quarta-feira, 8 de março de 2017

As Mulheres que fizeram a Marvel ao longo do tempo



Comumente, quando se fala em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres vinda de um site de quadrinhos, a primeira coisa que vêm a cabeça é fazer um artigo focado nas super-heróinas e a importância que elas tem cada vez mais nos dias de hoje. Desta vez, no entanto, eu quis tentar algo diferente. Motivado pelas minhas últimas leituras envolvendo os bastidores da Casa das Ideias, eu gostaria de trazer um pouco da história da editora listando 10 mulheres que foram e ainda são marcantes. Prepare suas coisas, a máquina do tempo vai nos levar bem antes do que você pensa:


Flo Steinberg
Quando se mudou para Nova York nos anos 60, o primeiro emprego de Flo Steinberg foi como secretária do então editor Stan Lee na então recém-nascida Marvel Comics. Ela e Lee eram os únicos contratados da empresa na época, sendo todo o resto pago como freelance. Flo era tida como o braço direito do editor-chefe e quem acabava ouvindo todos os lados nos momentos de crise entre os criadores. Considerada como parte integral da formação do famoso "Bullpen" da Marvel (o "time" de campeões, basicamente por Lee, Kirby, Dikto e Heck, que se reuniam para planejar o futuro dos heróis). Flô era também a responsável pela sessão de cartas que inundava a sede da redação da Marvel e organizava junto com Lee o Merry Marvel Marching Society fan club, primeiro fã clube oficial dos heróis da Casa das Ideias. Quando saiu da Marvel, trabalhou na Warren Publishing na divisão de revistas de Terror e foi editora da publicação Big Apple Comix, uma das mais pioneiras publicações a alavancar o que eram os quadrinhos underground para o que hoje viria a ser a linha de trabalhos autorais independentes.



Marie Severin
Assim como Flo, Marie era uma das veteranas dos primórdios da Marvel Comics nos anos 60, mas já trabalhava no ramo na Era de Ouro junto com seu irmão, John Severin, na EC. Tornou-se uma das principais coloristas da empresa e foi convidada a trabalhar como desenhista em Strange Tales assim que Bill Everett saiu das histórias do Doutor Estranho em 1967. Mesmo sem largar sua função como colorista, continuou assumindo os desenhos ou arte-final de outros títulos como Hulk e Príncipe Submarino. Além de capista em diversos outros títulos, Marie foi desenhista de algumas histórias das revistas de humor da Marvel como Crazy e Not Brand Echh. Mesmo não mais colorindo a partir dos anos 80, Severin continuou trabalhando na editora na divisão de projetos especiais até a mesma decretar falência em 1996.


Jean Thomas, Caroule Seuling e Linda Fite 
Quando assumiu como Editor-Chefe da Marvel, uma das primeiras iniciativas de Roy Thomas foi criar uma linha de quadrinhos de super-heróis para Mulheres feita por Mulheres baseado numa antiga ideia do seu antecessor, Stan Lee. Assim, três títulos foram excepcionalmente desenvolvidos pela Casa das Ideias para atender essa demanda. A primeira a receber o convite foi a então sua esposa Jean Thomas, que assumiu o título mensal da Enfermeira Noturna, Linda Carter. Boa parte das histórias aconteciam no General Metro Hospital e levantavam questões de cunhos sociais dos bairros mais desfavorecidos e violentos da cidade de Nova York. Caroule Seuling, a menos conhecida das três, era esposa do promotor de convenções de quadrinhos, Phil Seuling. Ela criou a personagem Shanna, a Mulher-Demônio, com a premissa de ser uma versao mais atualizada da quase homônima Sheena. Por fim, Linda Fite era  assistente editorial da Marvel na época e foi convidada para escrever o roteiro de  Claws of the Cat, protagonizado pela "Felina". A revista foi uma das mais bem sucedidas desta leva e era uma das mais engajadas em questões feministas na época.

