segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Guerras Secretas: E de Extinção

Em uma das regiões do Mundo Bélico, o nascimento de novos mutantes é cada vez mais frequente e os humanos se veem próximos da extinção. Aqui, mutantes aos poucos deixam de ser alvo de preconceitos para se tornar a moda que todos querem seguir. Bem-vindos a Mutopia, área onde o futuro já chegou – mas que guarda segredos sombrios por trás de sua fachada.



A terceira edição de Guerras Secretas: X-Men revisita o marcante – e controverso – arco E de Extinção, em que o roteirista Grant Morrison reimaginou os X-Men de forma radical. Pelo menos, isso é o que se esperaria a julgar pelo nome da minissérie: na verdade, ela revisita não só esse arco, mas toda a fase de Morrison à frente dos X-Men. Só que, desta vez, os roteiristas são Chris Burnham e Dennis Culver, enquanto Ramon Villalobos tenta reproduzir a arte peculiar de Frank Quitely.

De certa forma, os eventos que acontecem em Mutopia funcionam como uma espécie de “o que aconteceria se...?”: originalmente, Charles Xavier ameaçou se suicidar quando Cassandra Nova tentou invadir sua mente pela primeira vez, mas não precisou seguir adiante. Aqui, a história é outra: Xavier atirou em sua própria cabeça, e coube a Magneto (quem diria?!) levar adiante seus planos para uma escola capaz de educar a nova e numerosa geração de mutantes no Nexo Educacional Memorial Xavier – ou Instituto Átomo. E, por incrível que pareça, ele não restringiu seu instituto aos mutantes: humanos também são bem-vindos nele.

Mais impressionante é constatar quem são os X-Men a seu lado nessa região do Mundo Bélico: Quentin Quire, Glob Herman, Pó, Bico, Angel Salvadore (aqui com o codinome Anjo – não sei se foi um erro de revisão ou se foi intencional, já que ela não teve esse codinome na história original de Morrison), Ernst, Não-Garota, Basilisco e as Cucos – todas as cinco. Agora jovens adultos, eles ajudam a cuidar das atividades no Instituto Átomo e a proteger mutantes inocentes dos O-Men, fanáticos que querem ser como mutantes matando seus ídolos para implantar seus órgãos neles.



Quanto aos antigos X-Men? Bem... agora todos já estão na meia idade e seus poderes têm falhado. Ciclope e Rainha Branca até tentam manter a vida de super-heróis, mas seus uniformes são vistos como ridículos, suas habilidades pouco ajudam e os dois acabam sendo ridicularizados por seus próprios ex-alunos. Wolverine, sem grandes surpresas, se entregou à bebida agora que seu fator de cura é quase inexistente. Fera se aposentou e agora trabalha integralmente como médico, trabalhando com inseminação artificial para casais que querem ter filhos mutantes. Quanto a Jean Grey... ninguém sabe o que aconteceu com ela desde que Xavier se matou.

Ou melhor: quase ninguém sabe. Jean entrou em coma com o refluxo psíquico da morte de Charles, e a Fênix envolveu seu corpo em um casulo semelhante a um gigantesco ovo incandescente. Esse casulo se encontra no subsolo do Instituto Átomo, colocado lá por Magneto, que pretende usar sua amante Esme e Quentin, atual líder dos X-Men, como pais adotivos para chocar o ovo psiquicamente.

Confusos? Então se preparem, porque a coisa fica mais doida ainda quando tudo começa a acontecer ao mesmo tempo: Fera dá de cara com outro Hank McCoy, completamente humano e às portas da morte. Emma e Scott convencem Logan a ajudá-los no resgate do misterioso Xorn, assim que o casal foi avisado por uma fonte misteriosa da verdade sobre o paradeiro de Jean. Isso levou a um confronto entre antigos e novos X-Men, e apesar dos novatos terem a vantagem numérica e de poderes (com a revelação de que Magneto usou mecanismos no casulo de Jean para prejudicar os poderes deles), a sorte virou com a ajuda de Quentin Quire. Quem diria que o adolescente revoltado se tornaria um homem responsável? Magneto conseguiu matar Quentin, mas precisou enfrentar Xorn, que se deixou absorver pelo Ovo da Fênix... que acabou esmagando o diretor do Instituto Átomo.



