Os primeiros sinais da vinda da Fênix para a Terra já apareceram lá, na edição 0 da minissérie. Primeiro, o retorno de Cable, ensandecido e fazendo tudo que podia e se voltando contra todos para que sua “filha”, a Messias mutante, cumprisse seu destino. O mutante acabou em coma, sem muitas respostas para os futuros eventos. Mas a Fênix continuava a caminho e, como vimos na mesma edição, um membro da Tropa Nova tentava alertar todos em seu caminho. E é com isso que começamos a maior saga dos últimos tempos, Vingadores vs X-Men.
Nas páginas da primeira edição, o ritmo de terror iminente se mantém. Em algum lugar do espaço, a Fênix surge com todo seu furor e consome um planeta inteiro. Nada sobra em seu caminho. Na Terra, a equipe principal de Vingadores é surpreendida por um objeto desconhecido caindo do espaço sideral e acertando um avião em pleno vôo. Rapidamente o grupo age, salva os tripulantes e civis que estavam no ponto de impacto. E, para surpresa de muitos, o tal “ovni” era nada menos do que um Nova. Não o Rider, mas o mesmo membro que vimos na edição 0.
Passando o foco da narrativa para o outro lado que interessa desta história, vamos direto para Utopia. Lá, Ciclope está treinando de forma bastante pesada a Esperança. Provavelmente, depois de testemunhar uma manifestação da força Fênix na menina logo após o incidente com seu filho, Cable, o Líder mutante quer a todo custo garantir que a menina esteja dura o suficiente para suportar o fardo da força cósmica. Ao longe, Magneto e Emma observam tudo e questionam o atual comportamento abrupto de Scott Summers. E então, são pegos de surpresa. Tensionada pela rigidez com que o líder mutante a tratava, Esperança se descontrola e lança uma fagulha da Força Fênix contra ele. É o suficiente para Ciclope ser jogado longe e se aquietar por um momento.
Do outro lado do país, Steve Rogers e Tony Stark, respectivamente o Capitão América e o Homem de Ferro, tinham uma reunião com o presidente dos EUA. Lá, eles revelavam o incidente com o Nova e explicavam sobre os traços de energia no corpo do rapaz que levavam a crer que se tratava de algo relacionado a Força Fênix e que uma equipe já estava sendo mandada pro espaço para investigar. Então, como que confirmando as sugestões de Tony, um alarme no computador toca e denuncia que a ameaça já estava por perto. Em Utopia.
Antes de partir para a ilha, Steve Rogers tem uma conversa franca com Wolverine. O mutante canadense parece não gostar muito do andamento da conversa, mas não demonstra surpresa. Confirma tudo que Steve trouxe para ele e conta a história da Messias Mutante. Alerta ao Capitão que Scott não será amistoso quanto ao assunto e que sua escola será colocada fora da questão. Sua participação como Vingador, no entanto, é mais que requisitada.
Em Utopia, Ciclope tem uma reunião com seu “Time de Extinção”. Ele lamenta a situação mutante, como chegaram quase a extinção de forma não natural e que a verdade é que eles seriam o próximo passo. Todavia, a chance de reverter isso com o poder bruto da Fênix poderia mudar o cenário. Magneto é o primeiro a levantar a voz contra, dizendo que o discurso de Summers lembra como ele mesmo pensava no passado. Colossus o lembra de que a Fênix traz destruição e morte, mas Ciclope acredita que também há renascimento. Por fim, Emma acha que a decisão final deveria caber a menina.
Contudo, antes da conversa acabar, surge uma visita nem um pouco inesperada. Ciclope desce até a praia e vai ter seu primeiro confronto com o Capitão América. Steve não perde tempo em dizer o porquê de estar ali e diz que precisa levar a menina Esperança por acreditar que a Força Fênix esteja atrás dela. Mostrando um certo recalque do Capitão ter se dirigido a Wolverine antes de tratar com ele, Scott fala que como sendo uma mutante, a questão será tratada entre eles. Ela fica. E explica para o Capitão sua teoria de que a força cósmica possa vir em busca da sua hospedeira para trazer o renascimento da combalida raça mutante.
O Capitão percebe que Scott não cederá fácil e o acusa de estar envolvido demais com a situação para tomar uma decisão sensata, como um líder de fato tomaria. Scott devolve a questão dizendo que o Capitão e seus Vingadores nunca se envolveram na questão deles, o colocavam no lado marginal dos super-heróis. E só vinha até eles quando precisava. Nitidamente, o nível de agitação da conversa aumenta. Até Namor se diverte vendo dois de seus amigos e outrora líderes perderem a linha.
Em uma última tentativa, o Capitão América aceita que eles discutam melhor a questão depois, mas que agora é preciso levar a criança Esperança dali o quanto a Terra estava a salvo. Scott endurece a conversa e apenas pede para o Capitão sair de Utopia. Colocando no mesmo tom, Rogers diz que não está ali “pedindo”, mas sim, “ordenando” que a garota venha com ele. É o suficiente para que Summers corte as palavras e responda com uma agressão. Dispara seus raios ópticos e o máximo que Steve consegue fazer é usar o seu escudo para se defender.