Mary Jo Duffy
Renomada editora e escritora da Marvel nas décadas de 70 e 80. Começou como muitos outros grandes nomes da indústria hoje, escrevendo cartas animadas para as revistas da Marvel até finalmente ser convidada para trabalhar na empresa. Como editora, seus trabalhos são inúmeros. Já como roteirista ficou marcada pela longa fase que se manteve em "Poderoso e Punho de Ferro" e boa parte das revistas dos volume clássico dos quadrinhos de Star Wars. Também escreveu a série Fallen Angels, as revistas mensais do Wolverine, Speedball, Conan e até mesmo uma minissérie do Chuck Norris.

Ann Nocentti
A jornalista Ann Nocenti começou cedo seu interesse por quadrinhos, mas não exatamente pela linha de super-heróis. Na infância, lia Archie, Pongo e Dick Tracy. Na faculdade, se apaixonou pelos trabalhos de Robert Crumb. Foi a convite do editor Denis O'Neil que veio a ter mais contato com o mundo de super-heróis e virou editora da série dos Fabulosos X-Men e dos Novos Mutantes. Não demorou muito para seguir o passo como escritora na revista da Mulher-Aranha. Escreveu a curiosa minissérie "A Bela e a Fera" com a Cristal e o mutante peludo vingador. Mas o momento mais marcante de sua carreira viria com a criação do irreverente personagem Longshoot e sua minissérie de 1985 cheio de contexto existencialista e muita influência dos trabalhos independentes que tanto gostava. Em seguida, temos a sua marcante fase no Demolidor, com histórias repletas de questões sociais abordadas e a criação da vilã Mary Tifóide e do demoníaco Coração Negro.


Louise Simonson
Mary Louise Simonson era muito mais que a esposa do renomado desenhista Walter Simonson, é sua grande parceira na promissora carreira dos dois como profissionais de quadrinhos. Ambos se conheceram quando ela era Louise Jones, então editora da revista dos Fabulosos X-Men e Novos Mutantes na época. Em 1983, Louise criou o quadrinho premiado a Eagle do ano, o Quarteto Futuro, e daí passou a ser roteirista de outras tantas séries como  Teia do Homem-Aranha, Red Sonja, Marvel Team-Up, a Marvel Graphic Novel #6 dos Piratas Siderais e uma minissérie de luxo com Wolverine e Destrutor. Mas nada se compara a sua longa passagem pelo grupo X-Factor e, mais tarde, pelos Novos Mutantes. Esteve ao lado de Chris Claremont escrevendo muitas das marcantes sagas dos anos 80 como Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes, Inferno, dentre outras. É responsável pela criação da então nova leva de "Novos Mutantes" como Rictor e Skids. Por fim, numa de suas últimas passagens pelo título, criou o personagem Cable junto com Rob Liefeld. Particularmente, uma das minhas escritoras favoritas e que tive o prazer de conhecer pessoalmente.




June Brigman 
June Brigman é uma artista e ilustradora americana de quadrinhos nascida nos anos 60 e conhecida principalmente por criar os personagens de super-heróis pré-adolescentes da Família Power, o Quarteto Futuro, com a escritora Louise Simonson em 1984. Também trabalhou como artista regular dos quadrinhos da tropa Alfa nos anos 80 e fez a revista da Barbie publicada pela Marvel Comics em 1991. Outros trabalhos seus incluem A Espada Selvagem de Conan, a Sensacional Mulher-Hulk. Hercúles e Demolidor.




Brigman desenhou para a DC a minissérie da Supergirl em 1994, além de trabalhar para a Dark Horse Comics na série em quadrinhos de Star Wars River of Chaos. Além disso foi professora na escola Joe Kubert School of Cartoon and Graphic Art em Nova Jersey,  Savannah College of Art and Design e  Kennesaw State University's School of Art and Design. Brigman também foi o artista da tira de jornal Brenda Starr, repórter de 1995 a 2011 e em 2016 tornou-se o artista da tira de jornal Mary Worth. 

