A animação X-Men 97, voltou a fazer os fãs da Marvel felizes novamente. X-Men 97, segue a sequência da série animada dos anos 1990 em um hiato de 28 anos, desde a última temporada. A animação é um sucesso. E acabou virando um termômetro para o que virá nos cinemas. Inspirado em diversas histórias, sagas e contos, X-Men 97 apresentou vários momentos clássicos dos mutantes. Um fator interessante foi a mistura de épocas, em relação aos quadrinhos. Histórias publicadas na década de 1980, se encontraram com quadrinhos dos anos 1990 e 2000 e por aí vai. O alinhamento foi bem construído, e a ideia por trás disso é simples: era trazer todos os leitores, tanto os mais velhos, quanto os mais novos. Impossível não se conectar com alguns dos quadrinhos adaptados para a animação.
Os dois primeiros episódios, “Para mim, meus X-Men” e “Começa a Libertação Mutante”, apresenta o grupo sem o seu fundador, o Professor Xavier, que havia sido levado ao império Shiar, para se recuperar de uma enfermidade. Mas antes de ser levado, o Professor deixou seu espólio nas mãos de Magneto, que por pouco tempo, acaba assumindo a frente da Escola para jovens superdotados. Nas histórias dos quadrinhos dos anos 1980 escritos por Chris Claremont, Magneto, acaba se aliando aos X-Men, auxiliando os Jovens Mutantes e também aos X-Men. A série animada, parte deste ponto, para colocar o mestre do magnetismo, ao lado dos alunos de Charles Xavier e passando por um julgamento pelos seus crimes do passado. Com arte de John Romita Jr, essa fase foi editada no Brasil pela primeira vez na Editora Abril, nos formatinhos dos X-Men na edição 24 de 1990. Recentemente, a história foi relançada no Brasil pela Panini dentro da coleção “A Saga dos X-Men” 12.
O terceiro episódio (talvez o menos inspirador da série), “Carne Feito de Sangue”, dá uma pequena pincelada na saga “Inferno”. Publicadas nas edições de X-Men 45 a 49 da Abril, a história apresenta a verdadeira face de Madelyne Pryor, mãe do filho de Scott Summers, o Ciclope, que estava destinado a se tornar o viajante do tempo, “Cable”. Madelyne, que na verdade era um clone de Jean Grey, foi criada pelo Senhor Sinistro, em um plano para gerar um filho mutante perfeito, e assim procriar mutantes sem falhas. Esse episódio não foca na saga Infernos em si, e sim, apresenta apenas fragmentos da história para essa animação. Para ler a saga Inferno, sugiro os seis compilados da Panini de 2018, que apresentam toda a série.
Uma boa sacada da animação em relação ao julgamento de Magneto, foi a conexão com a história “Morte em Vida” (The Uncanny X-Men 186 e 198), episódios 4 e 6 chamado de “Morte-Vida". Com arte de Barry Windsor-Smith, a história apresenta Ororo, sem seus poderes, buscando um novo caminho ao lado do mutante Forge. Pela Abril, saiu em X-Men 10 e 19, e mais recentemente, lançado em A Saga dos X-Men 4, pela Panini. Essa história foi publicada também pela Salvat em “Os Heróis Mais Poderosos da Marvel 54” em 2017.
“Lembre-se Disso”, o maravilhoso quinto episódio é um daqueles que impactaram os fãs. Ao visitar a ilha de Genosha, reduto mutante autossustentável, alguns dos X-Men, como Magneto, Vampira, Gambit e Noturno, participam do Baile de Gala, organizado por alguns líderes mutantes. Inspirado na história da HQ “Hellfire Gala” (no Brasil, chamado de Baile do Inferno), que celebra um ano da fundação de Krakoa, a animação, baseado na história de Gerry Duggan, seguindo a grande fase da nova era mutante de Jonathan Hickman, pode ser conferida nas revistas de X-Men 4º série da Panini.
