terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Fabulosos X-Men: Crônicas de fim e recomeço

A história que será resumida e avaliada aqui marca um final de era como os X-Men nunca tiveram antes. Literalmente. Após o Cisma mutante, a equipe sofreu consequências profundas – dentro e fora dos quadrinhos. Ciclope, que nos últimos tempos assumiu a liderança dos X-Men e de praticamente toda a sociedade mutante, precisará aceitar o fim antes de trabalhar para o recomeço.



Quando eu me refiro a esta história como o final de uma era, não me refiro só aos X-Men enquanto equipe. A história em questão, publicada em X-Men 133, foi a edição final de Uncanny X-Men. Sim, a revista cuja primeira edição (ainda sem “Uncanny” no título) trazia o Professor X e seus cinco primeiros alunos em sua primeira batalha contra Magneto e a Irmandade de Mutantes. Conforme a popularidade da equipe ia aumentando, outras séries foram lançadas, mas Uncanny X-Men permaneceu firme e forte por décadas, acompanhando o surgimento de novos personagens, novas formações da equipe, amadurecimentos, casamentos, nascimentos, mortes.




Página retirada de preview publicado no site Comic Book Resources: arte de 1963, texto de 2011


E nada mais simbólico para a última edição de uma série tão marcante do que começá-la reaproveitando a arte de uma página da primeira edição, desenhada por Jack Kirby. Nela, originalmente o Professor X chamava seus X-Men (ainda sem a então novata Jean Grey) para uma missão. Só que, se a arte é reaproveitada, o texto não é (pontos para o roteirista Kieron Gillen, que escreveu as novas falas dos personagens no mesmo estilo cheio de declamações que as histórias mostravam na época): Ciclope informa ao professor que Jean está morta e agora ele comanda a equipe; Fera avisa que deixou a equipe faz tempo; o Anjo explica que se tornou um assassino na X-Force; e o Homem de Gelo, que foi para Westchester com o Wolverine. Essa única página já mostra como nada mais é como antes.



Constatação esta feita também por Nathaniel Essex, vulgo Senhor Sinistro. Arqui-inimigo dos X-Men. E cronista nas horas vagas, como descobrimos aqui. Sinistro escreve o final das memórias dos X-Men, recontando sucintamente o cisma entre Wolverine e Ciclope, e como o restante da equipe se dividiu assim como seus líderes. Segundo Sinistro, Wolverine mudou-se de volta para Westchester acompanhado por Rachel Summers, Gambit, Kitty Pryde, Míssil e Escalpo, além da jovem Idie Okonkwo (cujo papel foi fundamental para o cisma mutante), onde reabriu a escola como Instituto Jean Grey – o que ele classifica como uma atitude passivo-agressiva em relação a Ciclope. Scott, por sua vez, continuou em Utopia, assim como Emma Frost, Psylocke, Namor, Magneto, Colossus e Tempestade – esta última só ficou após Ciclope implorar por ela.

Essa, claro, é apenas parte da divisão dos X-Men; nos próximos meses, saberemos melhor quem ficou onde e por quê.



Um dos primeiros a escolher o lado de Wolverine foi Bobby Drake, o Homem de Gelo. Curiosamente, também foi o último a ir embora: antes de partir, Bobby quis aproveitar seus últimos instantes de nostalgia, relembrar o passado com Scott, seu amigo desde o começo da equipe. Aqui, temos um painel bacana de duas páginas com Greg Land (sim, Greg Land conseguiu usar suas referências fotográficas de forma positiva dessa vez!), recriando cenas ilustres da história dos X-Men. Mas se Bobby quer relembrar o passado, Scott quer mais é se concentrar no futuro.



E quem pode culpá-lo, afinal? De seus quatro primeiros amigos, uma está morta, outro está em situação delicada (acompanhem Fabulosa X-Force para entender...), e Fera... bem, Hank McCoy ainda está batendo de frente com Ciclope: para ele, Scott deixou de lado os valores e princípios da equipe; para Scott, foi graças às suas decisões que Hank e os demais mutantes que foram para Westchester estão vivos para discordarem do que ele fez. Seja como for, com a partida de Hank e Bobby, os últimos laços de nostalgia do líder mutante foram desfeitos.

Assim chega ao fim a existência dos X-Men da forma como os conhecíamos. Sinistro promete aproveitar a oportunidade para trazer um futuro (com o perdão do trocadilho) muito sinistro. E Scott? Num final simbólico, ele encaixota suas fotos antigas. Para Ciclope, seus dias de aluno terminaram. Ele finalmente teve seu dia de formatura.



A princípio, pode parecer estranho que Gillen tenha focado a última história dos Fabulosos X-Men em Ciclope, Sinistro e Homem de Gelo quando tantos e tantos personagens marcaram a trajetória da série. Mas de certa forma, talvez seja melhor assim. O tom nostálgico reforça a imagem de um final, de um epitáfio dos X-Men.

E, no entanto... aqui, o fim não é só fim, mas recomeço. Utopia ainda existe. Os X-Men de Utopia ainda existem. Fabulosos X-Men, a série de mais de 500 edições, chegou ao fim, mas Ciclope e sua equipe de Fabulosos X-Men chegaram ao começo de uma nova fase. O futuro é incerto. É assustador.

E emocionante.


Fernando Saker

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