terça-feira, 24 de outubro de 2017

Homem-Aranha: Graça Espetacular

Mais conhecido por seus trabalhos na TV em Firefly, Castle, Grimm, Terra Nova e até mesmo Agente Carter, o escritor porto-riquenho Jose Molina foi convidado pela Marvel para uma série de histórias bem especiais que seguiam concomitante a nova fase do Homem-Aranha como uma mega-empresário. E com isso temos uma história do herói fora do centro urbano de Nova York, mas o colocando em dilemas religiosos pouco trabalhados antes no personagem.



Tudo acontece nos últimos dias do ano, às vésperas das festas natalinas, quando após o enterro de Julio Manuel Rodriguez, o próprio resolve sair da tumba e tornar-se a maior notícia dos últimos dias. Contagiado pelo espírito da época, muita gente, inclusive J. Jonah Jamenson, acredita que aquilo foi um milagre. Curioso com o caso, Peter Parker em pessoa resolve investigar a situação e isso o leva até a médica legista que examinou Julio, que garante que este não foi um caso de que o atestado de óbito foi um lapso. A médica retirou os órgãos do sujeito e o remexeu de tal forma que não poderia estar ainda vivo depois de sair da sua mesa de autópsia.

Não satisfeito com o que ouviu, o Aranha foi se aproximar da residência da família Rodriguez e acabou salvando os filhos dele de uma multidão de paparazzis. A filha caçula, que admirava o herói, acabou falando mais do passado de seu pai. Contou como ele tinha um tipo incurável de câncer e como ele se fiou a Igreja para que fosse curado. Não tendo evolução do caso, foi aconselhado a ir num curandeiro local chamado Don Anselmo, mesmo que fosse contra a vontade do padre que se preocupava com a alma de Julio Manuel. A conversa foi interrompida pela mãe da menina, que não queria mais o Aranha por perto bisbilhotando.

A curiosidade do Aranha o levou ao Harlem pra procurar esse Don Anselmo e foi lá que conheceu um grupo de super-heróis inspirados na religião Santeria, uma vertente  bastante similar ao nosso Candomblé, mas praticado em Cuba, Porto Rico e outros países mais ao norte da América Central. Os Santeros eram formados por Eleguá, Iansa, Xangô, Ogum e Oxum, que numa brincadeira até um pouco desdenhosa o Aranha quis batizar com outros nomes esdrúxulos de super-heróis. Dispostos a ajudar no caso de Julio Manuel, os Santeros chamaram o Aranha pra ir junto com eles a Cuba e investigar o que mudou na vida daquele porto-riquenho quando foi para lá buscar uma cura. E foi assim que o nosso herói seguiu clandestinamente e sozinho para a terra dos Castros.



Uma vez lá e de posse do tradutor do seu Webware, Peter Parker foi investigando os passos de Julio até topar com uma moça que sabia que ele estava atrás de Babalu, o orixá da cura. Parker era completamente cético aquele tipo de coisa, mas a moça afirmou qter uma grande experiência dos poderes do Orixá quando este curou seu irmão no passado. Parker então decidiu buscar a opinião de um cético para aquele caso e assim conheceu o Professor Toledo, da Universidade local. O pesquisador, apesar de seu cetismo, era bastante aberto a discussão do tema sobre fé. Fez um excelente comparativo de como a fé por si só cega as pessoas, seja na religião, seja num governo. Então, aconselhou Parker a ir na festa do Orixá em Rincón naquela noite e se inteirar mais da divindade.

Uma vez na cidade, ao adentrar sem autorização a igreja local, o Homem-Aranha se viu numa armadilha. Foi atacado por imensos crustáceos, e acabou sob o efeito de um droga que lhe deu estranha visões. E uma delas se passava por um Tio Ben cheio de conselhos esquisitos. Com palavras pesadas, aquele Tio Ben afirmou que Peter sempre se preocupa em fazer as pessoas felizes, mas ele mesmo esqueceu o conceito de felicidade pra si nos últimos anos. Mesmo que o bem estar dos outros seja sua maior responsabilidade, Peter tem que saber cuidar de si e se auto-preservar para continuar ajudando os outros. E com isso, o nosso herói sai repentinamente do transe e se vê cercado por Babalu e seus homens. Quando o aranha consegue prendê-los, o místico desaparece misteriosamente.

E enquanto as aventuras de Homem-Aranha rolava em Cuba, os Santeros ficavam cada vez mais preocupados com as extensões messiânicas que a ressurreição de Julio do Harlem tomava. E pressionado de todos os lados, quando Julio Manuel recebe a visita de seu pai, um homem bastante religioso, que o acusa de fazer coisas profanas, o ressuscitado mata o velho.  Já de volta a Nova York, o Aranha recorreu ao gênio mutante Fera pra entender melhor o caso de Rodriguez. Sendo bem subjetivo, o Fera colocou a questão numa perspectiva ainda mais lateral - qual a diferença entre deuses e os superseres? Num mundo onde Thor já foi adorado como tal, algo como eles, mesmo que não sejam de fato deuses, certamente não são mais humanos.