Julie Bell
Julie Bell nasceu em Beaumont, Texas e é uma ilustrado de renome com trabalhos para várias marcas como ESPN, Ford Motors, Nike, Sony Online, Coca-Cola e Toyota. Fora do ambiente coorporativo, ela se dedica a ser capista com sua pintura realista impressionante com trabalho para a  revista de fantasia adulta Heavy Metal e capas de vários livros de fantasia da publicação TOR. Para a Marvel Comics, Bell já trabalhou para capas da revista da Vampira, Espada Selvagem de Conan, Skaar: Son of Hulk, dentre outros. Ela ao lado do marido Boris Vallejo trabalhou na série de cards colecionáveis da Marvel publicados nos anos 90.




Gail Simone
Mais conhecida pelos seus trabalhos na Distinta Concorrência, a escritora Gail Simone marcou como nunca a fase de um dos personagens mais populares da atualidade, o Deadpool. Antes mesmo de entrar na indústria, Gail era bem conhecida por seus textos no site Women in refrigerators e uma coluna própria no Comic Book Resources. Foi assim que conheceu editores da Bongo Comics, que a convidaram para escrever os quadrinhos dos Simpsons. Sua narrativa com humor sem igual chamaram a atenção da Marvel e ele foi convocada como roteirista regular de Deadpool (e posteriormente, Agente X, como devem saber). Foi responsável por expandir a galeria de personagens do mercenário criando a Pistoleira, Cisne Negro e estabelecendo uma relação de admiração/ódio entre Wade e o Treinador. Logo depois, Simone foi para DC Comics onde ficou por anos brilhando na editora com trabalhos como Aves de Rapina, Mulher Maravilha, Batgirl, dentre outros.


Devin Grayson

Devin Kalile Grayson é uma escritora americana de histórias em quadrinhos e romances.Sua ambição inicial era ser atriz; ela estudou no Berkeley Shakespeare Festival e frequentou a Escola de Artes de São Francisco, mas enquanto estava na faculdade comunitária decidiu se tornar escritora. Apesar de seus trabalhos mais famosos estarem na DC com série como Mulher-Gato, Asa Noturna, Gotham Knights e os  Titans, ela teve uma passagem marcante na Marvel no começo dos anos 2000. Foi responsável por uma série de título "Marvel Knights" como Viúva Negra e Motoqueiro Fantasma, além da quadrinização de X-Men Evolution na época. Ela é a co-criadora de Yelena Belova, a Viúva Negra (atual Viúva Branca) 




Marjorie Liu
Liu já era uma escritora de renome com livros de sucesso como Tiger Eye e Taste of Crimson
antes de entrar em contato com a Marvel para o primeiro romance dos X-Men em 2005, Dark Mirror. Foi nessa época que começou a entrar em contato com os editores para arriscar seu primeiro trabalho como roteirista de quadrinhos e assim nasceu a minissérie NYX . Em seguida, foi chamada para roteirizar uma minissérie da Viúva Negra em cinco partes. Daí, foi convidada a dar vida a X-23 em sua própria série mensal que durou mais de 20 edições e co-escreveu Daken: Wolverine Sombrio ao lado de Daniel Way. Marjorie em seguida chegou a fazer 21 edições de Astonishing X-Men para depois seguir em trabalho autoral com Monstress. Recentemente, retornou para a Marvel escrevendo a minissérie em 5 partes do Han Solo.


Sarah Pichelli 
A desenhista italiana começou logo de cara no ramo de animação e story boards, mas decidiu seguir outro rumo na sua carreira ao conhecer o desenhista David Messina numa convenção. Foi quando se interessou por histórias em quadrinhos e passou a trabalhar com ele até finalmente conseguir trabalhos próprios em quadrinhos de Star Trek pela IDW. Entrou na Marvel em 2008, desenhando a segunda minissérie de NYX, com o subtítulo Sem Volta, escrita por Marjorie Liu. Depois, fez algumas edições de Fugitivos, na fase escrita por Kathryn Immonen, e uma série da X-Woman Fada. O salto na sua carreira veio no entanto quando juntamente com Brian Michael Bendis, ela deu vida ao Ultimate Homem-Aranha Miles Morales. Depois de uma breve passagem pelos Guardiões da Galáxia, a artista voltou a trabalhar nas páginas da nova revista mensal de Miles onde está até hoje.


