quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Surpreendentes X-Men: Contos Alternativos de São Francisco*

Na nova fase daquela que costumava ser a mais aclamada equipe mutante, Warren Ellis nos apresentou uma trama cheia de mistérios interdimensionais, envolvendo uma guerra secreta entre mutantes de configuração genética diferente da conhecida e a Caixa Fantasma apreendida pela equipe após seu confronto com o Indivíduo X. Tal caixa conecta universos paralelos e tem grande potencial destrutivo, se mal utilizada. Enquanto a equipe não resolve toda a questão, o já citado autor, acompanhado de excelentes artistas, nos mostra possibilidades envolvendo o dispositivo, os Filhos do Átomo e seus incertos antagonistas atuais. Publicados das edições 93 a 95 de X-Men Extra, os contos na certa merecem ser conferidos.

CAPA

Relatório do agente X-13 sobre a anexação de emergência da Terra 616
(Ilustrada por Alan Davis)

Ele não é um soldado e o que fez foi seguir o protocolo, e não a estratégia militar. Havia recebido breve orientação militar para, caso os X-Men sobreviventes da Terra 616 se intrometessem, incapacitar o Logan deles primeiro. Porém, logo percebeu que aquela versão de Scott Summers era muito mais perigosa. Tanto que, assim que o removeu, o resto do grupo caiu feito dominó. Assim, pôde acionar a Caixa Fantasma.

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A cena descrita no relato do agente é claramente uma versão alternativa daquela que vimos no arco principal, quando os mutantes adentram a nave onde o indivíduo e a Caixa Fantasma estavam.

Os protocolos determinam ser preferível um dispositivo inativo e um agente morto a uma caixa acionada e um agente ameaçado, já que, ativo, o aparato é uma ameaça à integridade planetária. Sendo assim, a caixa deveria ser transferida para um módulo de segurança, conforme foi, com o envio de três unidades classe Deathlock ao local. Na forma de Sentinelas clássicos com hospedeiros servindo, aparentemente, de bateria - sendo um deles Magneto -, tais unidades garantem o domínio do planeta no fim de semana, passando por cima de seus super-humanos fabricados, poucos mutantes "puros" remanescentes, reação nuclear e tudo o mais. O processamento começou. O agente confessa que o fato das unidades poderem decidir sozinhas sobre a anexação facilitou o trabalho, já que ele tinha dúvidas sobre anexar ou não aquele local. De fato, ele preferiria encampar a Terra 889, por se tratar de uma cultura pré-digital, conforme já deixara registrado.

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De qualquer modo, ele agiu conforme deveria. Quando seus superiores perguntam sobre a contagem de corpos, o agente finaliza lembrando que não existe algo assim numa anexação, onde indivíduos podem se esconder, procriar e organizar movimentos de resistência. Ainda serão gastos anos em chacinas naquele mundo sem mutantes. O que não é problema dele, um reles agente de campo. O relatório termina, junto com a história, que deixa no ar a dúvida sobre o porque dela ser narrada na Terra 616, onde vimos um desenrolar diferente para a situação.

Diário da Srta. Emma Frost, da Baía de New Portsmouth, Estado de Nova Albion
(Ilustrada por Adi Granov)

Uma chamada audiovisual do Departamento de Polícia de New Portsmouth arruina mais uma tarde de Emma, que é convocada para ajudá-los com um enigma que encontraram. A história tem uma atmosfera steampunk num mundo que não parece ter avançado muito após a década de 1920. New Porstsmouth é uma versão paralela se São Francisco, e o nome do Estado de Nova Albion nos deixa dúvidas sobre quanta influência britânica esta versão dos EUA tem.

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Enquanto Frost se encaminha ao local em seu jato, acompanhada do namorado Scott, nós a vemos confessar em seu diário que tem seu próprio enigma para desvendar. O já citado sr. Summers, mais famoso aventureiro do mundo civilizado, continua falando em casamento. Uma ideia insana, considerando que ele é um plebeu e tal ato despertaria a fúria dos já falecidos ancestrais da moça. Além do principal: ela tem asco de tais escândalos e prefere aproveitar seus anos de boemia, nos seus mais interessantes aspectos, coisa que a mente simplória de seu homem tem certa dificuldade em entender.

Formada pelo casal, o sr. Logan e o Dr. McCoy, a Sociedade X chega ao local onde o inspetor de polícia os aguarda. O que eles encontram é o mesmo que os nossos X-Men econtraram no início de sua atual missão: um cadáver flutuante em chamas. Logan descobre um diário, que revela que o assassino estava sendo perseguido pela vítima, e se encontrava apenas de passagem por New Portsmouth, devendo estar prestes a embarcar para fora dali. Somente a Sociedade X poderia alcançá-lo a tempo.

