O Professor X escapou da morte certa, após ser baleado na cabeça por Bishop, graças à ajuda de Exodus e seus Acólitos, perdendo boa parte de suas memórias no processo. Agora, ele parte numa jornada a fim de juntar os pedaços perdidos de sua vida, contatando velhos conhecidos. Xavier renasceu, e está ansioso para encontrar seu lugar no novo panorama mutante. Mas, ao que parece, ele não é o único interessado em seu próprio destino.
A história mostrada em X-Men 90 começa com o sono de Cain Marko, o Fanático, sendo interrompido por um telepata ainda mais poderoso que seu “irmãozinho careca”. Mas este parece desconhecer a proteção de seu capacete e amuleto místico, e Marko diz que sairá em seu encalço.
Enquanto isso, Charles Xavier dorme – ou tenta dormir - em um quarto de motel no Novo México. Ele foi ali em busca de memórias sobre o pai, e acaba dialogando com a irmã Cassandra Nova. Ela explica que saber mais sobre seu pai não o ajudará a saber mais sobre si mesmo; ele morreu cedo, e fora uma ausência na vida do filho, não uma presença. Assim como o próprio Charles foi na vida de seu filho, o Legião. Ela ainda diz que ele deveria ter lhe dado forças para suportar tanta aflição, coisa que até Joe McTaggert fizera pelo seu filho, o Proteus - mesmo que involuntáriamente, ao servir de hospedeiro para o mutante sem corpo.
Existe ainda a “criança” que o próprio Charles gerou: a Rainha da Ninhada que cresceu em seu corpo e mente, o que deve lhe dar uma perspectiva única sobre a dinâmica entre pais e filhos, diz Cassandra, concluindo que o irmão deve sentir-se mais à vontade entre monstros, que o absolvem de deveres e cuidados, reduzindo tudo a sua dialética favorita: controle.
No dia seguinte, o professor se dirige ao Complexo Psiquiátrico Ryking, onde crê que já esteve, em outra vida. Seu objetivo ali é visitar aquele que é, de certo modo, seu amigo mais antigo, Carter Ryking, por seus pais terem trabalhado juntos em Alamogordo quando os dois eram crianças. Agora um ex-mutante, Carter não teve um bom fim após o dia M, tendo enlouquecido. Ele reconhece Charles e explica que está um pouco sem tempo, anda contando os dias e já chegou a um, a não ser que tenha se enganado em alguma parte da equação. Xavier fala de seu objetivo ali, e o amigo, obcecado com o assunto de contar, o permite olhar em sua mente.
Lá, ele vê um momento em que os dois brincavam, ainda crianças, e Sharon Xavier se mostrava desconfortável com o alto número de testes pelos quais o marido Brian fazia o filho passar, e este a relembra da condição especial do pequeno Charlie e da importância daquilo, como o próprio Dr. Milbury já explicara. Nisso, é para um desses testes que nossa atenção se volta. Carter acabara de tomar suas injeções e chega a vez de Xavier. Milbury recita algo, se referindo ao número e ordem das injeções a serem ministradas nos meninos, que o perturbado Ryking do presente repete continuamente. Mas o cientista é interrompido pelo jovem Charles, que lhe pergunta o motivo de tantas injeções. “Uma questão de imortalidade”, ele explica, “seus genes viverão para sempre”. Neste momento, vemos uma misteriosa marca vermelha na testa de Milbury, da qual Xavier não se lembrava.
Carter conta que tal marca sempre esteve lá, mas era só energia, e ele era o único que conseguia ver. Seu pai também falava muito em viver para sempre, mas Ryking contou e está quase acabando. Referenciando mais uma vez os versos do doutor, ele diz que “quando ele bate na porta, só resta um, e ele bateu na porta ontem à noite”, pedindo a confirmação de Charles sobre a frase. Ele não dá muita atenção ao delírio, dizendo que voltará a visitá-lo no dia seguinte, se o deixarem.
Em seu caminho de volta, Xavier é esmagado por pressentimentos, enquanto pensa em Alamogordo e na grande reunião de talentos ali – entre os quais, seu pai Brian Xavier, seu futuro pai adotivo Kurt Marko, Irene Adler, a Sina, e o Dr. Milbury -, geneticistas ímpares trabalhando em um complexo de pesquisas nucleares.
