terça-feira, 2 de março de 2010

X-Men: Divididos Lutaremos – Religando


Photobucket

A série de histórias curtas que mostra o destino de alguns mutantes após o fim dos X-Men, na saga Complexo de Messias, continua em X-Men 98, onde personagens mais clássicos e consagrados ganham foco. Vamos logo a elas, porque a coisa está boa.
Migas
(Escrita por Matt Fraction e desenhada por Jamie McKelvie)

Em algum lugar no deserto norte-americano, num trailer com a inscrição “Seja correto perante Deus” em um de seus lados, um homem vestido como padre aguarda um prato cozinhado pelo dono do estabelecimento. No monólogo que narra a história, um deles conta que aquele é um lugar onde nem um cão iria para morrer; o tipo de lugar que seu pai chamava de “cidade-cigarro”, já que ele nem mesmo terminava um cigarro na distância entre os semáforos que marcam a entrada e a saída da cidade. E deve ter visto muitas dessas, já que morreu com câncer de pulmão.

Photobucket

Já sua mãe, cozinhava “migas” para eles, um sinônimo de migalhas: os restos de comida dos patrões dela, que misturava e adicionava algum tempero secreto. O homem conta que faz quatro semanas desde que os X-Men acabaram, quatro infernais semanas onde tem vivido como fugitivo e temido até a própria sombra. Ele é um criminoso, clone do clone do clone de um assassino frio e calculista, e nada o assusta mais do que pensar que os pupilos de Xavier estão por aí, o caçando. Somando esta afirmação ao visual dos dois homens, fica claro que o cozinheiro é John Greycrow, o Caçador de Escalpos.

Servido por ele, o padre elogia seu dom e pergunta qual é sua arte ali, já que tem comido aquele prato todos os dias, e o gosto de hoje é incrivelmente parecido com os dos dias anteriores. Enquanto Greycrow relembra que, há um tempo atrás, o rasgaria no meio por importunar, o homem continua o raciocínio. Ele fala de Walter Benjamin, crítico literário que escreveu o ensaio “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”. Ele se preocupava em como a produção em massa afetaria a “aura” da arte. Ver a foto da Mona Lisa em uma revista é o mesmo que ver a obra original no Louvre? Copiar a arte muda sua essência artística?

John mataria num segundo este que define como “boiola tarado por arte”, mas tudo que faz é dizer duas palavras em espanhol: “No comprendo”. Naquela noite, ele confessa ainda estar irritado com o padre, e toma precauções extras, pois acredita que seus perseguidores estão por toda a parte. Ele não acredita no fim dos X-Men, mas sim que eles estão lá fora, em algum lugar, o procurando.

Photobucket

No dia seguinte, lá estão os dois novamente. Greycrow cozinha migas para o padre, que continua falando do trabalho de Walter Benjamin. Ele lê um trecho que afirma que, quando se faz inúmeras réplicas, essa pluralidade de cópias é substituída por uma única existência. Sobre a questão geral, o padre conclui que não há resposta. Exceto aquela que encontrou naquele balcão, comendo um prato de migas. Ele descobriu como encontrar arte na obra da seguinte forma: é seu costume procurar Deus nas coisas, divindade. Não importa quantas vezes seja feito ou o fato de que o sabor parece nunca mudar ao longo dos dias, sua alma reconhece a divindade. É possível encontrar arte no artifício se a procurarmos por intermédio do Senhor, ele diz. O irritado cozinheiro não muda sua resposta do dia anterior e, quando o cliente revela falar espanhol, ele decide que precisa sair daquele fim de mundo ainda hoje.

À noite, ele faz as malas e conta que está acostumado com a vida de nômade e sua mochila está sempre pronta para sair em cinco minutos, bastando escolher quais armas e camisetas levar. Mas ele é interrompido pelo x-man Noturno, que o ataca violentamente e questiona, em espanhol, se o vilão o compreende agora. Sim, o padre era mesmo Kurt Wagner em seu indutor de imagens, como os leitores devem ter desconfiado desde o princípio. Livrando-se sem problema das investidas do Caçador de Escalpos, Kurt conta que, embora essa fosse a intenção inicial, não está ali para matá-lo, e pergunta se ele é correto perante Deus.

