quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mulher-Hulk Vermelha: Rota 616



Betty Ross, ex-esposa de Bruce Banner, o Incrível Hulk, foi transformada na Mulher-Hulk Vermelha quando todos a julgavam morta por um conclave de inimigos super-inteligentes do Gigante Verde conhecido como "Inteligência". O estratagema de vingança fracassou e desde então ela tem atuado ao lado de outros heróis ou simplesmente sozinha pelo mundo em busca de aventuras. Numa delas, ela encontrou uma pirâmide no meio de uma floresta tropical que abrigava um engenho capaz de prever os acontecimentos do mundo chamado Terranômetro, que pertence a uma antiga organização da qual se originou a SHIELD (Superintendência Humana para Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuassão) e que é controlado pela inteligência artificial de Nikola Tesla. Ao apontar sua espada forjada de metal Uru para o Terranômetro, o engenho a tragou para seu interior e Betty ficou furiosa. Tentando recuperar sua arma, ela se dirigiu a um subúrbio de Washington baseada numa informação que Tesla lhe repassou, mais exatamente onde mora uma menina chamada Eleanor Bennett, ou Ellie, capaz de processar todo o enorme volume de informações da máquina.

Betty não achou sua espada mas a menina compartilhou com ela uma visão aterradora de um futuro em que os soldados aprimorados do General Reggie Fortean, diretor do Projeto Escalão, entravam numa guerra definitiva contra os super-humanos da Terra com resultados devastadores para o nosso planeta. Disposta a evitar isso a qualquer preço, Betty entrou em rota de colisão com vários heróis que não compreendiam suas ações mas conseguiu um aliado, Aaron Stack, conhecido como Homem-Máquina, que passou a ajudá-la quando compreendeu as suas razões mas ambos se tornaram fugitivos caçados por Fortean e seus super-soldados, pelos Vingadores e pela SHIELD, que resolveu pedir ajuda a um de seus prisioneiros, o ex-membro da "Inteligência" conhecido como o Pensador Louco para encontrar e capturar a dupla fugitiva.

Betty e Aaron tentavam encontrar uma outra estação do Terranômetro e sofrem uma emboscada de um esquadrão da SHIELD. Eles conseguem escapar quando Betty esmurra o assoalho e ambos caem até o Reino Subterrâneo onde se defrontam com a criatura conhecida como Toupeira. Na verdade, não o Toupeira que era o Dr. Harvey Elder, mas o filho que teve com uma criatura das profundezas chamada Kyzerra. Ele se impressiona com a disposição de Betty e Aaron para lutarem mesmo em franca desvantagem numérica e lhes oferece ajuda para encontrar o que procuram. Ainda há muito a ser feito e o tempo parece se esgotar rapidamente, como irá contar o escritor Jeff Parker e os desenhistas Carlo Pagulayan e Wellinton Alves na conclusão do arco Rota 616 nas edições de Red She-Hulk #64 a #67, que finalizam também a série. Aqui no Brasil, as edições foram publicadas em Universo Marvel #9 a #11 pela Panini.


Betty e Aaron são levados pelo seu novo aliado a uma pirâmide existente no Reino Subterrâneo. O seu exterior apresenta o mesmo símbolo que Betty avistou quando encontrou pela primeira vez o Terranômetro. Ela arromba o lugar e entra junto com Aaron. O mesmo tipo de maquinário é encontrado também. Tesla os recepciona e não parece nada feliz em revê-los. Ele pergunta a Betty o que ela quer e ela responde que quer saber onde estão Ellie e sua espada. Tesla se recusa a responder para que Fortean não tome conhecimento da menina e manipule o futuro para seus próprios fins. Enquanto ambos conversam, Aaron tenta se conectar à rede de informações mas ele e Betty são expulsos do local assim que Tesla percebe o que o robô estava fazendo. Na verdade, como Aaron viria logo a explicar, Tesla tentou isolar sua instalação da sincronia temporal e Aaron se vinculou a um forte sinal que os direcionou para uma espécie de última defesa do Terranômetro localizada no Monte Rushmore.