Mas algo mais imediato interrompe suas indagações. Ele nota um “buraco” no relevo psíquico da região, o que só acontece quando alguém se esconde por trás de um escudo mental. Olhando através dos olhos de pombos no local, Charles encontra um atirador no alto de um prédio. Talvez ele devesse se envergonhar e definir suas regras de confrontamento com mais rigor, já que não pretende ferir ninguém. Mas por ora, vai ferir o mínimo possível, só o necessário para escapar e se concentrar no enigma maior, deixando este de lado, por enquanto.
Voltamos nossa atenção para a sede do Clube do Inferno, em Manhattan, onde o Rei Negro Roberto da Costa se mostra irritado com o incidente que matou seus empregados, repreendendo Sebastian Shaw por guardar a misteriosa máquina responsável por tanto ali, em segredo. Ele explica que o artefato pertencia a seu pai, que lhe pedira, à beira da morte, para mantê-la por perto, sem explicar por quê. Roberto pede que Sebastian investigue a história e lhe entregue um relatório, gostando ou não, e, quando Shaw sai, da Costa parte para o próximo assunto da pauta: A vaga que haverá no Círculo Interno, pedindo indicações.
Enquanto Carter Ryking tem seu último surto e cai em morte súbita, Charles Xavier, longe dali e de volta a seu quarto alugado, pensa justamente sobre isso: morte. Talvez por ter morrido a tão pouco tempo, ou por causa das fotos de Alamogordo que examina. Ele relembra os dois pais que teve, o primeiro, que lhe ignorava, e o adotivo, que o humilhava e acuava. E ainda há Nathan Milbury, que se interessara mais por ele que qualquer outro. Mas qual seria seu intuito? Teria o doutor influenciado a ele e à vida que teve de formas que nem imagina? Mantendo a imagem do homem na cabeça, Xavier entra em transe, conforme tem treinado, objetivando encontrar respostas para tais perguntas, e parecendo não perceber o que fica claro para nós, que Milbury era um dos disfarces que Nathaniel Essex, o Sr. Sinistro, assumiu ao longo do tempo.
Em sua mente, as divagações sobre morte e renascimento de Charles assumem um rosto: Jean Grey, como não poderia deixar de ser. Enquanto examina sua aluna favorita após o que parece ser sua primeira morte, quando logo emergiu de volta do oceano como a Fênix, esta explica como foi a sensação de perder a consciência e também a diferença que sente em seus poderes, que agora lhe permitem tocar a essência do universo, como beijar sua boca, ela define.
Jean explica que morte e nascimento podem ser a mesma coisa, e que muitos dos mistérios da vida são rotina, escolhas-padrão. “Construímos um caixão à nossa volta enquanto vivemos”, ela diz. Charles acredita que isso possa ocorrer com os imprudentes, mas que ele é ocupado demais para rotinas em seu estilo de vida. Mas é justamente disso que se trata, explica Grey. Só se pode ver o caixão quando abrem a tampa e entra um pouco de luz; quando tudo muda. Ou para. Assim, Xavier é arrancado dali para reviver o momento em que tudo parou para ele: o tiro proferido por Lucas Bishop. Então, volta à realidade.
Há algo errado lá fora, ele sente mais uma vez um silêncio amargo. Estendendo sua mente para tentar captar percepções alheias do lado de fora de seu quarto, não encontra nada. Poderia estar enganado, mas o telefone foi cortado e isso confirma sua suspeita. Só lhe resta esperar e enfrentar o que vier. Do lado de fora da porta do Professor X, dois homens vestidos como o atirador de mais cedo se preparam para entrar e um deles reclama da escuridão excessiva. É quando Gambit lhe oferece um pouco de luz, aconselhando-o a tomar cuidado com o que deseja.
Grandes emoções. Quem seriam os misteriosos perseguidores? Teria o Clube do Inferno relação com tudo isso? E o fantasma do Sr. Sinistro que paira sobre a trama, seriam apenas conseqüências da vida do vilão ou haveria algum elemento presente nessa história toda? Qual o objetivo do incógnito Gambit? Quem atacou o Fanático? Teria Exodus desistido de recrutar Xavier como novo líder dos Acólitos? E os X-Men, será que pretendem procurar seu mentor? Muitas perguntas, que começam a ser respondidas – ou não – no próximo mês. Aguardemos a continuação desta história, na qual Mike Carey está provando ser um dos melhores escritores mutantes dos últimos tempos.
Léo
