sexta-feira, 20 de março de 2009

Homem-Aranha: Solidão Gélida


Amazing Spider-Man #556

Ainda sem falarmos de que fim levou o Monstro, as duas últimas edições de Homem-Aranha trouxeram, ao que parece, a primeira boa história desde que se iniciou a fase Um Novo Dia. Falo do arco escrito pelo excelente roteirista Zeb Wells, e ilustrado pelo polêmico Chris Bachalo, já que uns odeiam sua arte, e outros adoram, grupo no qual me enquadro, principalmente em uma história do Homem-Aranha. Pois bem, pela primeira vez, na edição 86, vemos o Aranha interagindo, em sua revista solo, com seus colegas Novos Vingadores na fase pós-Guerra Civil. E é a partir de um presságio do Dr. Estranho, sobre a nevasca que desaba sobre Nova York, que a história de fato se inicia.

Dá logo para perceber que a história se passa antes do que vimos recentemente, quando Strange se afastou do mundo físico por uma série de razões. Peter, depois de uma seqüência interessante com Wolverine, que faz algumas observações sobre o caráter do escalador de paredes (inclusive sobre sua dificuldade em aceitar ajuda), ouve do místico que a origem da nevasca é algo muito poderoso, fazendo com que ele fique desacordado ao tentar descobrir do que se trata. O Aranha sai, mas Wolverine lembra que, pelo presságio de Strange, algo de ruim estaria para acontecer na rua Bleeker as 16:00. E ambos tentariam descobrir o que é.

Homem-Aranha

De volta ao CD (com novo letreiro e tudo), Peter se preocupa em se atualizar sobre as últimas acusações (inclusive de assassinato ou o segundo ataque cardíaco de JJ Jameson) que vêm recaindo sobre seu alter-ego. Dexter Bennet, o novo dono do local, tem uma missão para Parker: cobrir essa grande nevasca fora de época que assola a cidade. Mesmo contrariado, o rapaz acaba tendo de aceitar o serviço.

De volta às ruas, já como Aranha, ele espera Wolverine no lugar marcado, morre de frio, e acaba presenciando algo um tanto estranho nas ruas cobertas pela neve. Um homem parece fugir desesperado, quando, de repente, é cercado por três criaturas que, a primeira vista humanos mesmo, vestem espécies de armaduras “tribais” todas brancas e com olhos avermelhados, assim como balbuciou o Dr. Estranho antes de desmaiar. É claro que ele intervém, e luta contra o que parece ser a ameaça prevista.

Homem-Aranha

Porém, inferiorizado, ele precisa fugir, pois os oponentes, ao que tudo indica, não são simples seres humanos. Correndo, tentando se defender e ainda tirar boas fotos no processo, o Aranha acaba recebendo a ajuda (antes tarde do que nunca) de Wolverine. O mutante revela que já estava por perto, mas usou Peter para descobrir quantos oponentes enfrentavam.

A luta se desequilibra a favor dos heróis, mas Peter tenta impedir que Logan mate uma das criaturas, mostrando o quanto os dois são diferentes. A observação de que o mutante parece se deixar acertar só para ter uma desculpa de assassinar seus oponentes é o que faz o Aranha ganhar a discussão. Ainda assim, Wolverine o deixa sozinho para resolver o que fazer com aqueles três desacordados.

Homem-Aranha

Ele os arrasta, junto com o homem que atacavam, até a delegacia. O homem se revela um cientista (matemático) chamado Rabin, que descobria informações vitais sobre a cultura maia, e que por isso ele e seus companheiros foram atacados por esses extremistas, sendo que foi o único cujo seqüestro foi mal sucedido. Isso faz lembrar que os outros ainda estão presos, no frio, em um caminhão. Interpelado e recebendo voz de prisão na delegacia, O Homem-Aranha mais uma vez escapa, e retorna para a neve em busca dos outros inocentes.

Homem-Aranha

Em Homem-Aranha 87 a história continua, dando uma parada no hospital em que Jameson se encontra, e tenta se recuperar e aceitar a venda do Clarim Diário. Com um humor muito mais leve e menos infantilizado do que o que víamos anteriormente, Wells nos mostra um engraçado JJJ, que escapa assim que as enfermeiras se distraem. De camisola hospitalar, cateter, e tudo mais. Porém, o jornalista fujão logo vê que a cidade é neve pura, e termina sua jornada na porta do local, xingando todo o papo sobre aquecimento global.

Homem-Aranha

De volta ao Aranha, que reclama de si mesmo, por aceitar um serviço tão controverso quanto sair, apenas com seu uniforme, sozinho, no meio de uma nevasca. Ao mesmo tempo, sabemos que ele nunca deixaria de ajudar alguém. Mesmo por causa disso.

Na delegacia, as criaturas de origem maia ficam presas, enquanto o matemático tenta explicar toda situação aos policiais. Diz que está sendo atacado por praticar pesquisas consideradas sacrilégio pelos maias, pois lida com noções de até dez dimensões, advindas da religião daquele povo, por usar caracteres maias como código-base. As ameaças que começou a receber com seus companheiros, diziam que as pesquisas eram uma forma de contatar o deus Kuhul Ajaw, que serviria qualquer um que lhe oferecesse sangue. Ele diz que seus agressores queriam usá-lo, seu sangue, para acessarem tal poder, no dia em que o mundo místico e humano estariam mais próximos.

