Na reestreia da série do Capitão América (em arco de cinco partes publicado entre os números 16 e 18 de Capitão América & os Vingadores Secretos), o roteirista Ed Brubaker retorna a um tema recorrente (e essencial) nas histórias do personagem: Steve Rogers é um homem fora do seu tempo. Por mais atualizado que esteja, sempre estará, mas isso não o impediu de se tornar o herói que é. Mas como outros reagiriam se tivessem experiência parecida?
Além de lidar com as mazelas de Steve ter, a rigor, cerca de 90 anos de idade, Brubaker faz mais uma vez uso de retcons (os quais soube usar muito bem com o personagem, na maioria das vezes até aqui em sua longa passagem) para construir uma trama em que o passado do Capitão América vem lhe cobrar uma conta que, na verdade, não é culpa sua.
Talvez não com a mesma maestria de antes, mas o clima de espionagem se mantém na história, que introduz um personagem até aqui inédito, logo após o enterro de Peggy Carter, tia de Sharon, a Agente 13. Disposto a se vingar de Rogers e todos a sua volta por um incidente ocorrido pouco antes do fim da II Guerra, o agente Bravo e vários outros esqueletos no armário vão sendo revelados, quando um operativo super-humano, Jimmy Júpiter, parece finalmente ter despertado.
Por essa janela se envolvem a Hidra e mesmo o Barão Zemo, em uma trama que realmente lembra o filme A Origem (Inception), por resgatar o pivô (Bravo) de um mundo de sonhos do qual ele toma conta, e do qual tenta fazer uso para destruir o Capitão América.
É uma boa história, que faz uso de vilões clássicos e coadjuvantes tradicionais do Capitão (nitidamente Sharon é o destaque dentre eles), além de tentar transformar um mundo de sonhos em arma, o que quase derrota o herói, inclusive por mexer tanto com um passado do qual foi abruptamente cortado ao fim da guerra. A aparente loucura, ou estado de ilusão sobre o mundo real, em que caiu o antagonista não é novidade em histórias desse tipo, mas um tempero a mais por mexer com feridas abertas na trajetória de Rogers antes de passar décadas congelado.
Mas mesmo na arena escolhida pelo inimigo, preso no mundo dos sonhos em que é temporariamente fragilizado, sua vontade, mais do que a força física, prevalece sobre Bravo.
A arte de Steve McNiven é, como sempre, impecável. Tanto em seu estilo realista (na confecção dos personagens e do cenário) quanto na dinâmica e “limpeza” de seus desenhos. Uma pena que, ao fim do arco de cinco partes, tenha recebido ajuda de Giuseppe Camuncoli em algumas páginas. Não por este ser ruim, mas por ter estilo suficientemente distinto a ponto de chamar atenção negativamente, mesmo com arte-final e cor semelhantes.
Ao fim da história há a vitória dos heróis, mas ainda há muito em aberto. Além de haver suspeitas de que Bravo não foi realmente derrotado, o Capitão América traz algo de estranho do mundo dos sonhos em que travou a batalha derradeira. Essa história continuará, agora com a arte do clássico Alan Davis.
João