Os livros do Destino

Destino. Na língua britânica, é esse o significado do sobrenome de Victor Von Doom. E de certo modo, é a justa palavra para aquilo que o clássico vilão do Quarteto Fantástico mais almeja governar. Partes da história do soberano da Latvéria já foram contadas algumas vezes por outros roteiristas, mas somente graças ao premiado Ed Brubaker a origem de Victor chega aos leitores com digna riqueza para todos os admiradores da personagem. Trata-se da minissérie em seis partes chamada Os Livros do Destino, que chegou nas bancas em Universo Marvel Anual 2.

Contando de uma maneira simplória e sem esmiuçar os detalhes do passado de Doom, qualquer um precipitadamente diria que a aridez dos eventos no começo da vida do jovem Victor foram os grandes responsáveis pela sua atual vilania. Todavia, nesta edição, Brubaker consegue nos convencer que há algo mais.

Desde cedo, o olhar profundo de Victor parecia estudar as pessoas ao seu redor e certamente denotava o conhecimento pleno de coisas complexas e incomuns. Era apenas um garoto de não mais que cinco anos quando presenciou a morte traumática de sua mãe bruxa por aldeões da Latvéria e isso não o enfraqueceu. Endureceu o caráter e lhe rendeu a promessa de um dia salvar a alma de sua progenitora das garras do demônio.

Ainda criança, fez adultos de seu próprio clã o temerem e falava já com a mesma autoridade que lhe é tão peculiar hoje. Os únicos que conseguiam vê-lo como o garoto que simplesmente era seu pai Werner e a jovem cigana Valéria, que viria a se tornar o grande amor de sua vida. Ela, por sua vez, era a única que conseguia arrancar-lhe sorrisos e afastar as más lembranças da morte da mãe.

Todavia, mais uma vez, a vida foi ingrata com o jovem Victor e lhe custou a vida do pai quando ainda mal chegara na adolescência. Após não conseguir nenhum sucesso em salvar a vida da esposa do Barão Vladimir, regente de uma das aldeias da Latvéria, Werner teve que fugir com seu filho pela florestas gélidas da Europa Central em pleno rigoroso inverno. Terminou seus últimos dias abraçado ao filho para protegê-lo do intenso vento gélido que o destinou ao eterno sono.

Quase sem vida, Werner foi encontrado e levado para saciar a vingança do Barão. A Victor, agora inteiramente órfão, restou jurar vingança e se dedicar a reter todo o conhecimento possível para ter conquistar seus intentos. Iniciou-se na artes místicas, mas foi na ciência que se mostrou mais proficiente. E assim conquistou o interesse do governo americano, que lhe convidou a ingressar numa Universidade e desenvolver grandes projetos com militares.

Naquele grande centro acadêmico, ele conheceu pela primeira vez o estudante Reed Richards, seu futuro arqui-inimigo. Passava a maior parte do tempo dedicando-se as grandes invenções, tanto aquelas financiadas pelo governo como também as que desenvolvia em segredo pessoalmente. Era alheio as diversões mundanas tão comuns a estudantes de sua época. Chegou até mesmo a quase matar uma garota (assim como matou com as próprias mãos um dos homens do barão no passado).

Seu grande projeto, no entanto, era a máquina que lhe permitiu ter acesso a dimensão infernal. Por poucos minutos, conseguiu ver sua mãe sendo maltratada pelo demônio, mas era incapaz ainda de salvá-la. Desse experimento mal sucedido, levou apenas as horrendas cicatrizes que desfiguraram o seu rosto.

Foi expulso da universidade depois desse descuido, mas precisou planejar a própria fuga para conseguir escapar dos militares e retornar em liberdade até a Europa. Lá, viveu incógnito por bastante tempo, somente sendo atendido por um estranho mendigo chamado Otto.

Ainda assim, teve a feliz chance de rever sua amada Valéria. Por uma noite, tornaram-se amantes, mas logo tiveram que se afastar graças a perseguição de uma agência de outro governo, a KGB.

Victor conseguiu salvar a sua querida a tempo e liquidou todos os agentes com suas invenções. Todavia, jurou que seria aquela a última vez que se veriam. Em meio aquela matança, descobriu que Otto, na verdade, era um monge disfarçado que acabou lhe oferecendo a proteção de seu tempo no Tibete, e para lá rumou para novo aprendizado.

Custou-lhe bastante tempo até chegar ao lugar sagrado, mas isso lhe valeu um novo patamar de sabedoria. Desenvolveu de maneira igual e concomitante a ciência e a magia. Mesmo isolado fisicamente do resto do mundo, procurou manter-se informado das grandes novidades que lhe eram interessantes. Foi assim que ele soube da ascensão do Barão que matou seu pai como novo Rei da Latvéria, e da fama de seu rival acadêmico Reed Richards como o homem mais inteligente do planeta, que considerou indigna.

Ainda assim, Victor era um humano vulnerável, principalmente quanto a sua alma que vivia eternamente atormentada pelo demônio. Para se proteger de seus nefastos sonhos, com a ajuda dos monges, construiu um armadura embuída de mística proteção e com isso se isolou definitivamente do mundo ao redor. A partir daquele dia, ele seria conhecido apenas como Doutor Destino.

Sentido-se finalmente preparado para encarar seus inimigos, Destino parte com um de seus fiéis monges para a Latvéria. A missão para conquistar aquela que outrora foi sua terra natal começaria mostrando a grande força nos punhos de Destino de forma bastante cruel. Victor matou os soldados do Rei Vladimir e libertou o seu povo, dando início a revolução. Junto com sua tecnologia avançada e com a confiança dos homens, rumou para a capital.

Na derradeira batalha, ele mesmo invadiu o castelo que acolhia Vladimir e matou-o com as próprias mãos recobertas pelas frias manoplas de ferro. Em seguida, aclamado unanimemente, tornou-se o novo Rei da Latvéria, cargo que mais uma vez ocupa até os dias de hoje.

E esses segredos da vida de Doom foram contados por Brubaker que teve a sorte de ter ao seu lado o desenhista Pablo Raimondi (X-factor) e o arte-finalista Mark Farmer (Hulk), além do capista Pablo Riviera. Eis um material de primeira linha, que a Panini resolveu trazer aos leitores mesmo um pouco fora de época, mas ainda assim fundamental para todos os adoradores do homem que se chama Destino.

Coveiro