Mas mal um vilão é detido, outro aparece: lembram-se do Hank alternativo encontrado por Fera? Pois é, ele era apenas um de muitos Feras (vale lembrar, Mutopia é apenas uma parte do Mundo Bélico, e várias delas têm seu próprio Hank McCoy...) que atacam todos os X-Men, liderados por um Fera de pelagem branca que revela ser apenas uma carcaça dominada pelo verdadeiro inimigo: o vírus (?) sentiente Sublime. Antes escravizado por Magneto para a fabricação do Hormônio de Crescimento Mutante, Sublime quer não só se vingar dos mutantes por isso, mas destronar Destino e se tornar o novo soberano do Mundo Bélico (será que o Destino já percebeu que cada região do Mundo Bélico tem pelo menos um indivíduo extremamente poderoso decidido a tomar seu poder?).

A ameaça é detida por Quentin – ou melhor, por Charles Xavier, cuja mente possuiu o cadáver de Quentin e usou os dons telecinéticos avançados de seu hospedeiro para destroçar a estrutura microscópica de Sublime. Mas ele era apenas a segunda ameaça do dia, e o pior estava por vir: com toda essa bagunça, o Ovo da Fênix acabou chocando, e então descobrimos que, quando Xavier se suicidou, tanto ele como Cassandra foram tragados pelo Ovo, onde disputaram o controle da consciência de Jean Grey. Adivinhem quem ganhou a disputa?



Sim, agora temos a Fênix Negra de volta, e controlada por Cassandra Nova. O vínculo psíquico entre Jean e Scott não adiantou nada, com o outrora líder dos X-Men incinerado por sua ex-esposa, que então joga X-Man contra X-Man por puro sadismo. Com Scott morto, Emma também desiste de viver. No final, a ameaça só é detida quando Wolverine (que sempre amou Jean) consegue ligar sua mente à dela para livrá-la do controle mental e os dois se matam para levar Cassandra junto com eles.

Mutopia e o Mundo Bélico sobreviveram a todas essas provações; apesar disso, todos os X-Men morreram. Apenas Xorn reside no centro da cratera onde antes ficava o Instituto Átomo, agora como novo hospedeiro da Fênix, observando as cinzas voltarem às cinzas.

No geral, gostei de como Burnham e Culver conseguiram resgatar vários aspectos do trabalho de Morrison com os X-Men. Houve alguns escorregões, como a apresentação de Sublime como um vírus (Morrison apresentou Sublime como uma bactéria sentiente) ou o fato de a relação entre Cassandra e Ernst (Morrison sugeriu em seu último arco que Ernst seria o corpo de Cassandra com uma mente nova) ser completamente ignorada. Por outro lado, eles conseguiram evitar a confusão sobre a identidade de Xorn (aqui, Xorn é Xorn e pronto), deram destaque à família de Bico e Angel e conseguiram retratar uma história caótica e imprevisível – características que marcaram o trabalho de Morrison.

No fim das contas, essa edição talvez não seja memorável e provavelmente não estará entre os tie-ins mais lembrados de Guerras Secretas. Mas, como uma minissérie para explorar o que aconteceria se um único evento em E de Extinção tivesse acontecido de forma diferente, eu considero que o trabalho foi cumprido e de forma benfeita. Mesmo sem a Psylocke nessa história, não me arrependo nem um pouco de ter comprado essa edição; arrisco dizer que talvez seja minha favorita até agora. Mas, assim como a E de Extinção original, desconfio que ela vai dividir muitas opiniões...

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