quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Capitão América: Muito mais do que uma Guerra

Captain America #22

Começou, em Novos Vingadores 46, uma das principais histórias ligadas à Guerra Civil. Falo do arco em três partes de Capitão América, Tambores de Guerra. Por mais que o personagem venha sendo trabalhado ao longo da saga por autores como Bendis, Millar e Straczynski, acredito ser muito importante sabermos como Ed Brubaker, o roteirista responsável pela belíssima fase do sentinela da liberdade nos últimos dois anos, posiciona o personagem no conflito que mobiliza quase todo o Universo Marvel. Nessa primeira parte, em uma história que abusa dos flashbacks, começamos a descobrir (ou desconfiar) quais são os planos do Caveira Vermelha com relação a Sharon Carter, a Agente 13, como vimos na última edição.

Sharon está se consultando com o Dr. Benjamin, psicanalista da SHIELD, pois precisa de uma avaliação psicológica. Mas qual o motivo disso? Algo que perdemos? Sim. E tudo começa com uma ordem da diretora Maria Hill. Logo após os eventos de Guerra Civil 1, em que, abordado violentamente por agentes sob as ordens de Hill, o Capitão América foi considerado um fugitivo antes mesmo da lei de registro entrar em vigor, a diretora e Sharon tiveram uma conversa séria.

Capitão América: Guerra Civil

Sharon diz que Hill forçou a barra sobre Steve. Ele já era um agente federal, com identidade pública, um herói veterano da segunda Guerra Mundial, mas, mesmo assim, a diretora não hesitou em ordenar um ataque ao mínimo sinal de discordância dele com relação à lei de registro. Em sua defesa, Hill diz que tinha de saber logo de que lado da iminente Guerra Civil o Capitão América estaria, sem perceber que ela mesma, cortando qualquer possibilidade de diálogo – já que quis impor a posição da SHIELD ao supersoldado –, acelerou a formação do que conhecemos como Vingadores Rebeldes, liderados por Rogers.

Mas não é para isso que ela chamou a Agente 13, mas sim para incumbi-la da captura do maior símbolo da resistência anti-registro, acreditando que, com isso, daria fim à Guerra Civil. O motivo é óbvio: o relacionamento – que vinha se estreitando no último ano – entre Sharon e Steve. E é sobre isso que Sharon fala com o Dr. Benjamin. Sobre como, mesmo querendo evitar, sua paixão por Steve (e a reciprocidade do sentimento) vinha se intensificando.

Capitão América: Guerra Civil

A grande ironia disso tudo é o fato de Sharon concordar com o registro, acreditando que apenas uma meia dúzia de heróis eram úteis de fato. O envolvimento cada mais profundo de Rogers com a resistência a deixa apreensiva, pois as feridas vão ficando cada vez mais profundas. Por outro lado, ela rememora uma conversa com Dum-Dum Dugan, logo depois dele tentar capturar o Capitão América, como vimos em Novos Vingadores 43. Lotado de analgésicos, o veterano, remanescente da "SHIELD de Fury", lamenta a atual situação, ao mesmo tempo em que deixa escapar uma ponta de orgulho por não ter conseguido capturar Steve. Nada disso estaria acontecendo se Fury estivesse ali, termina Dugan, deixando Sharon em silêncio.

Capitão América: Guerra Civil

Ela queria que tudo acabasse, e, por isso, foi até Steve para convencê-lo a reconsiderar sua posição. É aí que temos a visão de Brubaker sobre a escolha do Capitão América. Mantendo sua personalidade extremamente idealista, e também contraditória em alguns momentos, o roteirista nos mostra também como a posição contrária, pró registro, carrega seus problemas. Rogers diz que está lutando não por ele, mas pelos outros heróis. Pelo direito deles de fazerem o que é “certo” sem se exporem aos perigos que ele mesmo se expõe. Diz que já acreditou que a lei representava o que é certo, e o que estava fora dela o errado, mas que percebeu que as coisas não são tão preto-e-brancas assim. À sua própria maneira, o Capitão América surpreendentemente diz que se pode confiar em tudo que vem do governo, dizendo ele mesmo que não se vive mais nos anos quarenta. A sinceridade dele ao falar disso é mais do que convincente. Mesmo com seu idealismo muitas vezes ingênuo, esse Capitão América está longe de ser um personagem raso.

Capitão América: Guerra Civil

Sharon se desespera. Porque não concorda com Steve, mas, ao mesmo tempo, sente algo tão forte por ele que a impede de entregá-lo à SHIELD. Ela engana os agentes, permitindo que o Capitão escapasse ileso do ataque. Ela agora está a perigo no emprego de agente de alta patente, pelo qual nutre extremo orgulho de exercer. Confusa com toda essa paixão que está sentindo por Steve, a consulta termina com o Dr. Benjamin dizendo que ainda precisam de mais sessões.

Vem, então, o início das explicações. Próximo dali, em um cemitério, o Dr. Conversa com o Caveira Vermelha encarnado no corpo de Aleksander Lukin, que questiona se o “plano” corre como programado. O psicanalista diz que sim, revelendo ser o Dr. Faustus, o psicanalista nazista psicopata, antigo aliado do Caveira, que acreditava-se estar morto. Sharon estava sendo manipulada. Mesmo o amor incondicional que ela sente por Steve é fruto da manipulação de Faustus.

Capitão América: Guerra Civil

Mas por quê, já que essa paixão enfiada na cabeça da Agente 13 acabou por ajudar o Capitão América a escapar? O Caveira deixa claro que isso tudo faz parte de um plano para aproveitar a Guerra Civil e a fragilidade dos heróis. Mas a forma como isso será feito ainda é um mistério. O que Faustus garante é que, “quando chegar a hora”, ela estará onde eles querem. Resta-nos esperar para saber o que isso significa.


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