segunda-feira, 16 de abril de 2018

Demolidor: O dia em que o mundo esqueceu quem é o Homem sem Medo

Após a fase do Mark Waid, as histórias do Demolidor voltaram a ter aquele seu notório ar meio Noir que se tornou tão próprio desde a fase de Frank Miller no Homem Sem Medo. O clima ficou obscuro, e a narrativa mais pesada. O personagem também retornou a suas origens, voltando pra Nova York como recuperando o status de identidade secreta (sem explicações até a edição anterior).  A grande novidade seria que o demônio da Cozinha do Inferno não operava mais exatamente sozinho, arrumou um parceiro mírim, o Ponto Cego. Contudo, na última história, Sam Chung foi vítima do próprio heróismo e perdeu os dois olhos pelas mãos do vilão inumano chamado Muso.



Neste novo encadernado do Demolidor de número #15, descobrimos que o destino de Chung não é nada bom. Ele está realmente cego agora, sem garantia de reversão, mas há a possibilidades de ao aceitar participar de experimentos com prôteses biônicas ela possa a recuperar parcialmente a visão, mas nada é certo. Sentindo-se responsável por isso, Matt Murdock assegurava ao hospital que todas as despesas ficariam por conta dele, não importasse a quantia que fosse, ele daria um jeito de conseguir. Já paralelamente, vemos que ele posava num disfarce barbudo, de óculos e boné num bar sem nome onde só frequentava a bandidagem e escória da cidade. Matt com uma mala cheia de dinheiro queria pagar bem aquele que conseguisse matar o Demolidor.

No começo, é de se estranhar essa tentativa intricada de se auto-penalisar, mas o Demolidor não teve dificuldade nenhuma de lidar com a bandidagem de quinta categoria que partiu pra cima del. Ao ligar para seu contato no bar, viu que precisava injetar mais dinheiro no "pagamento" se quisesse que os vilões mais "graudões" entrassem no esquema. Chegou até mesmo a se meter com dois novos inumanos, um pai e filho, que se viram tentados pela grana. Mas, no fim, quem ele queria mesmo enfrentar apareceu no final - O mercenário. Aquele que sempre fora seu arqui-inimigo e que precisava fazer jus a isso naquele dia.




Ao lado disso, o disfarçado Matt Murdock voltou ao lugar onde sempre ia quando suas dúvidas cresciam demais, a igreja. Conheceu o novo padre do lugar, Jordan, que com tatuagens no anti-braço, sabia muito bem se defender da criminalidade vizinha. Jordan era de uma ordem militante da igreja que secretamente ainda perdurava. Jordan foi quem orientou Matt de novo a acreditar e falar que nem todas as dificuldades do mundo podiam ser encaradas de um modo ruim, mas um sinal de que os homens deveriam dar assim mais valor ao que era bom. Foi isso que no final fez Matt institivamente mudar, sair daquele caminho com ares mais suicidas daquela vez.



Ele tinha orquestrado o plano para o matarem desta vez não para ser castigado, mas sim para atrair o mercenário da toca mesmo. Seu plano não era morrer, mas sim encontrar Lester e forçá-lo a entregar uma antiga fórmula que o vilão usou para emular os poderes do Demolidor. Assim, se Chung ficou cego por culpa indireta dele, era sua responsabilidade dar ao menino algum tipo de visão em troca. Quando finalmente conseguiu o produto que queria ao arrancar a informação do derrotado mercenário, Matt foi ao hospital, mas estava tarde demais. A mãe de Samuel Chung o levara dali e não deixou contato para Murdock encontrá-la depois.

Daí, seguimos para a segunda parte deste encadernado, que tem o importante papel de preencher o buraco que ficou naqueles 8 meses entre as edições de Waid e Soule. Quando a princípio pareceu muito bom o lance de revelar a identidade secreta pro mundo e se beneficiar disto, Murdock não contava com os revezes da escolha - seus casos eram sempre ofuscados e atrapalhados por todos saberem que ele agora era o Demolidor e a falta de privacidade que ele e a Kirsten tinham ao sair por aí. Certo momento, foram atacados em casa pela Mary Tifóide e sua casa foi incentidada. Agora, ele queria confessar a Jordan como ele reverteu tudo isso contando a pior das mentiras e enganando a todos.