Na neve, Peter procura o caminhão descrito, e, literalmente afundando na neve, acaba por se deparar com um mendigo que se vira como pode para enfrentar o frio. E o Aranha aproveita para se esquentar um pouco na fogueira improvisada. Apresentando-se como “Picolé-Aranha, o sorvetão da vizinhança”, ele conversa com Vern, que logo demonstra ser um tanto paranóico. De repente, Peter percebe que a jaqueta que perdeu mais cedo está sendo usada pelo mendigo. Mas percebendo que o velho precisa muito mais dela do que ele, deixa que fique com a roupa.

Homem-Aranha

Enquanto Carlie tenta convencer seu amigo policial Vin a aceitar Peter para dividir apartamento, o Aranha se prepara para continuar sua busca entupido de jornal por baixo da roupa (jornal ajuda a combater o frio), mas logo é abordado por uma criatura parecida com os que estão presos na delegacia. Porém, sua aparência é mais grotesca. É Kuhul Ajaw, que questiona se o cabeça-de-teia é o seu sacrifício.

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O confronto parece bem desequilibrado, e Peter só não é assassinado pois o deus maia não o reconhece como o sangue prometido, e por tê-lo confundido com um sacerdote, deixando-o na neve. Mas Kuhul Ajaw o segue, e quando o Aranha finalmente encontra os outros matemáticos, descobre que era Rabin que queria realizar o sacrifício em troca de poder, tendo já matado um dos companheiros. O Homem-Aranha foi enganado.

Na prisão, Rabin pratica o assassínio ritual de um dos prisioneiros, e, quando Carlie o encontra, está coberto com os símbolos sagrados, com sangue nas mãos e morte nos olhos, preparado para cumprir seus objetivos.

Homem-Aranha

O Homem-Aranha logo sabe de toda história, como Dave, um dos cientistas, foi assassinado para que Kuhul Ajaw viesse à nossa dimensão, como Rabin convocou a nevasca que se abatia sobre Nova York em plena primavera, e que os três que enfrentou mais cedo, na verdade, tentavam proteger o mundo da chegada do maligno deus da morte. E se dá conta do porquê de ter sido induzido por Rabin a buscar a cientista que sobreviveu, dra. Mary: atrair o deus sedento de sangue enquanto seu sacerdote se preparava.

Homem-Aranha

Logo os dois voltam a se enfrentar, e o deus se sente ofendido por ter sua oferenda negada. Furioso, ele afirma que cada vez mais se torna mais ligado àquela realidade, pois mais um sacrifício tinha sido realizado em seu nome (mais exatamente na delegacia).

Porém, com o já alterado Rabin explica a sua refém Carlie, aquele período de cinco dias nos quais se encontravam (e que logo estaria terminando), possibilitava que um deus e um humano se fundissem. E que para isso era necessário o sacrifício de uma mulher. Frustrada a primeira tentativa, ela seria objeto da nova empreitada do alucinado cientista (que só conseguiu matar um dos maias, já que os outros dois preferiram se matar a ajudar a fortalecer o encantamento). Mais forte, e ironicamente chamando-os de fanáticos, ele começa a preparar o sacrifício final.

O Aranha vai tomando uma surra de Kuhul Ajaw, uma vez que seus poderes místicos superam em muito as capacidades do herói. Rabin, cada vez com uma aparência mais próxima a do deus, foge da delegacia com Carlie, mesmo com a tentativa de Vin e O’Neil de detê-lo.

Homem-Aranha

Fugindo do deus, Peter tenta de tudo para avisar Carlie e os outros (apelando até para Harry Osborn, que não dá bola), mas não sabe que já é tarde. Assim que nota que parou de nevar, Kuhul Ajaw o encontra, resultando em mais Aranha voando pelos ares, demonstrando que sua piadinha sobre seus próprios deuses não surtir efeito algum sobre seu oponente.

Homem-Aranha

Logo, todos se encontram. O Aranha vê Carlie refém de Rabin, que parece mais monstro que homem. Isso tudo a apenas 10 minutos até que a data mística se encerre. De repente, o inferiorizado Homem-Aranha recebe uma ajuda inesperada. Vern, junto de outros mendigos, tenta ajudar o herói com coquetéis molotov. E mesmo sem querer, já que suas barbas assustam o deus, pois servem de amuletos contra sua presença, proporcionam a distração necessária para que, com o deus em chamas, Peter o lotasse de teia, paralisando-o momentaneamente.

Homem-Aranha

Mas Rabin ainda pode realizar o sacrifício. O Aranha não concluiu o resgate. E aí sim, a força do cabeça-de-teia é mais do que suficiente para deixar o alterado cientista em xeque, até que o prazo se esgota. O dia raia, e a espera para que a transição final e Kuhul Ajaw para nossa realidade será de, pelo menos, mais um ano, e ele desaparece prometendo se vingar.

Rabin se desespera, sentindo o poder de que já gozava o deixar. É a deixa para que o Aranha o nocauteie.

Homem-Aranha

A neve desaparece nas horas que se seguem, as coisas parecem voltar ao normal, até onde pode ser normal para Peter Parker. Mas, ainda assim, ele arruma uma forma de agradecer a ajuda de Vern, reconhecendo que, de vez em quando, precisa confiar mais na ajuda dos amigos.

Essa história é fechada, e pouco influencia para a cronologia atual do Aranha, mas, como disse o início do artigo, desde que teve início Um Novo Dia, talvez tenha sido o arco com mais cara de Homem-Aranha dos últimos meses. O que nos resta é esperar por mais trabalhos de Zeb Wells, que pareceu pegar o tom certo de se trabalhar com o Sorvetão (digo, Amigão) da Vizinhança.


João

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