domingo, 17 de setembro de 2023

Grandes Histórias da Marvel no Brasil: A importância da Coleção Clássica Marvel

Um dos maiores acertos da Panini, em sua trajetória com a Marvel no Brasil foi com a Coleção Clássica Marvel. Iniciada em março de 2021, a coleção apresenta de forma cronológica, as histórias do surgimento do Universo Marvel pelas mãos de Stan Lee, Jack Kirby, Steve Ditko, Don Heck, John Romita e cia. Baseado na coleção italiana “Super Eroi Classic" (que por lá, já passa da edição 340), cada edição apresenta um personagem diferente, com histórias publicadas entre 1961 a 1967. 

Antes mesmo de sua estreia com a primeira edição, apresentando as primeiras seis histórias do Homem-Aranha (Amazing Fantasy 15 e The Amazing Spider-Man 1 a 5), eu já tinha tido conhecimento sobre a coleção. O editor Leandro Luigi Del Manto, veterano profissional e um dos grandes nomes dos quadrinhos no Brasil, seria o responsável pelas histórias dessa coleção. Meses antes da primeira edição, Leandro entrou em contato, contando sobre esse novo projeto. Uma de suas ideias era de recriar, aproveitando essas histórias, uma seção de cartas. O intuito era trazer pessoas ligadas a era clássica Marvel, e criar um ambiente saudosista e nostálgico. Por minha sorte, fui convidado a escrever uma, que foi publicada na primeira edição. Algo que me deixou muito feliz, pois essa seria a primeira vez que meu nome ficaria imortalizado em uma publicação Marvel.

Leandro acabou contando alguns detalhes sobre como a coleção ia ser lançada. E analisando sobre, percebi o tamanho da importância dessa coleção. A Panini estava criando algo que nem a Ebal, nem a Bloch, nem a RGE e muito menos a Abril conseguiram fazer: pela primeira vez no Brasil, essas histórias seriam publicadas na ordem e completas

Quando o Capitão América deixou de ser publicado nos anos 1950 nos Estados Unidos, alguma explicação aos leitores precisou ser dada com o seu retorno à era Marvel. A explicação foi que Steve Rogers, ficou congelado durante duas décadas após uma explosão de um avião, arremessando o Capitão ao oceano ártico. Duas décadas depois, Steve Rogers foi encontrado pelos Vingadores (Avengers 4) em um gigantesco bloco de gelo e assim, incorporado ao Universo Marvel. E é aqui que começa uma das grandes confusões no Brasil. A história em que é encontrado não foi publicada pela Ebal. Muitos leitores brasileiros, ou todos eles, não sabiam desse lapso temporal entre a Atlas e a Marvel. Então o Capitão América apenas seguiria no Brasil como se nada tivesse acontecido. A Ebal não se atentou com essa história dos Vingadores. Ninguém na Marvel disse para a Ebal publicar a fatídica história. E como a editora de Adolfo Aizen não se interessou pela revista dos Vingadores, a história do retorno do Capitão América seria publicada somente na década seguinte pela Bloch, logo depois do mesmo já ter uma revista solo na editora. O Homem de Ferro também teve um começo confuso. A Ebal pulou cerca de 28 edições do personagem desde sua criação com sua história de origem. Nenhuma história da fase da armadura amarela, por exemplo, foi publicada. Outro detalhe são as origens dos personagens. 

O Homem-Aranha chegou ao Brasil pela Ebal no Álbum Gigante 11. A história publicada pela Ebal foi The Amazing Spider-Man 28, ou seja, a origem em Amazing Fantasy 15, foi pulada, sendo publicada pela primeira vez na RGE em O Homem-Aranha 44 de 1982, treze anos depois de sua chegada ao Brasil. A transformação de Bruce Banner em Hulk, só chegou pela Abril em Capitão América 100 em setembro de 1987. Os X-Men foram ignorados pela Ebal, e só saíram anos depois pela GEP, e mesmo assim, foi a partir da sétima edição do original americano. Deixando as seis primeiras histórias inéditas por um bom tempo inéditas. Outro ponto interessante foi quando a Ebal adquiriu as histórias do Quarteto Fantástico. E como o Surfista Prateado foi criado em uma história do Quarteto, seria natural que a Ebal tivesse adquirido também as aventuras solos do Surfista. Isso acabou não acontecendo e o personagem acabou saindo pela GEP. Os editores, tanto Adolfo Aizen da Ebal quanto Miguel Penteado da GEP, não entendiam o porquê dos personagens estarem um na história do outro. E assim, o Surfista Prateado saiu no Brasil com suas histórias solos, publicadas antes de sua estreia em Fantastic Four 48. Ou seja, uma verdadeira salada editorial.

Ver essa coleção em sequência com histórias ainda inéditas e na ordem é um marco da Marvel por aqui. Essa é sem dúvida, um dos maiores acertos, se não o maior, com a Marvel em nosso país pela Panini. Programada para 60 volumes, os leitores criaram uma expectativa de que a coleção ganhasse uma expansão, afinal, como já foi dito, a coleção na Itália passa das 300 edições. Bom, a coleção no Brasil ganhou uma expansão, mas não do jeito que esperávamos. A Panini programou apenas mais quatro edições, dando um balde de água fria em todos nós. Para se ter uma ideia, Quarteto Fantástico de Stan Lee e Jack Kirby, ainda possui algumas histórias inéditas. Particularmente, acreditava que essa coleção iria sanar esse problema. Essa matéria, além de informar e apresentar alguns detalhes sobre essas histórias, servem também para que a Panini possa, repensar em expandir ainda mais essa coleção, que além de solucionar um problema editorial, acaba agradando ambas as gerações de leitores, que tanto gostam dessas histórias clássicas.



Nota de agradecimento ao site Guia dos Quadrinhos por ajudar na pesquisa desse artigo.

Alexandre Morgado

Alexandre Morgado é cartorário do 15° Tabelionato de São Paulo. É também autor do livro Marvel Comics - A Trajetória da Casa das Ideias do Brasil, livro que narra a história da Marvel em nosso país, relançado em 2021. Em 2023, participou do livro “Olhares Sobre os X-Men”, ao lado de outros autores, sobre a mitologia dos mutantes. O autor possui um acervo gigante de HQs, principalmente com material da Marvel Comics

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