quarta-feira, 22 de março de 2017

Guerras Secretas: X-Men '92

A conclusão da saga Guerras Secretas pode ter sido publicada no Brasil no final do ano passado, mas apenas este mês seu último tie-in (pelo menos até onde a gente sabe...) chegou às bancas. Para quem estava com saudades dos tempos em que os X-Men andavam por aí com uniformes colantes super-coloridos (não que eles sejam muito diferentes atualmente...) e suas histórias eram sempre recheadas de ação desenfreada e momentos família, sejam bem-vindos a Westchester... de volta a 1992!



O atraso de Guerras Secretas: X-Men '92 aconteceu porque não estava nos planos originais ter esse tie-in publicado no Brasil; felizmente, a grande demanda convenceu a Panini a trazer essa minissérie para cá. E não é sem motivo: muitos leitores dos heróis mutantes hoje (e mesmo leitores que depois migraram para outros super-heróis da "Casa das Ideias") tiveram seu primeiro contato com a animação desenvolvida pela Fox em 1992 (daí o nome da minissérie). Hoje, o desenho pode parecer antiquado e com animações "toscas", mas ele foi revolucionário pra sua época, em que era difícil ver um desenho de super-heróis apresentar temas como o preconceito, trazer super-heroínas em pé de igualdade com seus colegas masculinos, mostrar o lado humano e falho dos personagens ou mesmo desenvolver tramas que se estendiam por vários episódios, repletos de reviravoltas. Sem contar a abertura icônica, claro:



Pois bem, a minissérie roteirizada por Chris Sims e Chad Bowers e ilustrada por Scott Koblish começa lembrando bastante essa série animada, com os X-Men que faziam parte dela - no caso, Ciclope, Wolverine, Tempestade, Vampira, Gambit, Jean Grey e a jovem Jubileu - "treinando" em uma partida de laser tag num shopping center. Não demora muito para que Sentinelas invadam o lugar e os mutantes ajam como lembrávamos: Ciclope dando ordens, Wolverine ignorando as ordens, Tempestade dando ordens para os fenômenos climáticos, Jean sendo praticamente inútil, e por aí vai.

Mas não demora muito para as coisas ficarem... diferentes. Pra começar, após os X-Men inutilizarem os Sentinelas, Robert Kelly aparece - não mais como senador, e sim como Barão de Westchester, respondendo diretamente ao Imperador Destino. Aqui, descobrimos que a situação dos personagens é um tanto inusitada: os X-Men agora são vistos como heróis (já era hora!) e os mutantes conquistaram sua aceitação na sociedade. Mas isso só foi possível depois de uma grande batalha entre eles e a versão definitiva da Irmandade de Mutantes recrutada por Magneto, incluindo Dentes-de-Sabre, Mística, Fanático, Groxo, Avalanche, Pyro e até Emma Frost em seus trajes de Rainha Branca (pelo jeito, nessa realidade ela devia ser agente dupla da Irmandade e do Clube do Inferno). No final, os X-Men salvaram a humanidade, mas Magneto acabou morrendo em batalha - uma diferença grande em relação ao desenho, que terminou com ele mudando de ideologia e assumindo o lugar do Professor X como mentor dos X-Men.



Durante a conversa com Kelly, um soldado deixa escapar a existência do Instituto Montes Claros, um local para onde todos os mutantes com tendências violentas eram enviados para aprender a viver em sociedade. O barão, que se tornou um aliado de confiança dos heróis mutantes, garantiu que os pacientes do instituto não sofriam maus-tratos, mas o Professor X considerou sensato enviar seus alunos - todos os já citados acima, mais o genial Fera - para uma visita ao local. Lá, eles foram recebidos pela diretora do instituto, Cassandra Nova. Sim, como vocês já devem ter percebido, algo aí está muito errado...

Embora os mutantes no local realmente pareçam bem-tratados e apresentando grandes melhoras em seu comportamento, tudo não passava de uma armadilha de Nova, que convenceu os X-Men a experimentar sua máquina para terapia mental - na verdade, ela permitia que Cassandra desenterrasse os pensamentos mais profundos de cada um e os usasse para remodelá-los como "heróis modelo" ou, caso eles se recusassem a mudar, mantê-los presos em suas mentes. Wolverine, Gambit e Vampira caíram no primeiro grupo, enquanto Tempestade ficou no segundo. Para ajudar, quando Xavier tentou sondar a mente de Nova à distância, ele foi surpreendido pelos poderes mentais dela - ou melhor, deles: como a própria Cassandra revelou, ela é um clone de Charles criado por Apocalipse (que, assim como Magneto, também supostamente morreu enfrentando os X-Men)... e possuído pelo Rei das Sombras.

