segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Nick Spencer fala tudo sobre o grande desfecho de Império Secreto


Semana passada a edição Secret Empire Omega chegou as lojas dos EUAs e pontuou de vez a saga certamente mais polêmica da Casa das Ideias até hoje. E boa parte da boa execução da história se deve a coragem do escritor Nick Spencer. Conhecido anteriormente por seu lado mais humorístico e leve nos quadrinhos, Spencer coordenou durante um pouco mais de um ano uma trama política intricada e que norteou a Casa das Ideias até o grande evento. Em entrevista exclusiva ao CBR, o roteirista fala o fim da saga, a repercussão do Império Secreto na vida de alguns personagens e como foi organizar uma minissérie com um rodízio tão intenso de desenhistas.

Sobre como a polêmica da inversão do herói e do símbolo:

"Eu acho que fora ter colocado o Steve e todos os outros heróis do Universo Marvel passando por algo terrível, o que esperávamos era que através dessa inversão pudéssemos enxergar a importância e o valor de Steve Rogers tanto como símbolo como homem. Através do que vocês enxergaram via essa versão quebrada de um reflexo dele, vocês puderam ver aquilo que fez de Steve uma pessoa boa e nobre. Esperamos que vocês pudessem enxergar porque ele é o herói que todo mundo olha quando está tudo em perigo ao redor"

"Quando você está fazendo uma história como essa, não vai ser nada fácil lidar com as pessoas. Você certamente entende que as pessoas vão ficar chateadas. Não há como fugir disto. O que fizemos com o Capitão América foi algo horrível. E isso foi um grande desafio para mim. As pessoas são protetoras com seus personagens, elas são apaixonadas por eles. Esses personagens significam muito para elas pessoalmente. Então, ver as pessoas gritando e brandindo sobre algo ruim acontecendo com o Capitão América foi apenas uma parte arenosa do trabalho. Dito isso, todos nós sentimos desde o começo, e agora no final ainda estamos sentindo isso, que essa foi uma história que valeu a pena contar. Nós tínhamos um sólido plano sobre como trazer os heróis através disso, como dar a eles uma grande vitória no fim, como restaurar o Steve e, esperançosamente, dar ao Universo Marvel algo que tenha uma cara de novo desde o começo, uma história com uma visão inteiramente nova. Agora que os heróis passaram por isso e confrontaram seus pesares e demônios, eles voltarão ainda mais fortes do que nunca".


Sobre Kobik:

"Era importante para mim que a medida que nós nos aproximássemos do fim do jogo em Império Secreto que nós compensássemos os caras que estiveram na história desde o Capitão América: Sam Wilson e também em Vertentes, e ter certeza de que esses personagens fizessem uma parte importante da história. Além disso, muitos desses personagens são importantes nas relações que eles tinham com Steve Rogers. Então, fez muito sentido a medida que aproximávamos do fim do jogo, que esses personagens brilhassem e fizéssemos que eles fossem parte importante da nossa resolução" disse Spencer sobre os papéis de Kobik, Quasar e Bucky na minissérie.

Spencer também explicou porque não apagou algumas consequências diretas da saga como a destruição de Las Vegas e a morte da Viúva Negra e do Rick Jones. "São coisas que a Kobik não irá desfazer.  Não queríamos que o evento saíssem sem ter grandes consequências ou repercussões. Queríamos assegurar que no final disto ninguém balançaria o Cubo Cósmico e tudo voltasse ao normal. Os heróis definitivamente tiveram uma grande vitória aqui. Definitivamente, é um ponto de virada pra eles, mas ainda há desafios a frente e definitivamente houveram coisas que foram perdidas. Então é nesse ponto que os heróis estão, e a cena final realmente é pra mostrar o que foi perdido e ainda permaneceu perdido".




"O modo de pensar da Kobik pra essas situação é que o cubo cósmico era usado para tornar o Steve um Agente da HIDRA, mas não foi usado para convencer ninguém a se juntar a ele e com isso não iria desfazer nenhuma das coisas que os heróis dos EUA do Universo da Marvel acabaram fazendo na história. As pessoas tiveram suas escolhas. Elas decidiram colocar muito poder nas mãos de um só homem. Um monte dos caras do Universo Marvel decidiram abraçar a ideologia que aquele Steve acabou introduzindo num discurso público. E muitos heróis, mesmo depois de divididos com a Guerra Civil II, decidiram que ao invés de consertar essas problemas e curar suas feridas, simplesmente iriam delegar tudo ao Steve. Há uma responsabilidade ali para eles dividirem. Não foi algo simples como "o Cubo fez todos ficarem maus" e muitos outros fizeram o resto. Então, para mim, era importante que tivéssemos claras consequências. E como nós lidaremos com elas na história que surgirá disso é grande parte do que vem a frente no Marvel Legacy". 