E surpreendentemente, “Lembre-se Disso” emenda a história “E de Extinção”, com a dizimação mutante pelo gigantesco Sentinela de três cabeças. Nos quadrinhos, Grant Morrison assumiu os mutantes nos anos 2000, e passou a ser o responsável pelas novas histórias dos X-Men com a saga E de Extinção. Grant Morrison começava sua era apresentando a irmã maligna do Professor-X, chamada “Cassandra Nova”. Uma mutante que arquitetava um plano de reativação dos Sentinelas. O objetivo era exterminar todos os mutantes da ilha de Genosha, resultando em milhares de mutantes assassinados, entre eles o líder e regente da ilha, o mutante Magneto. As novas histórias contavam com os desenhos do ótimo Frank Quitely. Publicada a partir de X-Men 9 (1º série) de setembro de 2002, o começo arrebatador de Grant Morrison, foi compilado em diversas edições pela Panini e pela Salvat na Coleção Oficial de Graphic Novels 23. E a trilha sonora, com a música “Happy Nation” do grupo “Ace of Base”, é a cereja do bolo deste incrível episódio.
O sétimo episódio, “Olhos Brilhantes”, mostra as consequências da extinção do episódio cinco, ao mesmo tempo que apresenta outra saga do final dos anos 1990: A Operação Tolerância Zero. A história apresenta uma força- tarefa, liderada pelo misterioso “Bastion”, com intuito de erradicar os mutantes de vez. A saga que serviu de inspiração para esse episódio e também para os três últimos episódios ( Tolerância e Extinção parte 1, 2 e 3), teve suas HQs publicadas pela primeira vez no Brasil pela Editora Abril em X-Men 127, 128 e Wolverine 87 e 88 em 1999. Em 2022, a Panini compilou a história em uma edição especial “As Maiores Sagas X-Men”.
No episódio 9 com a segunda parte de Tolerância e Extinção, a série inseriu outra história dos mutantes, chamada “Atrações Fatais”. Publicado pela primeira vez em 1996 pela Abril em “X-Men Gigante 2”, Atrações Fatais, mostra Magneto arrancando o metal adamantium de Wolverine pelos poros de seu corpo. Nessa saga, ficou explicado que as garras do Wolverine faziam parte de sua estrutura genética. As garras, que são ossos retráteis, juntamente com o seu dom de cura, sempre fizeram parte da fisiologia do personagem. Em X-Men 97, a cena clássica, é muito parecida com o que foi publicado nos quadrinhos. Em 2014, a Panini compilou essa fase em três edições com o nome “Atração Fatal”.
Por fim, o último e ótimo episódio, deixou muitas brechas para a próxima temporada. Com a luta final entre Bastion e os X-Men, com a destruição do Asteróide M, boa parte dos X-Men são jogados para o passado e para o futuro. Enquanto Vampira e Noturno, são jogados ao antigo Egito, dando de cara com o “En Sabah Nur”, o mutante que viria a ser conhecido como Apocalipse, Ciclope e Jean Grey, vão direto para o futuro distante, se encontrando com um jovem Nathan.
Com a apresentação de En Sabah Nur, o episódio se baseou na minissérie “A Ascensão do Apocalipse”, onde é apresentado a origem do poderoso mutante. Essa história foi publicada pela Abril, em 1998. Já Ciclope e Jean Grey no futuro acabou remetendo às minisséries: “As Aventuras de Ciclope e Fênix” de 1996 e “As Aventuras do Jovem Cable” de 1998, ambas em duas edições lançadas pela Editora Abril.
E com o confronto mental entre Charles Xavier e Magneto no episódio 10, será que teremos a aparição de Onslaught, conhecido no Brasil de Massacre? Se tiver que apostar, eu acredito que sim. X-Men 97, trouxe de forma brilhante, os dramas, os conflitos e toda a complexa cronologia dos Mutantes para a Marvel Studios. Agora é aguardar as próximas temporadas.
Alexandre Morgado.
Alexandre Morgado é cartorário do 15° Tabelionato de São Paulo. É também autor do livro Marvel Comics - A Trajetória da Casa das Ideias do Brasil, livro que narra a história da Marvel em nosso país, relançado em 2021. Em 2024, participou do livro “Olhares Sobre os X-Men”, ao lado de outros autores, sobre a mitologia dos mutantes. O autor possui um acervo gigante de HQs, principalmente com material da Marvel Comics.