quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Os Supremos: A Guerra (Falha) de Duas Cidades

* Artigo escrito por nosso colaborador, Paulo Artur

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A Europa dizimada e tomada por um grupo de pessoas evoluídas milhares de anos.  A República do Sudeste Asiático destruída e tomada como território dos Eternos e Celestiais. Os deuses de Asgard mortos. O mapa do planeta alterado drasticamente e o governo norte-americano pressionando a SHIELD por não gostar de ter “acordado” sendo a terceira (e mais fraca) potência global. Como Nick Fury e os Supremos conseguiriam resolver tantas situações simultâneas? Será que tudo iria piorar ainda mais antes de começar a melhorar?

A história começa com uma comitiva dos Supremos indo visitar as Cidades Gêmeas de Tian, a antiga República do Sudeste Asiático. Nick Fury, Gavião Arqueiro, Viúva Negra e Falcão solicitaram uma reunião com Zorn e Xorn para que pudessem falar sobre o grande problema em comum que ambas tinham: a ascensão da Cidade dos Filhos do Amanhã. A reunião não logra sucesso uma vez que os Celestiais, pacifistas por natureza, tentam entrar em contato com Reed Richards, que resolve simplesmente mandar os Filhos do Amanhã exterminarem Tian.

A batalha entre Tian e os Filhos do Amanhã é rápida e brutal: os Filhos rapidamente conseguem se adaptar e obter uma vantagem contra os Eternos, mas Zorn, em um ataque kamikaze, se torna um buraco negro que consome todo o campo de batalha, neutralizando toda a força inimiga ao custo da própria vida e de seus conterrâneos.

Enquanto isso, os Estados Unidos tinham um plano alternativo ao de Fury. Através do Agente Flumm, eles contatam Bruce Banner no Himalaia e consegue a sua cooperação para que ele ataque a Cidade em troca da libertação de sua amada Betty Ross, que era a Mulher-Hulk. O ataque é brutal e causa diversas baixas na Cidade, até ser contido por Reed, que negocia uma trégua com o Banner. Com isso, Reed e Banner pesquisam sobre o verdadeiro paradeiro de Betty e eles descobrem que o Hulk tinha sido enganado para ser uma distração para o verdadeiro plano americano: os Protocolos Invernais.

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E do que se tratariam esses Protocolos Invernais? Basicamente, uma série de planos para tirar o tapete de Nick Fury e neutralizar todos os seus principais aliados independentes: os Supremo (Muito inteligente da parte do governo querer se livrar daqueles que já salvaram o mundo diversas vezes quando se está no desespero precisando de pessoas assim...). Os primeiros a cair foram a Mulher-Aranha e o Capitão Britânia que, basicamente, não estavam fazendo nada e foram pegos de surpresa. Tony Stark e Thor foram atacados na Torre Stark enquanto trabalhavam nas melhorias da armadura de Tony. Eles conseguem subjugar os agentes, mas Tony começa a sangrar pelo nariz. Por fim, na Ásia, o Aero-Porta Aviões é alvo de um motim e, para escaparem, eles se dividem. Nick Fury desaparece, enquanto Gavião, Falcão e Viúva conseguem chegar vivos até San Francisco, onde são capturados.

Uma vez que os Supremos estavam sendo caçados e fora de ação, o Presidente Norte-Americano (cujo nome nunca é mencionado, mas cuja fisionomia lembra diretamente o Obama, embora nunca seja mostrado totalmente) inicia um discurso no Congresso Americano anunciando os Protocolos Invernais e a medida drástica para acabar com a Cidade: o envio de todo o arsenal nuclear americano contra a Cidade.

Sem nem entrar no mérito da questão de que era para a atmosfera do planeta ter sido destruída com um ataque massivo nessa escala em uma única região ou no mérito geopolítico de que esse ato fez com os Estados Unidos caíssem para a posição de quinta potência do planeta (já que Rússia e China continuariam tendo armas nucleares e os EUA não), o ataque é um grande fracasso. Apenas 12% da Cidade foi destruída e, com grande sacrifício, os Filhos do Amanhã conseguiram absorver mais do impacto das explosões (Eles salvaram o planeta!  Eles são os verdadeiros heróis nesse ponto!). Mais do que isso. Reed Richards decidiu que o melhor curso a tomar era o da retaliação e, então, enviou um operativo suicida, chamado apenas de Morte, que se teleportou para dentro do Congresso Americano e explodiu uma bomba de anti-matéria destruindo Washington e matando todo mundo na cidade!


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E, nesse ponto, a história tem uma grande queda de qualidade, com a mudança de roteirista. O novo Presidente empossado é o secretário de energia Howard, um dos poucos membros do governo ainda vivos. A SHIELD foi tomada pelo agente Flumm, seguindo os Protocolos Invernais. E Tony Stark está conversando com uma misteriosa e alucinógena versão mirim dele mesmo e, enquanto foge dos agentes da SHIELD com Thor, arruma um tempo para ser atendido pela doutora Susan Storm, no Instituto Baxter, e descobrir que seu tumor cerebral havia voltado. Nesse meio-tempo, ele aproveita e conta para ela que o seu ex-namorado tinha voltado e sido responsável pelo genocídio que aconteceu em Asgard, na Europa e em Washington.

Através de um conveniente contato com Carol Danvers, Tony e Thor conseguem conversar com o novo Presidente Howard e negociar a derrota de Reed em troca de anistia aos Supremos. Ele aparentemente se recusa a ajudar e resolve ir pelo caminho mais garantido de simplesmente entregar Tony Stark para os Filhos do Amanhã que, assim, é capturado e prestes a ser dissecado por Richards.