Photobucket

Apesar de toda a morte e destruição já causadas por ele, Noturno imagina que talvez sim, pois ele não tem culpa, já que é uma cópia da cópia da cópia. Não foi criado com arte, mas reprodução mecânica, como um objeto desalmado. A morte como castigo não significa nada para alguém assim, pois logo surgiriam outros com o mesmo vazio no lugar de sua alma, sua arte, seu Deus. Kurt o pede que aprenda algo: pelo resto de seus dias, e dos dias daqueles que os substituírem, o perdoa de todos os pecados. Assim, ele terá a graça divina.

Finalizando, o mutante alemão conta que Walter Benjamin se suicidou enquanto fugia dos nazistas que o perseguiam devido a sua condição de judeu. Ele diz que, um dia, eles não serão mais caçados ou desprezados. Haverá milhões de mutantes no futuro, e talvez milhões de cópias de Greycrow tentando assassiná-los. Ele o perdoará todas as vezes.

Em mais um dia trabalhando em seu trailer, o Caçador de Escalpos, usando um crucifixo num cordão, pensa consigo que Noturno poderia tê-lo matado, e não entende por que não o fez. Nem um cachorro iria ali para morrer, nem o demônio iria ali para matar alguém. Vai ver, ele gostou mesmo de sua comida, ele conclui.

Photobucket

Apagar das Luzes
(Escrita por Mike Carey e desenhada por Scot Eaton)

“Eu já te amei. Por isso, achei melhor vir me despedir”. Pensando nestas palavras, o Dr. Henry McCoy chega, de carona com Wolverine, ao devastado Instituto Xavier para Estudos Avançados. Como o que pretende fazer ali pode demorar, ele dispensa o amigo, que parte pedindo para que o Fera não se afaste, e recebe uma amigável piada sobre cortes de cabelo como resposta. Sozinho, Hank adentra a propriedade, contemplando a devastação daquele lugar que haviam mantido como um abrigo seguro, sobrevivendo a todo tipo de coisa ao longo do tempo.

Ele desce ao subsolo e todo tipo de aparato eletrônico se ativa. O doutor olha para toda a desordem e se pergunta por onde começar, mas logo percebe a resposta e começa pela destruição, que é sempre o mais fácil a fazer. Hank examina a quase uma década de registros de alunos, que chama de “milagres medidos, dissecados e descritos cuidadosamente” (inclusive, o autor está bem inspirado nesta história e manda muito bem em algumas descrições e definições desse tipo ao longo dela). Talvez ainda haja um lugar como aquele um dia, e talvez Henry faça parte dele, mas ninguém tem o direito de ver os segredos dos jovens que perderam suas vidas ali expostos. E estes são os arquivos incinerados, que o Fera espalha ao vento, orando ao Deus de Newton e Einstein pela alma de Charles Xavier.

Photobucket

Depois, ele banca o faxineiro e aprecia o absurdo de se ver ajoelhado em ruínas, catando lixo em um lugar bombardeado. Mas ele o faz porque existem pequenos fragmentos de Sentinelas por toda a escola, sementes de pesadelos futuros que não podem germinar. O próximo passo é escavar até seu quarto, de onde pouco sobrou, mas, como de costume, o trivial é o mais importante. E como sua vida já foi apagada uma vez, o que resta dela é preciosíssimo para ele, mesmo que algumas vezes suas aspirações tenham sido banais ou grotescas. Ou limitadas àqueles providos de polegares opositores, ele conclui enquanto segura os restos do violão que podia tocar antes de assumir sua forma felina atual.

Mais uma vez no laboratório, Hank agora cuida do que deve ser preservado, como o antígeno do Vírus Legado. Depois de seis horas transcrevendo seu genoma, ele o envia para cinco cientistas de ética profissional confiável. Aconteça o que acontecer com ele, a cura não será perdida. Feito isso, só há mais um item na lista de McCoy, que ele cumpre facilmente, resgatando Martha Johansson, a Não-Garota, que ainda se encontrava por ali. Fera a comunica que estão de mudança, provavelmente para algum lugar de clima agradável.

