Incrível Hércules: Temor que Vem de Dentro

A sorte foi lançada na edição passada de Universo Marvel. Reunido apenas um punhado de deuses, dentre os quais temos, inclusive, alguns que são vistos como inimigos mortais, o filho de Zeus, Hércules, ladeado por seu novo companheiro de batalhas Amadeus Cho, parte em busca da grande inspiração para que a Invasão Secreta seja levada adiante. O Esquadrão Sagrado reunido por Atena parte para assassinar os deuses skrulls, em uma inusitada frente de batalha da resistência à invasão.

No número 48 de Universo Marvel, vemos como toda existência, seja ela humana ou alienígena, precisa de significados que vão além do mundo físico para se legitimar. Apesar de nem sempre uma ideologia precisar ser religiosa, descobrimos a importância, para os skrulls, de seus deuses Kly’Bn e Sl’Gurt na própria natureza conquistadora de sua civilização. No lugar de impérios caídos, seus deuses também são destruídos e expostos à ruína sob os pés das divindades do povo metamórfico. Sob a profética frase “ele ama você”, vemos desfilar à nossa frente um panteão de múltiplas raças e credos.


Como conta Ajak, dos Eternos, é necessário atacar para evitar a própria erradicação, que viria com o domínio e destruição dos seres humanos. Amadeus, com sua mente extremamente racional não consegue admitir que uma proposição metafísica como essa faça sentido – para simplificar, a metafísica trata da relação do mundo sensível, físico, com um mundo “ideal”, suprassensível, do qual um mundo de deuses poderia fazer parte. Porém, rapidamente interrompido por Hércules, o que faz Mikaboshi soltar uma alfinetada no príncipe do poder.


A viagem segue nesse tom até chegarem ao tempo dos sonhos, graças à embarcação que lhes foi dada por Atena. Uma representação simbólica – mas nos mundos dos quadrinhos, bem real – do subconsciente humano como um labirinto, onde suas crenças e valores se refugiam. Só assim chegariam às duas divindades skrulls e cumprirem sua missão.

Porém, sem saberem ao certo que caminho tomar, logo Amadeus tenta de novo compreender racionalmente o que é quase puramente subjetivo, abstrato. Ledo engano. Depois de aprendida a lição eles logos se dão conta que o senhor daquele lugar não é nada amistoso. É Pesadelo, responsável, dentre outros feitos, por enlouquecer o Hulk, resultando em seu exílio na Encruzilhada pelo Dr. Estranho em uma de suas fases clássicas.

Apesar da adversidade, Hércules parece em júbilo, pois há muito não se envolvia em uma cruzada junto a seres peculiares como os que lhe acompanham, lembrando-se de suas antiqüíssimas aventuras, que hoje são tratadas apenas como mito. E compara todos da tripulação com antigos companheiros.


Enquanto se aproximam da localização de Pesadelo, Pássaro da Neve questiona Cho a respeito de seu aleijado coiote, perguntando-lhe seu nome. Ele diz que é Kirby – detalhe que é a primeira vez que sabemos disso, pois nos EUA houve um concurso para escolher o nome, que acabou inspirado no grande Jack Kirby, apesar da explicação mitológica/tecnológica de Amadeus, rapidamente sacaneado por Hércules. Mas a ex-membro da Tropa Alfa estranha tal companhia, já que o coiote é tradicionalmente o “trapaceiro”, fazendo recair uma certa desconfiança sobre o rapaz.


Eles finalmente chegam a Pesadelo, que os recebem já sabendo do que precisam, pois viu os sonhos de Cho. Ele logo concorda e dar-lhes o mapa, em troca de seus medos. Hercules concorda, o que joga todos ali na armadilha da entidade. O medo dos cinco deuses lhe daria um poder nunca dantes adquirido.


Hércules se lembra da perda do jovem Hilas em razão de suas próprias ações. Enquanto Cho tenta impedir que pesadelo continue, ele logo toca nos maiores temores do rapaz, lembrando de tudo que ocorreu antes durante e depois da guerra do Hulk, e tudo que se perdeu no caminho. O medo da impotência o paralisa, fazendo com que se sinta culpado por tudo.


Pássaro da Neve e a finada Tropa Alfa; Aton, o Devorador de Deuses, teme a própria Eternidade; mas quando chega em Mikaboshi algo dá errado e o deus nipônico parece uma casca vazia.

Hércules, então, no vacilo de Pesadelo, acaba se libertando ao acordar com os uivos de Kirby, e atacando seu raptor. A entidade se enfurece, desejando a derrota da humanidade perante os skrulls e lançando sobre eles os sonhos sobre os quais tem domínio. Uma horda curiosíssima, que vai desde entidades poderosíssimas, passando por palhaços, imposto de renda, chocolate (terror dos gordinhos?), e todo tipo de “bichos-papões”.


Surpreendentemente Aton adora o que parece o fracasso de Hércules, e gargalha enquanto ele luta com o exército de Pesadelo.

Em fuga, eles descobrem o que houve com Mikaboshi. Suspeitando de Pesadelo, ele enviou uma cópia sombria de si para acompanhá-los no encontro, escondendo-se do olhar de seu olhar e pegando aquilo pelo que procuraram: o mapa. Hércules aproveita para tirar onda com a cara de Aton, que se enfurece.

Quando prepara tudo para zarparem, Hércules percebe Pássaro da Neve em prantos em um dos aposentos da embarcação. Ainda chocada com as lembranças dos companheiros perdidos em sua ausência. Quando o deus olímpico tenta consolá-la, a gélida deusa não pensa duas vezes e lhe beija, clamando pelo fim de sua solidão.


Porém, quando parecia que tudo ia bem para o Esquadrão Sagrado, uma diminuta figura observa os dois luxuriosos deuses nas sombras. É o coiote Kirby... mas pelo brilho esverdeado de seus olhos, vemos que aquele não é o verdadeiro coiote que acompanha Cho há tanto tempo.


Pois até mesmo essa tropa divina foi infiltrada pelos skrulls. Mas se Kirby é um skrull, por que os ajudou a vencer Pesadelo? Será ele capaz de fazer fracassar a missão sagrada desses cinco deuses e de Cho? Apenas na próxima edição descobriremos os percalços da trupe sagrada.


João