Quando retornou a Nova York, Matt não tinha mais sua licença de advogado naquele estado e qualquer ataque a vilões que não tivesse provas concretas se voltava diretamente contra ele. De alguma maneira, ele tentou de tudo pra "artificialmente" voltar a ter seu segredo de volta na caixa, mas aqueles que ele confiava ajudar como  o Doutor Estranho, não conseguiam. Já os que conseguiam, como foi o caso do Mephisto que chegou a cogitar, ele não ousaria. A resposta veio então a sua porta ao receber duas crianças roxas um dia, Joe e Shallah, perseguidos por uma turba raivosa a mando do seu pai atrás dele.



Um rápido flashback misturado com a história das crianças, explica ao Padre Jordan e aos leitores quem é de fato o vilão Homem-Púrpura e do que ele é capaz. Mostra como ele escapou da prisão recentemente e como ele veio montando seu plano passo a passo de recapturar todos os filhos, enjaulá-los em uma super-máquina e assim aglomerar seus poderes a um alcance mundial. Após salvar os garotos da turba ensandecida e deixar Kirsten em segurança, o Demolidor seguiu os rastros de Zebediah Killgrave


Chegando no galpão, Killgrave conseguiu não só derrubar facilmente seus filhos como também, agora mais poderosos, dominou a mente do Demolidor. Após colocar os filhos que faltavam na máquina, o vilão poderia agora operar de uma forma mundial. Agora, também, tinha um novo modus operandis. Ao invés de fazer as pessoas fazerem o que ele queria, sua diversão sádica era fazer as pessoas justamente fazerem o que elas mais temiam na vida. E no caso de Matt Murdock, seu maior temor era ver o caos no mundo, estar ciente dele e ele ser incapaz de fazer nada. Contudo, a medida que esse temor do Demolidor chegar próximo a se realizar, mais seu senso de compromisso com os indefesos crescia e foi assim que ele conseguiu se livrar de novo do controle do Homem-Púrpura.



Uma vez livre, o Demolidor derrubou Zebediah chocando sua cara no chão e o tirando de circulação. Depois, libertou os cinco filhos de Killgrave e se despediu deles rumo a cidade para tentar parar o caos instalado por lá e salvar também sua esposa. As crianças, no entanto, resolveram dar algo ao Demolidor em troca como gratidão. Foi então que eles usaram a máquina a seu favor e deram ao herói a chance de ter sua identidade secreta esquecida para o mundo inteiro mais uma vez, salvo para quem Murdock decidisse revelar a partir dali. Assim, quando chegou em casa, Krysten não sabia mais que Matt e o Demolidor era a mesma pessoa. A biografia do personagem que iria ser lançada, agora era apenas um livro sobre o dia a dia de um advogado. Sua licença como advogado em Nova York foi mais uma vez revista e ele pode então ser empregado como promotor público. A única pessoa que acabou tendo o segredo revelado de novo foi seu grande amigo Foggy Nelson, que não estava lá muito de acordo com as decisões do herói.

De volta ao dias de hoje, Matt pediu o perdão por ter mentido pra tanta gente e continuar enganando Kirsten, agora sua ex-namorada que retornou a San Francisco. O padre Jordan, no entanto, não viu pecado nenhum no Demolidor, só uma necessidade de penitência. Assim, como uma última palavra pra confortá-lo, o sacerdote estimulou-o a seguir com um plano mirabolante de salvar a cidade de todos os malfeitores. E assim foi feito, no dia seguinte, Matt Murdock batia a porta do escritório do seu chefe com algumas ideias.



Essa edição #15 de Demolidor resume as histórias de Daredevil 15 a 20 do original, com roteiro de Charles Soule e arte de Goran Sudzuka, Ron Garney e Marc Laming. Apesar de ter toda uma cara de história de interlúdio, com um começo morno do personagem se auto-penalizando mais uma vez, essa coletânea finalmente resolve o mistério sobre como as pessoas esqueceram a ligação de Murdock e do Homem Sem Medo e foi bem satisfatório ao usar a própria mitologia do personagem para isso, sem recorrer a magia ou pactos. Outro ponto interessante é a adição do Padre Jordan como personagem, uma figura interessante para se acompanhar e que tem um ar de mistério nele, como se nem tudo dele ainda foi entendido. Até agora, é o melhor título escrito pelo Soule de todos que já fez na Marvel, é a sorte que o Demolidor sempre dá aos roteiristas.

Coveiro

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