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Na fila de embarque de seu zepelin, o homem admite para si mesmo que deveria ter dado ouvidos a seus associados e não insistido em lutar pela Terra 889. Em sua cultura pré-digital, nada se move a mais de 90 quilômetros por hora. Exceto o jato de nossos heróis, que ele acaba de avistar. Logan é arremessado em sua direção, e ele dispara um mala em chamas no baixinho. Atingido, o canadense usa suas garras no balão como apoio, rasgando-o. A combinação do gás liberado com o fogo do ataque causa uma explosão catastrófica.

Num adendo em sua diário, a srta. Frost relata que Logan foi o único a sobreviver ao incidente, como era de se esperar, e que a culpa do ocorrido recaiu sobre a Sociedade X. Como muitos deveriam aguardar uma desculpa para condená-los, os admirados aventureiros são agora vistos como desvios da natureza. Temidos e odiados, eles vivem em prisão domiciliar na torre do telégrafo, com os homens mecânicos chamados Sentinelas apontando suas armas a eles 24 horas por dia. Estando farta da Costa Oeste, Emma pensa em partir para a Europa em breve, onde mulheres talentosas e endinheiradas podem continuar na boemia sem causar espanto. Ela conclui constatando que, de fato, escândalos tiram o prazer da vida.

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O Testamento de Scott Summers
(Ilustrada por Clayton Crain)

Parado em frente a um pedaço de quartzo-rubi que lembra um espelho, o líder dos X-Men conta, em monólogo, que seu dom mutante se divide em três partes: primeiro, seus raios ópticos. Segundo, a capacidade de avaliar ângulos de combate, sendo capaz de ver com extrema clareza a posição de onde disparar na pedra à sua frente para que a rajada ricocheteie e corte fora sua cabeça. Terceiro, ele possui certa imunidade às próprias rajadas e, por isso, terá que disparar com o máximo de força e precisão. Admitindo que não teria capacidade para tanto no passado, Scott quase se orgulha de poder usar suas habilidades para cometer suicídio hoje.

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Talvez tudo fosse diferente se ele tivesse deixado Logan tomar a frente em Chaparanga dois anos atrás. Mas, sentindo necessidade de se afirmar como líder - e admitindo a possibilidade de ter se sentido intimidado por Ororo -, decidiu avançar de forma lenta e silenciosa, perdendo preciosos minutos, nos quais o Sujeito X ativou a Caixa Fantasma e, enquanto o grupo cuidava do vilão, Ciclope subjugou a gigante mão robótica que atravessava o portal. O problema parecia resolvido, mas eles só descobririam os reais propósitos do Sujeito semanas depois, quando já era tarde demais.

Os inimigos buscavam Terras paralelas para anexar e colonizar. Conforme Hank lhe assegurou, uma vez que o mistério está solucionado, é muito mais fácil procurar espaço habitável no Multiverso do que planetas similares à Terra no espaço sideral. Caixas Fantasmas foram acionadas ao redor de todo o mundo. Mas, quando elas são usadas em demasia, existem efeitos colaterais. O tempo se torna líquido. Scott teoriza que os colonizadores buscam novas terras por isso ter acontecido em seu mundo original. Viver em um lugar assim é como viver num pesadelo.

Westchester está cheia de fantasmas. Na maior parte do tempo eles não o veem, embora ele saiba que estão lá, lhe culpando. Summers questiona o porquê de ter sido deixado vivo, e conclui que não foi assassinado por não valer a pena. Só o que é bom merece morrer. Eles mataram Jean, Madelyne, depois Jean de novo e então Emma. Já ele, nunca teve valor suficiente para ser assassinado, por ter feito tudo errado desde o início.

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Ao ir à Chaparanga, não parou para pensar na real natureza do cromossomo mutante triplo, ou no fato de que saber que há uma guerra não é o bastante para pressupor que um de seus lados está certo. Ele só pensava em agir como o líder que devia ser, quando tudo que precisaria ter feito era se dar conta de que conhecia o inimigo o tempo todo. Mas agora, só há uma coisa que precisa fazer certo. Scott pede a Emma para não lhe dar as costas, pois está voltando para ela. Do lado de fora da sala onde ele se encontra, testemunhamos a rajada ser disparada, seguida do sangue que escorre por baixo da porta, revelando o derradeiro sucesso de Scott Summers.

