O nome “Stan Lee”, causa sensações distintas em algumas pessoas, principalmente em seus opositores. Desde que a Marvel foi criada, após um quase fechamento da editora no final dos anos 1950, tanto Stan Lee, quanto os outros “pais” do Universo Marvel, Jack Kirby e Steve Ditko, viraram análise de estudo por muitos pesquisadores. A criação da Marvel, com um exército de novos personagens, e com alguns da Era de Ouro, reacendeu o gênero no longínquo ano de 1961. Em cima da criação, o nome de Stan Lee é o mais aclamado e conhecido de fato. Seus dois principais artistas, Jack Kirby e Steve Ditko, sempre ficaram à sombra do “gênio” por traz do sucesso da editora.
Stan Lee foi o último a falecer dos três. Jack Kirby, morto desde 1994, foi o primeiro deles. O Rei dos quadrinhos, que desenhou e criou personagens praticamente sua vida inteira, não pode aproveitar dos mesmos “louros” que Stan Lee aproveitou em vida. Após assinar alguns de seus melhores contratos com a Marvel, Stan Lee passou a ser o símbolo mor da editora, e como consequência, ganhou muito mais dinheiro que os dois juntos, passando a ser o único criador (erroneamente) da Marvel. Steve Ditko, que faleceu alguns meses antes de Stan, era recluso, misterioso e se negava a participar dessa euforia. De fato, Stan Lee foi quem se deu melhor. E seu grande erro foi ter perdido seus melhores artistas por orgulho. Ditko foi embora em 1966, depois de não se acertarem pelos rumos do Homem-Aranha, e Jack ficou magoado e com razão pelo jeito que a Marvel o tratou. Jack Kirby, infelizmente, foi humilhado na editora que ajudou a construir. Os motivos foram vários, e Stan Lee foi responsável por alguns deles, se bobear pela maioria. Mesmo com todos os seus erros, Stan não pode ser rebaixado como o cara que não fez nada. É impossível estar na posição que Stan Lee ocupava e dizer que ele não tem nada a ver com o que foi feito.
Após sua morte, um movimento de “desmistificar” o mito Stan Lee, cresceu. Um deles é o livro do autor “Abraham Riesman” chamado “Invencível: A Ascensão e a Queda de Stan Lee”. Publicado no Brasil em 2021 pela “Globo Livros”, Riesman, cria um texto sólido, bem escrito, porém, muito tendencioso sobre Lee. Como na maioria das biografias, o autor começa desde os primórdio com seus antepassados; passando pela sua infância; chegando aos escritórios da editora que viria a se tornar a Marvel; a ascensão da editora; os desentendimentos com seus artistas; sua vida em Hollywood e por fim, seus últimos e terríveis dias de vida nas mãos de sua filha usurpadora e de outros “sanguessugas”. Da parte que me interessa de fato: a criação dos personagens e o trabalho colaborativo com seus artistas. Desde que Jack Kirby deixou a Marvel em 1978, o assunto “quem fez o que”, criou forma. Jack, sempre que podia, dizia que tudo era ideia dele, Stan Lee, às vezes citava seus artistas, outras vezes, não – e o “quem criou” virou debate de fofoca de programa de tevê vespertino. Jack em alguns casos, tinha razão em algumas observações. Em outras, carregava na hipérbole. Stan também exagerava, quando podia. Para exemplificar essa questão, o problema entre eles era um só: créditos.
Voltando a polêmica biografia, quando Risman entra no cenário da criação, o autor não é parcial, e tende a ficar mais do lado dos desenhistas e em alguns momentos, passa a desmoralizar o personagem principal de seu livro. Até consigo compreender o autor, pois muito foi falado de Stan Lee como o Deus da Marvel em diversos outros livros, e essa foi a chance de Riesman fazer um trabalho novo, se distanciando dos demais biógrafos. Não entro no contexto da vida pessoal e dos negócios mal sucedidos que Stan teve ao longo da vida. Afinal, todos nós, inclusive o próprio autor, temos os nossos altos e baixos. E da vida.
