quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Hulk Vermelho: Danação Eterna


O general Thaddeus "Thunderbolt" Ross  forjou a própria morte para que um grupo de vilões conhecido como "Inteligência" lhe concedesse o poder para subjugar o seu maior inimigo, o Hulk. Assim surgiu uma visão distorcida do mesmo, o "Hulk Vermelho". Como Ross não conseguiu o seu intento, ele tenta consertar os seus erros do passado sob a vigilância estreita de Steve Rogers, mas é muito mais fácil cometer outros do que consertá-los, como nos mostra este encadernado Hulk #1, da Panini, que reúne as edições de Hulk #42 a #49 publicadas nos EUA, com roteiros de Jeff Parker e desenhos de Patrick Zircher e Elena Casagrande.

No primeiro arco que compõe este encadernado, "Hulk da Arábia", encontramos o Golias Rubro em combate com um de seus mais aguerridos inimigos, o General Fortean, que termina de maneira abrupta com a retirada do mesmo. Hulk não tarda a saber que isso foi devido à chegada da notícia da morte de um antigo companheiro de armas de ambos no Catar, o Coronel Will Krugauer, devido ao ataque de uma milícia separatista com armamento desconhecido. Na verdade, ex-coronel, que largou o serviço militar para se tornar um mercenário, para desprezo de Ross.

Certamente movido pela culpa e pelo desejo de vingar a sua morte, Ross parte por conta própria para o Catar. Chegando lá, ele é interceptado pelos Vingadores Secretos, o esquadrão de ações furtivas de Steve Rogers: Valquíria, Viúva Negra e Máquina de Combate, que lhe ordenam a retirada imediata daquele país.

Ele se recusa a obedecê-los e um conflito se inicia. Como se não bastasse, um super-herói da região, conhecido como "Cavaleiro das Arábias", se interpõe entre os combatentes e a situação fica ainda mais tensa. Antes que o pior aconteça, Steve Rogers surge e ordena o fim das hostilidades, sendo prontamente obedecido.

Rogers leva a todos até uma fragata ancorada no Golfo Pérsico e com a ajuda do Cavaleiro conseguem identificar o armeiro responsável por desequilibrar ainda mais a tensão geo-política da região: Dagan Shah, que lidera uma nação nômade assentada numa região entre a Líbia e o Egito batizada por seus habitantes como Sharzhad. Shah tem exportado suas armas, de tecnologia desconhecida e devastadora e recebido muitos víveres como pagamento, o que sugere que ele está construindo um lar permanente para o seu povo. O problema é que ele certamente não irá parar por aí, mas até que um país membro da Otan sofra uma agressão de Sharzhad, não há o que ser feito. Logo em seguida, o Cavaleiro se retira da reunião de maneira intempestiva e decide deter Shah por conta própria. Hulk pede a Rogers para permanecer na região mais um pouco. Este discorda a princípio mas logo é convencido do contrário pelo especialista que ficou examinando os armamentos apreendidos: Aaron Stack, mais conhecido pelo codinome "Homem-Máquina", que traz informações que "sugerem implicações mais amplas que os Estados Unidos podem considerar preocupantes".

Aaron diz que encontrou tecnologia extraterrestre nos armamentos. Do sistema rigeliano, mais especificamente. Tratam-se de uma raça de colonizadores espaciais que já enfrentou o Poderoso Thor várias vezes na tentativa de colonizar a Terra. Rogers permite que Hulk se dirija a Sharzhad com o apoio do Homem-Máquina e ambos partem imediatamente para lá. No caminho, ambos são interceptados por uma espécie de grifo de tamanho descomunal, uma Manticora, de acordo com Aaron. A criatura é abatida mas o seu veneno faz com que o Hulk volte à forma humana. Para não perderem tempo, Aaron recolhe um jipe abandonado e ambos seguem em frente por via terrestre até o veículo bater em uma barreira energética invisível, que serve para ocultar a cidade de Sharzhad. É uma visão impressionante, uma cidade erigida em uma área que "não tem os recursos necessários a um ambiente como este, alguém terraformou o deserto", diz Aaron.

Subitamente, o Cavaleiro das Arábias reaparece e Aaron convence todos a se unirem no objetivo comum de saber mais sobre essa nova potência regional. O Cavaleiro conduz a todos para uma entrada na cidade, com Ross já novamente transformado em Hulk e um holograma gigantesco os recepciona e permite que prossigam.

Uma moça chamada Haya se apresenta como "membro do conselho celestial do Sultão Magus" e se oferece para levá-los ao encontro dele em seu palácio. Assim é feito mas, ao chegarem lá, Hulk e Aaron logo percebem que se trata de uma armadilha: eles veem o verdadeiro Cavaleiro aprisionado em um cristal, que absorveu todas as memórias dele e as transferiu para o impostor que os acompanhava. Eles são igualmente aprisionados por um cristal semelhante e Dagan Shah, o Sultão Magus, finalmente se revela.


