sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Guerras Secretas #9: Tudo Muda



 Após seis meses desde que começou a ser publicada aqui no Brasil, finalmente as Guerras Secretas de Jonanthan Hickman e Esad Ribic chegam ao fim. Um novo mundo feito por pedaços daquilo que Destino conseguiu salvar após o embate com os Beyonders está sendo colocado em risco por heróis e vilões que sobreviveram ao fim de tudo em duas cápsulas resistente aos fins dos tempos. Mas será a queda de um Deus algo a se temer ou a esperança para algo melhor por vir?

Continuando a partir do ponto que paramos na última edição, T'Challa e Namor são os novos desafios do Deus Destino e diferente do que ele tinha encarado até agora, não vai ser algo fácil dele lidar. Mesmo com um poder quase absoluto, Doom foi surpreendido pelos vários e diferentes ataques feitos pelo Pantera Negra usando a manopla das Jóias do Infinito e percebeu que até mesmo um ser divino pode sentir dor.



Enquanto o combate voraz acontecia fora do Castelo, os dois Reed Richards que invadiam a Fortaleza de Destino toparam com ninguém menos que Susan e Valeria Richards. Reed se apresenta como alguém do passado dela que a perdeu e agora foi simplemente apagado da existência. Susan reluta em acreditar naquilo, mas a própria Valéria parece estar em dúvida se até hoje eles não viviam uma grande mentira. Antes de adentrar na câmara do Homem-Molecular, Reed promete que vai ajeitar tudo, pois ele é Reed Richards, aquele que conserta as coisas.

Uma vez dentro da Câmara, os Reeds topam com o ensandecido Homem-Molecular, a bateria viva do poder de Destino. Owen Reece faz sua célebre pergunta sobre se os visitantes trouxeram comida e mais uma vez ninguém pareceu pensar em trazer-lhe tal caridade. Contudo, neste ponto, o Ultimate Richards acha que é o momento certo para sua traição e lança sobre sua versão 616 uma espécie de bomba involucionária.



Richards Ultimate, também conhecida como O Criador, lamentava a fraqueza do Reed 616 e comentou que ver aquela sua versão quase chorar para Susan foi algo humilhante. Mas antes que o nosso Reed se reduzisse a forma mais primitiva que podia alcançar, é salvo por Owen. O Homem-Molecular, por sua vez, volta suas atenções para o vilanesco Richards e o fatia em vários pedaços, facilmente livrando-se de sua maldade. Certamente, tudo que o Homem-Molecular não queria era ser controlado por um homem tão vil quanto ele. Por fim, Owen alerta Reed sobre a vinda de Destino e que deve se recuperar o quanto antes.

Quando Destino finalmente derrota T'Challa, percebe que aquilo tudo era só uma distração. Se teletransporta para seus jardins e ao pé da estátua de Reece encontra Susan e Valeria. Victor é incapaz de lhe confessar a verdade e apenas lamenta sua falha que levou até ali - "Sinto muito, Susan. Eu tentei"

Dentro da câmara, há o ponto mais forte dessa saga com o confronto desses eternos antagonistas. Ao Destino entrar no lugar, mais uma vez o Homem-Molecular lhe cobra uma comida. E mais uma vez, seu amigo esquece de tal. Com isso, Owen acredita que os dois - Reed e Victor - devam disputar o poder que ele pode entregar-lhe numa luta justa e assim começam uma briga brutal entre eles sem qualquer recurso extra.

Mais do que uma batalha física, Destino e o Senhor Fantástico tem conflitos de ideias e palavras ao longo do combate. Destino reclama que Reed pôs a sua etica e moral acima da sobrevivência e com isso, no final, não tinha mais tempo para sequer salvar sua família. Já Reed, reclama de que como ele sendo um Deus, havia se posto numa posição de apenas atender suas vontades humanas e até mesmo ousou tomar o lugar de Reed e roubou sua família.


Reed admite que Victor salvou mundos, mas depois disso se apegou a eles e quis controla-los como braço de ferro. O apego de Destino sobre as coisas que salvou era voraz e não permitia mais que elas avançassem e crescessem na totalidade de seu potencial. Como Deus daquele lugar, era obrigação de Destino permitir que as coisas melhorarem.Já Reed, segundo Destino, opta por abandonar o bom em busca do perfeito e nunca se dá por satisfeito.