Agora, sobre a criação dos personagens que compõem o Universo Marvel, Riesman, comete altos desatinos. Começando pelo Quarteto Fantástico, Riesman inicia com a célebre frase, “quem criou o The Fantastic Four 1 e, com isso, deu início à revolução Marvel? pg 117.
O autor aponta a questão dizendo que “fora as palavras frequentemente repetidas por Stan, não há prova alguma conhecida de que ele tenha criado a premissa”. E continua, “Não há pranchas de apresentação de projeto, documentos jurídicos contemporâneos, correspondências nem registro de diário. Nada”. Em seguida, Riesman fala sobre a “sinopse” da edição 1, datilografado por Stan Lee, dizendo que é um “documento curioso com uma história questionável”. pg 118.
PRIMEIRA REFUTAÇÃO: Por que Riesman não leva a sinopse de The Fantastic Four 1 em consideração? Esse documento já havia sido visto por Roy Thomas em 1966, antes de existir o “quem criou”. Quando The Fantastic Four chegou aos seus trinta anos de lançamento com a edição 358, em novembro de 1991, a sinopse da primeira história foi publicada nesta edição. O interessante nessa sinopse é que ela não é exatamente do jeito que foi desenhada. Acredito que essa sinopse é original feita sim na época, porém, feita após uma conversa entre ambos. Alguns detalhes que estão na sinopse original não foram usados no resultado final. Entre eles o drama dos personagens com a conquista de seus poderes. De acordo com esse documento, Susan, ficaria invisível permanentemente. Para ser vista, ela colocaria uma máscara. Só assim, para que as demais pessoas pudessem vê-la. Com o Tocha Humana, Johnny não ficaria em chamas por mais do que cinco minutos. Depois desse tempo, seu corpo iria se apagar. Com o Senhor Fantástico, o líder do grupo teria alguns efeitos colaterais ao se esticar. De acordo com os textos, Reed sentia muitas dores ao esticar o seu corpo, e esse seria um dos dramas a serem explorados. Com o Coisa, sua origem foi do jeito que foi apresentado na revista. Outro detalhe, era uma viagem ao planeta Marte. O fato é até questionado pelo próprio Stan sobre se deviam apenas explorar a corrida espacial ou se deveriam conquistar o planeta vermelho. Outro ponto que soa interessante é uma frase em que Stan Lee, ao falar da invisibilidade permanente da Garota Invisível, alerta Jack Kirby, dizendo: “Melhor falar comigo sobre isso Jack, talvez possamos mudar um pouco esse detalhe”. Minha observação aqui é a seguinte: Por que Stan Lee cita o nome de Jack, em específico nessa sinopse? Ficou claro pra mim que Stan havia conversado com Jack, antes de digitar esse documento – e ao alertá-lo sobre esse ponto é uma clara evidência de um dos detalhes conversados anteriormente. E o mais contundente: se Stan Lee fosse se dar ao trabalho de digitar algo trinta anos depois de publicado, por que faria um texto diferente do que foi apresentado na edição de estreia?
