segunda-feira, 14 de julho de 2014

Em Foco: um marvete chamado George R. R. Martin


Você não entrou no site errado, caro leitor. O que você talvez ainda não saiba é que o escritor George R. R. Martin, responsável por uma das séries literárias mais famosas da atualidade, As Crônicas de Gelo e Fogo, que inspirou o seriado Game of Thrones, da HBO, é um grande aficcionado dos quadrinhos de super-heróis desde sempre.

Recentemente, o roterista Brian Michael Bendis publicou em seu Thumblr uma carta do jovem GRRM  que saiu publicada em Fantastic Four #20 e que traçava os maiores elogios à edição #17, escrita por Stan Lee e desenhada por Jack Kirby. Isso ocorreu no início da década de 60 e da revolução que essa grande equipe criativa promovia com suas histórias com personagens humanizados e traço marcante.


A edição em questão trazia a equipe aprisionada pelo seu arquirrival, o Dr. Destino, numa tentativa de resgate de Alícia Masters e de salvar a humanidade de mais um dos planos de dominação global do vilão.


Uma nova carta foi publicada em Avengers #12, a respeito da edição #9. Apesar dos elogios, o futuro escritor também faz algumas críticas. Ele disse que gostou mais desta edição do que a de Fantastic Four #32, publicada no mesmo mês. Esta edição de Vingadores trouxe a primeira aparição de Magnum e sua primeira "morte". Tamanha concisão foi algo marcante para o rapaz. Futuramente ele diria, numa entrevista para a Marvel, que sempre gostou de personagens trágicos como esse. Ainda na carta, atendendo a uma pesquisa de opinião com os leitores, George elegeu Namor, Hulk, Dr. Destino e Fantasma Vermelho como inimigos favoritos para o Quarteto e pediu que não aparecessem mais nas histórias vilões como o Pensador Louco, Mestre dos Bonecos, Homem-Molecular e Diablo por considerá-los fracos. Contudo, a própria resposta da editora não alimentou maiores ilusões a respeito disso.


Em Avengers #9, Simon Willians havia sido preso por desvio de dinheiro e culpava Tony Stark por isso. Ele decidiu se vingar. O Barão Zemo, Encantor e Executor souberam disso e o levaram para uma máquina na floresta amazônica que o tornou super-poderoso. Para mantê-lo sob controle, Zemo o envenenou e disse que só ele sabia o antídoto. Simon fingiu pedir ajuda aos Vingadores e traiu toda a equipe num confronto com os vilões. Depois ele mudou de ideia, salvou a todos e aparentemente morreu por causa dos efeitos do veneno. Como veríamos posteriormente, não foi bem assim e Simon está vivo até hoje.


George também lia e escrevia para outras editoras como a DC e Chalrton, mas elas não publicaram nenhuma de suas cartas. Ele conheceu  Julius Schwartz, lendário editor da "Distinta Concorrência" e brincava com ele sobre o fato da DC nunca ter publicado nenhuma carta sua, mas a Marvel, sim. Como não poderia ser diferente, ele também conheceu Stan Lee, apesar de não ter se tornado tão próximo assim.

Ele percebeu que desenhar não era o seu forte e começou a colaborar com diversos fanzines, publicações feitas por fãs. Em 1971, foi chamado por Roy Thomas para uma entrevista de emprego na Marvel, mas não foi contratado. Talvez a demanda por desenhistas fosse maior na época. Com o tempo, ele desistiu de arrumar emprego na área de quadrinhos e se estabeleceu como escritor e roteirista de seriados de TV. Isso não impediu que, em 1985, fosse convidado pela "Casa das Ideias" para participar de uma "jam session" com outros roteiristas e desenhistas de peso na indústria dos quadrinhos numa edição beneficente de X-Men para o continente africano. A história se passa durante a fase em que Magneto se tornou o diretor da Mansão X na ausência de Charles Xavier.


Na verdade, parece que a paixão por quadrinhos de super-herói nunca o abandonou, pois mais ou menos nessa mesma época ele já estava envolvido com a criação de seu próprio universo, contido na série de livros chamada WildCards. Nele, vários humanos adquiriram super-poderes devido à queda de um meteoro na Terra em 1945, logo após a 2a Guerra Mundial e nem todos usaram isso em benefício da humanidade. Segundo o site Wildcardsonline,  a gênese deste universo é, no mínimo, curiosa. Em 1980, George se mudou para o Novo México e conheceu um grupo de escritores que jogavam RPG. Um deles deu de presente a ele um livro chamado Superworld e logo todos estavam criando personagens para este mundo, com George como Mestre do jogo. Isso deu tão certo que resolveram ganhar dinheiro com isso.