E então, o modo de camuflagem de um gigantesco aeroportaviões é desligado e revela algo já esperado. Lá estão duas equipes de Vingadores prontas para cumprir o pedido do Capitão e tirar Esperança da li. Scott grita para Emma levar a menina dali, a decisão agora não mais cabe a ela. Os Vingadores descem para tomar a praia. Os X-Men juntam forças para empurrar eles de volta para fora da ilha. Começa a Guerra.
Ao traço de Romitinha, vemos o que é até os dias de hoje o maior combate que já ocorreu entre os dois grupos, um verdadeiro exército de superpoderes de cada lado. Alguns combates ali são surpreedentes até. Tchalla e Ororo, hoje marido e mulher, colocados de lados opostos. Pietro se junta ao Vingadores e mais uma vez vai contra o pai. Stephen Strange e Magia vão até o limbo expandindo a dimensão daquele combate. Mas o grande conflito ali é entre os dois líderes. Eles continuam debatendo sobre seus lados. A ação do Capitão foi desnecessariamente autoritária trazendo já seus Vingadores para lá? Ciclope não estaria arriscando a vida de todos ali em prol de sua crença? Tudo não seria diferente se o Capitão não tivesse ido antes conversar com Ciclope ao invés de ir até Wolverine?
Durante o combate a situação começa a se desenhar favorável para o lado dos Vingadores, mas não demora muito para todos perceberem ali a falta de um certo personagem que provavelmente foi tomar a decisão mais importante daquele ‘jogo’. Wolverine, acompanhado do Homem-Aranha, já estava no interior dos aposentos de Utopia quando topa com Esperança. A menina já havia derrubado os outros meninos, estava pronta para partir dali. Seu corpo está cada vez mais sensibilizado com a chegada da Fênix. E não há esforço algum dela para derrubar Logan.
Vingadores e X-Men chegam tarde demais ali. Encontram apenas todos no chão e descobrem que Esperança agora é uma foragida. O destino de Humanos e Mutantes agora está em outro lugar, ignorado. E no espaço, uma outra equipe de Vingadores se prepara deter ao máximo possível a vinda da poderosa força cósmica.
Assim acaba a primeira parte de Vingadores vs X-Men, que já coloca bem pontuado as principais questões de cada lado. No Brasil, além das duas primeiras edições da minissérie que saiu lá de forma quinzenal, temos também acompanhando o especial “Versus 1”, que traz as lutas em separado de personagens de cada lado, para o bel prazer dos fãs mais agitados. Aqui, temos Magneto versus Homem de Ferro, seguido de Namor versus Coisa. Quem vencerá? Deixo o resultado disto para vocês discutirem nos comentários já que aqui só me interessa mesmo os belos desenhos de Adam Kubert.
Agora, vamos mastigar um pouco melhor essa edição, a primeira da saga que muitos irão criticar a qualidade depois. Chega até a ser difícil tentar ser imparcial aqui já que, dentre a gama de roteiristas que compões toda essa minissérie, é justamente o Bendis quem dá o argumento inicial. Todavia, como é bem conhecido pelos seus inteligentes diálogos, o autor conseguiu muito bem colocar pontos interessantes em ambos os lados.
Se por um lado, é bem lógico que a salvação de todos supere e englobe a questão de um grupo só, vale ressaltar que este grupo, no caso, os X-Men, sempre foram colocados alheios as questões dentre os heróis, sempre marginais. Mesmo existindo uma ou outra vez mutantes entre suas fileiras, os Vingadores ostentavam um posto imaculado dentre os grandes, que sobrepunha ao que cada membro foi outrora, seja um vilão, um alien, seja um mutante. Quase nunca chegaram a tomar uma posição sobre essa questão, que até onde sabemos, chegou até mesmo a por o país em pé de guerra dentro do Universo Marvel. Ciclope acusa o Capitão disto, no qual, ele automaticamente defende-se dizendo que foi em sinal de respeito a “comunidade”. Todavia, esse respeito só é mantido até os problemas começarem a “bater na porta” dos outros. E uma questão como essa, da Fênix, é de fato um Questão de importância nacional, ou melhor, internacional.
Paralelamente, percebe-se que o líder dos X-Men já alcançou ao máximo o limiar de tensão. Provavelmente acumulando tudo o que aconteceu nos últimos dias – a volta da Wanda em Cruzada das Crianças, a separação de parte de seu grupo com o Cisma e o retorno complicado de seu filho do futuro – Scott deixou de lado o seu perfil sereno de líder que sempre está a frente e com planos alternativos para tomar uma posição abrupta. Não importa mais o que o Capitão tem a dizer ou o que a menina Messias deseja decidir. Seu plano definitivo já está traçado na sua mente e é ele quem importa. Ele tem que de dar certo. Pois ele é seu último, sua Esperança.
Apesar de muito criticada, para mim, não há o que questionar nessas primeiras edições de Vingadores vs X-Men. Algumas críticas pessoais, vou reservar mais para frente, onde são justificáveis. Aqui, o rumo que a história toma é aquele que deve ser, pelo caminho que os personagens realmente seguiram. Mas sendo Bendis o escritor da vez, é obvio que há uma tendência para você enxergar muito bem o lado dos Vingadores até agora. Não que ele esteja correto, mas porque seja o lógico se aplicarmos ao nosso dia a dia. Em contrapartida, quem se colocar na posição do Ciclope, também vai condizente com o que qualquer um faria. Chegou para ele o momento de se apegar agora a crença, pois o jogo já está ali quase no fim. É o momento do tudo ou não.
Coveiro