A partir daí, qualquer semelhança com o estilo da animação dos anos 90 é deixada de lado e a história vira uma espécie de desconstrução dos clichês dos anos 90 (vide a nova e complicada origem de Cassandra Nova: qualquer semelhança com as origens de Conflyto, Revanche, Massacre e afins não é mera coincidência). Temos, por exemplo, os "anti-heróis radicais" personificados pela X-Force: o grupo, formado por Cable, Bishop, Psylocke, Arcanjo, Dominó e Deadpool, traz vários estereótipos da época, como as armas gigantescas de Cable e Bishop, o excesso de violência (vide o Dentes-de-Sabre decapitado pelo Deadpool sem motivos - e sim, ele continuou vivo mesmo assim) e a postura de "bater primeiro e perguntar depois". Isso, aliás, vira um problema, quando Cassandra revela que já esperava que a X-Force invadisse seu instituto e usou isso para jogar neles a culpa pelo ataque que o Barão Kelly sofreria...



O plano da vilã era usar o Sentinela Dez (uma monstruosidade criada com restos de vários Sentinelas) para matar Kelly, enquanto seus "X-Men politicamente corretos" (Logan pacifista ao extremo, Vampira e Gambit noivos e dispostos a só arriscarem contato físico depois de casar) salvariam os civis na região; com isso, Destino nomearia Cassandra como nova Baronesa de Westchester. Ela até usou seus poderes para jogar todos os pacientes do Instituto Montes Claros contra a X-Force. Porém, Psylocke impediu que ela transformasse Jean na Fênix, e como a ninja telepata estava acompanhando Xavier numa tentativa de convencer Kelly que os X-Men não tinham traído ele, ela conseguiu ganhar algum tempo ao soltar os Lobisomens Guerreiros do ex-senador. Logo, X-Men, X-Force e vários pacientes do Instituto Montes Claros vieram para reforçar a batalha, enquanto Wolverine, Gambit e Vampira escaparam do controle mental e se juntaram à briga.

Apesar disso, mesmo a Fênix de Jean foi incapaz de vencer os poderes combinados de Cassandra e do Rei das Sombras: apenas Xavier (cujo alter-ego psíquico curiosamente ganhou a forma do Massacre), com reforços psíquicos de Jean, Psylocke e Cable, foi capaz de separá-los e disparar o Rei das Sombras para outra dimensão. Mas a ameaça do Sentinela Dez continuava, e Cassandra (que jurava que todas suas ações tinham sido controladas pelo Rei das Sombras... será mesmo?) já não tinha mais controle sobre ele para pará-lo. Apenas uma série de lasers bem disparados poderia interromper o funcionamento dele...



Assim, coube a Jubileu, mestra em laser tag, usar uma arma laser maior que ela mesma pra salvar o dia. No final, a ameaça foi detida, os X-Men foram inocentados de qualquer acusação, Xavier decidiu reabrir sua escola para educar os jovens mutantes (tanto os que estavam presos no instituto de Nova como os que continuavam surgindo na sociedade), e Jean e Scott decidiram tirar férias pela primeira vez desde que se juntaram à equipe. Tempestade passou a ser a nova líder do grupo, enquanto Psylocke e Bishop aceitaram juntar-se aos X-Men. Tudo está bem quando termina bem... só que não: Cassandra continua à solta, agora treinando o misterioso Joseph, que tem ligações com Magneto, enquanto Kelly reúne-se às escondidas com Exodus, Mística e Bastion: os quatro são os novos Cavaleiros do Apocalipse. E En Sabah Nur não só está vivo, como pretende entrar em ação em breve...



Enfim, quem esperava que Guerras Secretas: X-Men '92 fosse trazer todo o espírito de ação e família do desenho animado talvez se decepcione com essa série. O mérito dela, no fim das contas, é a série de paródias e homenagens feitas ao longo da minissérie, com aparições de dezenas de personagens conhecidos e várias referências aos quadrinhos (vide Gambit e Vampira sendo jogados contra um muro com um pôster com a ilustração da capa de X-Men #1 - aquela com a formação dos anos 90 enfrentando Magneto) - nesse sentido, a arte cartunesca de Koblish ajuda bastante.

Vale observar que esse tie-in fez sucesso suficiente pra Marvel ter dado continuidade a ele mesmo depois do fim de Guerras Secretas, rendendo uma série com mais dez edições. Se a Panini vai publicá-la no Brasil? Provavelmente não. Se ela fará falta? Eu diria que não. Apesar disso, valeu a pena ter trazido esse tie-in para o Brasil, mesmo com os meses de atraso? Pra quem quer uma leitura leve, divertida e descontraída, sem dúvidas!

Valeu, Panini!

comments powered by Disqus