Photobucket

No caminho da saída, ele passa pelo bloco onde ficavam as salas de aula, confessando que é difícil passar por ali sem relembrar o que foi um dia. Há memórias de prazer e dor impregnadas em cada centímetro quadrado. Hank para quando chega à inutilizada Sala de Perigo, que foi uma baixa inicial, não parte da grande devastação. Ele sente falta dali, mas de repente percebe que, de certa forma, a mansão inteira é uma Sala de Perigo agora. Sendo assim, larga Martha e a bagagem por um momento e extravasa com alguns pulos e piruetas aéreas ao longo do lugar.

Está feito, ele se despediu. Fechou a última caixa e a última porta. Luzes desligadas e cadeiras organizadamente empilhadas sobre a mesa. Pendurando novamente no portão a placa de “proibida a entrada”, o Fera finaliza dizendo que amanhã é outro dia, embora saiba de antemão que ele nunca vem.

Photobucket

O Buraco
(Escrita por Andy Schmidt e ilustrada pelo extraordinário Frazer Irving)

O planeta se chama Kr’kn e fica tão longe que ele nem sabe se pertence ao Império Shiar. Ele está ali há semanas, ou meses, mas não sabe ao certo, já que é difícil marcar o tempo no fundo do mar. Pelo que sabe, eles se encontram há quase trinta quilômetro abaixo da superfície, o que é três vezes mais profundo que a Depressão Mariana, ponto mais fundo do planeta Terra, vivendo na escassez de comida e luz, em isolamento total, desde que seu irmão Vulcano derrotou sua equipe e passou a governar um império intergaláctico. Ele só pensava em matá-lo, mas agora mal consegue pensar. Não deveria estar ali, ser comandante de um batalhão ou sequer soldado. Deveria estar nas montanhas do Arizona, onde estudou... mas quem se lembra de tanto tempo atrás?

É fácil para ele identificar Raza e Chod, pois gritam alto. A dor abafada de Lorna que é insuportável. Ela sabe que a intenção do inimigo é fazer ele a ouvir gritar, destruí-lo por dentro. E sempre dá certo. Seu nome é Alex Summers, ele já foi o Destrutor dos X-Men. Mas não mais. Hoje, ele não é nada além de um fracasso. Longe da fonte de seus poderes, não há o que possa fazer para proteger ou ajudar Polaris. Ele a arrastou para o espaço. Ela só queria voltar para o Arizona. Ele continua remoendo a culpa, mas é interrompido por uma transmissão de ninguém menos que seu famigerado irmão, o imperador Vulcano, que anuncia
notícias de casa.

Photobucket

Alex o pede, sem veemência, para que solte seus companheiros, e o irmão se surpreende por ele ainda não ter se dado por vencido, dizendo que assim ele o faz passar vergonha. Mas, como têm o mesmo sangue nas veias, ele decide que Alex tem o direito de saber o que o irmão mais velho dos dois anda fazendo.

Gabriel Summers começa pelo nascimento da primeira mutante após o Dia M, e a reação extrema dos Purificadores a ele. Conta que tudo que os X-Men representam se materializou naquela criança, o futuro da espécie mutante, e que Ciclope arriscou tudo para protegê-la. E que, apesar de tamanha mobilização, os heróis mutantes só conseguiram traição: Cable, sobrinho deles dois, os traiu sequestrando a bebê, enquanto outros enlouqueceram, como Bishop, que tentou assassiná-la. Tudo foi muito rápido, Scott acabou não dando conta do recado e foi o fim dos X-Men. Vulcano faz questão de dizer que seu desejo se realizou. Charles Xavier está morto. A bebê se perdeu, o futuro dos X-Men morreu.

Photobucket

Depois de reagir inicialmente com negação e mandar o irmão calar a boca, Alex se concentra por um instante e acaba dando uma risadinha. Isso irrita Vulcano, que ratifica o fato de que ele venceu, e não sobrou nada para Destrutor, ele e os amigos vão morrer ali. Quando ele pergunta se o irmão o está ouvindo, Alex responde que sim.

