segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Prelúdio para o Cisma: Xavier e Magneto



O Cisma se aproxima. Em X-Men 129, o enigmático prólogo da saga que terá forte impacto no universo mutante começou a ser publicado. Introspectivas, as histórias trazem as duas grandes vozes mutantes do passado como protagonistas. Agora unidos sob a liderança de Ciclope, o Professor X e Magneto compartilham sua sabedoria e perspectivas com Scott Summers, a fim de ajudá-lo a lidar com a misteriosa ameaça que enxergam no horizonte.


Algo está chegando a Utopia. Tudo que sabemos é que se trata de uma gravíssima ameaça a seus habitantes. Reunidos, os X-Men discutem se devem ficar e lutar ou evacuar seu lar, enquanto seu líder olha pela janela da sala, refletindo sobre que atitude tomar para mais uma vez garantir a sobrevivência de seu povo. Ciclope tem uma conversa particular com Magneto e outra com Xavier. E é nessa curta janela de tempo que ambas as histórias já publicadas do prólogo ocorrem.

A primeira parte foca no Professor Charles Xavier e conta com a arte expressiva de Roberto de La Torre. Enquanto anda em direção a seu primeiro x-man, Charles lembra um encontro com um Scott bem jovem, num campo de cevada em Westchester. O jovem Summers confessa que gostaria de ser normal e não esconde o rancor contra o preconceito que sofre. Xavier ensina ao garoto que cedo ou tarde ele encontrará alguém mais fraco que ele, que tentará destruí-lo, movido pelo medo da força que ele tem. A verdadeira força, fala Charles, está em não reagir a isso. Em manter seus óculos até o momento certo de tirá-los. Consolando-o, o professor diz que ele será um jovem formidável.


Com a chegada solicitada de seu mentor, Scott diz que todo conselho será bem-vindo. O longo monólogo de Xavier relembra os primeiros dias dos X-Men, o fato de não passarem de crianças quando ele os enviou para a batalha e o início do romance de Scott e Jean Grey. Quando um transtornado Scott lamentava não poder olhar sua amada sem seus óculos, Charles lhe ensinou que a vida impõe limitações com as quais devemos aprender a viver e que gostaria de poder fazer muitas coisas que não podia.

Mas algo que não acreditava que veria em seu tempo de vida lhe foi concedido por seu pupilo, que uniu os mutantes sob um teto seguro e um propósito em comum. Foi um caminho árduo, como são os que levam a grandes vitórias, com sacrifício e sofrimento. Charles conta que quando perdeu o movimento das pernas, um sábio médico indiano o ajudou com sua dor, que não era mais física e sim mental. O doutor o guiou a uma sala vazia, pouco mais que uma caixa, para que só saísse dali quando aceitasse seu destino. Quando o médico voltou, a dor não havia passado, mas Xavier havia encontrado um caminho para além dela.

Ele já viu Ciclope entrar nessa caixa algumas vezes e nunca soube se ele chegara a sair dela. Scott nunca demonstrou sinais de que perderia o controle, nem ao perder Jean ou tendo uma arma na cabeça apontada por seu próprio filho. O professor e seu aluno já discordaram, como todo pai e filho, e já chegaram à mesma conclusão por caminhos diferentes. Contemplaram o possível fim de sua espécie de perto e demonstraram força ao simplesmente ignorar as palavras dos que os temem e odeiam.


“E agora estamos aqui” é o mantra que Charles repete em situações como a que estão vivendo, para lembrar-se de lidar com o momento e não se distrair preocupando-se com o passado ou futuro. Perguntado diretamente se acha que Utopia deveria ser evacuada, Xavier diz que não pensa em desistir. Scott toma rapidamente o conselho e decide que devem ficar, mas que cada mutante que ali vive deve lutar. Quanto a isso, o professor fala que já mandou crianças para a batalha. A missão que acabou na morte de algumas delas, na primeira equipe de resgate que montou para salvar seus X-Men na ilha de Krakoa, tornou-se o maior de seus arrependimentos. Ciclope não pode prever o futuro e por isso mesmo Xavier o alerta de que deve tomar a decisão certa.

