sábado, 6 de dezembro de 2008

Abraçando a Mudança no Final de Secret Invasion

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Secret Invasion

Secret Invasion chegou ao seu fim na última semana, e, diante de reações diversas dos leitores, abre novas perspectivas nas histórias do Universo Marvel em 2009.

Uma das maiores reclamações que pude constatar ao fim da saga foi a que ela decepcionou. Decepcionou porque as grandes mudanças que se esperavam, ou pelo menos o grande rebuliço sobre o qual as expectativas se fundaram, não aconteceu. Pois tentando falar um pouco do que aconteceu, queria deixar aqui minha opinião sobre a história de mais uma tentativa frustrada de invasão alienígena ao planeta Terra.

Em primeiro lugar, acho que a maioria das pessoas tem uma visão das “grandes sagas” da qual não compartilho. Que visão é de que, após elas, “tudo vai mudar”, tudo vai se redefinir, um novo status dominará o universo Marvel. Bom, expandindo isso até para além da Marvel, não acredito nessa função das sagas. Um de suas principais motivações é vender. Não vejo problema em constatar isso, desde que a história seja legal.

Secret Invasion

Além disso, acredito na função transformadora das sagas. Não uma transformação radical, que redefina por longo tempo o que temos nas histórias, mas a chance de criar situações-limite nas quais é possível os roteiristas inovarem alguns aspectos dos principais títulos e personagens. Daí me vem uma outra reclamação a respeito do que Brian Michael Bendis vem fazendo desde que assumiu as rédeas do universo Marvel.

Desde Avengers: Disassemble, passando por Secret War, House of M, Illuminati, Civil War (que não é de sua autoria, mas idealizada por ele) e, agora, Secret Invasion, tudo indicava que um grande ciclo se fecharia, em grande estilo, como se espera do bom escritor que o Bendis mostrou ser na maioria de seus trabalhos. E muitos se frustraram quando perceberam, sob o anúncio da nova fase intitulada Dark Reign (alcunha forjada pelo jornalista Ben Urich na conclusão de Secret Invasion: Front Line), que as mudanças não iam parar. E aí eu pergunto, se o mundo em que a gente vive “para” de mudar.

Secret Invasion

Não, não pretendo cair em um relativismo pós-moderno excessivamente fluido, mas também não quero ler histórias estáticas em que não consigo perceber que as coisas mudam. Isso quer dizer que tudo que o Bendis toca vira ouro? Longe disso. O desfecho de Secret Invasion tem diversos problemas, mas a saga toda, assim como seu fim, tem seus méritos.

Mas, antes de falar isso, apenas para constatarmos que os trabalhos anteriores do roteirista não são vazios ou fugazes, vamos a algumas de suas conseqüências, que permanecem. Em Disassemble, os Vingadores se viram despedaçados, e sem um norte que os guiasse como antes. E continuam assim. Os grupos usando a alcunha “Avengers” se multiplicam cada vez mais, cada um com suas próprias condutas morais. Em House of M, a existência mutante foi colocada em cheque, e, depois da piração da Feiticeira Escarlate, o mundo continua com pouquíssimos mutantes cujos poderes se mantiveram intactos.

Secret Invasion

Secret War afastou de vez Nick Fury da legalidade, quebrando o elo que o veterano de guerra teve “desde sempre” com as forças governamentais. E ele continua assim, mesmo depois de ter sua parcela de participação na resistência e vitória sobre os skrulls. Illuminati demonstrou como um pequeno grupo de líderes que nomearam a si mesmos salvadores do mundo pode ser perigoso, e como isso pode respingar em cada um. Alguém lembra, além de Reed Richards, de algum Illuminati que, nesse momento, não esteja com as costas lotadas de problemas?

Secret Invasion

Civil War dividiu o mundo dos heróis em registrados e não registrados, além de estabelecer núcleos de heróis em cada estado americano. O Capitão América morreu porque o Caveira Vermelha se aproveitou da situação. E isso não mudou. E, agora, vem Secret Invasion, que desfaz muito do que o Homem de Ferro tomou para si como responsabilidade.

Secret Invasion

Porém, vamos falar da edição número 8 e de algumas perspectivas. Em primeiro lugar, a morte da Vespa. Sim, Janet van Dyne, vingadora fundadora, está morta. Usada como último recurso dos skrulls, para pelo menos morrerem levando a maior parte de seus adversários consigo, ela conseguiu morrer impedindo que isso ocorresse. A morte foi rápida, e quase sem sentido, a não ser que isso seja bem trabalhado agora que o verdadeiro Henry Pym está de volta. Aliás, a última edição toda foi corrida.

