quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Resenha 616: Doutor Estranho


A Marvel Studios trouxe aos cinemas os heróis da editora dando a cada um uma versão de sua origem, adaptando-os para a telona. Depois mudou o foco, nos dando um filme de espionagem, um filme espacial, outro sobre um assalto... Agora eles trazem Doutor Estranho, nos apresentando um lado que até hoje não havia sido visto nos cinemas, uma introdução ao Multiverso. O Marvel616 esteve na sessão de imprensa, e agora abaixo o que achamos, com pouquíssimos spoilers da trama, mas se quiser permanecer totalmente livre de informações, pare a leitura por aqui.

Muitos achavam que pela escolha do diretor Scott Derrickson, conhecido pelos seus filmes de terror, o filme estaria indo para este lado. Mas apesar da cena inicial ser uma das mais violentas de um filme do selo Marvel, o restante do filme não pega tão pesado. A magia está fortemente ligada ao filme, mas já havíamos visto uma amostra dela nos dois filmes de Thor. Agora nos é apresentado que os mortais da Terra já manipulavam a séculos a magia e a defendiam de ameaças de outras dimensões.

Alheio a tudo isso, o renomado, arrogante e charmoso neurocirugião Doutor Stephen Strange - brilhantemente interpretado por Benedict Cumberbatch - goza de uma reputação respeitável, mas por um lapso de bondade, ajuda sua ex-namorada Christine Palmer (Rachel McAdams, a Irene Adler de Sherlock Holmes, mais uma coincidência que falaremos mais pra frente) na emergência de um hospital em Nova York. Normalmente, ele apenas aceita casos em que o paciente tem chance de recuperação, se não for assim, ele passa para o caso a seguir.


E no meio de uma dessas más escolhas, ele sofre um acidente automobilístico, onde quem passa a ser o paciente, é ele. Recusando-se a aceitar o diagnóstico de que suas outrora precisas mãos estão com os nervos arruinados para sempre, ele começa a não querer dar tempo para cura.

É aí que o elemento principal do filme entra em ação, o Tempo. Strange não se permite perder tempo em se curar, e busca todo tipo de tratamento e tudo dá em vão. Até ouvir o rumor de um homem que se curou após lesionar seriamente a coluna. Esse rumor o leva até Katmandu, no Nepal, atrás do Templo de Kamar-Taj, onde monges poderiam ensinar como se curar apenas com o poder do espírito.

Mas o que ele encontra não é bem o que o doutor esperava. A Anciã do lugar (Tilda Swinton, a Feiticeira de As Crônicas de Nárnia) mostra para ele que existe muito mais no nosso mundo do que ele sonhava. E que os tempos de hoje são de guerra. A viagem a que a Anciã conduz Stephen é um deleite de efeitos visuais. A criatividade da Industrial Light & Magic, a lendária empresa de efeitos especiais de George Lucas que hoje é propriedade também da Disney chegou a níveis extremos. É para este tipo de filme que o IMAX 3D foi inventado. Não deixe de curtir o filme nesse tipo de sala se puder. Os desenhos psicodélicos de Gene Colan, Sal Buscema e outros que permeavam suas aparições nos quadrinhos nos anos 1970 e 1980 são trazidos para a tela como uma colagem de tão fielmente reproduzidos.


O vilão do filme é uma surpresa, vamos poupá-los por enquanto, mas Kaecilius, interpretado por Madds Mikkelsen (o vilão Le Chiffre de 007 - Casino Royale) é um fervoroso crédulo de outra ordenação do universo, e quer trazê-lo para o nosso. Sua convicção é um dos pontos altos do filme, que valeu o investimento em tão bom ator neste papel. 

O elenco forte do filme é reafirmado com Chiwetel Ejiofor (indicado para um Oscar por 12 Anos de Escravidão) no papel de um dos alunos da Anciã que também buscou orientação no templo há mais tempo, Mordo, que nos quadrinhos é o mais antigo rival de Strange. O desenvolvimento da relação com Strange é acompanhado pelo espectador e abre uma porta para futuros filmes. Outra boa participação é do gigante Benedict (outro!) Wong, no papel... de Wong! Aqui ele é muito mais que apenas um assistente de Strange, e tem seu papel essencial no desenrolar do filme.


O clímax do filme é um espetáculo nunca antes visto. E Strange aprende do meio pro final que tudo o que nós escolhemos fazer, tem suas consequências. E ser um Mago Supremo é saber lidar com elas.

Benedict Cumberbatch trouxe sua marca própria para o papel do Doutor Estranho, e como filme de origem, pode trazer ainda muito mais para o futuro da Marvel nos cinemas. Não dá para lembrar do Sherlock - a série da BBC, não o filme a que me referi protagonizado por Robert Downey Jr. - dele, ou de Khan, de Star Trek Além da Escuridão. Stephen Strange tem todo o seu desenvolvimento próprio e é notável como ele consegue isso. O sentimento que fica é de que muita coisa no MCU* vai girar em torno do Doutor Estranho, já que muitos dos elementos que vimos nos outros filmes são sutilmente inseridos na trama (outros, nem tão sutis assim) e as duas cenas pós-créditos são para dois filmes diferentes.


Para os fãs de Fugitivos, uma má notícia. Apesar de Tina Minoru, a mãe da Nico aparecer bem destacada nos trailers, spots e no prequel, ela faz apenas figuração no filme. Outros magos também aparecem, mas não são mencionados. Mas fiquem de olho nos easter eggs, há de montes.


Com mais essa(s) porta(s) aberta(s) pela Marvel Studios, a ansiedade para Vingadores: Guerra Infinita aumenta infinitamente, com o perdão do trocadilho. Mas temos 2017 para acalmar, ou piorar a ansiedade, com Homem-Aranha, Thor: Ragnarok e Guardiões da Galáxia Vol.2 antes de Guerra Infinita.

Sendo o 14º filme da Marvel Studios, acho que já passamos da fase de dizer que filme X é melhor que filme Y, porque hoje cada filme ganhou sua própria personalidade. O máximo que vai acontecer é comparar Doutor Estranho 1 com Doutor Estranho 2, e daí pra frente. É um filme que se sustenta por si só, mas faz questão de mencionar que está inserido no MCU*. E garanto, se não assistir no cinema, você vai se arrepender.

Doutor Estranho estreia 2 de novembro, no feriado de Finados, no Brasil!


*Marvel Cinematic Universe

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