sexta-feira, 19 de junho de 2015

Inumano: pegando fogo

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Inumano, cujas três primeiras partes foram respectivamente publicadas nas edições 19, 20 e 21 de Universo Marvel tinha muita chance de ser uma tentativa capenga de colocar os próprios inumanos como uma segunda linha de mutantes no Universo Marvel. Alguns podem até achar que isso vem se concretizando, mas a verdade é que o roteirista CHARLES SOULE, que substituiu Matt Fraction meio que em cima da hora, conseguiu construir uma história no mínimo intrigante.

Parte do que dá algum valor a Inumano é o fato de termos uma temática bem clara – depois da bomba terrígena inumanos começaram a pipocar ao redor de todo o planeta, e agora todos precisam lidar com as consequências disso –, mas mesmo assim não seguir uma linha monotemática. Vejamos só o que nos foi apresentado apenas nessas primeiras três partes.

Um novo personagem, claro. Inferno, cuja obviedade de seu nome (Ele se chama Dante! Dê uma pesquisada por Dante Alighieri e entenda.) não faz dele um personagem óbvio. Mas seu papel é muito claro. Ele é a representação do estranhamento e do novo pertencimento que a terrigênese vem causando em inúmeras pessoas em todo o mundo. Uma nova identidade após uma transformação radical. Sorte de Dante ser recebido pela nova política adotada pela rainha Medusa.

Aliás, o verdadeiro pivô dessa história é a presumidamente viúva de Raio Negro, que se coloca no eixo central da narrativa: como uma sociedade tradicional e exclusiva se torna, de uma hora para outra, um dos maiores potenciais do planeta, e reforma sua própria identidade e soberania no processo? Está tudo sintetizado nos esforços da rainha. Sentimos aos poucos o quanto pesam suas novas responsabilidades, as penas de ser uma governante, e busca pela defesa e própria identificação do que é ser inumano no novo status.

É ainda preciso lidar com o mundo ao seu redor. Com os humanos. E nem mesmo as relações de amizade com o Capitão América impedem que a tensão se construa entre a fragilizada Nova Attilan, as autoridades e a ganância em torno de suas ruínas. A presença do vingador consegue, por enquanto, manter as coisas fora de uma nova guerra em plena Manhattan.

Um dos aspectos mais interessantes dos inumanos – uma certa mistura entre sua condição geneticamente “superior” e o tom de religiosidade que envolve sua comunidade a partir da terrigênese – é também contemplado, mas naquilo que tem de mais negativo. A figura ameaçadora de Chibata, um inumano que levou o fenômeno mundial que afetou seus “irmãos” ao extremo por se colocar na posição de triar e decidir quem é digno ou não de tal condição, exalta os perigos do fanatismo, especialmente quando assume contornos religiosos.

Por fim, além de alguns coadjuvantes promissores, Soule adiciona Linhagem, cujos poderes e postura presumem um empoderamento considerável do personagem que apareceu nas histórias dos Thunderboltslembra? Pois mais do que uma figura dúbia, Linhagem remete a um pragmatismo aparentemente necessário para Medusa e os Inumanos no momento, mas está longe de ser um personagem simples, ainda mais considerando seus peculiares poderes.

Já a arte de JOE MADUREIRA é, sem dúvidas, inconfundível. Mas isso não é necessariamente um elogio, a não ser, é claro, em termos de originalidade. Particularmente acho seu traço exagerado, ao mesmo tempo em que dá alguns calafrios ao lembrar da estética dos anos 90 no que eles tiveram de pior. Ainda assim, no que se refere à história contada, talvez esse exagero caiba bem, já que temos muitos momentos de impacto na apresentação de novos e velhos personagens, e de um sequência de acontecimentos bastante dinâmica. Ou seja, parece ser o artista certo para as primeiras edições, e depois ser substituído pelo consistente Ryan Stegman, como em breve acontecerá.

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Inumano, portanto, começa bem. Enraizado nos eventos recentes e na trajetória mais tradicional dos inumanos, ao mesmo tempo em que Soule deixa uma série de sub-tramas a serem trabalhadas. A história, portanto, acena com alguns possíveis desdobramentos capazes de definir o destino dos inumanos no Universo Marvel.

João

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