Secret Invasion

Isso nos faz pensar no retorno dos principais personagens capturados terem retornado, com vida. Não é absurdo, e tudo indicava que isso aconteceria, a partir do momento em que a matriz biológica deles se mostrava extremamente importante para os skrulls. Uma coisa que está errada. Errada mesmo. A ponto de, para mim, não haver discussão, é a suposta volta da Harpia. Prefiro nem comentar muito.

Secret Invasion

Mais alguns problemas. Nick Fury e seus novos Commandos foram subutilizados. Sem dúvidas uma das maiores “promessas” que pode nos ter frustrado. O aspecto religioso da invasão skrull também pareceu pouco explorado. Acho que a idéia da crença ferrenha dos alienígenas poderia ter sido melhor explorada com a campanha “Embrace Change”. O Quarteto Fantástico também foi subutilizado, o que foi uma pena. Outra pergunta que não me canso de fazer é: Onde estava Maria Hill?

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Vamos agora ao que acho pontos positivos da saga. Muitos dizem que os skrulls foram facilmente derrotados. Sim, foram. Porque eles são skrulls. E não é de hoje que os heróis da Terra os enchem de porrada. A raiva que eles nutrem por Reed Richards é fruto justamente disso. A sua grande vantagem nessa história de invasão era a dedicação fanática à causa e surpreender os heróis. Não foi o suficiente. Sem surpresas ou falhas aí.

Marvel Boy vai ganhar destaque pós SI. Pró! O personagem está longe de ser um simples herói ou um vilão “mau”. A história do Capitão Marvel-skrull, e sua morte, foi bem construída e muito legal. O novo Capitão América conseguiu se colocar lado-a-lado com os maiores heróis da Terra, mesmo carregando um dos fardos mais pesados que existem.

Secret Invasion

Os Inumanos tomam novos rumos (um pouco soltos desde a conclusão confusa de Silent War), os X-Men se afirmam como heróis de São Francisco, assim como a Nova Asgard se fortalece na paisagem terrestre.

O Homem de Ferro caiu em desgraça. Stark se envolveu com muito mais do que combate ao crime ou à vilania. Ele se envolveu com governos, política e dinheiro. E em um momento crítico como a invasão, que seguiu à vingança do Hulk em WWH, a corda se rompe em algum lado. E nada mais normal que o governo dos EUA criasse um “culpado” por todas as suas desgraças, facilitando seu próprio lado. Mais uma vez Bendis tenta traçar um paralelo com o mundo real (até onde é possível fazer isso, como falei em artigo anterior).

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Luke Cage e Jessica Jones se reconciliam, enquanto sua filha desaparece, seqüestrada por remanescentes da invasão. Recomendo a leitura da edição 47 de New Avengers.

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Enquanto o Homem de Ferro cai, muito em razão de suas próprias decisões, assim como por acontecimentos totalmente fora de seu controle, Norman Osborn ascende, demonstrando como o Mundo da Marvel é contraditório. E isso foi um elogio. Tem coisa mais absurda do que essa situação? Não tem. Então pegue um jornal, dê uma lida, e veja quantos absurdos você encontrará.

A idéia do “Reino Sombrio” que se inicia quando, em momento de desespero, o governo dos EUA entrega nas mãos de um psicopata a direção da comunidade dos heróis, ao mesmo tempo em que um incógnito grupo de Vingadores igualmente sombrios se anuncia, é contígua ao alvorecer da quase extinção do planeta Terra como se conhecia.

Secret Invasion

Um de seus maiores sinais é a formação dos “Dark Illuminati”, bizarro grupo que, liderado por Osborn, reúne ainda Namor, Emma Frost, Loki, Dr. Destino e o Capuz. Heterogêneo até dizer chega, traz um príncipe sub-marino que por diversas vezes esteve em cima do muro, uma pragmática mutante, que provavelmente está ali para preservar sua espécie, o deus da mentira, o poderoso ditador megalomaníaco e a “revelação” do mundo do crime (que esconde sob sua capa mais do que aparenta), sob a batuta do novo “dono do jogo”. Suas maquinações prometem. Assim como a reação dos heróis ao novo “líder” a quem responderão.

Secret Invasion

O desfecho de Secret Invasion teve diversos problemas sim. Uma saga desse tamanho acaba sendo cansativa em alguns momentos, e dificilmente escaparia de escorregões. Mas acho muito difícil aponta-la como um grande fracasso, assim como nunca a considerei uma obra-prima. Porém, sob o ponto de vista que acabei de expor, o Universo Marvel se mantém dentro da lógica pela qual vem sendo guiado nos últimos anos. Não consigo imaginar que em algum momento tenha deixado de apresentar grandes reviravoltas, apesar de que as novidades mais marcantes dos últimos anos tenham se mantido firmes. E, assim, sem anunciar que um dia chegaria a um final, o Universo Marvel continua... mudando.


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