Para quem não sabe, o consagrado escritor de Game of Thrones, George R. R. Martin, é um grande fã da Marvel, daqueles que já fizeram parte do fã-clube oficial da editora e até tiveram cartas publicadas nas revistas. Tendo o Homem-Formiga como um de seus heróis preferidos, o autor postou em seu blog um texto onde expressa toda a sua paixão pelo personagem, além de apontar o filme do herói diminuto como um dos melhores já feitos pela Marvel. Vale a pena dar uma lida...
"Falando de filmes...
... Eu vi o Homem-Formiga ontem à noite no Crown Violet, abaixo da rua do Cocteau, e adorei.
Agora eu tenho que confessar, como um velho - muito velho - fanboy da Marvel (eu já fui um membro da Merry Marvel Marching Society), que fiquei um pouco decepcionado quando soube que esse Homem-Formiga seria o Scott Lang e não o Hank Pym, o Homem-Formiga original da minha juventude. Scott Lang surgiu num época em que minha quantidade de leitura regular estava caindo, então eu não conhecia muito bem o personagem, enquanto que eu conhecia e amava Hank e Janet, o Homem-Formiga e a cativante Vespa. Eu estava lá no início dos tempos, quando eles começaram a se aventurar através das páginas de TALES TO ASTONISH. Eles nunca foram tão populares quanto os outros heróis que Stan Lee criou naquela época - Homem de Ferro, Homem-Aranha, Thor e tal - mas Lee sempre pareceu ter uma queda pelo Homem-Formiga, e eu também. O Homem-Formiga foi o passo final, sendo o cara que, em um sentido muito literal, de alguma forma deixou sua marca no meio de deuses e monstros, com o poder de diminuir de tamanho. As formigas eram legais também e lhe deram uma vantagem definitiva em minha mente sobre seu rival herói diminuto da DC, o Átomo.
E eu amava sua parceria com a Vespa. Numa época em que todos os outros quadrinhos apostavam numa interminável 'tensão romântica', ou mais do velho 'devo esconder o meu segredo da minha namorada', ali estava um homem e uma mulher que se aventuravam juntos, que se amavam sem perguntas e que até ajudaram a fundar os Vingadores... isso foi revolucionário no início de 1960, como muito do que Stan Lee fez... (e é triste dizer que seria revolucionário ainda nos dias de hoje).
O Homem-Formiga original tinha um curto caminho em comparação com os outros heróis da primeira geração da Marvel, como Thor e Homem de Ferro. Em um esforço para tornar o personagem mais popular, Lee e seus sucessores começaram a mexer com seu conceito, dando a Hank Pym o poder de crescer, bem como o de encolher. O Homem-Formiga se tornou o Gigante, se tornou o Golias (mesmos poderes, mas com trajes diferentes), se tornou o Jaqueta Amarela, se tornou 'Hank Pym, o Aventureiro Científico' (eu não). Pra falar a verdade, eu nunca gostei tanto de qualquer uma dessas novas versões do Homem-Formiga original, e quando os escritores (não Lee, pois novas pessoas estavam a bordo desde então) decidiram fazer um Hank mentalmente instável e, em seguida, tornou-o um cara que espanca a esposa... bem, eu realmente odiei aquilo. (Entretanto, alguns fatos subsequentes me agradaram, como quando a Vespa começou a agir sozinha e se tornou a líder dos Vingadores). Depois veio a Era Scott Lang, eu acho... e em seguida, mais um par de Homens-Formiga depois dele... nenhum dos quais eu acompanhei ou dei a mínima.
Contada toda essa história, eu fiquei com muito receio quando esse filme foi anunciado. Será que eles iriam fazê-lo bem, será que iriam capturar o espírito do Homem-Formiga original de TALES TO ASTONISH e AVENGERS # 1, o personagem que eu amei... ou será que iriam acabar com isso??? Eu estava ansioso para ver o filme, mas apreensivo sobre isso também, especialmente quando ouvi que seria sobre Scott Lang e não Hank Pym.
Estou aliviado e contente de informar que eles fizeram a coisa certa.
Scott Lang é o Homem-Formiga sim, e Paul Rudd fez dele um protagonista simpático e envolvente, mas a devida honra de ser o primeiro Homem-Formiga coube ao Hank, com Michael Douglas tendo um bom desempenho no papel de Pym. Há um monte de humor neste filme, mas nada forçado como eu temia que poderia ser. Há um monte de ação também, mas não ao ponto de superar o enredo e os personagens, que foi o meu problema com o último filme dos Vingadores... e o que veio antes desse, eu acho. Um filme de super-herói precisa de coisas sendo esmagadas, batendo e explodindo, é claro, mas o material funciona melhor quando é feito com as pessoas que realmente conhecem e se importam, e se você usar muitos personagens e não tiver tempo para desenvolver qualquer um deles corretamente, bem ...
Homem-Formiga tem um equilíbrio entre história, personagenes, humor e ação. Alguns reviews estão considerando o filme como o melhor da Marvel até hoje. Eu não iria tão longe, mas está lá em cima, talvez perdendo apenas para o segundo filme de Sam Raimi, aquele com o Octopus. Eu gostei da maioria dos filmes da Marvel, eu ainda sou um fanboy da Marvel de coração (Excelsior!), mas eu gostei mais de Homem-Formiga do que o primeiro filme dos Vingadores, muito mais do que do segundo, mais que THOR, mais ainda do que o segundo e terceiro Homem de Ferro e talvez mais até do que o primeiro (e eu gosto muito desse).
Oh, e eu amei as formigas!
Defeitos? Sim, alguns. Onde estava a Vespa? Temos alguns vislumbres e uma deixa para o próximo filme. Mas eu queria mais Vespa, pois eu amava a velha dinâmica original Hank / Janet (antes de chegar ao material do espancador de esposa). Além disso, enquanto o Jaqueta Amarela se torna um vilão decente aqui (nos quadrinhos, é claro, ele era na verdade uma das identidades posteriores de Hank depois do Gigante e do Golias), eu me canso desse caminho dos filmes da Marvel onde o bandido tem os mesmos poderes do herói. O Hulk lutou contra o Abominável, que é apenas um Hulk maligno. Homem-Aranha luta contra o Venom, que é apenas um Homem-Aranha mau. Homem de Ferro luta contra o Monge de Ferro, um Homem de Ferro mau. Bocejo. Eu quero mais filmes onde o herói e o vilão têm diferentes poderes. Isso torna a ação muito mais interessante.
Mas essas são coisas triviais, como eu disse.
No geral, eu tive um grande momento. Por algumas horas, eu tive treze anos novamente.
E eu mencionei que amei as formigas?"
Taí mais review positivo feito por um grande fã da Marvel. E pra fechar, temos abaixo uma carta do então jovem George R. R. Martin publicada em Fantastic Four #20, de 1961:
Eduardo Spicacci