domingo, 5 de outubro de 2025

J. Michael Straczynski fala sobre revisitar o passado do Homem-Aranha na nova minissérie Amazing Spider-man Torn

 Ao longo do ano passado e deste ano, o roteirista J. Michael Straczynski lançou uma série de one-shots da Marvel apresentando pares de diferentes heróis e vilões da Marvel. Ele encerrou a série com uma história centrada no Homem-Aranha (onde o Homem-Aranha e vários super-heróis e supervilões foram convidados para um restaurante chique juntos, como parte de um hilário esquema de fraude de seguros do dono do restaurante), o que trouxe grande alegria aos fãs que se lembraram da aclamada participação de Straczynski em Amazing Spider-Man de 2001 a 2007. E a partir da próxima semana, teremos mais dele com o Homem-Aranha numa nova minissérie chamada Amazing Spider-Man: Torn, com o artista Pere Pérez, ambientada nos anos de faculdade de Peter Parker.



Em uma entrevista exclusiva da CBR com Straczynski, foi conversado sobre ele estar retornando ao Homem-Aranha agora, por que escolheu esta era e o que o futuro reserva para esta série. Ao longo da matéria, tem páginas de prévia da primeira edição da série. Confira:

CBR: Obviamente, você é um escritor adorado do Homem-Aranha, mas também é um escritor adorado de VÁRIAS propriedades, então o que o fez pensar que agora seria um bom momento para retornar ao mundo do Cabeça de Teia?

J. Michael Straczynski: O filósofo Lin Yutang escreveu certa vez: "O que é patriotismo senão o amor pela comida que comemos quando criança?" Embora eu não concorde necessariamente com sua conclusão — acho que há muito mais do que isso — eu entendo o sentimento. As coisas às quais somos expostos quando crianças ocupam um canto muito especial de nossas mentes e corações. Não estou falando de nostalgia, que pode ser uma armadilha, mas de impacto. Se você colocar corante alimentício vermelho no solo ao redor de uma muda de árvore, ele será absorvido pela casca e crescerá com um círculo vermelho no meio do tronco.

Sim, trabalhei em muitos personagens e em muitos quadrinhos, mas o Homem-Aranha foi um dos dois personagens principais com os quais tive contato quando criança e que teve um grande impacto em mim como pessoa. Como um colega nerd que sofria bullying constantemente, eu imediatamente entendi quem Peter Parker era em sua essência. Ele era alguém com quem eu me identificava, e ainda me identifico, em um nível muito pessoal. Ele era vulnerável, ele estragava tudo, nem sempre sabia onde era seguro colocar seu amor sem se machucar, mas quando o encontrava, amava profunda e intensamente; ele era um otimista em uma vida onde tudo dizia que ele deveria ir na outra direção, e ele sempre tentava fazer a coisa certa. Eu o entendo.

Então, por um lado, para mim, qualquer momento é um bom momento para voltar ao Aranha. Eu sempre disse à Marvel: "Eu amo esse personagem", então, sempre que você quiser que eu volte para a revista, é só pedir. Nick Lowe disse a palavra. E aqui estou eu, curtindo com uma das minhas pessoas favoritas.





CBR: Você acabou de concluir uma celebração notável do amplo escopo do Universo Marvel em suas histórias da Marvel Tales, terminando com uma história encantadora do Homem-Aranha. Essas histórias estavam por toda parte na história da Marvel. Você terminou com uma história do Homem-Aranha ambientada em um ponto indeterminado no passado recente. Suas histórias da Marvel Tales lhe deram a ideia de ambientar esta nova série no passado?

JMS: Eu me diverti muito com essas edições, e a recepção à edição do Aranha que concluiu o minievento foi profundamente gratificante. A imprecisão de sua ambientação no universo 616 foi um pouco enganosa, mas no final não teve nada a ver com a ambientação de 'Torn' em uma fase anterior da vida de Peter.

Um dos problemas enfrentados pelos quadrinhos modernos — e, para ser justo, pelos filmes de quadrinhos modernos — é que agora há muita história de fundo que precisa ser conhecida pelo indivíduo antes de pegar o quadrinho ou entrar no cinema. Vivenciar quadrinhos deveria ser divertido e interessante; quanto mais parece lição de casa, menos divertido se torna e menor o interesse do público. Acho que é isso que as pessoas realmente querem dizer quando falam sobre "fadiga de super-heróis". Não é que estejam realmente cansadas de super-heróis, mas sim todas as informações interligadas e cruzadas que você precisa ter para entender a história. Você não deveria ter que assistir à série A para entender o filme B. Isso não significa que não possa haver contexto, crescimento ou história, apenas que servir ao personagem tem que vir primeiro, e então você insere apenas a quantidade de informações necessária, certificando-se de explicá-las ao mesmo tempo para que todos estejam na mesma página.