Em seguida, Hulk e Aaron começam a ter suas próprias memórias absorvidas pelo cristal e transferidas para Magus. Desta forma, ele descobre as motivações de ambos e que os americanos aguardam alguma ação dele para reagirem de acordo na região. Em seguida, ele é informado por Haya de que os delegados da conferência do Oriente Médio já se encontram reunidos no Cairo. Magus, então, decide participar pessoalmente da reunião e deixa os prisioneiros aos cuidados de seus dois auxiliares.

Assim que Magus deixa o recinto, Aaron  consegue se libertar e elimina os dois carcereiros. Na sequência, ele liberta Hulk e o Cavaleiro, que ainda se encontra inconsciente.

Aaron capta no subsolo registros semelhantes ao armamento de Magus e Hulk abre caminho para lá através de um poderoso golpe. Ele e o robô atingem as profundezas da cidadela mas são atraídos pela estrutura extraterrestre que se encontra lá: um microcosmo preservado sob a superfície da Terra. De maneira inexplicável, Hulk começa a interagir com o lugar e muitos mistérios são revelados. O módulo que originou essa estrutura chegou na Terra há dezenas de milênios atrás, proveniente do sistema de Rigel, com o objetivo de abrigar o embrião de milhares de colonizadores para a Terra, que seriam enviados posteriormente. A primeira leva se perdeu e uma nova foi enviada, esta com o propósito de se integrar a um hospedeiro local para espalhar a cultura rigeliana. No entanto, sua programação foi subvertida pela vontade férrea de Dagan Shah, que encontrou e utilizou essa  tecnologia alienígena para construir a cidadela e os armamentos, além de seus auxiliares diretos. Antes de Hulk e  Aaron decidirem o que fazer, Magus retorna de sua reunião e parte imediatamente para uma ofensiva final contra ambos.

Durante esse combate feroz, a dupla avista um enorme cristal que armazena as partículas voláteis encontradas nos armamentos que Magus desenvolveu. Este demonstra a firme intenção de arremessá-los a um portal que os levaria ao sistema rigeliano utilizando-se deste cristal, mas é impedido pelo Cavaleiro das Arábias, que volta ao combate de maneira surpreendente, decepando os braços do vilão com sua espada mística.


Aaron decide utilizar essa mesma espada para impedir a chegada ao portal e conceder tempo hábil para o Hulk mudar a trajetória do cristal. Magus se recupera do golpe que sofreu mas Aaron é mais rápido e consegue arremessar para o Hulk uma espécie de granada que, ao ser detonada, impulsiona o cristal para a superfície e este é despedaçado ao colidir com a redoma que cobre a cidade. Magus se encontra visivelmente atordoado e Hulk não perde a oportunidade de tomar a ofensiva. Quando o vilão está prestes a ser derrotado, eis que surge o General Fortean com uma frustrante novidade: Sharzhad agora é um país legítimo e o Sultão Magus é reconhecido como seu dirigente. Além disso, ele concordou em parar de negociar armas. Isso quer dizer que não há mais razão para hostilidades por ora.

Muito contrariado, Hulk liberta Dagan Shah e volta para os Estados Unidos na companhia de Aaron. Enquanto isso, a Base Gama recebe uma visita inesperada: a Mulher-Hulk Vermelha, alter-ego de Betty Ross, ex-esposa do Hulk original e filha do General Ross. Ela exige falar imediatamente com o seu pai, que chega com Aaron logo em seguida. A conversa não é nada agradável, pois a Mulher-Hulk foi levada à força ao local pela personalidade de Betty. Ross quer falar diretamente com sua filha, mas a Mulher-Hulk se recusa a se transformar nela e abandona o local. É o início do arco "Céu Vermelho Pela Manhã".


Durante a estada de Ross no Oriente Médio, Anne, a Modelo de Vida Artificial que lidera a equipe de andróides responsável pela Base Gama traz novidades sobre o diário de Jacob Feinman, assistente da super-vilã conhecida como Zero/Um. Ela era a cientista-chefe da Onossapiente Sistemas até que seu corpo foi transformado por um vírus tecnomórfico durante um acidente causado involuntariamente pelo Hulk Vermelho. Inicialmente ela o culpou pela sua criação mas acabou aceitando o fato. Neste mesmo acidente, Feinman quase morreu carbonizado mas teve a pele parcialmente restaurada por Zero/Um e foi forçado a trabalhar para ela como antigamente, quando ambos tinham uma vida normal. Apesar de apaixonado por ela desde essa época, ele repassou o seu diário para Anne para que Zero/Um pudesse ser detida.

Atualmente ela se encontra em uma plataforma marítima móvel e continua realizando suas pesquisas utilizando os corpos reanimados de marinheiros incautos que tentaram invadir o lugar, batizado por ela com o nome de Ogígia, a ilha de Calipso na "Odisséia", em que os marinheiros que aportavam por lá nunca mais retornavam.