Kelly Sue DeConnick
Certamente uma das mais revolucionárias e atuantes escritoras de hoje, Kelly Sue foi a responsável por transformar a outrora Miss Marvel Carol Danvers na Capitã Marvel. Seu primeiro trabalho na Casa das Ideias foi na minissérie Osborn, com a artista Emma Rios. Em seguida, escreveu duas edições de volume únicos em 2010, uma protagonizada pela Lady Sif e outra com a Pepper Potts como Resgate. Depois de algumas outras histórias em diferentes títulos, DeConnick foi convidada a revolucionar a heróina Carol Danvers para a editora, tornando-a agora uma gigante entre antigos medalhões e inclusive inspirando um futuro filme da Marvel. Sua passagem pela personagem durou mais de três anos, em dois volumes diferentes, quando também roteirizava paralelamente o título "Avante, Vingadores"


Sana Amanat e G. Willow Wilson
A editora da Marvel Sana Amanat esteve na linha de frente das principais mudanças da Marvel para a linha de uma nova geração que surge nos quadrinhos hoje. Incluem-se aqui a revista Ultimate Comics: Spider-man que introduziu Miles Morales como um novo Homem-Aranha na realidade alternativa 1610 (e que em breve faria parte da regular) e também a mudança de Carol Danvers para assumir de vez o manto de Capitã Marvel. Mas o seu maior mérito nisso tudo foi ter convidado a roteirista G. Willow Wilson para criar uma nova Miss Marvel e assim dar ao mundo a mais marcante heroína muçulmana de todos os tempos - Khamala Khan. Gwendolyn Willow Wilson já tinha fama por Air, lançada pela Vertigo em 2008 e indicada ao Eisner como "Melhor nova série", além de uma carreira firme na DC comics quando foi convidada pela primeira vez a trabalhar na Marvel. Primeiro, na minissérie em quatro partes Mystic. Depois, na personagem que viria a levar seu nome ao mundo, a Ms. Marvel, uma garota heroína muçulmana que refletia todas as dificuldades do que a própria Willow teve na sua infância em Nova Jersey. Como bem disse a escritora em uma de suas palestras, é uma personagem escrita com foco principalmente na geração Milenials e assim agitou o mercado nessa direção nos últimos dois anos pra cá.


Roxane Gay e Yona Harvey
Aqui no Brasil, os leitores de quadrinhos ainda não viram o trabalho delas, mas esses nomes em breve vão aparecer bastante nas páginas dos gibis brazucas. Com o filme do Pantera Negra vindo aí, a Marvel contratou ano passado um romancista Ta-Nehisi Coates para uma nova série lançada protagonizada por T'Challa e foi de cara um sucesso, um dos títulos mais vendidos de 2016. Porém, como se não fosse suficiente, o editorial veio ainda no segundo semestre do ano passado com World of Wakanda, mensal que tem como mérito trazer mais personagens daquele misterioso mundo africano ao leitor. E duas mulheres negras é que são responsáveis pelas histórias - a escritora Roxane Gay e Yona Harvey. Nesse título, vamos ver as Dora Milaje como protagonistas assim como uma série de novas personagens femininas como é o caso da Zenzi. E esse ano a Marvel ainda irá lançar um outro título, Black Panther and The Crew, com parceria de Coates e Harvey. Nessa história, teremos além de T'Challa, Luke Cage, Dobra, Misty Knight e Tempestade formando uma só equipe. Yonda Harvey comentou em recentes entrevistas que pretende como nunca antes dar as nuances das mulheres negras poetisas para ser a "voz" da Tempestade.


Também devemos lembrar aqui dos nomes de Barbara Hall, Glynis Oliver Wein, Wendy Pini, Kathryn Immonen, Laura Allred, Robin Furth,  Cristina Strain, Adriana Melo, Emma Rios, Laura Martin, Sonia Oback, Tamora Pierce, e muitas outras. Num meio onde ainda é predominante o universo masculino, todas elas tiveram que brilhar muito mais para conquistar seu espaço e merecem certamente muito mais as homenagens para esse dia. Elas são as nossas verdadeiras super-heroínas!

Coveiro

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