Essa foi uma das razões pelas quais fiz a antologia de one-shots em primeiro lugar, para mostrar que era possível colocar esses personagens em histórias independentes, onde o leitor não precisava saber muito sobre a história do personagem para aproveitar a história. O que era necessário saber estava explicado no quadrinho. Isso também torna a história acessível a novos fãs, e acho que pode haver alguma sabedoria nisso. E a resposta dos leitores foi extremamente positiva.

Então, quando a palavra foi dada, meu primeiro pensamento não foi voltar ao passado por nostalgia, o que, novamente, acho que é uma armadilha, mas por clareza. Situar a história nos primeiros anos de faculdade de Peter, antes de todas essas décadas de continuidade se formarem, me permitiu contar uma história de natureza muito pessoal. Se você já é fã, conhece muito bem esse período; se não, pode aproveitá-lo sem se prender a nada.

Esse período também dá à história acesso a todos os personagens principais originais e aos relacionamentos que eles tiveram na faculdade enquanto tentavam entender o mundo, a si mesmos e uns aos outros. Harry ainda era Harry, um cara decente tentando sobreviver à sombra de um pai opressor; Gwen ainda está conosco, vital, vibrante e viva; MJ é, de certa forma, o coração e a consciência do grupo; e Peter está tentando navegar em seu relacionamento com os três, que é complicado em muitas direções ao mesmo tempo.

Nesse momento específico da história de Peter — que, novamente, é tudo o que realmente precisamos saber — ele estava com MJ, mas ainda se sentia atraído por Gwen, que estava com Harry, o melhor amigo de Peter. Peter não quer machucar Harry, ou MJ, ou Gwen... ele quer fazer o certo por todos eles (daí o nome 'Torn' ou Dividido em português), mas isso é realmente possível? Como observado, Peter sempre tenta fazer a coisa certa, mas quando se trata do coração humano, muitas vezes não há um caminho claro para esse objetivo.

A última coisa sobre esse período específico é que, para a maioria das pessoas que frequentaram a faculdade, há um certo brilho nele, mesmo que apenas em retrospectiva. Estamos saindo para o mundo pela primeira vez para nos definirmos, em vez de sermos definidos pelos outros, e há algo de emocionante nisso. É aquela longa noite de verão pós-ensino médio, pré-formatura, que pensávamos que nunca acabaria. Um momento de infinitas possibilidades. E eu queria escrever uma história sobre Peter, MJ, Gwen e Harry tendo esse cenário como pano de fundo.



CBR: Você releu algumas edições antigas de O Espetacular Homem-Aranha para escolher o período específico em que se situaria esta história, ou você simplesmente tinha um período em mente desde o início?

JMS: Eu sabia exatamente onde queria situar a história, até a numeração original da edição. Essa foi a janela de oportunidade, depois do ensino médio, mas antes da trágica morte de Gwen. O que os cineastas chamam de "a hora de ouro".


CBR: Você mencionou nas suas redes sociais que, se as vendas justificassem, poderia continuar trabalhando neste projeto. Tudo se passaria ainda neste período? Você escreveu esta primeira série de cinco edições com uma possível continuação em mente ou é apenas um período em que você poderia facilmente escrever mais histórias?

JMS: Eu amo esta história e poderia me manter neste período com esses personagens por um bom tempo, se a Marvel me desse a palavra. 



CBR: Quando Pere Pérez desenhou uma edição da série Friendly Neighborhood Spider-Man de Tom Taylor, fiquei impressionado com a forma como ele lidou com as questões interpessoais, mantendo um senso impressionante de como criar sequências de ação realmente interessantes. Você pode compartilhar um pouco sobre sua experiência trabalhando com ele nesta série?

JMS: O trabalho de Pere Pérez nesta série tem sido de tirar o fôlego. Eu lhe dei alguns desafios reais, tanto emocionais quanto sobrenaturais, e ele os enfrentou repetidamente. Ele lida com os aspectos da novela com uma caracterização profunda, abraça o humor, faz a ação cantar e elaborou alguns visuais com um estilo e sensibilidade impressionantes. Olho para as páginas dele e simplesmente sorrio. Parece o Homem-Aranha clássico.

Se você é fã de longa data do Aranha, acho que vai se divertir muito com esta história. Se você é novo no personagem, pode mergulhar na história sem ser tirado da narrativa por coisas que não conhece. Esta é uma história com coração, ação e diversão.



Amazing Spider-Man Torn #1 sai nesta quarta-feira nas lojas dos EUA. Logo mais também teremos também um preview da edição publicada por aqui. Fiquem de olho!

Coveiro

comments powered by Disqus