Ross e sua equipe partem em uma embarcação e chegam ao lugar da última localização de Ogígia registrada no diário. Aaron toma à frente e resolve fazer um reconhecimento aéreo. Enquanto isso, Anne vai de encontro à Mulher-Hulk Vermelha, que se encontrava escondida no interior do barco. Aaron encontra a ilha e logo em seguida chega o Hulk Vermelho. Zero/Um, através de uma central de comando, acompanha a incursão em sua ilha e manda o Névoa Negra, um assassino serial reconstruído por ela e uma leva de criaturas marinhas resultantes de suas experiências confrontar os dois invasores. O confronto que se segue é brutal e quando tudo parece perdido para os heróis, a Mulher-Hulk Vermelha intervém e consegue inverter a maré da batalha. As criaturas marinhas são derrotadas e Aaron, com a ajuda de Feinmann, consegue desativar o sistema de vida artificial do exército de Zero/Um e libertar o Névoa Negra de sua influência. Ele foge e Zero/Um se encontra à mercê de dois hulks e do Homem-Máquina. Apesar disso, ela consegue fugir e traz o pobre Feinmann consigo. Com nada mais a ser feito, a Mulher-Hulk Vermelha dá lugar a Betty Ross e ela e seu pai podem finalmente conversar em paz.

Mas ficamos sem acompanhar o desenrolar dessa conversa pois quando vemos Hulk e Aaron novamente eles estão numa ilha do Havaí derrotando uma das últimas criaturas de Zero/Um. É o início da história que fecha este encadernado, chamada "O Incidente". O que eles não esperavam é encontrar Sersi, da raça dos Eternos. Eles foram criados pelos deuses espaciais  chamados Celestiais e dividem a Terra conosco há milênios. Os Eternos desenvolveram super-poderes e preferiram se isolar da humanidade mas sempre se perguntaram se faziam certo agindo dessa forma, ainda mais com tantos humanos que desenvolveram habilidades semelhantes nas últimas décadas. 

Aaron e Hulk não demoram a perceber que a mulher ao lado deles era incomum e resolvem interpelá-la de maneira incisiva demais, o que acabou provocando a reação impetuosa de Ikaris, que acompanhava o desenrolar da discussão à distância com outros Eternos como ele. Segue-se uma breve batalha sem vencedor, interrompida devido à erupção de um vulcão causada por um golpe do Hulk. Na mesma hora, Ikaris deixa o confronto de lado e cava uma trincheira para direcionar a lava para o mar. Ao ser perguntado do porquê de ter resolvido ajudar, ele simplesmente responde: "eu protejo os fracos, não destruo os seus lares. Deixo isso para os heróis modernos". Em seguida, Ikaris e Sersi são convocados por Zuras, o regente da cidade de Olympia, lar dos Eternos. O objetivo é discutir os últimos acontecimentos e eles partem. É bem possível que o resultado dessa discussão não seja auspicioso e que, como disse Anne muito bem, eles tenham feito um inimigo desnecessário.


Eu tenho uma antipatia natural por personagens que são "spin off" de outros como Daken, X-23 e Hulk Vermelho mas preciso reconhecer que o trabalho de Jeff Parker à frente deste é muito melhor do que o dos outros dois. É uma leitura agradável, em que o escritor sabe pegar elementos e personagens que há muito não são utilizados em histórias do Hulk "verde" como o Homem-Máquina (em sua versão "clássica", não a "lisérgica" que Warren Ellis utilizou em "Nova Onda" que, aliás, gosto muito) que teve um confronto marcante com o Gigante Verde em Hulk #2 (Abril) escrito pelo Roger Stern e o "Cavaleiro das Árábias", que teve sua história de origem em uma das primeiras que Bill Mantlo escreveu para o personagem e publicada aqui em Hulk #12 (Abril). Até mesmo a utilização dos Eternos não me pareceu aleatória já que o próprio Ikaris enfrentou um "Hulk Robô" energizado involuntariamente pela "Unimente" dos Eternos, que se trata da junção de todos eles em uma consciência única. Isso ocorreu nas histórias escritas e desenhadas pelo Jack Kirby na década de 70 e essas em particular não foram publicadas por aqui. Este mesmo "Hulk Robô" foi recentemente trazido à cena recentemente como parte do arsenal da "Inteligência" no evento conhecido como "Fall of the Hulks", escrito por Jeph Loeb e Greg Pak.

Achei satisfatórios os desenhos de Patrick Zircher no arco "Hulk da Arábia", embora não tenham ficado muito bom no papel "pisa brite" utilizado pela Panini, parecendo-me emplastrados em alguns momentos. Os de Elena Casagrande, das histórias subsequentes deste encadernado, apesar de apresentarem um traço mais limpo, achei o estilo frio e impessoal, com nenhuma expressão facial nos personagens. Uma coisa curiosa que achei a respeito das edições originais desta revista é que geralmente os desenhistas das capas são melhores que os das histórias. Esta série merecia desenhistas melhores.

Sobre a Panini, acho que ela acertou em dar sequencia a este material que vinha sendo publicado em Universo Marvel e, noves fora, é melhor que tenha saído em "pisa brite" para o preço final não ficar caro demais. Trata-se de um material interessante, capaz de agradar a leitores mais antigos do Golias Verde e é acessível a quem nunca leu nada do Hulk Vermelho antes. O próximo encadernado deverá trazer as derradeiras edições desta série, que se encerra no #57, com os arcos "Haunted Hulk" e "Mayan Rule".

Carlos André
Colaborador do Marvel 616

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