quarta-feira, 30 de julho de 2014

Maratona 616: A "ciência" da origem dos Guardiões da Galáxia originais


Era ainda tudo um começo na Marvel. Colocar um olhar sobre os Guardiões da Galáxia originais lançados em 1969 tem que ser feito dentro de muito contexto. Os gibis naquela nova época, como bem atestam a origem do Quarteto Fantástico e Hulk por exemplo, tinham como gatilho os fantásticos embriões de teorias científicas que ainda levariam alguns anos a serem experimentados. Daí, assim como fez H.G. Wells na sua época, a Marvel colocou a imaginação lá pra frente e imaginou como seria a conquista do nosso sistema solar muito antes do homem pisar na Lua.

Assim como H.G. Wells em seu tempo imaginou o futuro do planeta com novas raças distintas evolutivamente em seu "Maquina do Tempo", os criadores dos Guardiões originais, Arnold Drake e Gene Colan, extrapolaram a criatividade para dar substância a como seriam no futuro os homens que colonizariam Jupiter, Plutão, Mercúrio e muitos outros. Somente assim, dentro dessa perspectiva, como um leitor da época que realmente não tinha ideia dos limites da ciência em seu tempo, numa quase liberdade de ousar prever o futuro como Julio Verne também fez no seus livros, seremos capazes de ver o brilho dessas primeiras histórias.


Charlie-27 é o homem de Jupiter. E como bem retrata em sua história, para suportar os rigores da gravidade pesada desse planeta (2,5 a mais que a terra para você comparar), ele era um homem 7 vezes mais forte que um terraqueo comum. Sendo assim, em qualquer outro lugar, os jupiterianos seriam incriveis super-homens capazes de saltar mais, levantar mais pesos, bater mais forte. Num paralelo ideal, se um terraqueo fosse para Marte, faria a diferença. Lá a gravidade é 3 vezes menor que a Terra e todo humano seria um "John Carter of Mars" para seus teoricos moradores.

Charlie-27 era um militar, assim como muitos outros de seus iguais. Todos se definiam simples assim - um só nome e um só numero. Quando ocorreu a invasão Badoon que praticamente dizimou o nosso sistema solar, ele foi o único que conseguiu escapar. Encontrou-se com um habitante de Plutão, que lhe contou a história de como também seu planeta natal foi conquistado pelas hordas invasoras alienigenas.

Plutão é talvez o astro com caracteristicas mais distintas das nossas. Sua gravidade é minima, cerca de nove meses menor que a da Terra, sua massa é um quinto da nossa Lua. Nem mesmo é considerado um planeta hoje, define-se como Planeta Anão. Mesmo naquela época não era dificil extrapolar a vida árdua que seria no astro, com apenas rocha e gelo. Sendo assim, os plutonianos como Martinex T'Naga são qualquer coisa menos humanos comuns.


O cientista Marty, como depois foi apelidado, é ainda formado de carbono, mas polimerizado de um jeito diferente, quase um cristal vivo. Assim, tornava-se curioso para os escritores da época elaborar como o plutoniano enxergava o mundo ao seu redor. Em dado momento, Martinex explica que não pode, por exemplo, escutar como nós, mas percebe barulhos pela maneira que as ondas sonoras vibram em seu corpo polimerizado. Para dar ares mais superheróicos ao personagem, Marty é capaz de projetar rajadas de calor e de frio, provavelmente deveria ser bem útil naquela pequena rocha que quase não mais sente a intensidade do calor da nossa estrela.

Uma vez Plutão também invadido, Charlie-27 e Martinex rumam ao único lugar onde acreditavam estar seguros, na esperança de que a Terra seja o último posto de resistência. Mas lá a situação não se encontraria das melhores. Há um foco de resistência e dois homens se destacam além dos demais.

O Major Vance Astrovik, mais tarde autointitulado Major Vitória, era o primeiro terráqueo que eles encontraram, mas sua história denotava que estava longe de ser um homem comum. Ele fazia parte da história espacial do nosso povo, um astronauta dos nossos anos 80 que veio parar no século 31. Na época, ele foi o voluntário disposto a ser o primeiro homem a pisar em Centauro IV, o quarto planeta da estrela similar e bem próxima a nossa chamada Alfa-Centauri (um sol descoberto e observado desde 1592). Todavia, a distancia daqui para esse novo sistema solar seria de 4.3 anos luz e isso implicava que o Major Vance deveria realizar toda sua viagem em animação suspensa e usando um traje protetor que nunca mais poderia ser retirado às custas de sua integridade física.