Outro ponto em The Fantastic Four que Riesman ignora: a carta de Stan Lee a “Jerry Bails”. Na década de 1950, Jerry Bails, foi um dos precursores dos fanzines nos Estados Unidos, dando início com suas publicações sobre o tema em algumas publicações. Apaixonado por quadrinhos, Bails, publicou diversos fanzines, com matérias e novidades sobre os personagens da era de ouro e de prata. Pelo seu grande trabalho, Bails, estreitou relações com “Julius Schwartz”, editor da DC Comics. Após Bails mandar cartas e mais cartas para a DC, perguntando sobre os personagens, Julius, que passou a conhecer seu fanzine, mandava alguns dos roteiros das histórias para Bails publicar. Em uma época sem internet, e os quadrinhos não sendo a melhor coisa do mundo pelos olhos da sociedade, Bails ajudou a segmentar os quadrinhos naqueles anos. Com o sucesso de seu fanzine (visto com bons olhos pelas editoras), Bails criou uma relação com Stan Lee, pois, além de adulto, Bails era também um professor universitário credenciado. O que acabou agregando mais atenção e respeito aos editores Julie Schwartz e Stan Lee em relação ao fã médio e comum. Uma das cartas enviadas a Jerry Bails, assim que Fantastic Four 1 foi lançada, fornece alguns detalhes interessantes, com informações e suas intenções de direcionar os quadrinhos para um público mais velho
CARTA DE STAN LEE PARA JERRY BAILS
Prezado Jerry,
Me diverti lendo a ALTER-EGO e a COMIC COLLECTOR, e gostei bastante da pequena crítica ao QUARTETO FANTÁSTICO, escrita por Roy Thomas.
Apenas para corrigir algumas imprecisões: Eu não sou um “antigo” editor da TIMELY. Eu tenho sido editor e diretor de arte dessa incrível instituição nos últimos 21 anos, e espero continuar sendo para sempre. Além disso, duvido que o Sr. Thomas tenha sido o único a adquirir uma cópia (embora ele tenha dito isso em tom de humor, obviamente) porque, se julgarmos pelos primeiros recordes de vendas, acredito que tenhamos em mãos um título vitorioso.
Para o futuro do Q.F., teremos:
UNIFORMES
UM TRATAMENTO DIFERENTE (em termos de arte) para o Tocha
NOVOS PERSONAGENS NOS PRÓXIMOS MESES
(Não fique muito surpreso ao encontrar o Príncipe Submarino novamente, ou o Capitão América! Quem sabe??)
E MAIS UMAS SURPRESINHAS... Então, continue com a gente, amigo!
Estou interessado também na sua opinião sobre outra revista, que estará à venda em breve... AMAZING ADULT FANTASY. Achamos que vai ser um estouro.
A respeito dos vários comentários sobre o Q.F., nós evitamos de propósito que a garota invisível (opa, desculpa!), Garota Invisível atravessasse paredes, para justamente não dar MUITOS superpoderes aos nossos personagens, já que achamos que esse tipo de coisa tem muito apelo junto a leitores MAIS JOVENS; e estamos tentando (talvez em vão?) atingir um público um pouco mais velho e sofisticado.
Por enquanto é só... Continuem com o bom trabalho.
Atenciosamente,
Carta de Stan Lee de 29 de agosto ao fã Jerry Bails (carimbada em 1º de setembro de 1961)
A carta enviada por Stan Lee, com menos de um mês do lançamento de Fantastic Four 1 esclarece que sim, Stan CONVERSAVA SOBRE ENREDO com Jack Kirby. Assim como Jack, que CONVERSAVA SOBRE ENREDO com Stan Lee. Reparem que na carta, Stan cita os uniformes (que iriam aparecer somente na edição 3), o retorno de Namor (na edição 4) e o retorno do Capitão América (somente em 1964). Ou seja, as primeiras edições e alguns pontos que ainda viriam a acontecer, já estavam sendo elaboradas. Nesse início Stan e Jack trabalharam em comunhão e com a criação do lançamento de Fantastic Four, foi ativada a chave da inventividade na cabeça de ambos, fazendo com que a criatividade aflorasse.