"Uma das coisas mais interessantes aqui é que iremos explorar os níveis de responsabilidade e de culpa do Steve mais adiante. Steve não teve envolvimento consciente em qualquer coisa aqui e não tem nenhuma culpa per se, mas ainda vai haver um sentimento pesado e grandes consequências que ele vai querer lidar. Aprofundamos nisso em Império Secreto: Omega. Examinamos as questões que irão deixar o Steve se o que ele faz valerá a pena. Se o que ele faz pode ser revirado e pervertido como foi, um lado muito perigoso de se ver o que ele faz. Ele nunca foi ser exposto neste nível antes" disse.

Sobre Zemo:

"Não vimos muito do Zemo em Secret Empire: Omega, mas daqui pra frente sua vida foi fundamentalmente alterada.  Ele  passou a ter a crença de que Steve era de fato seu amigo, e que ele tinha uma amável e saudável relação com seu pai, e que ele certamente pertence a algo maior. Isso são coisas que o Zemo tem lutando para encontrar na sua vida desde que o conhecemos como personagem. Então, para ele, ter essa crença de que o Steve era seu melhor amigo e que eles dividiram uma história não é algo que um cara tão dogmático como Zemo irá desacreditar tão fácil. A percepção de Zemo nessa história foi sempre aquela que o Steve contou a ele. O Cubo não fez nada de sobrenatural  para fazer ele acreditar nessas coisas. Steve apenas sentou do outro lado da cela por um bom tempo para contar sua história e foi Zemo quem decidiu acreditar nele. Há um importante momento ao final do título  Captain America: Steve Rogers  em que Zemo diz "Eu acredito que essas coisas sejam verdade. E se não forem verdade, vou fazer com que sejam".

"Essas não serão histórias que eu necessariamente terei que contar, mas eu acredito que há um monte de histórias potenciais sobre Zemo descobrindo a religião por trás dessas palavras. Isso porque a HIDRA agora tem esse princípio para acreditar e carregar ainda mais seue fervor religioso do que antes. Agora, se você for leal a HIDRA, você acredita que este mundo foi roubado de você. Você acredita que seu lado venceu a Segunda Guerra Mundial,  que vocês estavam no limiar de tomar este mundo e os aliados usaram um cubo cósmico para mudar a história. Sabemos que isso não é verdade. Sabemos que foi uma manifestação de Kobik, mas se você é da HIDRA e escolheu acreditar nisso, não está lutando para dominar o mundo. Está acreditando que está retomando o mundo que já era seu. Foi uma das coisas que fizemos que realmente gostamos. Recriamos assim uma ideologia firme da HIDRA em que se fiava na história alternativa criada pela Kobik".



Sobre o posicionamento do Justiceiro:

O personagem que foi a adesão mais surpreendente ao lado do Capitão HIDRA foi o Justiceiro. Tendo desde sempre visto o Capitão America como alguém a se respeitar (como visto na primeira Guerra Civil), Frank Castle não pestanejou ao se colocar ao lado de Steve em Império Secreto. "Eu estava procurando um herói que iria cruzar a linha e que fizesse o melhor sentido na história. Há certamente opiniões distintas de todos os lados sobre o caso. Há fãs dos personagens que dirão que ele nunca faria aquilo. Então, você tem que se opor a eles pelo que acredita e dizer 'eu acho que sim'. Haverá diferentes opiniões sobre as motivações de Frank. Eu vejo Frank sendo atingido por muitas coisas. A primeira delas é que já estabelecemos desde antes que Frank tem o Capitão como seu herói, e eu sempre achei essa uma parte intrigante do personagem por conta do seu idealismo" disse Spencer.


"A segunda coisa foi que o Steve veio até ele da mesma maneira que se aproximou do Zemo. Ao contar tudo aquilo que ele iria gostar de ouvir, iria oferecer uma aprovação e dizer que achava que ele esteve certo todos esses anos na maneira que ele vem lutando contra o crime. Não só aceitaria isso, como iria ajudar. Daria os recursos que precisasse e poder ilimitado para conduzir essa  guerra contra o crime. Tudo que importa é que seu trabalho seja feito. E isso seria algo bem tentador ao Frank. Mesmo que ele tenha tido inúmeros problemas com interações anteriores da HIDRA, eu acho que ele olharia de certa forma para o que Steve está fazendo em termos do aspecto de estabelecer a lei e veria que havia algo em comum".

"A última coisa que moveria o Frank pro lado do Steve é o fato que que todas as vezes que o Steve fez algo que tinha grandes consequências e que perdeu vidas no processo ou que olharíamos para trás e acharíamos como sendo um ato horrível e mal, o Steve diria que todas essas coisas eram pequenas em comparação com a solução que se teria. Uma vez com o Cubo Cósmico, ele poderia criar um mundo melhor, eu acho que Frank cairia na tentação de se dar o último prego no caixão por isso. Uma vez ouvindo isso e vendo como o mundo poderia ser, ele faria qualquer coisa para isso acontecer. As razões para isso tudo são bem óbvias. Ele tem um monte de cicatrizes emocionais e ele mesmo insistiu outras vezes que nunca ninguém as tomaria dele, mas eu acho que o mais forte caso  aqui é quando alguém te oferece para voltar tudo atrás e dar a você a vida que você sempre quis".