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(Ilustrada por Kaare Andrews)

O que faz Hisako seguir em frente é escrever. Acender uma fogueira à noite, esperar os companheiros dormirem e pegar seu bloco. E é a partir daí que esta história é narrada. Nas noites ruins, Henry também o faz, afirmando estar bolando um plano, mas escreve apenas números aleatórios e trechos mal lembrados de poesia. Nas noites ainda piores, ele se lembra de como era e chora. Ele os atacou uma vez. A armadura de Hisako a protegeu e o pior sobrou para Logan. Fera saiu da luta com cicatrizes permanentes no rosto e Wolverine teve carne arrancada do corpo. Ele riu ao pedir a Hisako para embalar a carne e gargalhou ao cozinha-la para o jantar do dia seguinte, afirmando que finalmente foi útil.

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Hisako não se divertiu e ainda pode ouvir a risada feia e sem sentido do canadense naquele dia. Ele se considera inútil desde o primeiro ataque, quando o adamantium em suas pernas entortou permanentemente, prendendo-o em uma cadeira de rodas, cinco anos atrás. Mas foi ele quem recebeu a notícia, há quatro anos, quando tudo que lhes restava para resistir eram seus poderes, de uma fortaleza em Montana, perto de Kalispell, onde seria possível agüentar mais tempo e, o mais importante, onde estava sendo feito resgate aéreo. Foi quando ela viu Logan sorrir pra valer pela última vez, enquanto contava que sua velha amiga Kitty Pryde tinha voltado e estava ajudando a tirar as pessoas do planeta.

O único problema do grupo era chegar até lá, partindo de uma Califórnia destruída e sem meios de transporte, onde nenhum deles podia voar e Logan, nem sequer andar. Então, há um ano, Hisako decidiu empurra-lo até lá. Ela se pergunta por que não encontraram mais ninguém indo até o local ou nenhum sinal de decolagem à órbita. Wolverine atribui isso à esperteza de Kitty, que conseguiu manter tudo muito discreto, talvez até mesmo usando um sistema de teletransporte. O que importa para ele é chegar a Kalispell, conforme o trato, e confessa sempre ter acreditado na volta de Pryde.

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De volta ao monólogo principal, nossa protagonista diz ter certeza de que se trata de uma armadilha, independente do que Logan diga ou pense. Às vezes, ela torce para que seja uma armadilha, algo que mate Wolverine e ponha fim ao sofrimento do Fera. Em alguns momentos, até torce para ser pega também; em outros, só quer ficar sozinha.

A comida acabou ontem. Se não chegarem a seu destino hoje, passarão fome amanhã. Ela morreria primeiro e depois seria a vez de Henry – o que a alivia é saber que não precisaria ver um homem com mente infantil chorando e tentando entender a falta de comida. Por fim, Logan cairia, apesar de ela imaginar que apenas a incineração poderia dar cabo dele. Se tem algo que ela aprendeu nos últimos anos é que o universo sempre dá um jeito de acabar com tudo.

Nisso, o trio encontra alguns destroços de naves e os restos mortais de Colossus em uma delas. Logan a pede para parar sua cadeira ao ver o corpo do amigo, mas ela ignora. Hisako sabia que era uma armadilha, mas não imaginava se tratar de uma armadilha velha e abandonada na qual todos já haviam caído antes deles. Os três chegaram muito tarde para serem mortos como os demais.

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Quando Henry começa a questionar por que a moça que os iria salvar não está ali, Armadura resolve o problema do atraso, dando ao Fera uma morte rápida. Bater em Logan até que ele desmaiasse também foi fácil, ao contrário de vê-lo acordar enquanto seu corpo começava a queimar na fogueira ateada por ela. Depois de sete ou oito horas assim, o fator de cura para de funcionar.

Hisako finaliza dizendo que a noite é tranquila. Não tem fantasmas ali. Apenas ela, mas isso vai durar por pouco tempo.

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E com esta história trágica e com forte carga emocional, a série de contos mostrando possibilidades envolvendo a Caixa Fantasma termina. Além da grande qualidade que apresentam por si só, a utilidade destas histórias especiais para o arco principal é esclarecer alguns detalhes sobre com o que os X-Men estão lidando e dimensionar a ameaça como algo bastante sério. Mês que vem, voltamos a acompanhar a investigação do grupo de Ciclope de onde paramos, curiosos para saber quais serão os desdobramentos de tudo isso para as nossas versões dos heróis. Nos resta aguardar para ver.

*Título do artigo baseado no de Fake Tales of San Francisco, canção dos Arctic Monkeys.

Léo

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