Seja nos quadrinhos ou nos filmes, a essência dos X-Men esteve sempre lá. Mas foi certamente a série animada dos anos 90 que primeiro popularizou o conceito de "lutar para proteger aqueles que os teme e odeiam" para o mundo. Ao longo dos anos, os X-Men atingiram o fandom de maneiras que nem mesmo os criadores originais esperavam. E mesmo que esse mundo, tanto dentro quanto fora da série, mudou, a nova série espera espalhar a mensagem semelhante de aceitação como no original. É nisso que se firmou o agora roteirista da priemira e segunda temporada do desenho Beau DeMayo quando topou fazer as novas temporadas de X-Men '97.
“Eu definitivamente comecei a notar quantas pessoas usam camisetas dos X-Men saindo em West Hollywood, onde há uma enorme comunidade gay”, comentou o ex-roteirista Beau DeMayo para a Entertainment Weekly* sobre a localidade de Los Angeles. “Obviamente, os X-Men são muito importantes para as pessoas queer. Se você cresceu nos anos 90, é honestamente como muitos de nós nos relacionamos com esses personagens.”
Os mutantes dos X-Men são frequentemente vistos como uma metáfora para a luta contra o preconceito. E isso abrangeu ao longo das épocas as pessoas de etnias, cor, e gêneros diferentes. Para Beau, temos paralelos nas revistas de que mutantes menos "óbvios" têm que "se assumir" para seus pais quando são jovens e, como resultado, enfrentam o medo de serem renegados, fanáticos políticos tentam aprovar projetos de lei para desumanizá-los, e há até o vírus legado introduzido nos quadrinhos nos anos 90, e isso é visto como uma alegoria para o problema da AIDS na mesma época. Não muito diferente, X-Men '97 tenta se conectar com esse legado através do Morfo, agora dublado por JP Karliak. DeMayo afirmou anteriormente que eles abordaram o personagem, que pode se transformar em qualquer pessoa, homem ou mulher, como não-binário. A aparência principal do personagem agora assume uma aparência mais andrógina, quase um rosto não definido.
“Ele é o Morfo da série original que mudou e evoluiu ao longo do tempo, e há uma conexão entre eles”, diz o chefe da Marvel Animation Brad Winderbaum. "Grande parte dos X-Men trata de criar conversas. Trata-se de segurar um espelho para o mundo, sobre coexistência e sobre como você luta pela paz em um mundo que o teme. Portanto, há algo inerentemente que ressoa sobre esse personagem, mas sobre os X-Men em geral com pessoas que se sentem marginalizadas."
A série original tem também seus exemplos bem claros; ensinou às crianças sobre a discriminação em geral, às vezes de forma mais aberta. a dubladora da Tempestade, Alison Sealy-Smith, relembra uma cena agora amplamente conhecida em que Tempestade e Wolverine entram em um bar. Eles não são discriminados por serem mutantes, mas por serem um casal mestiço. “Discriminação baseada na raça? Que estranho”, diz Tempestade no episódio.
“É isso que adoro neste programa, o fato de ser uma escrita para adultos, que é tão facilmente acessível às crianças”, comenta Sealy-Smith sobre aquele momento. “A verdade é que não sei se essa frase significaria alguma coisa para meu neto de 7 anos. Ele só quer ver a Tempestade lutar contra alguém e vencer. É um público amplo porque seus pontos de acesso são simplesmente diferentes."
Beau DeMayo, que cresceu como um homem gay mestiço em uma família adotiva, diz que se viu na interseção “deste estranho diagrama de Venn”. Ele contou sua história dizendo “Meus pais são brancos, meus irmãos são coreanos, somos todos adotados e há muitas coisas que nos diferenciam”, disse ele. "Mas eu acho, e parece tão cafona dizer isso, que subscrevo o modelo de Charles Xavier: mesmo sendo tão diferentes, ainda temos muito em comum." É assim que ele queria abordar a sequência da série. “Em última análise, você pode pegar toda a filosofia do sonho de Xavier, mas se resumir, a empatia é o caminho para o futuro.”
“Ele realmente tocou em algo fundamental sobre os X-Men, que era uma família encontrada”, diz Brad Winderbaum sobre a visão de DeMayo para X-Men '97. “Acho que os X-Men, por serem quem são, inerentemente fazem as pessoas se sentirem vistas, fazem as pessoas sentirem que podem usar sua voz. Essa conversa está no centro da série.”
“Eu sei que parece assim…” DeMayo acrescenta, fazendo uma cara de “meh”, “mas é uma carta de amor aos fãs da série original – e apenas aos fãs dos X-Men”.
O elenco de voz de X-Men '97 conta com Ray Chase (Ciclope), Jennifer Hale (Jean Grey), Alison Sealy-Smith (Tempestade), Cal Dodd (Wolverine), JP Karliak (Morfo), Lenore Zann (Vampira), George Buza (Fera), AJ LoCascio (Gambit), Holly Chou (Jubileu), Isaac Robinson-Smith (Bishop), Matthew Waterson (Magneto) e Adrian Hough (Noturno). Beau DeMayo é o produtor executivo e roteirista principal da nova animação. Jake Castorena é o diretor desta primeira temporada.
Os três primeiros episódios de X-Men '97 já estão sendo transmitidos no Disney+.
* Essa matéria foi feita pela EW antes da demissão de Beau DeMayo, mas publicada só depois da estreia do novo desenho.
Coveiro