segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Loki: As histórias nunca acabam



Temos um Loki velho e mau contra um jovem e disposto a ser algo bom. Nessa disputa por aquele que irá sobressair-se, um deles morre mas ressurge como algo novo. Um Loki um pouco mais maduro que o jovem e com um ar mais experiente e olhar mais malicioso. Ele é o Loki das Histórias e está preparando um novo plano cheio de requintes teatrais para mostrar a que veio. Mas seria ele capaz de sobreviver ao fim de tudo no Multiverso?

Em sonho ou não, Odin tem um encontro com os Deuses dos Deuses, aqueles que foram considerados mortos num dos ragnaroks (antes mesmo d'A Queda dos Vingadores, lembra?) e que retornam com a promessa de devolver a Odin tudo o que ele quer em troca da derrocada dos inimigos. Assim, Odin convoca o Conselho dos Mundos e inicia os preparos para a batalha final antes das realidades se destroçarem. Nem todos atendem, nem todos mais estão dispostos a como antigamente morrer lutando antes do fim de tudo. Até mesmo Freyja tem suas diferenças com Odin, mas irá ajudá-lo.

Já no apartamento de Verity Willis, o novo Loki já um tanto adulto se apresenta a ela e um questionamento se levanta - Ele seria o verdadeiro Loki? Há um verdadeiro Loki? Nem mesmo Verity está conseguindo ver a verdade ali. Então, este novo Loki se transmorfa mais uma vez como sendo a Lady Loki e isso deixa a sua amiga ainda mais confusa. Lá fora, os heróis estão batalhando na última incursão, mas a Lady Loki ainda sabe que irá haver histórias a serem contadas mesmo no fim. Só que ainda há uma que não sabemos - Qual a história de Verity Willis?


Longe de Midgard, os deuses e seres dos nove outros mundos se preparam para os últimos dias a seu modo, de gigantes de gelo de Jotunheim a demonios de fogo de Muspelhein até os aesires de Vanahein, Mas Hela em Hel tem outros planos e junto com seu pai, o velho Loki, arquitetam destruir a Terra 616 e assim impedir no último instante a incursão final e salvando muitos outros mundos. Para consagrar o Ragnarok como deve ser, o Velho Loki decapta o deus Balder e assim libera das profundezas do inferno uma esquecida Serpente do Mundo, Jormungandr. Comandados por Tyr, um exército de mortos de Hel avança sobre o espaço da Terra.



Do outro lado, surge Odin com uma metralhadora de helicoptero e Freyja com fuzis. São presentes da Terra que ela guardou de outros tempos e assim estariam mais que aptos a batalhar pela Terra, num clima bem filme de ação anos 80. Mesmo armados até os dentes, os Asgardianos ainda tinham bastante desvantagem. Todos os mortos do seu lado, poderiam eventualmente passar para o lado de Hel quando perecessem e isso só aumentaria as fileiras de Hela e Loki. Num sacrifício único, Freyja partiu para cima da Serpente de Midgard e a destruiu morrendo no processo. Assim, a Grande Mãe foi parar em Valhala.



No meio da batalha, Odin soprou a trombeta de Gjallarhorn e assim pode ele convocar os seus mortos pro seu lado. Quem também atendeu o chamado foram Lorelei e Sigurd, que antes presos em formato de pedra na Ilha do Silêncio, agora preencheriam as fileiras do lado de Odin. Vostalgg foi um que também foi parar em Valhala e encontrou vários companheiros caídos e Freyja. Agora ao toque da corneta, os portões foram abertos para eles voltarem aos mundos. Mas antes, Lorelei e Sigurd tinham um presentinho midgardiano pra entrar no clima "maneiro" dos anos 80 - óculos Ray Ban.




Voltando agora para o apartamento de Verity, temos finalmente ideia de como surgiu os poderes da moça e até mesmo nos surpreendemos com sua origem. A menina é ninguém menos que filha de Roger Willis e neta de Eric Willis, que você com certeza deve ter ouvido falar muito bem na fase de Walter Simonson no Thor (Se não, corra atrás disso já). Aparentemente a família Willis além de guarda a Caixa dos Invernos Antigos, tinha um anel  asgardiano em sua posse chamado Andvari.  Era um anel mágico capaz de reconhecer as mentiras dos outros. Quando Verity nasceu, logo quando pequena, a menina engoliu o anel que se integrou ao seu corpo misteriosamente. Desde então, a menina cresceu descobrindo qualquer mentira e isso tornava sua vida um inferno. Foi assim durante muito tempo até que decidiu se vincular a um site de encontros de casais e acabou topando com ninguém menos que o jovem Loki.

