Nos últimos meses vimos o Capitão América vivenciar uma experiência que misturou dois aspectos incompatíveis com o perfil de suas histórias. Um muito recorrente – a ligação que ainda mantém com um passado longínquo, cuja distância faz dele um homem e um herói fora do seu próprio tempo, que se mantém são pelos poucos elos que cultiva no presente. Outro, quase alienígena, nos vários sentidos da palavra, quando ficou por anos isolado de tudo que lhe era familiar, apesar de na Terra pouco tempo ter passado. A exceção de todo esse estranhamento foi a convivência com uma criança que acabou se tornando seu filho por adoção, Ian. Com a conclusão desse primeiro longo arco em Capitão América & Gavião Arqueiro número 9 (do qual comecei a falar meses atrás, lembra?), essa estranha mistura acaba com consequências trágicas, ficando difícil falar que Steve Rogers emergiu vitorioso do confronto com Arnim Zola.
Zola, aliás, sem nenhuma dúvida, é a contraparte de Steve não apenas no sentido Herói vs. Vilão, tão caro ao confronto de escrúpulos (ou a falta deles) nas histórias de super-heróis. Lutando com sua própria sanidade e saúde, aquilo que o Capitão América tenta legar ao menino Ian é o exato oposto que Zola perpetua pela Dimensão Z, que incute na cabeça de Jet Zola, sua "filha", e que se desdobra em seu plano de invasão da Terra.
Jogos psicológicos, ataques frontais, crueldade desenfreada e desconsideração por qualquer tipo de vida em nome de seus mais pragmáticos interesses; é esse o Zola trazido pelo roteirista RICK REMENDER, e belissimamente ilustrado por JOHN ROMITA JR – cujos traços recentes parecem mais adequados a esse tipo de ambiente do que ao mais “pé no chão”, apesar de sempre dividir opiniões. Do seu lado, Steve tenta a todo custo, sem nenhuma real perspectiva de vitória ou de fuga, mas de sobrevivência, preservar a vida de Ian não apenas colocando-se no caminho do perigo, mas ensinando-o a ser aquilo que julga certo.
Com o perdão do trocadilho, a impotência do Capitão América é potencializada pelo destino que Remender escolheu para o protagonista no desfecho da história. Com uma inspiração que se assemelha à tragédia, o roteirista faz do heroísmo contundente o caminho para a queda do próprio herói.
Mais grave que a corrupção do menino por seu “pai biológico”, em seu suposto resgate o Capitão não consegue impedir que o mais forte elo que tem com o mundo do presente, Sharon Carter, seja responsável pelo destino de Ian.
Tocar os sentimentos e a consciência da fria e condicionada Jet a ponto dela, mesmo o amando da forma mais distorcida possível, voltar-se contra Zola é um insuficiente alento para o combalido sentinela da liberdade. Como falei, impotente, despido daquilo que o mantém são e que dá sentido pessoal à sua existência, um preço ainda maior (será?) é pago com o sacrifício de Sharon.
Dessa forma, tudo aquilo com o que Steve substituía os pilares de sua infância e de seu amadurecimento simplesmente parece desaparecer. Rogers impediu que Zola transformasse o mundo naquilo que fez na Dimensão Z à sua própria imagem. Mesmo duvidoso, pois se trata de uma consciência que circula em meio digital, o arquiteto de todo esse plano parece ter perecido em meio ao conflito. Mas o preço pago ainda é muito alto, o que lhe garantiu uma "vitória póstuma".
Com anos de traumatizante experiência, e com Jet Zola ao seu lado, o Capitão América precisará adaptar-se mais uma vez a uma vida hostil, sem as pessoas que ama ao seu lado. Sem nenhum elo aparente restando no passado, ou no presente.
João
Zola, aliás, sem nenhuma dúvida, é a contraparte de Steve não apenas no sentido Herói vs. Vilão, tão caro ao confronto de escrúpulos (ou a falta deles) nas histórias de super-heróis. Lutando com sua própria sanidade e saúde, aquilo que o Capitão América tenta legar ao menino Ian é o exato oposto que Zola perpetua pela Dimensão Z, que incute na cabeça de Jet Zola, sua "filha", e que se desdobra em seu plano de invasão da Terra.
Jogos psicológicos, ataques frontais, crueldade desenfreada e desconsideração por qualquer tipo de vida em nome de seus mais pragmáticos interesses; é esse o Zola trazido pelo roteirista RICK REMENDER, e belissimamente ilustrado por JOHN ROMITA JR – cujos traços recentes parecem mais adequados a esse tipo de ambiente do que ao mais “pé no chão”, apesar de sempre dividir opiniões. Do seu lado, Steve tenta a todo custo, sem nenhuma real perspectiva de vitória ou de fuga, mas de sobrevivência, preservar a vida de Ian não apenas colocando-se no caminho do perigo, mas ensinando-o a ser aquilo que julga certo.
Com o perdão do trocadilho, a impotência do Capitão América é potencializada pelo destino que Remender escolheu para o protagonista no desfecho da história. Com uma inspiração que se assemelha à tragédia, o roteirista faz do heroísmo contundente o caminho para a queda do próprio herói.
Mais grave que a corrupção do menino por seu “pai biológico”, em seu suposto resgate o Capitão não consegue impedir que o mais forte elo que tem com o mundo do presente, Sharon Carter, seja responsável pelo destino de Ian.
Tocar os sentimentos e a consciência da fria e condicionada Jet a ponto dela, mesmo o amando da forma mais distorcida possível, voltar-se contra Zola é um insuficiente alento para o combalido sentinela da liberdade. Como falei, impotente, despido daquilo que o mantém são e que dá sentido pessoal à sua existência, um preço ainda maior (será?) é pago com o sacrifício de Sharon.
Dessa forma, tudo aquilo com o que Steve substituía os pilares de sua infância e de seu amadurecimento simplesmente parece desaparecer. Rogers impediu que Zola transformasse o mundo naquilo que fez na Dimensão Z à sua própria imagem. Mesmo duvidoso, pois se trata de uma consciência que circula em meio digital, o arquiteto de todo esse plano parece ter perecido em meio ao conflito. Mas o preço pago ainda é muito alto, o que lhe garantiu uma "vitória póstuma".
Com anos de traumatizante experiência, e com Jet Zola ao seu lado, o Capitão América precisará adaptar-se mais uma vez a uma vida hostil, sem as pessoas que ama ao seu lado. Sem nenhum elo aparente restando no passado, ou no presente.
João
