sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Fabulosa X-Force: Eu, eu mesmo e Betsy (e eu mais uma vez)

Ao final do primeiro volume de Fabulosa X-Force, roteirizada por Rick Remender, Psylocke e Fantomex pareciam prontos para viver felizes para sempre. Quando a série foi relançada na fase Nova Marvel, com Sam Humphries nos roteiros, a ninja telepata retornou para os X-Men sozinha, violenta, desbocada e mal-humorada. É hora de saber o que aconteceu nesse meio tempo e entender o que afetou Betsy desse jeito.



O arco aqui resenhado foi publicado nas edições 006, 007 e 008 de X-Men Extra. Aqui, o resto da equipe foi deixado de lado, com o arco parecendo quase uma história solo da Psylocke. Sua estrutura é um tanto complicada, pois em cada edição, a ação no presente se mistura a flashbacks do passado. Para facilitar as coisas, em vez de falar de cada edição por vez, falarei primeiro dos flashbacks e depois do presente, OK?

Então, vamos descobrir o que aconteceu: Betsy e Fantomex realmente passaram a viver como um casal apaixonado, ora se divertindo na cama, ora vivendo a emoção de roubos arriscados, com ele a convencendo de que precisavam fazer isso para pagar o tratamento de sua mãe (mas ela não tinha morrido?). Morando com o casal, estava a atenciosa Cluster, um dos três clones de Fantomex (vale lembrar, o próprio Jean-Philippe atual é um clone do Fantomex original), constantemente “segurando vela”. Mas não demorou até que a obsessão de seu amado por roubos e mentiras deixasse Psylocke cansada dele... e, ao desabafar com Cluster, percebeu que era nela que estava o cérebro de Fantomex que a amava. Betsy enfim reencontrava de verdade seu amor.



Sim, leitoras e leitores, Psylocke beijou outra mulher. E gostou. E as duas não pararam por aí. Algo interessante é que nenhum leitor pareceu se incomodar com isso: estaríamos finalmente nos tornando mais tolerantes com toda forma de amor? Será que a série de relacionamentos da ninja já levou todos a esperarem qualquer coisa dela? Talvez considerem que não se trata de um relacionamento gay, já que apesar do corpo de Cluster ser feminino, seu cérebro pertencia a um homem? Ou, o mais provável, pouca gente se importava com essa série pra saber o que acontecia nela? Seja como for, uma coisa é certa: Cluster se mostrou uma amante muito mais atenciosa e carinhosa que seu “irmão”.

Mas Betsy nem fazia ideia de quão longe Jean-Philippe podia chegar. Quando ela decidiu roubar para Cluster o Champanhe-Rei do Louvre, descobriu que os guardas do local estavam devidamente preparados contra sua telepatia... com máscaras iguais à de Fantomex! Ao disparar o sistema de segurança do local, uma rajada fria levou à morte de um dos guardas – e assim, a promessa de Psylocke de nunca mais matar foi pelo ralo... Furiosa, ela voltou ao esconderijo do trio para matar seu namorado... até descobrir que Cluster não só dormia com ele (o que é um tanto perturbador, se lembrarmos que eles são clones um do outro e dois terços de uma mesma pessoa), mas estava disposta a matar Betsy ou morrer para salvá-lo. Furiosa, a ninja partiu, jurando que um dia encontraria Fantomex sozinho e o mataria.

Agora, de volta ao presente: Fantomex foi sequestrado por Arma XIII – o terceiro clone do Fantomex original, que “herdou” o poder de desorientação e o instinto assassino – e Cluster convenceu Psylocke a ajudá-la em seu resgate. Juntas, as duas rastrearam um subordinado do vilão até um clube em Madripoor, onde garotas de programa se vestiam como super-heróis. Uma delas, ironicamente vestida como Psylocke na época pré-troca de corpos, indica a localização do criminoso na “suíte Deadpool” (é sério). Mas, ao perseguirem o capanga, as duas acabaram caindo na armadilha de desorientação do chefão...



Assim, Arma XIII acabou matando Psylocke, certo? Errado! Apesar de prender a heroína, ele aproveitou a oportunidade para criar com seus poderes a ilusão de um ambiente romântico e declarar todo seu amor por ela – ou seja, os três clones são apaixonados pela mesma pessoa! E ela, por qual dos três seria? Arma XIII tentou convencê-la de que ele não é o assassino que seus “irmãos” diziam, e que apenas ele a amava de verdade, enquanto Fantomex e Cluster a manipulavam para seus próprios objetivos (a pior parte: isso talvez seja verdade). Mas, antes de tomar qualquer decisão, ela fez um único pedido: a chance de confrontar seu antigo amor, cara a cara.

E, ao reencontrá-lo, os dois lavaram bastante roupa suja: ele a acusou de tê-lo traído com Cluster, ela o culpou por ter armado sua captura no Louvre. Logo, o confronto deixou de ser verbal e passou a ser físico, mas, ao ter a oportunidade de matar Fantomex, ela o poupou, dizendo que ele terá que passar o resto da vida sabendo que um se aproveitou da vulnerabilidade do outro. A decisão dela, claro, deixou Arma XIII furioso, mas não tão furioso como ela, que percebeu que sua declaração de amor não passou de uma tentativa de manipulá-la para que ela fizesse suas vontades: nesse acesso de fúria, Betsy soltou o Urso Demoníaco de sua mente, que prontamente atacou o vilão – ao final, não sobrou rastro do Arma XIII, mas a X-Man sabe que ele continua à solta.

Após toda a confusão, Cluster e Fantomex tentaram convencer Psylocke a perdoá-los. Dispostos a mudar, os dois anunciaram até o plano de voltar à Sala Branca e serem fundidos de volta em um só corpo. Também ofereceram o Champanhe-Rei para um brinde... Betsy preferiu beber a garrafa sozinha, voando de volta para Los Angeles... deixando um problema para trás, sem saber que outro estaria à sua frente, com os planos da Rainha das Aparições cada vez mais próximos de se concretizar...

Assim termina o arco envolvendo Psylocke e os “Fantomexes”, uma história de amor um tanto confusa com as idas e voltas. A arte foi dividida, com Adrian Alphona desenhando os flashbacks de forma leve, expressiva e emotiva – infelizmente em contraste com a arte pouco inspirada de Dalibor Talajic nas cenas do presente, em geral bem menos interessantes de se ler. Para quem gostou do romance estabelecido por Rick Remender na série anterior, a forma como Humphries conduziu esse romance deve parecer no mínimo um insulto. Seja como for, pelo menos é uma ponta solta a menos para o andamento da trama, que talvez agora possa se concentrar devidamente na ameaça da Rainha das Aparições.

Fernando Saker

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