Terminada a história da moça, Lady Loki a transforma em um fantasma e deixa seu corpo caído no apartamento. Era essa a maneira de ela preservar sua amiga no fim de tudo, pois inevitavelmente mundos iriam realmente colidir e tudo acabar. Loki e Verity surgem então no meio do campo de batalha entre as forças asgardianas e de Hel, surpreendendo até mesmo o velho Loki que acreditava ter matado sua versão mai jovem. Aquele, no entanto, era um novo Loki (que agora, retornava a sua forma masculina) e vinha cheio de charadas para seu "eu" futuro. Será que o destino era tão fatídico assim para o filho adotado de Odin ser sempre o vilão?

No meio daquela guerra, surgem então os restantes das forças em apoio ao chamado do todo-poderoso Odin - Freyja e os retornados de Valhala, Bill Raio Beta, Karnilla dos Nornes e Iduun e suas valquírias antigas. Sem chance, o velho Loki do futuro fugiu para além da realidade, um espaço em branco onde sobreviveria ao fim. Para quem restou, o jovem era tido como um "coringa" e disputado para apoiar um dos dois lados. Mas aquele Loki não estava disposto a brincar ali, que os deuses fizessem o que fazem no Ragnarok e se autodestruíssem. Ele e o fantasma da Verity iriam também para o além das realidades.

Nesse ponto da história, estamos num momento em que pode ser definido como atemporal, ocorrendo talvez em qualquer ponto além das maxissérie das Guerras Secretas. Ante o fim de tudo, Loki e Verity encarariam agora os Deuses de acima, aqueles que são adorados por asgardianos. E eles desejam histórias e quem melhor que Loki para entregar isso a eles? Começa então a narrativa do jovem Deus das Histórias resgatando o tempo antigo onde os skadis eram criativos e bastaria um trovão e relampago para imaginarem a existência de deuses. E com isso o contador de histórias do tempo antigo alimentava a imaginação de todos ante uma fogueira e surgia de sua mente todo um panteão de entidades. Teriam os deuses realmente visitado aquele povo em algum tempo ou teria aquele povo criado histórias tão mágicas que ganharam vida?



Ante a isso, Loki se questiona se os humanos foram capazes de criar algo fabuloso, será que os Deuses dos Deuses não teriam o mesmo princípio? Não seriam a vida deles apenas criadas pela imaginação dos asgardianos? Quem criou quem? No meio dessa narrativa, temerários por saber uma verdade que não gostariam, os Deuses que sentam acima desaparecem dali. Resta então apenas Loki com Verity no espaço vazio, e ao longe, um velho Loki que perdeu o jogo. Vitorioso, o jovem Loki puxa a cabeça de sua versão futura e a faz sumir no tempo. Já seu outro "eu" mais novo que foi morto lamenta em outro canto por ter falhado em ser algo novo e ter machucado pessoas próximas. Mas no fim, este novo Loki que surgiu salienta que mudou um pouquinho e no fim seu plano anterior tinha uma intenção melhor.

Agora, o novo Loki aguarda um novo tempo para novas histórias. Para surpresa de Verity, ele é capaz de ver que haverá futuro e ele só precisa atravessar a porta para chegar lá. Enquanto que heróis e vilões, das mais diversas versões se matam num terra temporária criada, este se prepara para o que vem a seguir...



Quando se fala em renovar um personagem, muitas pessoas associam isso a colocar um novo rosto ou roupa no conceito daquela franquia, o que é válido e sempre bom. Porém, às vezes, você pode acertar isso apenas revitalizando internamente essa personagem. Essa nova ideia de Loki veio assim, numa aposta despretensiosa que caiu anos atrás nas mãos do competente Kieron Gillen e deu muito certo. Agora, Al Ewing foi o responsável por continuar aquele trabalho e conseguiu galgar um patamar ainda maior de qualidade. Ele trouxe personagens coadjuvantes surpreendente e sempre mesclando aquele conceito moderno tão bem bolado por seu antecessor. Como maestria, deu continuidade ao complicado embaraço da trama dos diferentes Lokis e seus destinos. E, por fim, deixou o personagem ainda mais carismático do que fez os cinemas, isso sem tirar dele seu ar dúbio como "herói".

Nessa última fase que remete aos "Ultimos dias" do Deus das Histórias, Ewing consegue recriar uma ótima trama lateral envolvendo uma vertente interessante de mais um ragnarok, revitalizando conceitos para a modernidade como bem pede os tempos. Eu nunca pensei que me impressionaria mais com quadrinhos, mas ver Odin com uma machine gun foi demais! Já a parte que traz de volta, mesmo que de forma sinuosa, os Deuses acima da sombra, foi espetacular e emblemática para velhos fãs. A arte de Lee Garbett é realmente extraórdinária, conseguindo acertar bem uma narrativa que precisa trabalhar muito bem expressões de personagens que estão em foco e todo o restante do cenário some. Loki vai embora e vai fazer falta nesse tempo ausente. Mas aguardamos ansiosos o próximo capítulo.

Coveiro


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