Eu me lembro até hoje, lá pelos meus 12 anos de idade, nas aulas de inglês, a professora perguntava sobre as coleções que cada um tinha, e eu era o único a falar que tinha coleção de gibis. Isso foi há mais de 15 anos. Esse ano serão 19 anos de coleção ininterrupta, ao mesmo tempo em que a Marvel completa 40 anos de publicação no Brasil, decidi que seria legal juntar as duas coisas em uma só.
Pois é, neófitos. São quase 40 anos de publicações da Marvel no Brasil via Ebal, que lançou em uma promoção dos postos Shell, em Julho de 1967, três revistinhas com aventuras do Capitão América, Hulk, Homem de Ferro, Namor e Thor. Seus nomes eram Super X, Capitão Z e Album Gigante. Havia uma série de editoras lançando material da Marvel, não havia a exclusividade que há hoje em dia. A Ebal uniu o material na década de 70 e a Abril Jovem seguiu em frente com esse material.Ainda por meados da década de 60 e 70, editoras como Bloch e GEP também haviam publicado algumas revistas da Marvel.
Um colecionador de quadrinhos sempre irá sofrer em razão de tudo que as editoras fazem, por uma razão ou outra nós sofremos. Amamos pegar mensalmente nossos gibis preferidos é claro, mas tem certas coisas que fazem a gente ficar puto da vida. Em 19 anos como fã e colecionador da Marvel, houve momentos de amor e ódio pela editora e pelas revistas.
Em muitos momentos da minha vida como colecionador de quadrinhos, eu pensava em largar tudo e dedicar a minha vida a algum tipo de coleção que não ficasse dedicada ao bom senso de editoras e distribuidoras.
Em cinco anos de Panini Comics editando Marvel no Brasil, eu jamais tive qualquer tipo de dor de cabeça (tirando os atrasos), mas há mais de 18 anos atrás a coisa era um pouco diferente.
A Abril tinha seus formatinhos, que eram para um moleque de 9, 10 anos, perfeitos para se comprar no caminho da escola e esconder na mochila para poder ficar lendo enquanto estava na sala de aula (para vocês verem o quanto eu prestava atenção na sala de aula). Inicialmente, minha coleção se resumia a X-Men e Homem Aranha, com eventuais especiais e anuais. Minha primeira revista comprada foi Homem Aranha 71, a chegada do Uniforme Negro à Terra. Logo após, o julgamento de Magneto me chamou a atenção e lá ia eu para a revista dos mutantes!
A coisa foi destrambelhando quando, uma bela noite, eu tive que catar um ônibus de Goiânia a Ribeirão Preto e não tinha nada para fazer. O que fiz então? Fui na banca, e para meu dissabor, havia apenas duas revistas: Capitão América e Hulk. Até aquele momento eu não era fã de nenhuma das duas. As histórias dos Vingadores nunca haviam me atraído, nem tão pouco as do Gigante Esmeralda. De uma hora para outra, eu estava colecionando quatro revistas, e não iria parar por aí. Logo começou a sair Wolverine e Teia do Aranha, com as histórias clássicas, não podia deixar de comprar. Em questão de meses eu colecionava todas as revistas que saiam pela Abril (meu orçamento mensal basicamente era dedicado aos quadrinhos, eu não tinha vida social, huahuahuha). Fabulosos X-Men foi lançado, com a capa metalizada desenhada especialmente pelo Roger Cruz e era mais uma na coleção.
Grandes sagas e combates, minisséries e especiais. Os anuais que vinham naquele formato que bastava abrir demais para as folhas começarem a cair. Peguei toda essa grande fase de ascensão da Marvel no Brasil. Então, a série Premium surgiu, formatão, papel de alta qualidade. Nessa época comecei a ler mais Vingadores do que nunca, especialmente graças a Saga que estava sendo lançada: Vingadores Eternamente, uma das melhores que eu já li. Mas aquele formato Premium não iria durar, era caro demais e percebia-se que a Abril havia feito aquilo porque o público já não tinha como acompanhar 7 revistas mensais (X-Men, Fabulosos X-Men, Homem Aranha, Teia do Aranha, Capitão América, Wolverine e Marvel 1997/98/99/2000) mais as especiais. Era uma solução paliativa. Logo um boato de que a Abril jovem estava quebrando veio à tona e o caos se instalou.
Como eu iria continuar colecionando?
O acordo com a Panini veio na hora. A Marvel seria editada por uma das maiores do mundo. O novo formato agradou bastante inicialmente, bem mais do que os Premium. Havia ainda os formatinhos, que eu não comprava por não ser fã árduo das histórias que estavam saindo. Além do mais, X-Men, X-Men Extra e Homem Aranha eram o carro chefe, seguido pela revista dos Vingadores (que na época saíam na revista Marvel 2002). Começava uma época fenomenal nos quadrinhos, tivemos o prazer de ler New X-Men em papel de alta qualidade até que, em razão dos custos, o primeiro corte foi feito. O papel voltou a ser aquele das antigas, o formato diminuiu e para compensar, mais páginas por revista. Não nego que em um primeiro momento pensei que a estratégia de cortes era errada, pois, dava sinais de fraqueza. Mas devido à situação econômica do país, era a correta como foi demonstrado posteriormente.
O fã de quadrinhos nunca entende perfeitamente o que leva uma editora a cortar os gastos para poder manter as publicações. Lemos as cartas do editor nas edições e sempre entendemos errado. Pensamos que a empresa só quer saber do lucro e que se danem os leitores. A Panini entretanto, mostrou estar engajada naquilo a que se propunha. Publicar o máximo possível de material da Marvel, com a mínima defasagem em relação ao original americano. Tal defasagem tem de ser em média um ano em razão de planejamento das edições e, especialmente, se aquela edição ou saga compensa ser trazida ao leitor, até hoje eu agradeço aos céus pela não publicação de uma série de revistas.
Hoje, nossa comunidade cresce exponencialmente. Os leitores da Marvel, em sua grande maioria estão satisfeitos com o que a Panini vem fazendo. Eu em especial, depois de quase 20 anos colecionando quadrinhos, sinto que uma nova era começou. E que ela dure muitos e muitos anos!
J. R. Dib.