terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha 616: Guardiões da Galáxia

* Resenha pode conter pequenos spoilers sobre o filme!

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Estamos mais uma vez na semana de estreia de mais um filme da Marvel Studios e como vemos fazendo recentemente, começamos nossa cobertura sobre o Guardiões da Galáxia com mais uma resenha 616. Daquele jeitinho especial que só a visão de um leitor de quadrinhos tem, vamos te adiantar o que achamos do filme com o mínimo possível de spoilers. Vamos nessa!

Já fazia um tempo que a Marvel não lançava um começo de franquia, com novos personagens a apresentar e arriscar como o público novo iria aceitá-los. E isso é sempre arriscado, principalmente se levarmos em conta que os personagens ali são talvez os mais desconhecidos que hoje estão de posse dos direitos dos estúdios para serem usados. Mas a verdade é que quem acompanha os quadrinhos sabe que ali a Marvel tinha algumas relíquias individuais que se juntavam em um grupo com potencial promissor. A criação dos novos Guardiões da Galáxias (os de 2008) nos quadrinhos já era isso: uma tentativa de juntar os melhores e mais legais guerreiros do cosmo Marvel usando o nome de uma equipe que nunca deu muito certo no passado.

O curioso é que mesmo sendo o primeiro filme, diferente de todos os outros "começos" que o estúdio já fez, esse não é bem um filme de "origem". É isso mesmo. A dinâmica, que a história aborda, confia plenamente no carisma e extravagancia dos protagonistas. Conta aqui também um pouco a curiosidade do pessoal em ver um guaxinim e árvore falantes detonando os inimigos que nem uns sádicos por aí. Mas o que é importante dizer é que o ponto central que leva o enredo é a trama, e os personagens se montam dentro dela. Não há por sinal nenhum dos cinco personagens que se sobressaia aqui levando o todo do filme. Até mesmo o Groot tem um grande espaço para conquistar a nova garotada.

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É inevitável, no entanto, achar que o Senhor das Estrelas seja o personagem principal. Sendo ele o único terráqueo, com um prólogo muito breve contando como o universo conspirou para ele parar numa galáxia muito distante, ele é a perspectiva do público nesta trama. Um rapaz recém saido do século 20 (aqui fazendo até mesmo um paralelo com Vance Astro, um dos Guardiões originais nos quadrinhos), ele é o aventureiro clássico numa jornada mirabolante. Tudo nele remete a algo da ficção científica oitentista - O jeito de se vestir, a grandeza do herói falho, o jeito nada convencional de fazer humor. E Chris Pratt foi vitorioso em conseguir realizar tudo isso. Sendo já um ator experiente em comédias, ele só precisava do roteiro certo para dar vida a Peter Jason Quill.

Zoe Saldana é já bem conhecida pelos fãs de ficção científica e certamente foi a personagem mais bem aceita de cara no elenco. Seu histórico como Uhura no novo Star Trek e Neytiri de Avatar, lhe deixam confortável para mais esse papel. O estilo sensual da personagem Gamora se mantém, ao mesmo tempo que não apela pras roupas minúsculas que a heroína dos gibis usava. O lado de mulher fatal está lá, mas não colocado como alguém fria. Gamora teve uma vida difícil, acabou indo parar nas mãos erradas como bem aponta sua descrição em dado momento do filme, mas ela ainda tem uma conduta moral a zelar. De certa forma, depois dessa atuação de Saldana, vai ser até difícil não olhar a personagem dos quadrinhos com um ar mais humano.

De certa forma, Drax misturou o melhor de suas duas fases mais conhecidas. O visual é bem similar ao que ele ostenta desde a primeira Aniquilação: corpo verde com marcas vermelhas formando tatuagens tribais pelo corpo. Já a personalidade lembra a que leitores mais antigos aprenderam a gostar e se divertir nos anos 80 e 90, uma mente simples, bem pragmática e sem qualquer capacidade de abstração. Nesse ponto, tenho que falar que Dave Bautista me surpreendeu. Sendo um ator no melhor estilo brucutu, ele poderia cair na pieguice de ser mais um canastrão, mas ele foi bastante verdadeiro ao mostrar essa inocência do Drax. Devo confessar inclusive que inesperadamente muitos dos momentos mais divertidos do filme o incluem.

Groot certamente é a coisa mais curiosa do grupo. Afinal, como interpretar um personagem que se assemelha a uma árvore e que tem apenas uma só fala no filme inteiro? E aí é que entra o tino fabuloso de James Gunn de investir muitos momentos do longa num personagem que praticamente foi apenas montado em CGI. Há um quê de atuação que remete ao cinema mudo em suas cenas. Groot não tem muito o que falar, mas suas feições, movimentos corporais, olhar, dizem muito. Eu não sei o quanto Vin Diesel foi responsável por dar vida a esse papel, mas eu não quero parecer pejorativo ao dizer que esse foi um dos melhores que o ator já fez.