O famoso monumento aos presidentes americanos parece radicalmente alterado, com os rostos do Dr. Destino, Caveira Vermelha, Loki e Ultron. Betty e Aaron descobrem uma entrada no local e resolvem invadi-lo mas são recebidos por versões digitalizadas do quarteto de vilões. Aaron entra em combate contra Ultron e Betty é obrigada a se virar sozinha contra os outros três. Eles conseguem rechaçar os quatro e avançam. Aaron descobre que o lugar foi construído por Tesla para tornar o Terranômetro mais preciso e também para que fosse preservado mesmo se o futuro apocalíptico previsto pelo engenho acontecer. A inteligência artificial deixou pistas para atrair "deuses, usuários de magia e inteligências artificiais" que pudessem encontrá-la e assim ela pode digitalizar cada vilão que deixou seu conhecimento como parte de defesa da grande máquina quando escapou. 


O grande fluxo de dados começa a afetar ao próprio Aaron e ele se vê aprisionado. Logo em seguida, o quarteto virtual de vilões reaparece amalgamado em uma única entidade virtual, com os poderes dos quatro. Betty começa a lutar contra ela mas as quatro personalidades que a compõe entram em acordo entre si e conseguem se libertar da escravidão da grande máquina. A entidade adota o nome de Yologarca e se retira jurando vingança contra Betty e contra quem a aprisionou. Resta ainda à atordoada Betty socorrer seu aliado e isso é feito quando ela consegue arrancar a cabeça dele do engenho e tomba inconsciente. Quando ela acorda, Aaron conta que descobriu um lugar enquanto estava conectado, capaz de ajudá-los a evitar o futuro que está prestes a acontecer: os pântanos da Flórida, que abrigam um nexo de realidades e lar do Homem-Coisa.

Ao chegarem a seu destino, Betty toma a insensata decisão de atacar a criatura e é atirada a uma dimensão temporal em que ela salvou Bruce Banner e Rick Jones da explosão da bomba gama e se tornou o monstro ao invés de seu ex-marido. Enquanto isso, Jennifer Walters, a Mulher-Hulk "verde" se alia momentaneamente a Fortean para que Betty seja encontrada, sem saber que agora ela está vivendo uma existência alternativa como heroína e vingadora numa linha temporal que podemos chamar de "Universo Marvel 616.1" e é aceita como esse Bruce Banner nunca foi, para tristeza cada vez maior dele. Isso faz com que ele canalize essa tristeza na construção de robôs similares ao Homem-Máquina junto com seu antigo inimigo, o Dr. Stack, para que mutantes e super-humanos não tenham mais todo o poder e os robôs são oferecidos ao exército americano. Todos esses acontecimentos não impedem que Betty se lembre, em seus sonhos, de sua linha temporal verdadeira.


O Homem-Coisa consegue teleportar Aaron para a realidade 616.1 e ele presencia tudo isso mas é incapaz de impedir que ele próprio se una aos robôs desta outra realidade e comece a combater aqueles com quem trabalhou no passado. Enquanto isso, o Homem-Coisa tenta fazer com que Betty volte à razão e a deixa atordoada com o seu toque flamejante e ela consegue avistar Jennifer Walters do outro lado do portal que a criatura abriu. Betty fica chocada ao se lembrar de duas vidas inteiras e resiste a atravessá-lo. Aaron tenta ajudar mas ele próprio não tem controle de suas ações e ataca sua aliada. O resultado é que Betty se enfurece cada vez mais até o ponto em que sua aparência se torna monstruosa mais uma vez. Como se isso não bastasse, Fortean chega ao portal vestido de sua armadura "redentora" e ordena que sua tropa do Projeto Escalão avance sobre o portal. Ela se encontra ainda mais mortífera devido às melhorias implementadas pelo Pensador Louco.

Logo os super-soldados de Fortean entram em conflito com os super-seres da linha temporal 616.1. Jennifer entra em seguida e se dirige a Betty, tentando fazê-la com que ela cruze o portal de volta mas é atrapalhada por um integrante do Escalão, que drena sua energia gama e faz com que volte à forma humana. Ela é salva no último instante por Aaron, que conseguiu sobrepujar a programação que o dominava e dá cobertura para que Jen retorne de onde veio. Ele se dirige a Betty e começa a atacá-la mas recebe um murro que faz com que ele também atravesse o portal de volta mas, mesmo assim, ele consegue impedir que Betty também tenha sua energia totalmente drenada pelo Escalão e assim ela retorna a sua forma avermelhada "normal". 


