terça-feira, 16 de julho de 2024

Exclusivo: Gui Augustini comenta sobre sotaques e falas em português do Mancha Solar em X-Men '97


Guilherme Augustini deu vida ao primeiro mutante brasileiro na nova animação X-Men '97. O ator que conversou com exclusividade com o nosso site Universo Marvel 616 (num podcast que em breve sairá na integra) falou sobre o processo de seleção que a Marvel fez para o papel e discutiu com a gente sobre as outras versões do personagem que vieram antes da sua. Agora, nesse outro trecho da conversa que divulgamos antecipadamente, Gui fala sobre como foi escolher a voz certa para o personagem e até onde contribuiu nas falas em que Roberto da Costa fala em português no desenho.

"Olha, você vai se surpreender, eu acho que o pessoal aí também. A primeira coisa que você falou é o mais importante pra mim. Sempre o roteiro é Rei e Rainha. Então é por aí que a gente seguia" falou Guilherme assim que perguntado sobre sua influência na "brasilidade" de Roberto da Costa.  

Augustini começou relatando como foram as primeiras conversas com a diretora de voz Meredith Lane e o showrunner, Beau DeMayo com ele. Perguntamos para o ator se ele teve alguma discussão sobre o personagem com os produtores antes das gravações, e ele nos revelou que os trabalhos de gravação já começaram no primeiro dia:

"Sobre a primeira parte da pergunta, eu não tive nenhum tipo de reunião, ou contato antes da minha primeira sessão com o Beau nem com a Meredith. Recebi lá que fui contratado, depois não sei quanto tempo que foi, uma semana, duas semanas, três semanas. E o meu a gente perguntou 'você tá livre, você tá disponível essa data? Ok, então sua primeira sessão, tal dia, tal data, tal horário. Beleza, aí apareci lá.  Eu acho que a primeira sessão eu gravei dois episódios, acho que os primeiros episódios não foram em ordem. Nunca são em ordem essas coisas, mas eu não lembro exatamente qual foi o primeiro, mas eles me mandaram alguns episódios, e na primeira sessão, acho que foi uma das mais longas,e eu gravei um, dois ou três episódios".

"Enfim, então eu cheguei lá, conheci o pessoal. Pelo menos, virtualmente.  Conheci o Beau, a Meredith, conheci Jake, conheci bastante pessoas da produção, acho que tinham umas cinco, seis, sete pessoas. E conversamos um pouquinho, mas não foi muito não. Aí já começou a gravar, entendeu? Que é algo que eu tenho falado bastante, assim, entrevistas, que o que eu estava mais nervoso" confessou o ator.

Gui Augustini nos explicou que que como tinha feito o testes de duas maneiras, uma com sotaque mais abrasileirado e outro mais tênue no sotaque, ele teve que ser guiado para definir qual seria a versão que iria para o desenho. E ele foi orientado no decorrer do trabalho a evitar pesar no sotaque:

"Nesta primeira sessão, eu perguntei, mas fui modificando, porque eu comecei fazendo um sotaque bem mais forte em inglês com um sotaque português. Mais brasileiro. Porque eu tinha feito testes das duas maneiras" lembrou o ator. "É um personagem brasileiro, eu queria colocar um sotaque. Só que o sotaque... Eu, já hoje em dia, o meu sotaque falo muito como americano, então quando eu faço um sotaque brasileiro, é muito puxado, bem forte. E não é muito legal pro ouvido americano. Então, eles começaram a pedir pra eu... diminuir, diminuir, principalmente a pronunciação do 'T', que a gente faz tudo muito "tí", né? 


"Eu fazia mais brasileiro. E aí ele falou menos, menos, menos. E aí chegou um momento que depois que caiu a ficha, eu não sabia da informação, mas foi depois de alguma sessão que caiu uma ficha que a mãe do Roberto, a Nina, ela é americana. Então faz muito sentido que ele não precisa ter sotaque. Porque eu cresci e eu não tenho...  Tem muitos pessoas que eu conheço que também não também, que como eu que falam em espanhol e português, e não tem sotaque" nos contou o ator. "Então eu falei, eu não preciso fazer isso. Faz sentido. Então eu comecei a diminuir, comecei a falar com eu falo, e aí ficou a mistura. E eu fiquei nervoso, porque teve alguns episódios que eu não voltei pra regravá-los.E eu falei, meu Deus, não sei como que vai ficar. Enfim, para americanos aqui, tem muitas momentos que eu tenho um sotaque mais forte do que outros. Mas eu achei que funcionou".

"Eu até conversei com uma pessoa que tava me dando um pouco desse feedback em uma entrevista, e ele falou 'eu achei que foi de propósito, e achei muito legal, porque quando você é estrangeiro, por mais que você fale já muito tempo uma língua, quando você começa a ficar muito nervoso, ou sei lá, uma coisa muito emocional, o sotaque sai mais forte, entendeu? E eu falei, 'é, exato'. Vamos acreditar que foi dessa maneira. Mas, realmente, realmente que não foi 100% intencional. Foi uma mistura" revelou .