Xavier morreu e os X-Men acabaram, mas isso não importa, pois uma nova mutante significa um novo futuro, perspectiva, esperança. Manifestando seus poderes outra vez, Destrutor continua dizendo que, se uma nova mutante nasceu, nascerão outros e, enquanto estiver vivo, ele sabe que um dia vai pegar o irmão. A batalha está longe de terminar: isso só acontecerá quando ele encarar Vulcano nos olhos e arrancar seu coração.

Photobucket

Ideia Fixa
(Escrita por Duane Swierczynski e desenhada por Chris Burnham)

Quando nos recuperamos de um ferimento grave e não temos muita noção da realidade, uma ideia pode se fixar no cérebro, até durante o sono, e só nos resta revirar a cabeça atrás dela, pedaço por pedaço. Se obcecar pela idea. É o que Forge, o protagonista, conta, junto com sua história.

Photobucket

Estar dormindo ou acordado era indiferente, ele só pensava em componentes temporais. Se os X-Men estivessem ativos, ele teria com o que se distrair, outra forma de concentrar sua energia mental. Mas eles não estavam, e tudo que lhe restava era deitar, deixar o tempo passar e pensar em dispositivos cronológicos. Os componentes em que trabalhava eram tecnologia trazida por Cable do futuro. Usando engenharia reversa, ele fez grande avanço, antes do caos. Mas levar tiro e ter a cabeça esmagada deixou alguns brancos em sua memória. Ele precisava sair do hospital e se concentrar nas pesquisas. Se obtivesse êxito com os componentes temporais, poderia ajudar, talvez até apagar erros do passado recente.

Várias horas depois de, aparentemente, dar alta a si mesmo, Forge chegou ao Eagle Plaza, seu lar. Ele ignorou a imensa bagunça, que poderia arrumar depois. Era hora de concluir seu trabalho. Seu erro agora foi não ter verificado o laboratório com mais cuidado, e baixado a guarda outra vez. Brecha que Bishop, novamente infiltrado ali, aproveitou. Revidando seu ataque inicial, Forge aponta uma arma para seu ex-colega a fim de pará-lo. Bishop apenas afirma que não tem escolha e facilmente nocauteia o engenheiro.

Photobucket

De volta à narração, Forge afirma que todos temos escolha. Ele não sabe quanto tempo demorou, mas quando acordou, precisava saber qual era o objetivo do tira mutante do futuro ali, descobrir o que ele queria além da “bebê messias”. O que levou foi um braço robótico bem poderoso e tudo que pode encontrar da pesquisa de Forge sobre os componentes temporais de Cable, incluindo protótipos, peças sobressalentes, arquivos de computador e rascunhos. Quando percebeu que justamente o trabalho que se tornara objeto de sua obsessão estava perdido, Forge pegou a primeira coisa que encontrou – uma barra de ferro – e começou a cravar anotações no chão, a fim de registrar a ideia antes que fugisse para sempre. Ele não podia perdê-la de jeito nenhum...

Photobucket

Mas perdeu. Vários dias depois do último ataque, um Eagle Plaza restaurado e limpo é o cenário presente de onde a história era e é narrada. Forge, aparentando estar mais saudável física e mentalmente, teoriza que o fato de não ter conseguido desenvolver tal ideia pode ter a ver com a natureza das viagens temporais. Talvez as ideias não possam ser concebidas antes de seu tempo. Você pode tentar trapacear, mas o universo, no fim, apaga tudo, pondo as coisas em seu devido lugar. Forge conclui que ele talvez não possa fazer nada pelo passado ou futuro distante, e só lhe reste proteger o presente e garantir que nunca mais sejam invadidos. Ele finaliza dizendo que está cheio de ideias novas, agora. Tantas que seu cérebro nem sequer processa rápido o suficiente. Forge precisa de algum tempo, e não quer ser interrompido.

Photobucket

Isso é tudo, por enquanto. Para fechar a série Divididos Lutaremos, faltam apenas duas destas histórias, uma delas com potencial importância para uma certa especial mutante que devemos ler em breve. Mas é melhor não dizer mais nada, cada coisa a seu tempo. Fora isso, o simples fato de que a qualidade destas historias só aumenta é motivo mais do que suficiente para continuarmos torcendo para a editora finalizar devidamente a série, e não tornar pior a mancada de ter demorado tanto para publicar estes especiais.

Léo

comments powered by Disqus