 "O que importa agora é que essa foi uma decisão que o Frank tomou, e sentimos que as razões e justificativas para ela eram bem fortes. Além disso, acho que uma das razões do Justiceiro ser um dos melhores personagens da Marvel é que ele pode ser visto de diferentes maneiras. Acho que ele nos entregou grandes momentos na série. Aquela cena revelando ele no final da terceira edição é uma das minhas favoritas da revista. A questão agora é como o Frank vai seguir adiante daqui? Como ele se sente depois que as coisas aconteceram deste jeito? Ele não está feliz é o mais certo a se dizer"



Sobre a Nova Madame Hidra:

"Outro personagem importante da saga foi a nova Madame Hidra, Elisa Sinclair, que funcionou praticamente como uma figura materna de Steve Rogers do mal aqui. Sendo um dos criadores da personagem, eu diria que foi um enorme prazer ver as pessoas respondendo a ela e vendo como ela impressionou fortemente a todos. O manto da Madame HIDRA foi passado por aí a alguns poucos personagens, então acho que ter alguém com essa identidade, que sempre vai ter uma forte associação com ela e que realmente se encaixa vai ser bom pra futuras histórias da HIDRA. Viva ou morta, sua importância para a HIDRA já se mostrou bem clara.Também é verdade que introduzimos um novo Kraken. Não revelamos sua identidade no decorrer da minissérie, então esse personagem vai se manter como mais um mistério a se durar no universo Marvel e que pode ser confrontado qualquer dia desses".

Sobre a equipe de desenhistas:

"Eu tive tanta sorte de ter trabalhado com esses caras, principalmente o Steven McNiven, Rod Reis, Andrea Sorrentino, Leinil Yu e Daniel Acuna, que fizeram uma divisão de trabalho ao longo da série. Tivemos tantos outros grandes artistas contribuindo para a história também. Estamos falando aqui de um time dos sonhos absoluto. ELes trouxeram seu melhor pra série. Estou tão emocionado com quão bonitas as revistas ficaram no final. É provavelmente o melhor trabalho visual do qual já fiz parte. Realmente isso me levou durante todo o processo. Então, eu me acho realmente muito, muito sortudo de ter trabalhado com esses caras"

"Para a coesão de tudo? Montamos um plano. Sabíamos que seria uma das distribuições mais agressivas da Marvel  até então. Então, sabíamos que muitos artistas iriam estar a bordo desta, e tentamos costurar eles nisso. Houve instantes em que tivemos que mudar a ordem dos artistas porque eu estava vendo essas coisas a medida que saiam. Por um instante, eu sabia que Leinil Yu teria que fazer a cena de ação com o Hulk que era gigante e eu queria muito que ele fizesse essa. Então, eu sabia que o Andrea seria o melhor artista para as cenas da luta entre a Viúva Negra e o Justiceiro, e ele certamente arrasou nessa. Então, fizemos um plano e tentamos estruturar as coisas para dar todos os artistas seus momentos para brilharem".

Sobre as últimas edições e o futuro de Nick Spencer na Marvel:

"Império Secreto: Omega é nosso epílogo. Ele olha mais a fundo o fechar das cortinas do evento. Tem uma conversa bem esquentada entre duas pessoas, que estão face a face,  e isso deve gerar mais conflitos a frente. É um épico de muito destaque. Muitos caras estão se perguntando sobre muitas coisas diferentes desde a edição #10. E eu vou dar respostas para essas questões nela e daí teremos outras revistas anunciadas depois que vão responder mais questões. Eu realmente acho que será algo com muita alma  e o coração do mesmo jeito que foi a conversa que vimos em Civil War II: O Juramento. Eu estou muito orgulhoso. Tem umas artes fabulosas de Andrea Sorrentino e Joe Bennett.

"Já nosso especial do Generations é mais uma história do Sam Wilson. Eu senti que, depois de tudo, nós realmente precisávamos dar um fim ao Sam. Ele teve então uma experiência no "Ponto de Desaparecimento" que é diferente de todos os outros que você já viu. Vai ser um momento de transformação fundamental para ele. Realmente vai mudar seu arco inteiro como personagem. Então, será algo grande".

"Teremos depois duas mensais saindo - Capitão América por Mark Waid e Chris Samnee e Falcão por Rodney Barnes e Joshua Cassara,  Essas caras irão pegar a partir desse ponto e eu não poderia estar mais feliz de acompanhar como fã essas novas histórias. Atualmente eu estou em semi-férias e eu realmente estou me divertindo.  Eu também jurei segredo sobre tudo relacionado a Marvel. Então, agora, nenhum comentário além do fato de eu estar me sentindo bem descnasado e não poderia estar mais feliz com tudo".


E para quem não leu, eis que Tom Brevoort faz um balanço do final de Império Secreto aqui

Coveiro

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