A próxima questão que perguntamos sobre as falas em português do personagem, que foram muito bem escolhidas para um falante de português brasileiro. Para nossa surpresa, Gui revelou que o showrunner Beau DeMayo já tinha colocado a maioria delas no roteiro:

"Eu tive muito pouco de influência, porque o roteiro já tinha todas essas falas. Eu não lembro se todas, mas a maioria das expressões e das falas já estavam escritas dessa maneira. E eu descobri recentemente, porque eu acabei conhecendo mais pessoalmente o Beau depois da estreia, e eu perguntei pra ele, e ele me contou. Porque eu falei assim, 'como que você conseguiu? tem certas expressões que são tão... Bem, hoje em dia com o Google as coisas são muito mais evoluídas, em questões de tradução. Mas eu falei, você que foi lá no Google, você colocou lá'. E ele falou 'bom, não, é que o meu treinador, ele é brasileiro. De Minas'. E aí ele falou que perguntava pra ele, porque ele é um grande amigo, e ele sabia no que ele estava trabalhando, e eu falava meio que eu queria falar tal coisa. Como que você fala?"

"Então, a maioria estava lá, eu sei que teve uma vez ou outra, que eu  eu posso ter falar algo mais dessa maneira, ou posso dar essa opção, que talvez seja mais interessante, eu realmente não lembro o que ficou o que não ficou, mas eu acho que quase a maioria de tudo já estava no roteiro, e foram as palavras que ele tinha realmente decidido usar" disse o ator. "A única palavra que eu realmente... que foi realmente mudada, por eu ter mencionado algo, foi a palavra mãe. Porque no roteiro, tudo estava escrito, mamãe. E eu falei, meu, mamãe é muito infantil. Ninguém diz mamãe com 18 anos, 18-17 anos. Então, eu expliquei isso pro beau, e até porque nessa primeira gravação, eles me falaram, olha, isso aqui não é pra criança. A gente está fazendo uma versão muito mais adulta" explicou Guilherme. "Então, foi a única palavra, ali, que no roteiro, estava sempre como mamãe. Eu falei, olha, isso daí não vai ser melhor, se a gente falar a mãe".


Falando na mãe do Roberto dos quadrinhos, conversamos sobre a mudança que foi feita na série que mudou algumas coisas da Nina da Costa. Ao invés de ser a arqueóloga americana como nos quadrinhos, ela era a empresária no lugar do pai e foi vivida pela brasileira Christina Uheba.

"Eu também me surpreendi, porque até eu não sabia, até que a estreia, alguns meses atrás" disse o ator, e nos revelou que ele conheceu todo mundo do elenco só na Premiere. "A gente não se viu na premiere, mas eu já trabalhei com ela, acho que foi o ano passado. A gente fez um trabalho que eu estava te comentando de Looping. A gente fez um trabalho juntos, que tinha muitos brasileiros, e ela estava lá e eu também, e foi lá que a gente se conheceu. Mas eu não sabia que ela estava fazendo a mãe, porque ninguém sabia de nada".



Voltando ainda para a questão do sotaque do personagem, ou a ausência de um sotaque mais claro, Guilherme comentou que viu nos comentários muitos fãs brasileiros questionando que o personagem não tinha um sotaque mais regional, como o carioca:

"Quando eu comecei a parte das palavras que estão em português, eu falei, eu vou fazer um sotaque do Rio, carioca, ou um sotaque paulista. Porque eu sou de São Paulo, obviamente, Roberto nasceu no Rio. Mas essa questão pro ouvido americano e com a equipe da produção, com o Beau e Meredith, e tudo aquilo que eu estava explicando na questão do ouvido, eles também preferiram que eu não puxasse tanto um sotaque, porque a gente sabe, né, que o carioca tem uns "erres" que é o que mais se destaca".

Perguntado se ele chego a ver como ficou a voz dele na dublagem em português, o ator confirmou que sim: "Eu escutei, porque eu estava curioso, mas também fiquei sabendo, né, porque pelo que eu pesquisei, que o Cadu [Paschoal], é um grande dublador brasileiro de muitos trabalhos. E eu fiquei curioso e que queria saber mais, mas assim, você sabe que ele é do Rio, né? Eu acho que ele é carioca".

Acompanhe o Gui Augustini pelo Instagram clicando aqui!

O elenco de voz de X-Men '97 conta com Ray Chase (Ciclope), Jennifer Hale (Jean Grey), Alison Sealy-Smith (Tempestade), Cal Dodd (Wolverine), JP Karliak (Morfo), Lenore Zann (Vampira), George Buza (Fera), AJ LoCascio (Gambit), Holly Chou (Jubileu), Isaac Robinson-Smith (Bishop), Matthew Waterson (Magneto), Gui Augustini (Mancha Solar) e Adrian Hough (Noturno). Beau DeMayo é o produtor executivo e roteirista principal da nova animação. Jake Castorena é o diretor desta primeira temporada.

Coveiro

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