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Então, chegou a vez do Rocket. O animalzinho tem por si só uma história de origem bem complicada nos quadrinhos e já é bem surreal ver um guaxinim falando com humanos sem parecer uma nova versão do Roger Rabbit nas telonas. Provavelmente, foi por isso que James Gunn abandonou qualquer explicação extra pra apenas dizer que Rocky é fruto de um experimento científico qualquer e que isso o faz ser um bichinho pra lá de revoltado. Não há cartunização do personagem, suas feições são extremamente fieis ao de um racum verdadeiro e isso dá um ar de verdade ao espectador que em pouco tempo está achando muito normal o bichinho estar fazendo suas estripulias por aí. E reclamando bastante, sempre. No começo, muitos acharam estranho escolher uma voz tão comum como a do Bradley Cooper pro papel, mas isso mais uma vez corrobora com a ideia de deixá-lo  menos cartunesco e mais realista. Sendo assim, duvido muito que alguém vá reclamar do resultado depois que sair do cinema. E as chances é que até ele vá competir pau a pau como o queridinho da Marvel Estúdios junto com o Homem de Ferro.

Bom, apresentado os cinco principais que você vai conhecer melhor no filme, vamos falar um pouco da trama. A Marvel continua seguindo sua linha mais escapista e humorada, e isso não deve de modo algum mudar. Diferente dos demais estúdios que estão buscando fincar o pé no chão em seus herói mais sombrios e realistas, os filmes da Casa das Idéias abraçam mais sua essência dos comics, ousados, criativos, heróicos. O cerne em Guardiões da Galáxia é manter o estilo Opera Espacial que estabeleceu no seu vasto e criativo universo cósmico dos quadrinhos. Você terá aventura, romantismo, drama, momentos épicos e cenários extravagantes como deve ser. Não há espaço para teorias científicas quando o forte é extrapolar a criatividade. E se você procurava algo muito sério num filme com um guaxinim falante, você está muito perdido, viajante.

Dos elementos que serão trabalhados aqui e que vieram dos quadrinhos temos os Xandarianos, que são protegidos pela força policial da tropa Nova, e os Krees, representados pelo dissidente Ronan, o Acusador (vivido por Lee Pace). Uma histórica rivalidade existem entre esses dois impérios espaciais (os Skrulls pelo visto estão fora mesmo da alçada da Marvel) e uma recente trégua não foi muito bem aceita por Ronan. Para investir contra seus inimigos de séculos, ele resolve se aliar a Thanos, Korath, Nebulosa e uma horda de Saakarianos (sim, você os conhece do Planeta Hulk). Em troca, Ronan deve conseguir um item muito especial que guia toda a trama.

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Outro elemento esperado pelos leitores nesta trama é Luganenhum, uma cabeça de Celestial morto que serve de morada para os mais extravagantes seres do espaço. É lá que reside o Colecionador, vivido por Benício del Toro, e seu museu de excentricidades. Essa certamente é uma das cenas mais fantásticas do filme, um deleite de easter eggs para os fãs. É um momento em que seus olhos se perdem entre os atores, o cenário e a legenda. Um importante trecho aqui meio que conecta toda a franquia Marvel para algo maior e mostra que os planos do estúdio são os mais ousados que você podia cogitar. Há outros cenários de referência no filme também como a prisão espacial conhecida como Fornalha e o planeta Morag, que nos quadrinhos é referencia a um importante personalidade da história dos Krees.

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E se o que vocês querem é pelo menos uma pontinha de referência dos Guardiões originais, resta apenas comentar a presença de Yondu. Vivivo por Michael Rooker, o alfa-centauriano pode até ter perdido um pouco do seu visual sem a exagerada barbatana na cabeça ou mesmo sua essência ao tirar sua história do século 31, mas ainda há algo do índio intergaláctico ali. Quando ele mostrar o que pode fazer, garanto que o público vai vibrar. Outros seres e raças espaciais estarão a todo momento do filme, é preciso estar bem atento pra catar cada um deles ao longo da trama. Vai ser um quebra-cabeças divertido pros fãs mais hardcores.

Mas mesmo que você não conheça nada sobre os Guardiões, o filme reserva algum saudosimo pessoal pra quem já tem seus trinta anos. Como citei no começo do texto, há uma base muito fundamentada na história com os anos oitenta e isso se reflete ainda mais na trilha sonora. Se o estilo metálico de Black Sabbath e AC/DC marcou Homem de Ferro, Guardiões da Galáxia leva consigo o lado mais extravagante e animado com David Bowie, Marvin Gaye e, claro, a musica tema com  Blue Swede em seu "Hooked on a Feeling". É difícil não sair contagiado pelo filme e querer dançar também em alguns momentos.

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E por esses e outros pontos, não é nem um pouco estranho ver que Guardiões da Galáxia até agora não teve uma resenha negativa ou de baixa pontuação - seja em sites especializados americanos e os primeiros a sair aqui no Brasil. E acho portanto que é desnecessário colocar aqui o quanto recomendamos, não é? Cinco estrelas seria insuficiente. É um filme pra uma galáxia inteira.

Coveiro

E com isso abrimos a nossa Maratona 616 sobre os Guardiões da Galáxia, que começa com artigos sobre o universo cósmico da Marvel, podcasts especiais e mais matérias que sairem sobre esse novo sucesso que a Marvel Studios te presenteia.

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