Ainda sobre o Quarteto, Risman escreve a seguinte frase: “Há um boato de que o documento inteiro foi criado após a chegada da revista às bancas” pg 118...poxa, há um boato? sério? por parte de quem? O autor refuta o documento, mas enfatiza um boato imaginário. Riesman também leva em consideração o depoimento de um dos assistentes de Jack Kirby, que nunca trabalhou na Marvel. Steve Sherman conta que acredita que a sinopse é falsa, pois foi o que Jack disse a ele (???). Riesman leva em consideração o lado negativo do depoimento de Jack para Sherman ao mesmo tempo que refuta um documento que existe. O autor conclui que “É quase certo que não exista um item definitivo que resolva a questão”pg 119. Certamente, Risman não conhece, ou ignora o historiador “Tom Brevoort”
Tom Brevoort é editor e pesquisador de quadrinhos nos Estados Unidos. Tom, trabalha na Marvel desde 1989, tendo iniciado sua vida como estagiário – chegando até o cargo de vice-presidente sênior de publicação, trabalhando com diversos títulos na editora. Tom Brevoort, mantém o site,“The Tom Brevoort Experience” (tombrevoort.com), dedicado à pesquisa e curiosidades dos quadrinhos. Em uma de suas pesquisas, Tom fez uma análise das três primeiras edições de The Fantastic Four. E graças a ajuda de diversos outros pesquisadores, Tom conseguiu as páginas originais de “The Fantastic Four 3”, de março de 1962. O artigo intitulado “Lee & Kirby: Fantastic Four 3”, apresenta além das páginas originais, diversas anotações e rascunhos de Stan Lee, que através dessas páginas, conduzia a história desenhada por Jack Kirby. Muitas das páginas mostradas por Tom, apresentam alterações e revisões de Stan Lee, com o que Jack Kirby estava trabalhando. O artigo é excelente. Através dele é possível entender como o processo de criação entre ambos funcionava no começo da era Marvel. Depois de apresentar muitas das falas de Stan sobre a criação (que verdade seja dita, muitas das vezes as versões mudam conforme os anos), Risman diz que “se serve de consolo, Kirby também não ofereceu uma história simplificada a respeito de ter criado os personagens”. Ou seja, o autor roda, roda e não sai do lugar. The Fantastic Four foi criado por Stan Lee e Jack Kirby. Simples assim. Fonte: https://tombrevoort.com/2019/01/27/lee-kirby-fantastic-four-1-part-one/
Em seguida, Riesman fala sobre o Incrível Hulk. O autor, comenta sobre um personagem chamado Hulk, publicado meses antes do Incrível Hulk que conhecemos. Esse personagem anterior, que hoje é chamado de “Xemnu”, foi uma história desenhada por Jack, com roteiro de Larry Lieber, que escrevia em cima de um plot de Stan Lee. pg 128
Pela sua linha de pensamento, Riesman tenta desmoralizar o fato de Stan Lee usar um nome que havia sido publicado há pouco.
SEGUNDA REFUTAÇÃO: O autor, mais uma vez, não sabe que antes mesmo desses dois “Hulks”, um outro, foi publicado como um robô em “Strange Tales 75” de 1960, quase dois anos antes. E nessa primeiríssima aparição do nome Hulk em um gibi da editora, o desenhista da história foi Don Heck com Stan Lee e Larry Lieber, fazendo os textos. Stan Lee ainda usaria o nome Hulk, em uma história de ficção-científica com desenhos de Steve Ditko. Ou seja, o nome já era bem rodado, antes de Jack Kirby desenhar o Hulk que conhecemos.
Pulamos para o Thor, o Deus do Trovão. O autor aponta que “”Stan não havia demonstrado nenhum interesse em mitos nórdico, nem mesmo nos próprios relatos de sua juventude. pg 131
TERCEIRA REFUTAÇÃO: esse argumento de Risman é fraco, pois o fato de não ter feito nada antes, garante, segundo o seu raciocínio que Stan Lee não poderia ter feito ou pensado em um Thor na era Marvel. Mas pela sua pesquisa preguiçosa, Stan Lee, ao lado de Werner Roth, apresentou um Thor e um Loki, 11 anos antes. Durante a fase Atlas, foi publicada uma história intitulada “Trapped in the Land of Terror" na edição de “Venus 12” de 1951. A história escrita por Stan Lee e desenhada por Werner Roth, mostra uma versão do Deus do Trovão e de seu irmão, Loki na história da Deusa do amor, Venus. Por um tempo, esse Thor produzido por Stan e Roth era considerado pela própria Marvel como sua primeira aparição em suas revistas, constando até no “Official Handbook of the Marvel Universe” e nas primeiras versões do site Marvel.com. E ainda, a lenda de Thor, já havia sido publicado por outras editoras, como a Archie Comic em 1939 e a Fox Feature Syndicate em 1940. Jack Kirby também fez um Thor na DC, em duas histórias depois da Archie e a Fox. Até Steve Ditko, pela Charlton, fez sua versão. Ou seja, Riesman ignora o trabalho colaborativo, com um “Stan não havia demonstrado interesse em sua juventude”, sem perceber que existiam muitas versões já publicadas, inclusive por ele em 1951.