Contudo, a missão de Vance se mostraria um completo fiasco a partir do momento em que chegou ao seu destino e deparou-se com um planeta não só já conquistado por outros humanos, mas como tendo acontecido centenas de anos antes. Segundo lhe foi informado, depois da missão de Vance, desenvolveu-se tecnologias melhores e mais velozes de transporte pelo espaço. Assim, mil anos da vida de Vance foram tirados sem mérito algum e isso repercutiu bastante na personalidade de Astrovik mesmo que fosse ovacionado como parte da história pelos novos homens do século 31. Para ele, toda sua vida foi em vão, não passava de algo obsoleto e de propósito perdido. Mas a história de Astrovik vai muito além disso como devemos ver num futuro outro artigo a sair aqui no site.



Preso em sua roupa que o impedia de se desfazer em cinzas devido a sua longa idade, restou a Vance apenas os seus recém descobertos poderes mutantes latentes como telecinético. Foi ainda em Centauro IV que Vance Astro conheceu o nativo alfa-centauriano Yondu Udonta, da tribo Zatoan, primitivos que viviam como espécies de indigenas de pele azul e barbatana vermelha na cabeça. Antes de um confronto imediato entre ambos, Vance prometeu guardar segredo sobre sua descoberta e passaram até mesmo a atuar juntos desde então. Todavia, nada disso adiantaria quando os Badoon chegassem e dizimassem a colonia terrestre e a primitiva aldeia de Udonta. Restavam-lhe apenas rumar para a Terra em busca de segurança. Ou assim acreditavam.

Qualquer referência a Yondu como o indígena companheiro do herói principal que faria as vezes do "cavaleiro" Vance Astro não é uma coincidência. Seu povo evitou contato com os colonizadores da Terra que chegaram no seu planeta no ano de 2940. Seu encontro com Vance em 3006 foi um infortuito que levou a uma parceria digna das melhores histórias de faroeste (a referencia de colonização do oeste americano e de outro planeta aqui são descaradas).


 Yondu é um caçador, mas faz as vezes também de uma espécie de pajé quando pratica rituais para comungar com suas forças espirituais-guias. Esse seu dom quase místico também possibilita ter empatia com vários seres naturais de outros planetas assim como há um dom extrassensorial de entender o bioma de qualquer lugar. Sua arma apesar de parecer rústica, apenas um arco e flecha, são feitos do metal Yaka, sensível as variações de som. Ao assoviar em tons diferentes, a flecha é capaz de alterar a direção ao seu bel prazer.


E esses são os quatro personagens fundadores dos Guardiões da Galáxia do século 31, que uma vez unidos pelo mesmo objetivo contra os Badoons juntam-se como um time para servir de resistência e recuperar a galáxia. Ainda assim, dois membros estariam na equipe mais tarde para formar o cerne principal do grupo que os definiria como os Guardiões originais definitivos.

Uma delas merece ser apontada já agora, uma vez que sua origem também tem tudo haver com essas extrapolações de como seria a vida humana adaptada as diferentes condições de vida de cada planeta. Nikki, ou Nicholette Gold, é uma Mercuriana, povo marcado pelo tom de pele cinza e cabelos em chamas. É capaz de enxergar mesmo sob luz intensa e sua pele suporta o mais intenso calor e outra formas de radiação. Esta é uma condição mais que obrigatória pela proximidade deste planeta com o nosso Sol. Pela gravidade menor de Mercúrio, Nikki também é extremamente mais leve, sendo mais ágil e mostrando habilidades impressionantes como ginasta.


Ela foi encontrada num nave espacial da deriva pela tripulação da Capitão America, a nave espacial dos Guardiões. Vagando sozinha por muito tempo no espaço, a moça ficou deveras grata por ser salva e tornou-se uma adição imediata ao grupo. Por muito tempo, foi a única mulher dentre os Guardiões e foi fundamental em muitas das missões mais inimagináveis do time.

O outro membro que culminaria na formação do grupo como um sexteto que viveria grandes aventuras no futuro e no nosso século é o arcturiano Skatar, ou Águia Estelar. Sua história, no entanto, já foge bem mais ao escopo de base "científica" que os demais membros do grupo tem e segue mais por um apelo abstrato e surrealista. Mas isso não o torna menos curioso e na verdade requer até mesmo um texto a parte.

E nossa Maratona cósmica voltada para os Guardiões da Galáxia ainda segue nesses dias que antecedem e sucedem a estreia do filme. Material para te acompanhar nessa aventura cósmica nos cinemas não vai faltar.

Coveiro

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