domingo, 11 de novembro de 2007

E de Extinção: A Estréia de Grant Morrison nos X-Men


E de Extinção - Encadernado

Falo do encadernado E de Extinção, para mim, de forma inusitada. Digo isso porque no período em que os Novos X-Men de Grant Morrison (responsável pelos recentes Sete Soldados da Vitória, pela nova fase do Batman, e pela maxi-série 52, todos da DC Comics, os quais recomendo) foram publicados, eu tinha desistido das HQs. Talvez se colocassem em minhas mãos essa história, de que tanto ouvi falar depois, tivesse voltado ali mesmo a colecionar e acompanhar quadrinhos. Lendo isso de uma vez só (não consegui parar), fico imaginando o que foi acompanhar durante mais de meio ano o que parece um dos pontos altos das publicações X em todos os tempos.

A história é conhecida, então não vou comentar os dois arcos e duas histórias “soltas” que compõem esse encadernado de forma detalhada. Prefiro destacar alguns aspectos que me chamaram atenção. Em primeiro lugar, o nome da revista X-Men (lançada anos atrás sob a batuta de Jim Lee, separando, pela primeira vez, os mutantes em duas equipes sediadas na Mansão X) é mudado para New X-MenNovos X-Men. E isso tem um motivo.

Em primeiro lugar, chega de uniformes coloridos. O vestuário dos membros da equipe segue um padrão, mas de roupas relativamente comuns em aparência. Claro que são peças reforçadas, majoritariamente de couro, porém longe do colante amarelo que Wolverine costuma usar. Inclusive, o próprio Morrison faz piada dos antigos uniformes através das personagens.

Outro ponto interessante é o trabalhão dado às personalidades dos poucos protagonistas da revistas. Ciclope, recém libertado do domínio de Apocalispe – trabalhado de forma canhestra na famigerada Saga dos Doze –, mas ainda sob sua influência, é um homem frio, reservado, cada vez mais afastado de sua esposa. Jean, por sua vez, além da velha atração recíproca por Logan, mostra-se confusa com o relacionamento com o marido, ao mesmo tempo em que, no arco Geração Sem Germes, demonstra manter a forte presença e poder que lhe foram dados ao longo dos anos, iniciando uma nova manifestação da força-fênix. O Fera, pobre McCoy, sofre progressivamente com o novo aspecto felino e as dificuldades de uma mente poderosa como a dele estar presa a um corpo tão selvagem. A rejeição da jornalista Trish Tilby, sua antiga namorada, é dura demais para alguém já tão inseguro. E Wolverine... bom, digamos que Morrison pode ser colocado entre aqueles que, como poucos, sabe trabalhar um ser virtualmente imortal e sem muitos entraves morais da forma correta. Claro que não posso esquecer de Xavier, que parece cada vez mais messiânico em seu papel de mentor dos X-Men, com a famosa frase “Comigo, meus X-Men”.

E de Extinção - Encadernado

E quanto à trama? Bom, Morrison costuma escrever boas histórias, sempre muito carregadas de toques surrealistas que deixam muitos leitores encucados. Não é diferente aqui. O ritmo das histórias é alucinante. Não por conterem ação desenfreada, já que o arco-título mal mostra como se dá a devastação da ilha de Genosha pelos Sentinelas Selvagens de Cassandra Nova, que matam quase toda sua população, boa parte dos mutantes do mundo. Mesmo Magneto é dado como morto. É de lá que emerge uma Emma Frost renovada, não só por manifestar sua resistente pele de diamante, mas para entrar de vez – como sabemos hoje em dia – na vida dos X-Men, os primeiros sinais de seu papel no fim do casal Scott e Jean aparecem já nesse encadernado.

E de Extinção - Encadernado

E por falar em mutantes, nessa fase é revelado que sua população cresce exponencialmente, projetando-se poucas gerações até que substitua a raça humana. Esse "boom mutante", que pode ser visto até mesmo na escola superlotada de alunos, só é freado pela Dinastia M, como também temos conhecimento.