O primeiro Thor da Marvel, por Stan Lee e Werner Roth em Venus 12 de 1951
Chega a vez do Homem-Aranha. A origem da criação é bem complexa, mas tentarei resumir. Joe Simon e Jack Kirby, tinham um nome…isso mesmo “UM NOME”, escrito em um papel, chamado “Spiderman” sem hífen. Esse nome era em cima de um roteiro de um personagem chamado “Silver Spider”, desenvolvido por C.C Beck e Jack Oleck, em 1953 JAMAIS publicado. Eis que em 1958, Simon e Kirby aproveitam essa sinopse do SIlver Spider e publicam o “The Fly” pela Archie, que dura pouco pelas mãos dos dois. Saltamos para 1962, Stan Lee e Jack Kirby conversam sobre “Spiderman”. Fica impossível dizer quem deu a ideia do nome. De qualquer forma, Jack desenha cinco páginas, Stan Lee entrega a Steve Ditko para fazer a arte final. Ditko diz a Stan que o personagem se parece muito com o The Fly, publicado há pouco tempo. Stan deixa as páginas de lado, escreve uma nova sinopse de uma página e meia e entrega para Steve Ditko, que desenvolve o uniforme e a mitologia de Peter Parker. Realmente, Stan Lee já contou diversas histórias sobre essa inspiração. Ora era uma mosca na parede, ora era o “The Spider”, um personagens dos pulps, que segundo Stan, serviu de inspiração. O Homem-Aranha, dessa vez com hífen, é criação de Stan Lee e Steve Ditko. Jack Kirby, pode ter apresentado o nome, que estava guardado desde os anos 1950, mas o Homem-Aranha que conhecemos, não tinha nada a ver com Silver Spider e muito menos com The Fly. E qual é a polêmica, aqui? Nos anos 1980, Jack travou uma batalha de anos contra a Marvel pela devolução das artes originais. E em cada entrevista, Jack dizia que o Homem-Aranha era criação dele. No livro, Riesman diz: “No entanto, ele (Jack) jurou de pé junto que o processo criativo começou com ele” pg 132.
QUARTA REFUTAÇÃO: Acho incrível, o lado super tendencioso de Riesman, pois o autor acredita em Jack, apenas pelos dois pés, um próximo ao outro. Pela unilateralidade, Risman, não se esforça mais uma vez na pesquisa. Por exemplo, em 1971, em uma entrevista para a rádio WNUR-FM em 1971, Jack Kirby disse isso:
Entrevistador: Outro artista sobre o qual eu queria te perguntar é Steve Ditko. Você já teve a chance de trabalhar com ele?
Jack Kirby: “Eu nunca trabalhei com Steve Ditko; ele é um sujeito meio tímido e eu o via raramente. Ele é muito simpático e muito inteligente. Eu sou um verdadeiro admirador do trabalho dele. Ele é um homem muito criativo. Na verdade, Steve criou o Homem-Aranha, e a coisa pegou por causa do que ele fez”. Fonte:https://forum.cbcscomics.com/topic/15161/an-interview-with-jack-kirby-from-1971/
Logo depois, Riesman ao falar pelo lado de Steve Ditko, contesta o fato do desenhista receber as sinopses, e de nunca ter esclarecido quem foi que a escreveu. pg 134.
