Ciclope e Emma Frost, mesmo em meio a uma intensa batalha nos planos físico (contra os Vingadores e os X-Men) e psíquico (contra o Professor X), ainda conseguiam ter um relativamente tranquilo jantar psíquico. Relativamente, porque ao longo da conversa, os dois parecem perceber que estavam perdendo a sanidade e humanidade. Emma sofreu o maior baque, chegando a cogitar queimar todo o planeta, a usar memórias de canibais para "temperar o jantar", e a comentar com toda a casualidade que teve um caso com Namor no plano psíquico. Como já vimos, Scott acabou atacando Emma e roubando sua metade da Fênix, deixando no ar se ele fez isso apenas para ter poder de enfrentar seus adversários ou se agiu por vingança pela traição amorosa de Emma.



Também nessa história, Colossus e Magia (agora fugitivos) falam sobre sua experiência como avatares da Fênix, e Piotr se diz horrorizado pelas coisas que fez. Para surpresa dele (e de muitos leitores), Illyana admite que era exatamente assim que ela queria que o irmão se sentisse, para que ele entendesse como ela realmente era. A regente do Limbo chega a afirmar que se ofereceu como avatar para Cyttorak porque sabia que Colossus acabaria se oferecendo em seu lugar, e assim seria corrompido como ela e entenderia que não vale a pena se sacrificar por ela, pois "não há floquinhos de neve no inferno". Obviamente, Colossus não gostou nada disso e, mesmo depois de Illyana libertá-lo de Cyttorak (na terceira história), ele jura que a matará se os dois se encontrarem de novo.



Bem, na segunda história, vemos o que acontece quando Ciclope absorveu a metade da Fênix roubada de Emma. E, se com um quinto da entidade cósmica Scott Summers estava (ou pelo menos assim parecia) em pleno controle de suas ações, agora ele mal tem consciência de seus atos, confundindo passado, presente e futuro. Em certo momento, ele vê Fera se desintegrando e se questiona se ele matou (e logo depois reviveu) seu outrora melhor amigo, ou se apenas imaginou isso. Mesmo com a combinação de poderes entre Esperança e Feiticeira Escarlate, é apenas quando Scott ouve Jean Grey (ou pelo menos ele acredita que seja ela) que a antiga hospedeira da Fênix o convence a se entregar e aceitar o golpe final.

Ao acordar, Ciclope finalmente se dá conta de tudo que fez como avatar da Fênix Negra. O ex-líder dos X-Men é duramente repreendido por Fera (que sinceramente, soa um tanto hipócrita considerando que ele sabe que Scott não estava no controle de seus atos e sabe que a Fênix só começou a agir com violência depois do ataque dos Vingadores a Utopia), mas acaba admitindo que novos mutantes surgiram pelo planeta. Feliz, Ciclope assume a culpa por todos seus crimes sob controle da Fênix, mas em nome de seu povo faria tudo de novo.



A última história foca-se em três núcleos: Unidade e Perigo, em que o psicopata espacial liberta a carcereira de Utopia do seu controle e a faz pensar sobre seu papel na ilha, tirando a liberdade de pessoas assim como outrora teve sua própria liberdade tirada, o que a leva a libertar todos os detentos da Penitenciária X. Colossus e Magia, já comentados acima. E Ciclope, agora um presidiário, e Kate Kildare, relações públicas de Utopia, que informa sobre a baixíssima popularidade atual do ex-líder dos X-Men. Mas uma notícia ruim nunca vem sozinha, e logo "Kate" revela ser ninguém menos que o verdadeiro Senhor Sinistro: prevendo a possibilidade de seu plano falhar, Essex deixou um clone cuidando da Londres Sinistra (exterminada pela Fênix no arco anterior) e assassinou a verdadeira Kate Kildare, tomando seu lugar e bloqueando a própria memória para evitar sondagens da Fênix.

É interessante observar que, no primeiro arco do relançamento de Fabulosos X-Men, Sinistro havia alertado que Ciclope se tornaria mais odiado que ele quando os dois se reencontrassem. Seja como for, ele admite que seu rival foi o vencedor na disputa, pois conseguiu fazer novos mutantes surgirem no mundo, enquanto Essex perdeu seu reino, máquinas e clones. Porém, agora ele está livre para novos planos malignos... e ninguém além de Scott sabe disso. O vilão deixa o anti-herói num impasse: Ciclope deve aceitar sua situação como preso político pelo bem dos mutantes e deixar seu arqui-inimigo à solta, ou deve escapar (causando ainda mais danos à imagem pública dos mutantes) para detê-lo? A resposta, só o tempo dirá...



E assim, Fabulosos X-Men chega (mais uma vez) ao fim. A decisão de Gillen de criar uma equipe de heróis trágicos, que acabam pagando um alto preço por seus objetivos, não deve agradar a todos. Mas é uma forma interessante de fugir do que se espera de uma história típica de super-heróis. Considero que o roteirista também merece mérito por, tendo sua revista envolvida numa saga que ele não escreveu, conseguir usá-la a favor do desenvolvimento de suas tramas, quando normalmente as sagas acabam por interromper o andamento delas.

Mas, para mim, o maior mérito veio no retrato de Ciclope: se seu antecessor Matt Fraction retratava Ciclope como um líder tão perfeito que acabava se tornando detestável, Gillen conseguiu apresentar um Scott Summers falho, muitas vezes inseguro, disposto a tomar decisões questionáveis... e ao mesmo tempo humano, sem medo de lutar pelo que acredita, capaz de se sacrificar - física e moralmente - pelo bem de seu povo. Como eu disse antes, para muitos, essa série já foi tarde. Para mim, ela vai deixar saudades...

* Sim, o título desse artigo faz referência à HQ Scott Pilgrim Contra o Mundo, do canadense Bryan Lee O'Malley. O que será pior: enfrentar os Vingadores ou a Liga dos Ex-Namorados Malignos da Ramona Flowers? Bom, isso já é assunto pra outra história...

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