Depois de frustrar os planos póstumos do Sr. Sinistro, acertar as contas com seu pupilo Ciclope e ajudar Wolverine com a salvação do filho Daken, Charles Xavier continua a busca por suas memórias perdidas, a partir das lembranças dele guardadas por velhos aliados e inimigos. O resultado até agora foi satisfatório para o Professor X, mas há certas mentes que ele talvez não devesse visitar...
Um novo capítulo da saga de Charles se inicia em X-Men 96, onde, num bar, seu irmão adotivo Cain Marko, o indetível Fanático, ordena mais e mais taças de cerveja a uma intimidada garçonete, mantendo uma delas cheia, a espera de alguém. Este alguém – o professor Xavier – adentra o local, que se encontra danificado e com reféns assustados sentados no chão. Cain comemora a aguardada chegada, e pede a Charles que se sente e tome uma cerveja. Xavier não sabia que era esperado, mas o Fanático explica que sempre que tentam xeretar sua mente, protegida pelo capacete místico, é como se batessem numa porta, e o professor tem um jeito particular de bater. Portanto, ele sabia que era procurado.
Diante da situação, o Professor X diz que o assunto que foi ali discutir diz respeito apenas aos dois e pede a liberação dos reféns. Marko faz jogo duro e quase mata um jovem presente para convencer Charles a fazer o que quer. Entrando no jogo do meio-irmão, Xavier diz já saber que ele voltou a usar a energia de Cittorak e desistiu do caminho de redenção que estava trilhando. Fanático explica que esse tipo de coisa faz o feitio do irmão, não o dele, e o pede para dizer logo o que pretende, enquanto ele decide se o mata ou não.
O professor não vai direto ao ponto, e começa, num ar de correção, contando a origem do nome que deram a Cain no oriente: Jagannàtha – que ele adaptou para sua língua, se tornando o Juggernaut nos EUA, nome traduzido em nosso país para Fanático. Jagannàtha era uma carruagem feita para carregar o deus Krishna durante celebrações. Ela era composta de ferro e bronze e tinha quinze metros de altura, tendo que ser puxada por trezentos cavalos, devido ao seu enorme peso. Durante os eventos comemorativos, algumas pessoas chegavam a se jogar sob as rodas de Jagannàtha, em busca de bênção divina. Por isso esse nome é dado ao que não pode ser detido; seja por força externa, orações ou pedidos de clemência.
Questionado sobre onde quer chegar, Xavier explica que a história é falsa, se tratando de um erro cometido por missionários europeus, pois as pessoas não se jogavam sob a carruagem, mas caíam por acidente. Equívocos podem mudar o rumo das coisas e jogar pessoas em caminhos que nunca deveriam trilhar. Charles sente-se assim sobre o destino de Cain: parcialmente responsável pelo rumo tomado, devido a coisas que fez desde a infância dos dois. O Fanático se irrita com a noção que o irmão tem de que tudo que Marko é não passa de um ricochete de suas ações, e fala sobre algo de que entende bem: erros.
Ele conta sobre momentos críticos de sua vida: quando ficou preso pelo que pareceu uma eternidade na dimensão de Cittorak após enfrentar os X-Men pela primeira vez, quando passou um ano sentado em um meteorito no espaço em outro momento e da ocasião em que ficou enterrado em concreto durante seis meses após uma briga com o Homem-Aranha. Em todo esse tempo parado, só pensou em um ponto de sua vida...
Nisso, revemos o dia durante a Guerra da Coréia em que Charles tentava convencer seu meio irmão a não desertar e ambos toparam com o templo onde Cain ganharia seus poderes místicos. De volta ao bar, o Fanático explica que aquilo não foi um erro seu, pois desertou não por medo, mas por raiva de ser obrigado pelo governo a estar ali, estando cansado de ter os rumos de sua vida ditados por outros. Diferente de Charles, ele também nunca teve medo do pai, e planejava matá-lo, embora ele tenha acabado morrendo por conta própria. Sendo ele quem é, encontrar Cittorak foi uma bênção, como se o deus maligno visse dentro de seu coração, lhe dando força para seguir em frente, independente do que ficasse no caminho. Cain explica que só se arrependeu das vezes em que ficou parado, em que tentou ser como Xavier.