Reed acredita que Destino poderia ser uma pessoa melhor. E Destino admite que devido a sua travas, se fosse Reed em seu lugar, ele seria um deus melhor. No entendimento do Homem-Molecular, com aquelas falas, ambos os combatentes entraram em acordo e com isso Owen tirou os poderes de Destino e os entregou a Reed. Com isso, o Mundo Bélico começa a ser defeito.

Nos momentos finais, T'Challa usa a joia do tempo para viajar ao começo da passagem dos vingadores do Hickman e assim ele encontra os seus jovens astronautas wakadianos antes do momento em que foram mortos na primeira incursão da terra. Desta vez, todavia, não haveria incursão, a história se encaminharia de um jeito diferente. E com esse avanço da tecnologia de foguetes par exploração espacial Wakanda dava um passo a frente, indo de encontra a sua política sempre fechada ao novo, e rumava as estrelas.
Nos momentos finais desta saga, o tempo avança cerca de oito meses e topamos com um Miles Morales na mesma Terra que o Peter Parker. Este foi o um presente que ele ganhou de Owen por ser o único a lhe dar um sanduíche na sua visita a antiga câmara. Não há mais Ultiverso, mas Miles teve sua existência continuada na terra nova terra (não podemos chamar de 616?) e com um adendo - sua mãe agora esta viva.



No mundo além das realidades, Susan, Reed, Franklin e Valeria juntamente com a fundação futuro fazem o novo multiverso. Valéria explica ao leitor como é a função que cada um ocupa ali para novas realidades estarem por aí, graças ao poder de imaginar coisas de Franklin e do Reed servindo como moldador dos poderes do Homem-Molecular. Há um signicado nisso tudo. Para o time que fundou a Marvel nos anos 61, temos o quarteto fantastico da antiga realidade 616 formando o mundo/o multiverso que veremos daqui pra frente



No epitáfio final, Reed fala que salvou o multiverso de novo sim, mas lembra da ajuda de Destino. De alguma forma, ambos se ajudaram a entender onde erraram. Destino lhe ensinou que a diferença entre viver e morrer é gerenciar o medo. Já Destino deve ter aprendido a lição a não se apegar demais as coisas que ama ao ponto de sufocá-las. De antagonistas, eles acabam como complementares para um conhecer o outro e a si mesmo.

Por fim, há um ultimo paralelo a ser feito aqui entre a contração do universo, mundos se acabando e tudo morrendo. Agora, há novos criadores, os mundos estão em expansão, e tudo vive.



Jonathan Hickman se despede aqui da Marvel e fez de um jeito tão pontual que é difícil não lamentar os próximos dias que não o veremos dirigindo nada das páginas da editora. De forma indiscutível, Guerras Secretas além de ser uma obra prima dos quadrinhos modernos é uma verdadeira ode ao conceito do Quarteto Fantástico que provavelmente não deve ter sido compreendido tão bem por outros roteiristas modernos como foi feito pelo Hickman. Os Tie ins, sejam eles notadamente tão independentes da saga principal, não deixam também de fazer seu papel de honrar momentos marcantes de diferentes fases das HQs. Como conjunto, Guerras Secretas foi um exemplo de execução editorial bem sucedida.

O evento também tem seu marco em particular no Brasil. A Panini que trabalhou muito bem ao ousar publicar edições de arcos fechados ao longo de toda a saga, mostrou que pode realmente pensar fora da caixinha e nos brindar com produtos melhores para o seu público leitor e colecionador. O primeiro impacto vem com a sábia decisão de abandonar o papel Pisa-Brite e partir de cabeça para o LWC. E que essa evolução simbolize apenas o começo para mais e melhores produtos por vir.



Por fim, antes de encerrar, queria dar nota na edição Secret Wars Too que acompanha essa história final no número 9 na saga do Brasil. Ela traz história autobiográfica de Jonathan Hickman que foi desenhada por Brian Churilla. Ali, mostra que apesar de todo o brilhantismo, Hickman é mais humano que acreditamos, se coloca em dúvida a todo momento sobre a execução das Guerras Secretas e como muitas vezes pode até ser mal compreendido por colegas de trabalho que tiveram seus "runs" atravessados pela saga. Mas no fim, apesar dos medos e receios, os editores apostaram forte e ele conseguiu. Particularmente, pra mim, entrou no hall das lendas que passaram já pela Casa das Ideias.

Coveiro

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