quarta-feira, 10 de abril de 2013

X-Men: Tensões políticas e máquinas de combate no Poternicstão

Após o Cisma mutante, Ciclope decidiu organizar os X-Men que permaneceram em Utopia, formando equipes para lidarem com problemas específicos. Uma dessas equipes é voltada para a segurança de Utopia e atividades de espionagem e contraespionagem. E logo em sua primeira missão, o grupo se vê em meio a um conflito internacional – e com outro super-herói disposto a atacá-los por isso...



Antes de falarmos da história, falemos do contexto da série: quando X-Men (vulgo X-Men volume 3) foi lançada, a ideia para a revista era que ela fosse uma série com histórias mais leves, menos presa a questões de continuidade, e que integrasse os X-Men ao resto do Universo Marvel. Ótima ideia para conquistar novos leitores na teoria; o problema é que as coisas não foram bem assim na prática...

Só o primeiro arco da série teve seis edições (não exatamente uma história leve), fortemente calcada na continuidade envolvendo Drácula e os vampiros da Marvel; quanto à integração, tivemos Blade ofuscado em meio a dezenas de X-Men, Homem-Aranha em diálogos infames com Emma Frost, uma Motoqueira Fantasma regular, e só após mais de dez edições a prática deu certo com uma Fundação Futuro bem bacana. Por fim, embora seja compreensível que uma revista nova precise usar figuras ilustres pra chamar atenção, muitos leitores se incomodaram ao ver Ciclope, Emma Frost, Wolverine e Magneto (todos figuras centrais em Fabulosos X-Men) serem o centro das atenções em mais uma revista.

Pois bem, com o Cisma, o roteirista Victor Gischler decidiu reformular sua série. E por incrível que pareça, conseguiu fazer uma história divertida justamente tomando várias decisões que normalmente seriam consideradas desastrosas.



Para começar, o roteiro: ao espionar uma venda ilegal de sentinelas (sim, os velhos inimigos dos X-Men estão de volta...), Dominó testemunha um grupo terrorista atacando os traficantes e roubando os robôs, e vai atrás deles. A perseguição leva ao Poternicstão, território disputado entre a Symkária e a Latvéria; a responsável é a governadora Strelonivich, que quer modificar os sentinelas para atacar a Symkária e a Latvéria e assim garantir a autonomia de seu povo.

Clichê? Com certeza. Mas a trama aqui é só uma desculpa para colocar a equipe de segurança de Utopia em ação. Aqui entra outra decisão arriscada que (pelo menos por enquanto) deu certo: livre da pressão de usar os figurões, a revista de Gischler mistura os populares (mas não tão utilizados nos últimos tempos) Tempestade, Colossus e Psylocke aos menos destacados Apache, Jubileu (ex-mutante, atual vampira) e a já citada Dominó. Os três últimos são figuras que, infelizmente, costumam ser pouco aproveitadas nas revistas da Marvel; aqui, eles têm seu momento de glória em cenas de ação intensa.



Neste aspecto, ponto para a expressiva arte de Will Conrad (a terceira parte do arco, publicado no Brasil em X-Men 134.1 e 135, teve colaboração da também expressiva arte de Steve Kurth), que consegue transmitir a adrenalina e disfarça o roteiro fraco: nos traços de Conrad, até Jubileu (cuja transformação em vampira fez muitos leitores reclamarem) se mostra divertida de se ver usando seus novos poderes (na Marvel, vampiros têm superforça, resistência excepcional e podem se transformar em névoa – embora Jubileu não tenha usado esse último poder até agora).

Uma prática que Gischler manteve foi a inclusão de participações especiais de outros heróis. Aqui, quem apareceu foi o Máquina de Combate, tentando impedir que os X-Men fossem atrás da Dominó no Poternicstão e causassem um incidente internacional. Lógico que o resultado foi uma luta entre ele, Tempestade e Colossus, que no fim não deu em nada porque os symkarianos invadiram o espaço aéreo do Poternicstão enquanto os três brigavam. Em termos de enredo, a presença do Máquina de Combate faz todo sentido, embora a maior contribuição dele se limite às cenas de luta com os dois X-Men.



A história, em geral, flui sem grandes surpresas: Dominó parece morrer, mas só estava inconsciente; a governadora do Poternicstão solta os sentinelas e sobra pros X-Men e pro Máquina de Combate enfrentarem os robôs; apesar da força bruta envolvida no combate, é a inteligência que salva o dia quando Madison Jeffries (que funciona como um sétimo membro da equipe trabalhando à distância – quem vê séries policiais como NCIS ou Criminal Minds deve entender a ideia) ajuda Psylocke a desativar os sentinelas. As tensões políticas entre o Poternicstão e seus vizinhos acabam de lado, e esta talvez seja a maior fraqueza do arco: não que as atitudes da governadora não fossem típicas de uma vilã, mas a opressão do país pela Symkária e pela Latvéria fica por isso mesmo, como se estivesse tudo certo.

Seja como for, pelo menos um acontecimento inesperado acontece: quando a poeira baixa, Tempestade percebe que Jubileu sumiu. A jovem foi encontrada por um misterioso homem (quem leu a narrativa de Xavier ou a batalha contra o Hulk sabe que se trata do vampiro pacifista Raizo Kodo) e convidada a acompanhá-lo, mas Ororo e seus colegas não sabem disso. A nova meta da equipe de contraespionagem de Utopia já está definida: encontrar Jubileu. Custe o que custar.

Assim termina o primeiro arco pós-Cisma de “X-Men sem adjetivos”. Excepcional? Não. Futura premiada ou indicada ao Troféu 616? Provavelmente não (talvez pela bela arte, ou pelas belas capas de Adi Granov, quem sabe?). Divertida como leitura casual? Com certeza! Parece que Gischler finalmente achou seu rumo com essa série; agora é torcer pra que ele não perca o rumo novamente.


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