Sobre as histórias. E de Extinção parece morno à primeira vista, mas traz algumas surpresas e viagens de Morrison, acompanhado na maioria das histórias pelos traços de Frank Quitely. Após o holocausto mutante de Genosha, Cassandra Nova é capturada por Ciclope e Wolverine e levada à Mansão. Mesmo sob protestos da geniosa Emma, é mantida prisioneira, e não morta. Porém, acaba se libertando e atacando os X-Men. Devastando talvez seja a melhor definição. De cara, em uma viagem total, joga Ciclope dentro de sua “fossa séptica” (?!), onde alguns insetos gigantes lhe dizem o que fazer, retirando-lhe a capacidade de liderança, deixa Jean em uma crise epilética e Wolverine quase sem um dos braços. Só a volta repentina de Emma e a surpreendente saraivada de tiros de pistola desferida por Xavier dão fim à vida de Nova. Mas dão?

E de Extinção - Encadernado

Não, não dão. Enquanto acompanhamos a introdução de Bico (que se torna próximo do Fera) e Angel, que é resgatada por Wolverine, proporcionando momentos cômicos na revista, percebemos que Cassandra Nova não foi derrotada, mas se alojou no corpo de Xavier. E é ela que, controlando o Professor X, revela ao mundo a existência dos X-Men como sua equipe, e que ele mesmo era um mutante. O impacto é grande, com grandes protestos racistas nas portas da Mansão. Mas primeiras vítimas são o Fera, levado ao extremo de sua condição animal (seu maior medo), mas acaba espancado pelo também controlado Bico. Ambos ficam impedidos de alertar os outros da condição de seu mentor, que parte em uma visita ao Império Shi’ar.

E de Extinção - Encadernado

Ciclope e Emma vão investigar as intenções de John Sublime, autor de um livro e de um projeto que prega a criação de uma terceira raça de seres, uma fusão de humanos normais com habilidades mutantes extirpadas de seus possuidores da forma mais dolorosa e cruel possível. Em um outro momento que beira o cômico, quando os dois X-Men são capturados pelos homens "melhorados" de Sublime, é revelada a plástica de nariz que a ex-rainha Branca prezava tanto até ter seu nariz “comprado” destruído por um soco. Jean descobre através de Bico que quem causou seu ataque ao Fera foi Xavier, quando o próprio mutante felino, ainda cambaleante, com o corpo de Nova nos braços, revela a troca de corpos, tentando salvar o verdadeiro Charles do cadáver congelado.

E de Extinção - Encadernado

Antes disso, em um ataque à Mansão, que julgavam desprotegida, os homens de Sublime batem de frente com Jean Grey, que revela, como falei, sinais a força Fênix, escurraçando-os do local de forma humilhante. Sublime acaba sendo derrotado pelos quase dissecados Ciclope e Emma, e acaba assassinado por uma de suas criações aberrativas, o cérebro da telepata mutante Martha Johansson, agora mantido em um vidro sob o efeito de vários elementos químicos.

A última edição desse encadernado não pode, literalmente, ser realmente descrita em palavras. Em um mês em que todas as revistas Marvel exibiram histórias sem diálogos, o resgate silencioso de Emma e Jean (que mesmo assim trocam farpas) da mente de Xavier presa ao corpo de Nova, além da psicodelia da dupla Morrison-“Quietly”, revela a origem comum dos irmãos gêmeos oponentes desde o útero!

E de Extinção - Encadernado

Em oito edições, Grant Morrison virou o mundo dos X-Men de cabeça para baixo. Ao mesmo tempo em que tornou os mutantes uma raça em vias de dominar o planeta, devastou o único país majoritariamente mutante. Elevou a obscura irmã gêmea de Xavier ao posto de uma das mais temidas oponentes dos X-Men, tomando seu lugar, planejando uma viagem ao império Shi’ar, cujo desfecho não poderia ser nada além do desastroso e revelando a si e “seus” X-Men publicamente. É assim, ao mesmo tempo fortalecidos e fragilizados, responsáveis por guiar um mundo cada vez mais mutante, mas inseguros sobre as próprias capacidades de manterem suas relações com entes queridos ou a própria humanidade, que se deu a estréia dos Novos X-Men – obra merecedora de tal alcunha.


« Jøåø »


PS.: As notas negativas ficam pelo erro no "copiar e colar" (o famoso Ctrl+C & Ctrl+V) do sumário no arco Geração Sem Germes e no enquadramento das primeiras páginas (pedaços de umas páginas no canto de outras), coisas que são menos compreensíveis em uma republicação, já que não demanda a mesma urgência das publicações mensais.

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