Alguns episódios dos livros foram adaptados para uma minissérie em quatro edições do selo Epic, da Marvel, voltado para quadrinhos autorais e George participou como corroteirista da edição #3. Esse material foi publicado pela primeira vez em 1990 e os planos de uma segunda minissérie foram abortados quando a Marvel extinguiu o seu selo autoral.


Em 1996, ele publicou o primeiro volume de sua obra literária mais importante, "A Song of Ice and Fire": "A Game of Thrones". Aqui no Brasil, como se sabe, a saga foi chamada de "As Crônicas de Gelo e Fogo" e seu primeiro volume, "A Guerra dos Tronos", saiu por aqui em 2010, apesar de haver edições em português desde 2007, segundo a Wikipedia. A primeira coisa que salta aos olhos dos leitores da "Casa das Ideias" é o nome de uma das famílias envolvidas na disputa pelo poder no continente de Westeros, Stark. Por mais que seja irresistível associar esse nome como uma homenagem do autor a Tony Stark devido a sua ligação afetiva com a Marvel, não encontrei nenhuma evidência que corroborasse essa teoria, apenas "fanfics" (histórias criadas por fãs) que fazem "crossovers" com os dois universos. Alguns deles podem ser encontrados aqui (em inglês). Possivelmente é algo relacionado à "Guerra das Rosas", uma guerra que houve na Inglaterra medieval entre duas famílias, Lencastre e York e uma das inspirações confessas do autor. A primeira teria inspirado a família Lannister, e a segunda, a família Stark.


Alguns anos atrás, o escritor estava disposto a escrever uma série do Dr. Estranho para a Marvel sob a condição de não modificarem, apagarem ou "retconearem" nada do que ele fizer com o personagem. Obviamente a conversa não foi para a frente, ainda mais com tantos "retcons" acontecendo na editora  ultimamente. A intenção do escritor era afastar Stephen Strange do convívio com outros heróis e torná-lo alguém que defende a humanidade de perigos que eles nem conseguem imaginar nas fronteiras do Universo Marvel, à maneira das primeiras histórias escritas por Stan Lee e desenhadas por Steve Ditko.

Atualmente o escritor não tem acompanhado o que tem acontecido com os seus heróis favoritos nos gibis. Quando perguntado nessa mesma entrevista para a Marvel a respeito dos filmes dos heróis da editora, ele respondeu que gostou muito de "Capitão América: O Primeiro Vingador" e dos dois primeiros filmes do "Homem de Ferro". Ele achou estranho fazerem um "reboot" da franquia do Homem-Aranha, pois "o filme anterior parece que saiu não faz nem uma semana ou algo assim" e não gostou muito de terem modificado a origem "clássica" do Thor, com a eliminação do Dr. Donald Blake, seu "alter-ego" humano. Sobre o filme dos Vingadores, ele não gostou nada do fato da equipe não ter sido igual à original dos gibis, com Viúva Negra e Gavião Arqueiro no lugar de Hank Pym e Janet Van Dyne: "eles poderiam ter entrado depois; vocês não começaram direito. HOMEM-FORMIGA e VESPA!". Quando perguntado sobre quem venceria um confronto entre os Vingadores e X-Men (a entrevista foi realizada na época do lançamento de Vingadores vs. X-Men nos EUA), apostou nos Vingadores e apostou certo, como se veria depois. 


Diferenças criativas à parte, isso demonstra que ele ainda se importa com os personagens e quem sabe ainda tenhamos a oportunidade de vê-lo escrevendo alguma coisa para a editora. De preferência, depois de concluir "As Crônicas de Gelo e Fogo".

Por ultimo, antes de terminar, gostaria de agradecer ao Coveiro, editor do site, que apoiou a realização deste artigo e forneceu os links da entrevista de GRRM para a Marvel, das cartas que ele escreveu para a editora e da notícia sobre o Dr. Estranho.

C@rlos

comments powered by Disqus