Logo em seguida, Betty é violentamente atacada por Fortean e, quando está prestes a ser derrotada, o Bruce Banner deste mundo, que não se tornou o Hulk que conhecemos, chega trajando uma armadura similar à do general mas logo é atacado. Bruce consegue se lembrar do código de desativação da armadura "redentora" e assim é feito, a armadura de Fortean é desativada. Do outro lado do portal, Aaron pede a Tesla que mostre Ellie a Betty e a visão de todos eles reunidos faz com que ela se lembre de onde realmente veio e traz Fortean consigo, deixando os seus soldados aprisionados na realidade 616.1 quando o Homem-Coisa finalmente fecha o portal. Assim, o futuro previsto por Ellie é concretizado não na sua própria realidade, mas na realidade divergente que Betty criou quando atacou o Homem-Coisa. Como disse Tesla, foi "uma solução elegante". 

Betty insiste mais uma vez em ver Ellie pessoalmente e, sem maiores delongas, Fortean é deixado para trás e o Homem-Coisa teleporta todos os demais para onde a menina se encontra, numa câmara protegida da "antiga ordem da SHIELD". Ao chegarem, Betty encontra a menina e consegue reaver sua espada, sob protestos dos dirigentes do lugar. A menina mostra a ela que ainda há uma série de desastres a serem evitados. Um dos dirigentes diz à heroína que a dona da espada deve se unir à causa deles. Ela recusa de início, mas Jen propõe que ela considere a associação, pois a ordem parece bem intencionada em querer salvar o mundo e ainda cuida da garotinha. Aaron concorda e arremata: "essa antiga ordem é mestre em manter pessoas escondidas, mesmo aquelas caçadas como você, que ainda terá uma lista infinita de missões nas quais sabe exatamente o que precisa esmagar e por quê".  O próprio Tesla dá o seu aval. "Pra mim está ótimo", Betty responde, "contanto que todo mundo compreenda que não aceito ordens. Vou reunir minha própria equipe para lidar com o que vem por aí, um grupo pronto para batalhar pelo futuro".


E assim termina, por hora, a saga da Mulher-Hulk Vermelha. O escritor Jeff Parker conseguiu criar uma resolução bem interessante para encerrar o arco e o título com uma personagem tão caricata e conferiu a ela um propósito e um álibi perfeito se nunca mais ouvirmos falar dela. Gosto de como ele não se furta a criar novos personagens e conceitos em benefício da história. Apesar deste não ser um dos seus melhores trabalhos, seria injusto taxá-lo de medíocre, foi uma leitura prazerosa. Um referência curiosa ao filme dos Vingadores foi a surra que Betty deu no Loki "digital" de maneira idêntica à que o personagem sofreu nas mãos do Gigante Verde, mas não achei que aqui funcionou tão bem. Achei pertinente a utilização do Homem-Coisa, mas prefiro a versão "silenciosa" e não a de "sotaque caipira" utilizada na história. Pessoalmente, achei o desfecho do arco melhor do que seu desenvolvimento e achei muito boa a "solução elegante" que o escritor utilizou ao fazer com que o futuro apocalíptico que Betty queria evitar, que foi o mote de todo esse conjunto de histórias, fosse realizado numa realidade divergente. Gostaria de um dia ver o escritor à frente de um título de primeira linha em um trabalho de longo prazo, acho que o resultado seria muito bom.

Os desenhos de Carlo Pagulayan e Wellinton Alves estavam bons em seu feitio e narrativa, com boas cenas de ação. Talvez eles pudessem ter dado mais atenção a alguns cenários. Incomoda-me um pouco ver personagens que, mesmo sendo bem desenhados, não parecem perfeitamente integrados aonde estão.

Por último, gostaria de parabenizar à Panini por ter concluído mais uma série da "Casa das Ideias" no Brasil. Pode-se questionar se valia à pena fazê-lo nesse caso, mas mesmo assim não deixa de ser uma demonstração de respeito aos leitores.

C@rlos

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