Aqui eu vejo uma imensa má vontade do autor. Steve, realmente não era de dar entrevista, mas publicava as respostas por meio de desenhos e ensaios. Um deles é esse aqui:
“Criação do Homem-Aranha de Stan Lee: Uma sinopse de 1 ou 2 páginas para o artista que deve desenhar de 21 a 24 páginas de painéis de história/arte.
(O diálogo deve então ser trabalhando e adicionado a partir do script do painel do artista)”
Bom, aqui Steve explica (e desenha) de forma clara que Stan Lee fez 1 ou 2 páginas, indo na contramão do que o autor alega. E também tem essa fala em outra ocasião do próprio Steve Ditko:
“Stan ligou para Jack sobre The Fly. Não sei o que foi dito naquela ligação. Dias depois, Stan me disse que faríamos o Homem-Aranha. Eu estaria desenhando os detalhes do painel da história da sinopse de Stan” Fonte:https://comicbookhistorians.com/the-ditko-version-exploring-steve-ditkos-recollections-of-m
REFUTAÇÃO FINAL: Abraham Riesman explora de forma contundente os assuntos controversos, bem diferente das outras biografias publicadas sobre Stan. O autor passa pelos primórdios de sua família e infância, até assumir o poder na Marvel, indo até os problemas com suas empresas e o seu final melancólico pelas mãos de sua filha e seus cúmplices. Riesman desnuda o mito em seu livro. E todos os detalhes fora da Marvel são cheios de controvérsias, em muitos dos casos, o autor apresenta Stan Lee como um cara que teve uma vida falsa e que não fez e criou nada em seus mais de 90 anos de vida.
Sobre o assunto que importa a mim: a criação do Universo Marvel, Riesman, não apresenta nada de novo, apenas cria polêmica onde não tem, com as criações dos personagens com uma pesquisa preguiçosa nesse ponto. Riesman tenta rebaixar o nome de Stan na maior parte do tempo, enquanto coloca os nomes de Jack Kirby e Steve Ditko mais em evidências pela ótica da criação. “Na ausência de dados conclusivos, a história foi escrita pelo vencedor”, conclui o autor. pg 125
Riesman deixa de lado, em muitos dos casos, uma análise mais apurada e parcial com os artistas que lá estavam. Pouquíssimas palavras de Roy Thomas e Jim Shooter, por exemplo, são trazidas aos contextos. E as que são apresentadas, são focadas no lado negativo. Pesquisadores como Tom Brevoort, John Morrow e Jerry Bails não foram levados em consideração. Don Heck, John Romita, Gil Kane e Gene Colan, artistas que gostavam de trabalhar com Stan, não foram lembrados. Por outro lado, Wally Wood, um dos que tiveram problemas, está no livro com viés negativo contra Stan Lee. Riesman acabou sendo muito crédulo com relação ao que Kirby disse com o que fez e como o fez. Tirando as partes do livro com ideias tendenciosas com a questão do “quem criou”, a pesquisa é excelente e o livro é muito bem escrito. A parte final (com trechos bem pesados e tristes), apresenta em detalhes, todo o drama que Stan Lee sofreu nas mãos de sua filha e da quadrilha que o cercou em seus últimos dias de vida.
O sucesso possui vários pais, já o fracasso é um filho bastardo. O homem precede o mito e o sucesso não é livre de conflito. E apesar de Abraham Riesman, Stan Lee continua sendo um dos criadores do Universo Marvel.
“Excelsior”
Alexandre Morgado.
Alexandre Morgado é cartorário do 15° Tabelionato de São Paulo. É também autor do livro Marvel Comics - A Trajetória da Casa das Ideias do Brasil, livro que narra a história da Marvel em nosso país, relançado em 2021. Em 2024, participou do livro “Olhares Sobre os X-Men”, ao lado de outros autores, sobre a mitologia dos mutantes. O autor possui um acervo gigante de HQs, principalmente com material da Marvel Comics.