Com um agradecimento de Scott, Charles se afasta com seus pensamentos sobre o quanto se orgulha daquele em quem pensa como em um filho. Mas não é mais sua posição a de falar sobre isso. Summers o ultrapassou e é sobre os ombros dele que o destino do povo mutante pesa. Caso um dia Scott não suporte mais esse peso, ele sempre estará ali para compartilhá-lo.


A segunda parte da história tem a arte de Andrea Mutti, a quem a Panini não creditou o trabalho, repetindo o nome de Roberto de La Torre. Bola fora, pessoal. Agora vemos a conversa de Ciclope com Magneto, ocorrida um pouco antes do tempo que passou com Xavier.


Erik e Scott admitem o medo que sentem da situação em que se encontram e, em seus pensamentos, Magneto é mais um a admirar Ciclope, a forma como ele uniu os mutantes e o fato de ser um grande homem. Outro grande homem que ele já conheceu foi Jakob Eisenhardt, seu pai.  Um verdadeiro herói de guerra, condecorado por sua bravura ímpar. Filho orgulhoso da Alemanha, mesmo quando seu país voltou-se contra ele por conta do que era de nascença. Magneto lembra a ascensão do nazismo, a perseguição que sofreu e o apoio de seu pai, que o ensinou o dever de servir todo o seu povo, não apenas poucos escolhidos.


Ciclope pergunta qual a coisa mais importante que Magneto aprendeu e que ele precisa para seguir em frente. O mais importante para Erik seria buscar conselhos dos mais velhos e sábios, mas isso Scott já está fazendo. Ele nota que Summers não fala do fim, mas do futuro. Nisso, ele é como Jakob, seu pai.

Diante do ódio crescente contra os judeus, Jakob permaneceu otimista e, mesmo sob duros golpes de vizinhos e do governo de Hitler, sempre acreditou que a insanidade não duraria muito. As memórias de Magneto recontam os passos que levaram à morte de seus pais, sua ida ao campo de extermínio de Auschwitz e a eventual fuga de lá com Magda, a jovem com quem viveu e teve a filha Anya. Com a morte da menina, seus poderes manifestaram-se. Ele então não precisava mais ser como os judeus que via no campo de concentração, que expressavam a mais completa falta de esperança. Ele podia agora mudar as coisas, falar do futuro como seu pai fazia.

A cena pula para um flashback do primeiro encontro de Magneto com os X-Men, quando o então vilão atacava o Cabo Cidadela. Erik revela que, ao ser atingido por Ciclope com uma poderosa rajada que quase o derrubou, ele foi capaz de vislumbrar um futuro diferente do que imaginava. Mencionando uma reflexão que fazia para si no início da história, o mestre do magnetismo diz que somos todos ímãs, que se atraem e repelem de forma difícil de prever. Alguns são apenas mais fortes que outros.



É quando Magneto dá seu grande conselho: o de que Scott não seja escravo de sua paixão, como Erik fora, que não seja escravo de nada. Ciclope também o agradece e ele comenta que vai começar a atender pelo nome de batismo, Max, pois quer que os amigos o chamem como o pai chamava.

Pensando consigo novamente, Magneto diz que não vai agradecer por nada que Scott fez ou está prestes a fazer, pois seus agradecimentos não são o bastante. Por isso, agradece em nome de seu pai, Jakob Eisenhardt, de Nuremberg, um bom judeu e verdadeiro herói alemão.


Escrito por Paul Jenkings, o prelúdio traz reflexões interessantes através de grandes caracterizações. Embora algumas páginas que fazem pouco mais que recapitular momentos clássicos dos X-Men possam deixar a história um pouco maçante, a sensibilidade do roteiro é admirável em diversos momentos.

É curioso como o prólogo não revela praticamente nada sobre a saga, mas desacelera e toca nas questões pessoais que envolvem o momento. Confesso que achei a história bem mais relevante do que eu esperava, mesmo que em outro nível. O restante do prelúdio deve trazer a questão para o presente, focando em Ciclope e Wolverine e suas diferenças. Até lá.

PS.: Lembrando que esse é um artigo BR, portanto comentários com informações inéditas no Brasil são estritamente proibidos.

Léo

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