quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Pecados Originais: Homens de Ciência



Provavelmente uma das sagas de consequências mais inesperadas, Pecado Original colocou vilões de quinta categoria, que em outros tempos seriam improváveis ameaças aos Vingadores, em destaque. Quem diria que Orbe poderia por heróis como o Homem de Ferro e o Hulk de joelhos? Mas ele conseguiu isso e apenas precisou revelar segredos do passado enterrados na mente deles. É o que mostra a edição 1 de Pecados Originais lançada em outubro.

Escrita numa parceria entre Mark Waid e Kieron Gillen, com artes de Luke Ross e Mark Bagley, a minissérie em quatro partes traz lembranças ainda confusas de um período pré-Hulk e que pode responsabilizar de certa forma Tony Stark pelo acidente gama que Banner sofreu anos atrás. Assim que isso vem a mente do Hulk e do Homem de Ferro, ambos deixam de se importar com suas obrigações de Vingadores e passam a se engalfinhar destruindo parte de Manhattan.

Voltamos no tempo para colocar no universo regular algo que só foi trabalhado dignamente naquelas tentativas de retcon do "Heróis Renascem" onde Stark e Banner eram uma espécies de irmãos de Ciência. Aqui, no entanto, a relação dos dois não era nada tão fraternal. No passado, com intelectos equivalentes, os dois jovens se distanciavam bastante em termos de personalidade. Mas a rivalidade de ambos iria aprofundar na noite em que o General Ross convidou Tony para ser consultor militar do projeto da bomba gama que Bruce acabara de criar. E isso não agradou em nada o bom doutor.


Vale ressaltar alguns adendos curiosos que esse retcon coloca. Começa com o fato de que Tony notar que Bruce propositalmente restringiu o potencial destrutivo da sua bomba com uma blindagem e isso incomodou Thunderbolts Ross. Outro detalhe é que Banner confessou que a sua bomba era só um começo para o desenvolvimento de uma tecnologia da radiação gama para fins médicos e até agrícolas. E no meio daquele conflito de interesses, explodiu uma briga de egos entre dois amigos. Mas será que isso evoluiu para algo a mais? Sabotagem?


As memórias ainda dançavam confusas tanto na cabeça de Tony quanto do Bruce dos dias de hoje, mas eles prestes a averiguar isso. Nem que precisasse voltar ao antigo laboratório de testes da bomba gama. Em meio as investigações, Bruce descobre que houve o pagamento dos serviços de consultoria de Tony Stark dias antes do seu acidente (de 500 mil dólares a diária e duas garrafas de uísque), mas o que ele realmente teria feito? Já Tony voltou ao antigo quarto de hotel que usou naquele tempo para reacender as suas memórias da época. Foi quando lembrou de uma última briga que teve com o amigo naquele lugar e quando seu velho "eu" do passado teve a ideia de quem sabe sabotar a bomba gama para dar uma lição em Bruce.

Nesse meio tempo, no presente, vemos que Bruce está tramando algo a mais para lidar com Stark no próximo encontro. É assim que ele contacta o irmão desconhecido dele, Arno, e juntos operam uma extensão do Extremis que fora usado em seu corpo (no última arco, lembra?) para mais uma vez tornar o Hulk numa versão tão inteligente quanto é o Banner humano. Depois de conseguir o que queria, o Hulk - agora sábio - detonou a mansão Stark e ainda usou um mecanismo "anti-Homem de Ferro" que inventou para fazer o Arno dormir.


O combate final entre os dois heróis Marvel acontece em Troia. Por sorte, Tony e Arno conseguiram inventar um mecanismo de salva-guarda para proteger a população e evacuar a cidade. De resto, tudo provavelmente iria abaixo com aquela briga. Mas Stark criou Troia para ser uma espécie de "armadura" gigante responsiva, o que lhe daria mais tempo para lidar com o verdão até chegar ao arsenal que queria. E lá, ele tinha uma nova Armadura Caça-Hulk projetada... que não durou nada.

Nesse meio tempo, Stark conseguiu ter mais flashbacks daquele passado e assim viu que no final as coisas eram bem diferentes do que pensava. Ele só precisava mostrar isso ao seu amigo e contar que o novo Hulk inteligente pudesse compreender tudo. Assim, Tony mostra o projeto da bomba na época e como ele percebeu naquela noite que invadiu o laboratório do jovem Bruce Banner que a vida do amigo estava em perigo. O que de fato Tony Stark fez naquela noite foi consertar o mecanismo de blindagem da bomba para que ela não tivesse um poder de explosão muito pior que ambos pensavam.
Hulk se convenceu. Retornou a forma de Bruce e ambos tiveram uma conversa cordial como raramente acontece. Bruce então decide ir buscar ajuda de alguém para tirar Tony dos pedaços da armadura destruída. E enquanto vê o amigo se distanciar, Tony lembra que naquele dia também descobriu outra coisa. Ele viu que a bomba gama tinha capacidade morfogenética e poderia alterar seres vivos de uma forma inesperada. De certa forma, ele poderia ter impedido de criar um Hulk tempos atrás. Mas optou por não fazer e apenas enviou ao amigo um email pedindo para ele revisar seus dados antes do experimento.

Na época, Banner optou por não fazer. Talvez por orgulho. Um dos maiores pecados de todos nós.


A história em si não é de toda ruim. Acredito que ela acaba se estendendo mais do que deva no número de páginas e fica até um pouco enrolada no capítulo final. Mas tem uma premissa bem interessante, com um dos retcons mais curiosos sobre o passado do Hulk e Banner. Sempre gostei dessa idéia de "Science Bros" que foi colocado em outros tempos e é divertido ler essa rivalidade entre cientistas que o Waid vem trabalhando desde que assumiu o Hulk. Essa história por sinal, é a despedida dele pro personagem. Uma fase relativamente morna pra um autor tão bom como ele é.

A edição especial de Pecados Originais ainda conta com histórinhas curtas de outros personagens e outros pecados. Temos aqui Deathlock, Cavaleiro Negro, Dentinho, Raio Negro e até do J. J. Jamenson. A maior história desta leva é uma que envolve os Jovens Vingadores Hulking, Prodígio e Noh-Var contra o Capuz. É uma história que se conclui apenas no próximo volume e até tem uma certa pegada interessante com viés diferente pra o lance dos segredos.

Coveiro

comments powered by Disqus