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Só que esse era o plano dele o tempo todo, uma vez que o tumor cerebral de Tony havia ganhado “vida” na forma de Anthony, uma criança que apenas Stark conseguia ver, mas que era capaz de controlar ou conversar com qualquer dispositivo eletrônico. Anthony fica amigo da Cidade, que resolve se rebelar contra o Criador (hã?) e, com isso, ele ainda consegue criar um “MegaZord” do Máquina de Combate que ataca Reed Richards enquanto os Filhos do Amanhã por unanimidade não fazem nada porque foram convencidos de uma hora para outra que o Reed tinha ideias retrógradas demais (hein?) e a ÚNICA alternativa do Reed, depois de MILÊNIOS de estudo e evolução, era usar o soro do Gigante no Hulk (o quê???). Nisso, dois novos lutadores invadem a Cidade: Thor e Mulher Invisível. Eles derrotam facilmente o Hulk e Reed Richards, que parece ter perdido 99% da inteligência e parecia mais um bobão balbuciando “Eu ainda te amo, Susan. Pare de me bater...”.

Com isso, a Cidade dos Filhos do Amanhã e os Estados Unidos entram em paz e a história termina da PIOR MANEIRA POSSÍVEL.

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O roteiro deste arco é bastante polêmico mesmo. Claramente, Jonathan Hickman tinha planos para que a história se estendesse mais, bem mais. Ele é um autor conhecido por seus enredos extensamente planejados, com gráficos e organogramas e esta era mais uma história com diversos sub-tramas e detalhes que revelavam a intenção dele desde o começo de amarrar tudo no clímax. Basta ver que TODAS começaram na primeira edição. O novo Jarvis, a trama de Tian, o clube Kratos, o enredo do Capitão Britânia, Asgard. Tudo foi apresentado e tudo aparentava que se mesclaria para o final da história, até pela grande questão que se teve depois de conhecermos o poderio dos Filhos do Amanhã: como derrotar um inimigo tão poderoso?

A história ora seguia lenta, ora pisava no acelerador, mas estava sendo bem construída. Era um enredo que se ficava na tensão para se saber logo o que iria acontecer na edição seguinte. Uma das melhores histórias já escritas pelo Hickman e mostrando o quão talentoso ele era. E tal qual um jogador de futebol que se destaca tão bem até que resolve abandonar o time na semi-final da Libertadores para ir jogar na Europa, ele abandonou a história pela metade por uma “oferta irrecusável” da Marvel, que hoje sabermos ser o comando da franquia dos Vingadores.

E com tantos bons nomes para substituírem o autor, a Marvel resolveu arriscar em novo talento, Sam Humpriess, que pareceu agir como uma criança de três anos tentando completar uma obra de arte. Ele simplesmente esqueceu quase todas as sub-tramas, esqueceu o personagem do Nick Fury (que era praticamente o protagonista desde a primeira edição) e resolveu colocar encerrar a trama da cidade de qualquer jeito, o mais rápido que pudesse. Com diversos personagens e conceitos caídos quase que literalmente de pára-quedas na história e uma solução extremamente covarde e simplória para a situação, praticamente um acinte contra o leitor, ele conseguiu terminar o arco em tempo recorde. Foi de uma maneira apressada tal que o nome do arco faz referência à Tian e ele nem se dá o trabalho de mencionar o que aconteceu com ela nas três edições finais!

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E o pior de tudo é que nunca saberemos o final dessa história já que, uma vez perguntado no formspring sobre como a trama seria terminada se ele continuasse a escrever, e ele disse que não poderia responder porque seria “falta de ética” com o Humpriess. E a falta de ética do Humpriess em terminar a história assim??? É como se o sexto volume de Crônicas de Gelo e Fogo fosse apenas um parágrafo escrito “E os dragões cresceram, mataram todo mundo e queimaram Westeros. Fim.”...

Mas se teve um grande perdedor, além do leitor, foi o Universo Ultimate, que perdeu um run que tinha tudo para ser tão épico quanto os dois primeiros volumes de Millar e Hitch (err... bem... Isso se ainda sobrasse Universo Ultimate com mais uns dez ou quinze edições do Hickman, dado o nível de destruição do enredo... ^^’ ).

Na arte, enquanto se manteve na revista a dupla Esad Ribic e Dean White continuou um sinônimo de arte de primeira qualidade, uma das melhores duplas no mercado de quadrinhos americanos atual. Já a arte da segunda metade do arco foi uma síntese do próprio arco: inconstante, corrida, nem chegando aos pés da primeira metade. Mesmo contado com artistas reconhecidamente talentosos, quando o roteiro e os prazos não ajudam, o resultado acaba sendo mesmo uma arte “qualquer nota”.

Os autores da história podem ser divididos em duas partes: A parte realmente boa da história, as três primeiras edições, tinham Jonathan Hickman nos roteiros, Esad Ribic na arte e Dean White nas cores. Já a parte imprestável tinha Sam Humpriess cometendo o roteiro, a arte dividida entre Luke Ross, Butch Guice, Leonard Kirk, Patrick Zircher e Ron Garney e as cores entre Mathew Wilson e Matt Milla.

Essa história foi publicada originalmente nas edições 07 a 12 da revista Ultimate Comics The Ultimates e, aqui no Brasil, saiu em Ultimate Marvel 34 a 39.

Paulo Artur
Colaborador do site Marvel616

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