sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Capitão América: Redenção no Gulag

Captain America #618

Bucky Barnes está morto. O homem que assumiu o manto de Capitão América com a benção e indicação de Steve Rogers pereceu em batalha diante da filha do Caveira Vermelha. Pecado, ao assumir a identidade do pai, tornou realidade uma velha profecia nórdica de destruição, que pode ser vista na saga A Essência do Medo. Contudo, ainda não havíamos falado no site sobre o último arco de histórias de Bucky. É o que farei nessa que se tornou uma resenha póstuma.

O arco Gulag começou a ser publicado na edição 12 de Capitão América e os Vingadores Secretos, e se encerrou no número 15, lançado no mês de setembro. E como vem sendo a tônica das histórias solo de Bucky como Capitão América, tudo se concentra no peso que seu passado como Soldado Invernal tem sobre sua nova vida e sobre as pessoas próximas a ele. Mais do que isso, o que o roteirista Ed Brubaker acaba por fazer é criar todo um background do Universo Marvel no que tange ao período da Guerra Fria, fundamentando sua trama em retcons.

Ilustrada por Mike Deodato, a primeira parte mostra um pouco das frágeis acusações que, mesmo absolvido nos EUA, levam Bucky a uma prisão na Rússia. Mas o que era uma luta pela busca, ou recuperação, de sua identidade, lhe parece totalmente perdida. A frustração por nunca conseguir algo de bom em sua vida é sentida na pele, quando percebe que a prisão para a qual foi mandado é uma armadilha, uma estrutura anacrônica (tal qual os gulags, antigos campos de concentração soviéticos) para a qual foi mandado para morrer. Principalmente porque lá ele encontra mais vestígios do seu passado, mais peças de um quebra-cabeça que parece nunca conseguir terminar de montar.

Captain America #618

É assim que Bucky reencontra um dos muitos Dínamos Escarlate que existiram; Yuri Petrovich, que ele mesmo ajudou a encarcerar na prisão que agora o contém. É isso que o leva, por influência de Petrovich, a lutar em uma arena montada dentro da prisão, preferencialmente até a morte, contra verdadeiros monstros de seu passado.

Da segunda parte em diante, com participação, além de Deodato, de Butch Guice, Stefano Gaudiano e Chris Samnee na arte, a história se volta simultaneamente para as maquinações sobre a permanência de Bucky no gulag (fruto dos planos de um antigo militar soviético, Rostov, de apagar qualquer vestígio do passado que lhe comprometesse) e sua luta por sobrevivência. O ‘time’ de desenhistas é sabiamente escolhido para narrar as três linhas narrativas que a história assume a partir daí.

Captain America #618

Treinado para não desistir, Bucky acaba ganhando notoriedade entre muitos dos internos, mas o isolamento que um lugar como aquele proporciona acaba fazendo com que só aumente as lembranças sobre sua traumática experiência como agente soviético.

É sobrevivendo ali dentro que conhece alguns internos que querem se livrar da morte certa sem nunca mais gozar de liberdade, e acaba tendo contato com um antigo Homem de Titânio, enlouquecido pelo seu serviço nesse posto, “esquecido” naquela prisão após ser dado como morto. O homem com quem teria que lutar até a morte naquela noite na arena armada.

Em paralelo, a Viúva Negra investiga, com a ajuda da Agente 13, os supostos crimes que levaram Bucky até o gulag, descobrindo que tudo se liga ao tal coronel Rostov. A participação de Steve Rogers, com a descoberta que a deportação de Bucky tinha laços com negociações com instituições do governo dos EUA (na figura do sempre controverso Henry P. Gyrich), só apimenta a história.

A partir daí, em três histórias que correm em paralelo, se desenlaça uma trama envolvendo vícios e corrupções antigos dos dois lados da Cortina de Ferro durante a Guerra Fria. Em uma trama de espionagem que acaba envolvendo também, claro, Nicky Fury, Brubaker busca tecer uma história que se afasta da dualidade simplista representada pelo confronto “gelado” entre EUA e URSS do fim da Segunda Guerra Mundial ao fim dos anos 80.

Uma última e mortal batalha na arena acaba dando a Bucky a chance de finalmente escapar, com a ajuda da Viúva Negra. E ele só faz isso porque entende que não há justiça em sua permanência, ou de praticamente qualquer outro interno, naquela prisão.

Captain America #618

Toda essa experiência, tudo o que descobriu ali e nos últimos meses sob acusações e fantasmas do passado, fez com que Bucky Barnes tivesse certeza de que seu propósito é ocupar o cargo que agora mesmo o presidente dos EUA exige que seja preenchido. Ele é, sob a aprovação de Rogers, o Capitão América. E com esse aparente sentimento de redenção que Barnes volta aos EUA para servir como vingador, e perecer em campo de batalha.

É um bom desfecho para que Bucky se despeça das histórias solo do Capitão América, uma vez que, desde o seu ressurgimento, sob a pena do mesmo Brubaker, ele lutava para se livrar minimamente do peso de seu passado, e se reconciliar com o próprio presente. Mesmo que esse presente, ao que tudo indica, tenha sido saboreado por muito pouco tempo.

João

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