No enterro de seu pai, Julio parece estar com o comportamento mais errático do que de costume e Peter Parker logo percebe isso. Com as pessoas começando a duvidar do milagre acontecendo com ele ou mesmo isso ficando em segundo plano com a morte do pai, ele parecia determinado a se provar que não era mais qualquer um. Quando o Aranha leva sua dúvida de que talvez Julio tenha matado o pai para os Santeros, eles não reagem nada bem e isso quase leva a uma briga desmedida entre eles. Enquanto eles ainda acreditam em milagre, Peter se fia na ciência e diz que se houvesse um meio de ressuscitar pessoas, ele já teria descoberto o jeito para usar em um certo ente querido.

Julio Manuel começa a estender suas capacidades sobrenaturais no decorrer da história, começando por devolver a visão a uma garotinha cega e sendo mais uma vez exaltado na multidão por isso. O único que não o aplaude é Peter Parker, que tem seus olhos voltados pra outra pessoa na plateia. Ao seguí-lo, Peter descobre que aquele sujeito estranho foi quem matou acidentalmente Julio Manuel semanas atrás. Segundo relato do homem, Julio praticamente se sacrificou durante o assalto. Isso levou Parker a vestir de vez o uniforme do Homem-Aranha e forçar uma respostas diretamente do Júlio. Alucinado, o porto-riquenho se coloca como alguém igual aos heróis com a finalidade de salvar a humanidade do seu jeito.



As novas atitudes do Júlio começam também a preocupar os Santeros, que lamentam não terem ouvido antes o Homem-Aranha e realmente acham que algo tomou o lugar do corpo do amigo deles. O Aranha também não tira os olhos de Julio desde a última vez que se falaram, esperando qual o próximo passo em falso o ressuscitado dará. E eis que em dado dia, uma entidade chamada Ancião se manifesta e diz que chegou a hora do sacrifício. Os dois somem antes que Peter consiga pegá-los. E do outro lado dessa história, os Santeros pedem ajuda a Don Anselmo no mesmo caso, que relata que as divergências nas duas fés usadas por Julio para se curar pode ter causado esse mal pior. Acabou sendo abordado por um falso deus. Num ritual, Don Anselmo se imbui de um feitiço que o torna jovem de novo e pronto para ajudar os Santeros.

Em nova ação milagrosa de Julio, um ônibus capota e ele é capaz de trazer de volta a vida uma mulher que estava no veículo. Mas segue a dúvida se ele mesmo não causou o acidente para tal. Quando finalmente chegou a este ponto, os Santeros requisitaram a ajuda do Homem-Aranha mais uma vez e se desculparam por duvidar dele. Sob a instrução de Don Anselmo, Aranha e a equipe se esforçaram em saber como deter a entidade que possuía Julio e para tal precisavam localizar uma cicatriz celestial, algo como um portal se abrindo para esse nosso mundo. Com a ajuda de Tony Stark, eles localizaram a fonte dessa assinatura energética no cemitério onde Julio foi enterrado.

Lá, o Homem-Aranha e os Santeros toparam com o possuído Julio Manuel, que logo convocou um exército de criaturas paranormais - gárgulas, estátuas, fantasmas - para protegê-Lo. Enquanto os Santeros lutavam com os monstros, o Aranha tentava de algum jeito desvincular Julio da entidade. Em suas visões, mais uma vez a imagem do Tio Ben apareceu, alertando que o Aranha nem sempre poderia salvar a todos, coisa que Parker não admitiria nunca. Nesse meio tempo, Babalu provocou Julio Martinez ao ponto de abrir de vez o portal e ser possuído de vez. Acabou que enquanto o portal crescia e o risco aumentava, Eleguá, dos Santeros, resolveu matar Julio antes que o pior acontecesse. Aranha não aceitou aquele desfecho, mas como amigos de Julio, os caras achavam que no fim ele estava num lugar melhor agora.



Parker não parecia aceitar ainda aquilo, mas no fim, de cabeça mais fria, decidiu dar um passo para trás e reavaliar onde estava sua fé afinal. Depois de muitos anos, ele entrava num igreja para buscar orientação. E com isso, temos uma história muito legal, com conceitos polêmicos sendo bem tratados. Molina estava bem acompanhado com a parte visual. Simoni Bianchi e Andrea Boccardo parecem ter o traço certo pra essa trama tão cheia de nuances divinas. Pra quem quiser acompanhar a história na integra, basta ler as edições do Espetacular Homem-Aranha de número 6 a 10.

A edição de número 10 traz ainda a revista Anual do herói, com outro latino escrevendo. Humberto Ramos toma a cadeira de roteirista ao lado de Christos Cage e chama o novato Francisco Herrera pra contar uma história do Homem-Aranha no México. Ao abrir o programa de bolsas de estudos da Fundação Benjamin Parker por lá, um terremoto não natural toma a capital. O causador do fenômeno se revela como sendo uma entidade Itzpapalotl, libertado quando alguem mexeu numa máscara sagrada nas profundezas do lugar. No fim, Peter resolve a questão, mas sem saber que um plano maior do Diablo (vilão do Quarteto Fantástico) está em andamento. Já outra história da mesma revista Anual traz Manto e Adaga como protagonistas e batendo de frente de novo com os homens do Sr. Negativo. Surge nessas páginas também um novo vilão, o Dragão Neon, que é derrotado pela dupla de heróis e alguns dos homens da divisão chinesa das Indústrias Parker.

Coveiro

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