Revemos agora o momento onde, depois de ajudar os X-Men a derrotar seu descontrolado amigo Black Tom Cassidy, Fanático é convidado pelo irmão para ficar na mansão por uns dias para recuperar as forças, o que renderia seu ingresso na equipe e tentativa de redenção. Ele acaba aceitando a oferta, mas avisa que isto não significa que os dois se tornarão irmãos amorosos, pois ele ainda odeia Charles. Xavier explica que, por conhecê-lo tão bem, Cain não deve esperar dele nada menos que esperança eterna.
No bar, o Fanático admite que ficou porque quis, pois estava fraco na época. Andava duvidando de si mesmo e isso afetou negativamente seu poder. Ele fala de um super-poder que Charles provavelmente não sabe que tem: ficar entre as pessoas e quem elas devem ser. Mas isso não é mais problema para Marko, ele derrotou Xavier no fim. E não se trata de licença poética, este é realmente o fim: ele decidiu matar o Professor X.
Sendo assim, Charles lhe dá uma pequena caixa como presente de despedida. Se Cain suspeita de um truque, que só a abra após sua morte. Mas a curiosidade do Fanático é grande, e ele prefere encarar a situação, descontando em Xavier caso de trate de uma armadilha. Ele abre e ela está vazia. Xavier insinua, de forma enigmática, que tal condição da caixa é temporária, e refaz sua oferta pela última vez. Pede a Cain não que renuncie ao poder de Cittorak, mas que mantenha parte de sua alma intacta, com a ajuda dele.
Marko se irrita com a insistência de Xavier em torná-lo menos do que é e, segurando o irmão pela cabeça, explica que é o Fanático, não por algum erro ou algo que Xavier tenha feito, mas por escolha. Ele escolheu ser o Fanático em vez do irmão de Charles, e faz isso novamente, explicando que essa coisa de redenção é só um jogo onde se seguram para não se matarem entre si. Não se trata de piedade ou decência humana, eles só estão muito acostumados um com o outro. Enquanto fala, ele põe o bar abaixo, e só vai embora quando se certifica que o irmão está realmente morto.
Algum tempo se passa. Cain assiste a morte de Xavier ser anunciada na tevê, faz coisas comuns do dia-a-dia, enfrenta os X-Men e, agora, se encontra sentado na sala de sua casa de frente ao presente dado por Charles. Ele sabe que vai se odiar por isso, mas abre a caixa. Dentro dela, se vê dormindo em sua cama. Antes que possa reagir, o chocado Fanático ouve o irmão, e percebe estar dentro de uma caixa similar àquela, segurada pelo Professor X, que diz já ser hora de terminar a conversa. Nervoso, Marko não entende como aquilo pode estar acontecendo, já que está vestindo seu capacete e este impede a invasão de sua mente. Xavier explica que o verdadeiro Cain Marko está dormindo, sem ele. Charles o abordou durante o sono e todo o ocorrido se deu no relevo mental.
Fanático se irrita, o chamando de covarde, e o professor se defende constatando que, conforme provado, um encontro físico dos dois terminaria em sua morte e na de muitos inocentes. Ele reconhece que Cain tem razão: redenção não é sempre possível, mas compreensão sim. Charles o entende melhor agora, sabendo que ele escolheu o caminho que trilha. Fechando a caixa, Xavier pede que, para o próprio bem de Marko, ele não cruze o seu. Cain Marko acorda berrando e a história chega ao fim.
Com esta história fechada, Mike Carey não só nos traz o inevitável encontro dos meio-irmãos como define o até então incerto papel do Fanático no panorama mutante atual, se preocupando em tornar sua “volta às origens” coerente , caracterizando-o nos seus moldes mais clássicos e nos reapresentando sua personalidade e história de vida. Resta-nos a mesma constatação de Charles, a de que nem todos podem ser salvos e, com ela, a volta de um dos mais antigos vilões dos Filhos do Átomo.
Ao que parece, o Professor X está dando a volta por cima, mas seu destino continua uma incógnita para nós, leitores. Continuemos acompanhando sua jornada no ano que vem, e vejamos o que o futuro reserva para o responsável pela existência dos X-Men. Nos vemos lá.
*Título do artigo baseado numa fala do Fanático que é um tanto popular - principalmente na internet. Não usei como piada, já que ela reflete a afirmação de identidade do personagem que é o tema da história.
Léo